As Crônicas de Arian 2 – Capítulo 12 – A Torre

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Capítulo 12 – A Torre

Não haviam árvores gigantes ou sequer plantas exóticas, mas ainda assim, a floresta onde Distany foi construída era um local difícil de esquecer. A copa das árvores era larga, criando muita sombra, e no chão não havia um mato sequer, apenas folhas secas. Era como andar em um túnel infinito criado por árvores. A luz que passava pelas folhas descia quase como raios em direção ao solo. E o mais fascinante, a água do gigantesco lago que ficava próximo refletia nas folhas, um fenômeno único daquela área. A visão era indescritivelmente linda.

Arian geralmente se sentia em paz ali, mas no momento mal conseguia se manter calmo. Na sua frente estava uma pessoa que não teve muito tempo para conhecer, mas que jamais esqueceria. Seus cabelos dourados estavam voando sobre o rosto, enquanto o vestido simples balançava levemente.

— Há quanto tempo, Arian…

— Ariane?

— Por que não me salvou? — perguntou ela, em um tom frio.

— Eu tentei…

— Não, você ficou parado, brigando consigo mesmo, enquanto eu morria lentamente. Não se lembra? — a frieza na voz só aumentava.

Cada palavra era como uma facada no peito de Arian, mas ele não respondeu, apenas desviou os olhos de Ariane e ficou pensativo. “O que estava acontecendo?”, ele se perguntou.

— Onde está minha filha, Arian?

Arian apertou os lábios de leve e fechou os punhos, mas continuou sem responder. Novamente olhou para a paisagem a sua volta, sem saber se queria entender porque estava ali ou se estava apenas evitando olhar para Ariane.

— Falhou com ela também? Como pode cometer o mesmo erro duas vezes?

Arian não aguentou e respondeu.

— Não foi o mesmo erro… — a voz do garoto saiu bem fraca.

— Não, você fez minha filha pagar junto com você… Me diga, garoto, valeu a pena matar todas aquelas pessoas?

Arian voltou a ficar com um olhar distante, não queria responder.

— Responda! Você me deve isso! Ao menos está arrependido?

Ao ver o nervosismo no rosto de Ariane, ele novamente não aguentou.

— Em parte sim…

— Em parte?

— Me arrependo de tudo que veio depois que a tirei de lá. Mas eu faria tudo de novo para salvá-la, incluindo o que levou a matar metade daquela cidade.

Ariane parecia enojada com a resposta.

— Tinham crianças naquela cidade, algumas que você conhecia!

Arian olhou para as folhas no chão, pensando no que dizer.

— Uma pessoa querida, ou uma cidade cheia de pessoas inocentes… — Ele então levantou a cabeça lentamente e fitou Ariane. — Como se escolhe entre algo assim? Sabe por quanto tempo eu pensei nisso depois?

— E ainda faria a mesma coisa? Mataria milhares de pessoa por uma? Como acha que minha filha se sentiu ao saber quantas pessoas sacrificou pela vida dela?

Novamente Arian respirou fundo e ficou pensativo. Ele tinha a resposta para aquela pergunta, afinal, ele viu com os próprios olhos o terror e repulsa da filha de Ariane pelo que ele fez.

— Devia ter deixado ela, Arian, apenas admita!

Arian voltou a encarar Ariane por um tempo, refletindo, e então respondeu com tristeza:

— Talvez…  É verdade que todas aquelas pessoas estariam vivas se eu não tivesse feito aquilo, mas de que adianta, se eu me arrependeria pelo resto da vida de tê-la deixado morrer?

— E não se arrepende das pessoas inocentes que matou?

— Me arrependo de muita coisa… mas de escolher ela? não. — Arian ficou mais resoluto e completou. — Não existia uma escolha certa, Ariane, só a que eu me arrependeria menos, e com certeza foi a que tomei.

Ariane olhou para ele com puro desprezo.

— Não aprendeu nada então…

— Na verdade aprendi, com uma garota loira mais egoísta do que eu… — Arian sorriu ao lembrar de Lara o dando um sermão — Mas não significa que deixaria de escolher o que é mais importante para mim.

Ariane estava ficando cada vez mais nervosa.

— Você é um fraco, garoto…

— Isso eu não vou negar… — disse Arian dando uma risada. Ele finalmente tinha certeza do que estava acontecendo. — Já posso ir? Eu tenho que rever os piores momentos da minha vida a cada pagamento, então esse tipo de manipulação psicológica não chega nem perto. Esse é mesmo o melhor que a bruxa de Lein pode fazer?

Ao ouvir isso Ariane se acalmou e sorriu.

— Acho que não entendeu como isso funciona…

Em seguida a mulher desapareceu.

— Que perda de tempo… Vamos <E>, vamos procurar uma saída daqui…

Foi quando Arian olhou para o lado e notou que a garota não estava ali.

— <E>?

O guardião começou a balançar a cabeça rapidamente de um lado para o outro, a procura de sua companheira.

— <E>!

Nenhuma resposta. A garota que estava sempre a sua vista, pela primeira vez não estava lá.

— Não tem graça! Apareça, <E>!

O coração de Arian começou a acelerar, enquanto ele começou a correr pela floresta procurando a garota de cabelos brancos.

— Não, não, de novo não!

Isso só aconteceu uma vez, e por um motivo justificável. Dessa vez ele não conseguia pensar em uma justificativa.

— Cadê você? Apareça! — A voz de Arian parecia cada vez mais desesperada.

— Ariane, me tire daqui!

A mãe de Emily voltou a aparecer em sua frente.

— Que mudança drástica de comportamento… Cadê a sua calma agora?

— O que você fez com a <E>?

Ariane se aproximou e falou baixinho em seu ouvido.

— Eu não posso fazer nada com algo que não existe, Arian… Você sabe a verdade, só não quer encarar. Ela era apenas um escape da sua mente para o que você mais teme…

Arian arregalou os olhos, se assustando por um breve momento com a afirmação. Ele então se acalmou de novo, respirou fundo e respondeu:

— Não, ela existe! Jon a viu também! E eu posso senti-la.

— Não, você acha que ele viu e acha que sente alguém, mas não é apenas sua mente tentando enganar a si mesma? Você falhou com quem mais se importava com você, e agora está sozinho, e é tão patético que criou uma garotinha que te segue o tempo inteiro para tentar não encarar esse fato.

Arian ficou pensativo por um momento, e então balançou a cabeça em negação:

— Cala a boca!

Ele voltou a correr pela floresta gritando o nome que deu à fantasma. Muito tempo passou, até Arian cair ajoelhado na grama, exausto.

— <E>, apareça! Por favor… — disse ele, agora baixinho.

Ele estava sentindo frio, mais do que jamais sentiu antes, e sua visão ficava cada vez mais embaçada enquanto um mal-estar tomava seu corpo.

— <E>!

Sem forças, ele relaxou o corpo e começou a olhar a sua volta, na esperança de que <E> fosse aparecer correndo a qualquer instante. Mas ela não apareceu.

Lágrimas começaram a cair lentamente de seus olhos, enquanto o desespero tomava conta de sua mente pouco a pouco. Pela primeira vez desde que acordou sem suas memórias, ele estava sozinho.

******

Jon abriu os olhos devagar enquanto se acostumava com a pouca luz do local. Estava em uma sala quadrada, totalmente vazia. A volta dele apenas 10 portais emanando uma luz branca, e pequenas aberturas retangulares nas paredes deixando entrar um pouco de ar.

Havia sido mandado para uma alucinação. Descobriu isso facilmente após notar que as pessoas a sua volta não estavam se comportando como eram de verdade, e tinha muita coisa ali que não fazia sentido. Ele só teve que se manter calmo por algum tempo ignorando o que seu avô dizia que acabou saindo de lá. A sensação era estranha, no entanto, já que embora soubesse que era uma alucinação no começo, em determinado momento quase se esqueceu disso.

— Demorou, hein? — disse uma voz conhecida.

Era Irene, sentada no chão perto dele.

— Acho que estava em um tipo de transe criado por uma maldição.

— Não só você. Olhe a sua volta, Jon.

Estavam todos lá: Arian, Marko, Lara e Joanne.

— Ao que parece essa maldição nos atormenta com nossas piores memórias e medos. Mas se você for uma idiota que não pensa muito como eu, acaba não funcionando direito. Sabe qual meu maior medo? Morrer. Já viu algo mais comum que isso?

Jon deu uma risada, realmente era algo bem normal.

— E o seu, qual era? — questionou Irene.

— Meu avô queria me obrigar a assumir os negócios da família. Não aceitou eu não querer isso, e pior, não saber o que fazer da vida… Mas acho que o que mais detestava eram os olhares das pessoas me julgando por isso, ou mais precisamente, dos meus familiares. Voltar para minha vida antiga é do que mais tenho medo… De qualquer forma, é algo que nunca me afetou tanto.

— Ao menos é mais profundo que o meu. Mas infelizmente, parece que os nossos amigos não são tão simples quanto nós.

Joanne estava com uma expressão de alguém que não sabia o que fazer, pedia ajuda com frequência e por vezes parecia desesperada.

Lara já era mais difícil de ler, estava apenas com uma expressão triste.

Depois vinham os casos que mais chamavam atenção. A começar por Arian, que estava chorando, e sua expressão de desespero e dor era algo que Jon nunca havia visto. Mesmo se comportando de uma forma que ele não concordava, ou compreendia às vezes, o guardião parecia muito forte mentalmente, como seria esperado de alguém que já passou por muita coisa ruim e se recuperou. Ver uma pessoa assim com aquela expressão perdida o deixava perplexo.

“Qual era o medo que podia deixá-lo daquele jeito?”, se perguntou.

A fantasma dele, <E>, não parecia muito melhor também, balançando o corpo do companheiro desesperadamente na tentativa de fazê-lo acordar. Mas não parecia estar funcionando. Ela estar chorando também não deixava a visão menos incômoda, já que não havia nada que Jon pudesse pensar em fazer para ajudá-los. Ele só podia sentir pena.

E então o caso mais assustador, Marko. Ele estava de joelhos chorando, gritando e pedindo perdão sem parar. Ver Arian tão abalado era estranho, mas ver Marko naquele estado lamentável era ainda mais impactante para Jon. O guerreiro confiante e bem-humorado parecia uma pessoa completamente diferente.

— Tem algo que possamos fazer? — questionou Jon, olhando para Irene.

Como não podia usar magia nunca teve interesse em aprender muito sobre maldições. Seguindo a lógica, ele e Irene haviam saído porque conseguiram ficar calmos o bastante com o que lhes foi mostrado. Mas como os outros sairiam?

— Já tentei balançar eles e usar energia celestial em seus corpos, mas nada funcionou… — disse Irene.

Jon então olhou para o chão. Havia uma luz roxa brilhando em uma linha fina. Reparando melhor a luz estava por todo o chão, formando diversos desenhos.

— Tentou usar energia celestial no chão?

— São as runas da maldição, mas não tenho força o bastante para anular elas.

— Tente, talvez sirva para enfraquecê-la pelo menos.

Irene se agachou, sua mão emanou um brilho dourado, e ela a encostou no chão. A luz roxa começou a desviar da mão dela.

— Viu, não funciona, não consigo gerar energia o bastante para interromper o fluxo de energia em todo o chão, só em uma pequena parte.

Jon começou a olhar para o chão com mais atenção, enquanto tentava ignorar as lamentações de Marko, que não parava de gritar.

— Aqui! Todo fluxo de energia da sala passa por essa área que estou em cima. Na maioria ele encontra outro caminho, mas aqui não vai ter como desviar. Tente jogar energia aqui para ver se funciona.

Irene foi até ali e repetiu o processe anterior. Dessa vez foi mais funcional, a energia passando pelo chão mudou drasticamente a sua movimentação ao tentar não passar pela área que Irene estava bombardeando com energia celestial.

Em seguida, Joanne saiu do transe, e logo depois Lara. Demoraram um tempo para se acalmar e entender o que estava acontecendo, e nenhuma das duas quis falar o que viram.

Assim que se recuperaram, Lara e Joanne foram se posicionando em outras partes da sala onde o fluxo de energia parecia ser maior. Lara achava que podia quebrar a maldição completamente, mas Joanne a mandou não o fazer porque teria que passar a caixa amaldiçoada para elas segurarem e gastaria tanta energia que era bem capaz de voltar a seu pagamento.

Assim que Lara e Joanne começaram a interromper o fluxo da luz roxa no chão Arian acordou.

— <E>!

O guardião abraçou a fantasma com tanta força que Jon se perguntou se ela não sentia dor.

— Pensei que tinha perdido você.

A garota também estava chorando abraçada nele. Jon não precisou sequer perguntar o que aconteceu com Arian. Nada de memórias traumáticas, uma fantasma com um sorriso cativante era o ponto fraco do poderoso guardião dos meio-elfos, que no momento parecia só um garoto comum e bastante assustado. Pensando nisso, Jon notou que Arian não era tão diferente dele quanto pensava, só havia passado por mais coisas na vida.

— E o Marko?

Questionou Joanne.

Arian estava tentando esconder o rosto do grupo, aparentando envergonhado devido aos olhos inchados de tanto chorar. Ele fitou Marko com pena.

— Ele não vai voltar.

— Como assim? — questionou Jon, assustado. — Pelo que entendi a maldição perde efeito quando você se acalma e nega o que está acontecendo. Quanto mais fraca ela fica com vocês atrapalhando o fluxo mais fácil de sair.

— A maldição ser enfraquecida só facilita você notar que está em uma ilusão, não te tira de lá. E Marko está desesperado demais para notar qualquer coisa. Ele não vai conseguir sair a não ser que anulemos a magia completamente… — Arian olhou para Marko e depois para os portais a volta deles.  — Jon, qual o próximo portal?

— Não sei. Achei que tínhamos entrado no errado, mas ainda estamos vivos, o que não faz sentido. Para que uma maldição que uma pessoa comum e sem grandes traumas poderia sair sozinha? Então talvez seja o local certo e haja um jeito de quem conhece evitar a maldição.

— Faz sentido. Vamos para o 8 então, como você sugeriu anteriormente. Se for o errado damos um jeito.

— E o Marko? Qual o medo dele, afinal? — questionou Irene.

— É complicado… Tente perguntar a ele um dia. Ela vai ficar com medo da sua reação, mas é capaz de te dar a resposta. Apenas lembre-se: tente se colocar no lugar dele antes de julgá-lo.

Arian foi até seu amigo, segurou um dos braços e começou a arrastá-lo para o portal número 8.

— O que está fazendo?

— Tirando ele daqui. Se sairmos desse andar a maldição perde o efeito.

Jon se sentiu meio burro por não ter pensado nisso antes, embora mover alguém pesado como Marko fosse meio complicado para os outros que estavam ali, fora Arian.

Todos eles se aproximaram do portal com um 8 na parede atrás dele e foram novamente teleportados.

O chão sumiu de seus pés e voltou novamente. Depois disso estavam dentro de uma sala quase idêntica à anterior, mas essa com apenas um portal e uma escada circular no meio que dava para o próximo andar.

— Parece que eram mesmo os portais certos. — afirmou Jon, aliviado.

— Finalmente! Subam logo, se quisesse matar vocês, não teria deixado chegarem até os portais — disse uma voz vinda de um andar superior.

Eles se olharam, confirmando se obedeciam ou não.

— Faz sentido. — afirmou Jon. — Depois do barulho que fizemos lutando contra a guarda foi estranho nenhum demônio aparecer.

— Marko e eu vamos na frente por precaução. — Arian olhou para o lado ao notar que Marko não respondeu. Seu amigo ainda estava parcialmente catatônico — Deixa para lá! Se eu subir e não falar nada por muito tempo algo deu errado.

Arian se dirigiu para a escada, mas antes de pisar no primeiro degrau alguém agarrou seu braço.

— O que está fazendo, Lara?

— Você tem menos chance de morrer comigo junto.

Arian olhou para ela por um breve momento, e então decidiu perguntar algo que estava na sua mente a dias.

— Por que se importa tanto? Tínhamos algo antes de eu perder a memória? Caso contrário só me conhece há poucos dias e… Eu não entendo.

Lara riu da pergunta.

— Ainda não é o momento… E você conhece Kadia há poucos dias também, e está aí tentando salvá-la em vez de se preocupar mais consigo mesmo.

— Ela foi pega por minha causa. Eu a mandei voltar sozinha. Se não tivesse feito isso…

Lara o interrompeu.

— Você é o pai dela agora? Está tratando a mulher que quase te matou na Arena como se não pudesse cuidar de si mesma.

— Eu sei… Eu só…

— Andem logo! — gritou a voz vinda dos andares acima.

— Certo, vamos lá!

Lara e Arian subiram as escadas.

O andar acima deles tinha uma cozinha, o depois dele um quarto desarrumado, em seguida mais um quarto, esse arrumado, depois um quarto vazio, outro quarto vazio, e finalmente uma prisão. Haviam diversas celas a volta deles. A maioria estava vazia. Só três estavam ocupadas. Duas por mulheres que Arian não conhecia e estavam desacordadas, e a outra por uma figura conhecida que ele detestava.

— Oi, taradão das meio-elfas. Que tal me dar uma ajuda?

— O que está fazendo aqui, Dorian?

— O que acha? Alguém me nocauteou enquanto voltava para o hotel e quando acordei estava nessa cela. Arx fica tagarelando o dia inteiro, mas não responde nenhuma das minhas perguntas. Nem sei porque ainda estou vivo.

Arian foi até a cela em que ele estava e tentou abri-la a força. Ele puxou a grade com toda força, mas não teve resultado.

— Que tal chamar o grandão para fazer isso, acho que ele tem mais chances. Ou então faz sua mágica de ficar azul.

— Marko não está bem no momento e eu não controlo aquilo, então vai ter que esperar um pouco. Vamos subir, Lara.

— Que insensível…

Lara e Arian ignoraram os resmungos de Dorian e voltaram a subir as escadas. Arian não parava de olhar de um lado para o outro, receoso.

— Lara, fique atenta, está cheio de espíritos aqui, e vários são de demônios.

— Relaxa, se encostarem em mim vão virar ex-espíritos.

Os próximos 2 andares eram mais celas de prisão, depois uma cozinha, um quarto bem arrumado, um outro acima dele bastante mal arrumado, e depois 3 andares vazios. E então finalmente chegaram no último andar.

— Já era tempo… Está quase amanhecendo… Gostaram da brincadeira da Marin…? Ela diz ter feito aquilo como precaução, mas claramente foi rancor por ter obrigado ela a fazer um contrato de sangue. Toda vez que subo aqui tenho que passar por aquela coisa…  — disse Arx, com uma voz e olhar cansados, sentado em um trono no fundo da sala.

Do seu lado esquerdo estava o homem que Lara viu guiando a carruagem dele, provavelmente seu mordomo pessoal. Do outro lado do trono havia uma pessoa em uma armadura negra que cobria o corpo todo, então nem o rosto podiam ver.

Esse andar só tinha um grande trono encostado na parede e uma mesa de pedra na frente dele. Em cima da mesa haviam vários símbolos cravejados, e dois caixões de metal cuidadosamente encaixados na mesa de pedra. Em um dos caixões estava o corpo da filha de Arx, e no outro, Zekasta, ambas bastante pálidas, mas respirando. Uma luz negra estava passando pelos desenhos na pedra e indo do caixão de Zekasta para o de Alice. Ao ver isso e juntar as informações que tinham sobre Marin, deduzir que a alma de Zek devia estar sendo transferida para o corpo da filha de Arx não era difícil.

— Não vão dizer nada? Imagino que já sabem de boa parte graças a Alice, mas ainda devem ter dúvidas.

— Sabia o que ela estava fazendo?

Arx começou a rir depois da pergunta.

— Eu a mandei guiar vocês até aqui, caso ainda não tenha notado. Embora tenha ficado em dúvida se pegariam a dica dos portais com o meu velho diário. Convidá-los seria mais simples, mas achei que não aceitariam, então comecei a pegar algumas pessoas do seu grupo para atrai-los.

Arian arregalou levemente os olhos, não era algo que ele esperava ouvir. Alice parecia uma garota honesta para ele.

— Não culpem minha filha, ela foi obrigada a isso. Como todos os fantasmas dessa cidade, ela tem um pacto de sangue assinado. Mesmo o espírito dela é obrigado a seguir minhas ordens.

— Fez isso com sua própria filha?

— Recentemente ela estava tentando arranjar um jeito de destruir a si mesma, o que queria que eu fizesse? Não vou deixá-la se matar! Só precisei pegar uma gota de sangue do corpo dela, não é como se ela tivesse sofrido no processo.

— Você está mantendo o corpo dela semivivo sacrificando a alma de pessoas diariamente, acha mesmo que ela vai acordar um dia e te agradecer por isso?

Arx finalmente perdeu a calma depois desse comentário.

— Não importa! Eu quero ela de volta, só isso! Se vai voltar revoltada comigo ou um pouco diferente em personalidade é um preço baixo a pagar.

Notando que a discussão não levaria a nada, Arian respirou fundo e tentou mudar de assunto.

— Sabe o que queremos. Nos dê logo e deixamos você em paz para seja lá o que quer fazer. Mas se não puder devolver qualquer uma delas com vida, eu mesmo retalho o corpo da sua filha e o seu junto…  — Apesar do tom agressivo, Arian estava olhando o local com atenção, como se procurando algo, ou se preparando para algo. Lara só pode pensar no comentário que ele fez anteriormente sobre estar cheio de espíritos de demônios no local.

Arx não gostou da ameaça, mas depois de fechar os olhos por um momento e respirar fundo, voltou a se acalmar.

— O que fiz com a demônio e essa celestial é o que deseja saber, eu suponho? Bem, a celestial é uma excelente fonte de energia para manter vivo o corpo da Alice, a alma dela aguenta ser drenada por muito mais tempo. Um humano já teria morrido depois de um dia inteiro. Quem sabe a alma de Alice finalmente seja completamente restaurada graças a ela… Quanto a demônio, dependendo de como sair nossa negociação, você saberá em breve.

—  O que quer? — agora foi Lara que perguntou.

— Vocês dois. Bem, não a Lara, só a caixa que está com ela, mas ninguém no Sul fora ela consegue segurar essa porcaria por muito tempo sem morrer, então vou precisar dela temporariamente. Mas não se preocupe, ela está segura, não arriscaria uma guerra com a União Central matando a filha do Rei de Moonsong. Já você, jovem, pode não ter um futuro tão promissor…

Por vezes Arian se esquecia, mas de fato, matar Lara poderia acarretar um grave conflito, o sobrenome dela deixava isso bem claro. Moonsong era o país mais famoso dentre os pertencentes à União Central, com quase metade da população formada por vampiros puros. Entrar em guerra com eles era pedir para ser aniquilado.

— Para que quer a caixa? — perguntou Lara.

— Não sou eu que quero, é o dono dela…

— Seu desgraçado! Se aliou ao Victor? Vai trair seu próprio povo com nosso maior inimigo?

— Meu povo? Que povo, Moonsong? Meu povo foi aniquilado por uma praga e depois o homem que deveria ter nos ajudado me deu uma esmola de consolo. Não ligo a mínima para o resto do Sul, assim como não ligaram quando eu perdi tudo. Por mim podem todos morrer ou o Norte tomar o Sul, tanto faz desde que eu tenha minha filha…

Arx parou de falar ao notar a garota atrás de Arian, <E>.

— Mas o quê? Moonsong, essa é quem eu penso que é…? O que isso significa?

— Nada, só cala a boca e diz o que fez com as garotas Arx.

Arian tinha um bando de perguntas para o interesse de Arx sobre <E>, mas achou que não era o momento. Lara tinha prometido revelar o que sabia em breve, então ele podia esperar mais um pouco.

— Quem disse que estamos negociando, Moonsong? Estava apenas sendo hospitaleiro em respeito a seu pai. Ou vocês dão o que eu desejo por bem, ou vou conseguir da mesma forma, mas seus amigos vão todos morrer antes.

— Chega, cansei dessa conversa inútil!

Arian tirou uma de suas espadas das costas e avançou contra Arx a toda velocidade, mas no meio do caminho, do nada, foi arremessado contra uma das paredes do local.

— Que garoto mal-educado… Achou mesmo que seria tão fácil? Ensinem bons modos a ele.

— <E>, não! — disse Arian, olhando para a fantasma, que queria correr até onde ele foi jogado. — Você também Lara, não se mexa, está cheio de espíritos em volta de…

Antes de conseguir terminar a frase Arian começou a ser arremessado de um lado para o outro da sala. Cada vez que ele tentava se levantar era arremessado e batia com o corpo contra uma das paredes, produzindo um forte barulho que ecoava pela local. A armadura podia estar o protegendo, mas sua cabeça não tinha nenhuma, e como resultado já havia sangue escorrendo pelo seu rosto, e ele parecia cada vez mais desnorteado.

— Pare com isso, Arx! — Lara segurou sua espada de forma ofensiva e estava carregando energia celestial em uma das mãos.

— Eu paro, é só concordar em vir comigo. Na verdade, eu posso até abrir mão do garoto, creio que Victor vai me dar o que desejo apenas com a caixa. O garoto ele consegue depois…

— Arian é meu, Arx, e ninguém mais vai tê-lo enquanto eu respirar.

Uma forte luz dourada emanou dos olhos azuis de Lara, e ela se preparou para avançar contra o adversário.

— Achei que você não ia colaborar também. Felizmente tenho uma ótima solução para isso.

Arx fez sinal para o cavaleiro negro do seu lado e apontou para Lara.

— Não a mate, apenas imobilize.

O cavaleiro negro começou caminhar lentamente até Lara, que tomou uma postura defensiva. Arx então olhou para Arian, que ainda estava sendo arremessado sem piedade por fantasmas e demônios que ele controlava.

— Ah sim, antes que você desmaie, Guardião, acho justo responder ao menos uma de suas perguntas. — Arxs então olhou para o cavaleiro negro — Pode tirar esse elmo agora, vai tornar tudo mais interessante.

O cavaleiro parou a poucos metros de Lara e retirou calmamente seu elmo. Arian só pode ficar pasmo ao ver os longos cabelos negros caírem pelas costas da armadura e aqueles olhos dourados ameaçadores fitando Lara. Ele finalmente havia a encontrado.

— Kadia…

Próximo: Capítulo 13 – Traição

Comente o que achou do capítulo, o autor agradece.

Extras:

Ilustração oficial da Lara (isso aí é um pedacinho aproximado dela, a versão completa mostrando o cenário e corpo todo vai sair no cap 14)

Lara Moonsong, filha de Alexander Moonsong, Rei do país Moonsong, um dos vários pertencentes da união central, localizado no meio do continente.