As Crônicas de Arian 2 – Capítulo 11 – Imprevistos

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Capítulo 11 – Imprevistos

— Que perda de tempo… Entendemos um pouco do que aconteceu aqui graças ao diário, mas isso não nos ajuda em nada — afirmou Lara.

— Acho que ela só queria nos mostrar a história do local. Vamos embora — disse Arian, virando de costas e se dirigindo para a porta do quarto em seguida.

— Alice, pode nos levar para um quarto que dê para a parte da frente agora? — perguntou Jon a garota.

Alice fez um “sim” com a cabeça e saiu pelo corredor. Jon e os outros a seguiram.

Chegaram a um outro quarto. Jon se aproximou da janela e viu dois guardas na entrada da torre gigante, havia um sino do lado deles. Serve para alertar de qualquer perigo, ou ataque. Outros dois estavam na frente da ponte que descia para conectar o castelo a cidade, e os outros em uma construção quadrada de menor porte que parecia ser o dormitório deles. Dava para ver alguns deles pela porta aberta, estavam jogando cartas.

— E agora? — questionou Jon, olhando para Marko.

— Pergunte ao Arian, eu corro para o meio e resolvo fazendo barulho, o especialista em missões furtivas é ele.

— Os do prédio maior são seus Marko, deve ter no máximo uns 8 a 10 lá dentro. Se forem do mesmo padrão dos outros guardas da cidade, não devem ser adversários difíceis. Mas não enrole, se um fugir gritando ou tocar o sino vamos ter perdido todo esse tempo para nada… — Arian parou de falar e olhou para o prédio com vários guardas com mais atenção. — O que aquele idiota está fazendo aqui?

— Quem? — Marko forçou o rosto contra o vidro para tentar ver melhor.

— O Lotus, na mesa com os guardas.

— Certeza que é ele? O cara está usando uma boina e está bem ruim de ver através desse vidro imundo.

O homem que Arian apontou tinha um cabelo loiro escuro, uma barba por fazer e um ar bastante despreocupado, era só isso que Jon e Lara conseguiram observar aquela distância.

— É só olhar quem está do lado dele. Reconheceria aquela coisa em qualquer lugar. Na verdade, acho que foi ela que quase nos atacou no primeiro andar, até reconhecer a <E> e nos deixar ir.

Jon observou a garota ao lado de Lotus, estava apoiada em seu ombro olhando entediada para a mesa de jogo. Tinha belos cabelos negros que passavam um pouco da cintura, eram lisos e sedosos. Seu vestido negro era incrivelmente sensual, mas ainda assim, o que mais chamava atenção eram os olhos vermelhos, muito semelhantes aos de <E>. Vez ou outra ela dava uma olhada na carta dos outros e sussurrava no ouvido de Lotus. Ninguém mais a via, então era claramente uma fantasma.

— Até que ela é bonita…

— Não encara ela, Jon!

Arian puxou ele da janela rapidamente.

— Você quase morreu hoje, então a não ser que queira concretizar o trabalho nunca encare aquela bruxa por muito tempo, nunca!

— Ela é tão ruim assim?

— Já vi ela matar mais de uma pessoa por quase nada.

— Matou como? Jogando eles de um lado para o outro como fizeram com a gente no hotel? — Agora era Lara que estava curiosa.

— Não, ela pode interferir nesse mundo como uma pessoa normal, e até usar magia, é um dos poucos fantasmas que conheço que conseguem fazer isso.

— Ela é a tal sub-espécie de fantasma chamada de espírito vingativo descrito no livro de criaturas da sua guild?

— Sim. Diferente de um fantasma comum, matar uma pessoa é muito fácil para ela. Se vir aquele homem por aí, o ignore, apenas isso, ele e aquela fantasma louca só trazem problemas.

— Por que os olhos vermelhos? Ela era um demônio? Não descreviam essa característica no livro.

— Tem muitas formas de virar um espírito vingativo, a cor dos olhos não é uma característica relevante. No caso dela, era uma humana comum chamada Siren, que nasceu com forte aptidão para a dimensão negra. Ela tentou se infectar com o sangue de um vampiro para sobreviver aos efeitos colaterais. É uma forma conhecida de resistir ao excesso de energia da dimensão negra em seu corpo. Isso, fazer um pacto com uma criatura poderosa ou virar um lobisomem. O problema é que vampiros e lobisomens não puros são igualmente descontrolados, então bruxas loucas e eles não têm grande diferença, chamam atenção e acabam mortos uma hora ou outra. Ela atacou Lotus há muitos anos. Ele quase morreu, mas conseguiu mata-la. Como vingança o espírito dela passou a assombrá-lo, mas com o tempo os dois acabaram se apaixonando um pelo outro.

— Não sabia da última parte… Que inveja… Queria poder dormir com uma fantasma para ver como é…

Lara e Jon olharam para Marko incrédulos.

— Mesmo que pudesse ela iria te assombrar para o resto da vida e não conseguiria dormir com mais ninguém… — respondeu Arian, enquanto olhava para <E>.

— É, vendo por esse lado parece ter alguns contras… Mas é a terceira pessoa que vejo hoje com uma fantasma de estimação… Não estão achando muita coincidência?

— É uma cidade cheia de fantasmas, então não vejo nada anormal em ver pessoas especializadas neles por aqui, só não esperava achar um conhecido dentro do castelo se fingindo de guarda… E corrigindo seu equivoco, <E> e a Siren são as únicas anomalias, a fantasma do Jon é só um espírito normal querendo que ele faça algo.

— O que acha que esse Lotus está fazendo aqui? — perguntou Jon.

— Ele é um caçador de recompensas, então está aqui para capturar ou matar alguém.

— Certo, mas o que fazemos então? — questionou Lara enquanto observava a tal fantasma pela janela.

— Ele deve estar infiltrado entre os guardas por algum motivo. Mantenham o plano, só não toquem nele e a Siren não vai… Mas o quê?!

Quando Arian foi checar o lado de fora pela janela os dois guardas que estavam cuidando da torre estavam no chão, cada um deles com uma flecha atravessada na cabeça. Agora um dos que estava na ponte caiu, e o outro do lado dele em seguida. A parte mais estranha era que as flechas estavam vindo de dentro da torre gigante, mas estava muito escuro para ver algo além do arco da entrada.

— E agora? — questionou Jon, claramente nervoso com o imprevisto.

Um dos guardas que estava jogando com Lotus parecia ter notado os colegas no chão. Ele se levantou, falou algo para os outros e foi correndo até eles. No meio do caminho ele também caiu com um flechada na cabeça. Pouco depois 5 guardas, todos armados com espadas e alguns com armadura, saíram do dormitório e foram correndo até a torre gigante, claramente mirando o sino de alerta.

Eles caíram de 1 em 1, seja quem fosse o arqueiro tinha uma precisão absurda, sempre acertava ou no meio da cabeça ou no pescoço, tornando o uso das armaduras inútil. Só Lotus havia restado. Ele se levantou e começou a caminhar vagarosamente até a torre. Uma flecha veio em sua direção, mas foi defletida, como se houvesse uma barreira o protegendo. Isso se repetiu três vezes. A fantasma de Lotus estava parando todas as flechas com uma magia de barreira de ar.

— Como ela faz isso? — questionou Jon, intrigado com a fantasma de Lotus usando magia para defendê-lo.

— Eu disse que ela era perigosa. Fantasmas não produzem energia espiritual, mas Siren consegue usar a energia espiritual do Lotus para utilizar magia. Parecem ter feito algum tipo de pacto.

Mais uma flecha, mas tinha algo diferente nessa. Siren se jogou em cima de Lotus rapidamente antes da flecha encostar na barreira de ar. O objeto explodiu assim que encostou nela, e ambos Siren e Lotus foram arremessados para trás. Ambos pareciam bem, mas Siren levantou furiosa, começou a juntar energia negra a volta dela e em seguida portais começam a se abrir próximo aos guardas mortos, que rapidamente ficaram com a pele escura e olhos verdes. Os amaldiçoados se levantaram ao comando de Siren e correram em direção a torre. Novamente começaram a atirar flechas, e assim que elas encostavam nos amaldiçoados eles eram desintegrados.

— Flechas de prata?

— Nada mais tem esse feito imediato em amaldiçoados — respondeu Arian.

No último amaldiçoado que restou a flecha não fez efeito. Pelo tamanho anormal, ele devia ter se tornado uma classe superior de amaldiçoado. Neles a prata não tem tanto efeito, mas o arqueiro não desistiu, mandou outra flecha que cravou no pescoço da criatura. Ela começou a urrar de dor. Arian só foi entender porque ao notar que a flecha tinha um brilho dourado, ou seja, energia celestial. Enquanto a criatura gritava, um forte clarão de luz tomou conta da porta da torre, e um rastro de luz dourado saiu de lá e acertou a criatura, que caiu morta e se deteriorou.

Em seguida um homem com uma espessa barba negra saiu sonolento de dentro do dormitório de guardas.

— Que está acontecendo?

Lotus se virou para trás encarando o homem.

— Oi, chefe. Parece que estamos sendo atacados.

— Como amaldiçoados vieram parar aqui?

— São os outros soldados. Não sei porque se transformaram tão rápido — disse Lotus, tentando não rir. — Mas o real problema está dentro da torre.

— Só sobrou você?

— Pois é… Como sempre digo, sou um homem de sorte…

— Certo. Eu cuido disso.

— Eles vão ser mortos por um homem de pijama… Me sentiria humilhado — Lotus apontou para o estranho pijama quadriculado que o homem estava vestindo. Não estava usando nem botas.

— Eu mato eles e volto a dormir, trocar de roupa é perda de tempo. Fique ai e observe como se faz.

O homem pegou uma espada, um capacete e começou a andar calmamente até a torre. Fora o capacete, estava usando apenas seu pijama. Flechas voltaram a sair de dentro do primeiro andar da torre e acertaram em cheio o peito e depois pescoço do homem. Ele parou, arrancou as flechas, os ferimentos rapidamente cicatrizaram e ele continuou a anda com calma em direção a torre.

— Parece que tinha um guarda decente no grupo. Esse não é humano — avaliou Marko, observando a situação da janela.

As flechas pararam e de dentro da torre saíram duas figuras que eles conheciam bem. Irene com o arco mirando o chefe barbudo de Lotus e Joanne com sua espada em punho na frente dela.

— Espera, não era o Arian lá dentro? — Pela primeira vez Lotus parecia surpreso. — Que mulheres burras… Deviam ter ficado dentro da torre. Que seja, acabe com elas, Siren, e pode levar o chefe junto se quiser, não aguento mais os sermões dele.

A fantasma de Lotus entrou em posição ofensiva e estava se preparando para fazer algo contra as duas.

— Ah, mas que droga! Isso vai doer… — Arian pegou impulso e se jogou na janela. Ela arrebentou e o guardião despencou 20 metros de altura, caindo ajoelhado na frente do chefe de Lotus.

Assim que viu <E> e Arian, a fantasma de Lotus entrou em postura defensiva.

— Pare ela Lotus, essas duas estão comigo — gritou Arian.

— Olá, Arian… Siren me falou que estava aqui com algumas pessoas, pensei que era você ali dentro. Mas antes de se preocupar comigo, devia ficar de olho no meu chefe. — Lotus continuava a aparentar uma calma quase fora do normal dada a situação.

O homem a frente de Arian saltou para cima dele com a espada em punho. Arian saltou para o lado, bloqueou o golpe seguinte com uma das espadas que estavam nas costas e chutou o peito do homem, que foi jogado para trás alguns metros. Em seguida, enquanto o homem se levantava, Arian arremessou sua espada no meio do peito dele. O soldado caiu de joelhos, tirou a espada do peito e se levantou. Não saiu sangue algum, e ele parecia estar muito bem.

— Está perdendo tempo, Arian, ele é imortal — falou Lotus, agora sentado em um banco na frente do dormitório como se estivesse assistindo um show.

— Arian? Aquele Arian? — questionou o homem, surpreso. — Nunca enfrentei um rank SS, mas duvido que fará diferença. Já estou imaginando a recompensa que vou pedir a Arx pela sua cabeça. Deve estar confiante por lutar melhor do que eu, mas mesmo em vantagem vai morrer de cansaço enquanto eu me regenero repetidamente. Como ele disse, sou imortal.

— Ninguém é imortal… Alguns são apenas mais resistentes.

Arian tirou sua espada bastarda da cintura e ambos o soldado e ele saltaram um contra o outro. Arian desviou da arma do adversário, e contra atacou cortando fora o braço do homem em que estava a espada, e depois girou e arrancou o pescoço do inimigo com um golpe. O corpo do homem parou de se mexer e caiu no chão quase sem fazer barulho.

— Regenera isso, sr. Imortal — falou Arian, olhando para a cabeça sem vida do adversário no chão.

— Que anti-climático… Não mudou nada, continua com essa obsessão por cortar a cabeça dos outros… Daria um bom par com a Siren, ela tem um negócio por cabeças também — Lotus estava gargalhando enquanto dizia isso.

— Fala isso de novo e é você quem vai perder a cabeça a seguir, meu amor. — Siren fez uma cara feia para Lotus, aparentemente ofendida com a afirmação.

— Não teria coragem, sua vida seria um tédio sem mim, sua fantasma rabugenta.

Siren olhou feio para Lotus novamente e depois voltou a encarar Arian.

— Nunca vi nada que volte depois de perder a cabeça. Por garantia, sempre corte a cabeça, aprendi isso da pior forma. — Arian não estava encarando Lotus ao falar, mas Siren, que estava com um olhar bastante agressivo.

— De fato. Bem, quanto a sua proposta de trégua, sem problemas, mas poderia pedir para suas amigas pararem de me atirar flechas?

Arian ainda parecia tenso. Ele falou sem tirar os olhos de Siren, que mantinha uma postura nada amigável:

— Irene, sua mira é fantástica, mas abaixa esse arco ou você vai morrer sem nem saber o que te arrancou a cabeça. Ela estava pegando leve até agora.

Irene ficou intrigada, mas ao ver a expressão séria de Arian, abaixou a flecha que estava mirando em Lotus.

Siren finalmente se acalmou e voltou para o lado de Lotus, ainda os observando com desconfiança. Arian respirou fundo e tentou se acalmar, o que era particularmente difícil dada as lembranças desagradáveis que tinha da fantasma de Lotus. Ele então se virou para Joanne e perguntou o que mais estava lhe intrigando:

— Como entraram aqui?

— Tinha um portal na caverna que nos sugeriu ir. Só conseguimos concluir que servia para ligar ao castelo.

— Claro que tinha, a ponte é amaldiçoada, só o mordomo, Arx e Marin conseguem passar por ela, a guarda de confiança e até os demônios tem que usar o portal. Como chegaram aqui sem usar ele? — Lotus parecia honestamente curioso.

— Pulando de um lado a outro? — disse Marko, caindo com um forte baque perto de Arian. Tinha pulado da janela do castelo segurando Jon e Lara, um debaixo de cada braço.

Lotus olhou para Marko, incrédulo. Arian estava se sentindo meio idiota pelo que eles tiveram que fazer para tentar entrar, quando havia um método bem menos custoso e perigoso.

— Deixa isso para lá, duas garotas do meu grupo foram capturadas e parecem ter sido trazidas para cá. Sabe algo a respeito?

— Sempre direto ao ponto… Não mudou nada, Arian… Mas bem, uma morena de aparência exótica usando pouca roupa e uma com corte de cabelo militar foram as últimas a serem trazidas para cá, imagino que sejam…

— Essas! Sabe onde estão? — interrompeu Joanne.

— Já passou alguns dias desde que chegaram, então não teria grandes esperanças se fosse vocês, ainda mais com os gritos que escutamos há alguns dias… — Lotus olhou para o topo da torre, pensativo. — Mas bem, se quer comprovar se ainda estão vivas só tem um caminho. — Lotus apontou para a torre atrás deles.

— Sabe como chegar ao topo? — Arian parecia cada vez mais apreensivo.

— Não faço ideia, demorei meio ano para entrar para a guarda de confiança do Arx e conseguir uma posição dentro do castelo, mas o máximo que descobri foi que Arx tem alguns demônios trabalhando para ele. A cada poucos dias trazem uma garota nova e levam para a torre. Pedi a Siren para entrar lá e ver qual portal eles usam, mas ela não pode chegar perto o bastante sem os portais a sugarem e o local é feito para ninguém poder ver nada do lado de fora, é algum tipo de magia.

— Mais alguma coisa?

— Não, foi só isso que descobri, Sr. Guardião — respondeu Lotus de forma debochada. — Isso e como todo mundo nessa cidade é estranho. Não contam praticamente nada de relevante, nem sob tortura, nunca vi isso… Bem, eu vou indo, boa sorte para vocês…

— Espera, o que estava fazendo aqui, afinal? — dessa vez foi Marko que perguntou.

— Se sobreviverem a essa noite eu conto… Até outro dia.

Depois de dizer isso Lotus se dirigiu para uma escada de pedra que ficava ao lado da torre gigante e parecia descer para uma espécie de porão. Em seguida eles escutaram o barulho de um portal se dissipando.

— Foi dali que viemos, ele pegou o portal para sair daqui. Esperamos um tempo por vocês, mas como não apareceram decidimos agir. Esperamos a troca da guarda e entramos na torre, assim ninguém poderia nos ver, e pelo que entendi das conversas, eles são proibidos de entrar. Quando surgiu a oportunidade Irene começou a eliminá-los de um em um — disse Joanne.

— Nós vimos… Bela mira, Irene, nunca vi um arqueiro fazer um estrago tão grande em tão pouco tempo. — elogiou Marko, para total satisfação da garota, que o respondeu com um largo sorriso e corando um pouco. Ela então se virou para Joanne.

— Joanne, esquece o que eu disse, ter um momento Lara é muito legal. Agora sei como ela se sente quando resolve as coisas sozinha.

— Menos, precisa de mais 100 anos de treino para se sentir uma Lara, Irene — disse a própria.

— Não me amola, estou te elogiando!

A seguir todos passaram pela entrada em formato de arco da torre. Não havia porta e o local era muito grande, não à toa, já que uma torre alta daquelas não teria como ser sustentada por uma base muito estreita. Assim que passaram pelo arco tudo do lado de dentro ficou visível, tinha mesmo alguma magia bloqueando quem estava do lado de fora de ver o que acontecia dentro.

Não havia nada no local, apenas alguns pilares de sustentação e 10 portais, separados a uma boa distância um do outro. Todos emanavam uma luz negra muito fraca, cada um ficava encostado em uma parede com um número atrás.

— Não estão achando tudo fácil demais? Pode ser sorte, mas acho que já deveria ter aparecido um daqueles demônios — questionou Irene.

— Não precisam, se errarmos o portal morremos sem eles precisarem mexer um dedo — afirmou Arian.

— E para qual vamos? — Marko estava observando todos os portais de um em um. Pareciam idênticos.

— Pensei que haveria alguma dica ou coisa do tipo por aqui, mas… Devo estar lendo livros de fantasia demais…

Só haviam números, cada portal tinha um número atrás.

— Pelo que li das anotações de Marin precisamos pegar o portal certo 2 vezes para chegar ao topo, mas não temos nada, nenhuma dica sequer…

— Aquela fantasma seguindo o Jon bem que podia ser de alguma ajuda agora… — Arian estava olhando de um lado para o outro procurando por ela.

— Fantasmas não podem se aproximar de portais, é como cometer suicídio para eles. Lotus mesmo confirmou isso para nós. Espíritos não têm um recipiente que os segure, então são tragados com muita facilidade por portais.

— Tem certeza? — Arian estava olhando para <E>, e a garota parecia muito bem. Na verdade, estava passeando bastante despreocupada pela sala. Mas Alice realmente havia sumido desde que se aproximaram da torre.

— Estranho… Pelo que eu li se chegarem a cerca de 10 metros de um portal, mesmo que pequeno, eles são sugados e… Espera, ela devia ter dado uma dica para ajudar mesmo, mas a única coisa que fez foi querer que eu lesse aquele diário…

— Não havia nenhuma senha ali… — disse Arian, pensativo.

— Não, o mais próximo eram os dias separados para cada anotação, mas… dias… é isso! Pegamos o portal 3 e depois o 8 no próximo nível.

— Vai com calma, rato de livros. De onde tirou isso?

— As pessoas adoram usar datas em senhas, é errado e óbvio, mas todos fazem. A única data importante na parte que Alice queria que eu lesse era seu aniversário, dia 38 do inverno.

As datas naquele mundo confundiram um pouco Jon no começo, mas até que não eram tão ilógicas, são 400 dias ao ano, divididos em 4 estações, cada uma delas com 100 dias.

— Tem certeza disso? — perguntou Joanne, bastante aflita com o fato de que a escolha errada poderia matá-los.

— Não, mas é minha única ideia…

— Que tal um de nós tentar e depois voltar para dizer se funcionou? — sugeriu Irene.

— Não vai dar certo, são portais simples só de ida, caso contrário não haveria perigo algum. Ele vai ser desativado por algum tempo depois de usarmos. Até por isso temos que ir todos de uma vez, deem as mãos e seremos todos teleportados ao chegar perto.

— Vamos logo então, se for o errado nos viramos, essa indecisão está nos fazendo perder tempo. Eu e Marko podemos ir e o resto espera aqui.

— Você não vai sem mim! — Lara foi correndo para o lado de Arian, na tentativa de garantir que ele não iria pular no portal e deixá-la para trás.

— Ai! — gritou a garota, se ajoelhando e parecendo estar com muita dor no corpo. Ela rapidamente tirou as botas que estava usando, como se estivessem a machucando.

Em seguida ela voltou a seu tamanho normal. Ao olhar para ela Arian só conseguiu arregalar os olhos.

— Tinha razão sobre o vestido ficar apertado — observou o guardião. Lara havia voltado ao tamanho normal e parecia estar vestindo algo feito para uma criança. Na verdade era o que estava acontecendo mesmo. Os peitos se destacavam mais que o normal devido a estarem pressionados, e a saia virou uma mini-saia. Parecia que ia rasgar a qualquer momento.

— Eita! — Marko aparentava estar bastante feliz com a visão.

— Toma, usa isso — disse Joanne, jogando para ela sua capa.

Lara não parecia estar ligando para os olhares sobre ela, mas colocou a capa.

— Não pode me passar suas botas também? Lutar descalça vai ser bastante inconveniente.

— Pegue uma dos guardas mortos, sua folgada. Tinha um bem baixo entre eles, deve servir em você.

— Quer que eu use a bota de um defunto?

— É isso ou vai descalça, estamos sem tempo.

Lara correu para o lado de fora e voltou com botas que não eram exatamente do seu tamanho, mas serviam.

— Tem certeza disso? Eu acho melhor deixar só o Marko e Arian irem.

— Não, eu vou com eles! — insistiu Lara.

— Certo, vamos todos então, se perdermos Lara a missão falha de qualquer forma. — Joanne não parecia muito feliz com a decisão, mas não tinha escolha.

— Agora! — gritou Arian, e todos se aproximaram do portal com o número 3 atrás.

Imediatamente eles foram mandados para outro local. Jon podia sentir o chão abaixo de seus pés, mas não dava para ver absolutamente nada.

— Isso não faz sentido, porque seriamos teleportados para um local onde não podemos ver os próximos portais? — questionou Irene.

Jon só conseguia chegar a uma conclusão quanto a essa pergunta:

— Acho que… pegamos o portal errado.

Em seguida o solo de concreto desapareceu e Jon teve a sensação de estar caindo. Quando seus pés tocaram o chão novamente e o local clareou, ele não sabia como reagir. Aquele céu que viu tantas vezes, construções familiares, e um homem que conhecia muito bem o encarando com desprezo.

— Não! — gritou ele em desespero.

Estava de volta a seu mundo original.

Próximo: Capítulo 12 – A Torre

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