Aku no Hana – Les Fleurs du Mal | Review (Mangá)

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Aku no Hana é uma das obras mais controversas no nicho de pessoas que gostam de animes, mangás e derivados. Isso se deve, em grande parte, ao fato de ter recebido uma adaptação para anime que desagradou quase todo mundo devido ao seu estilo visual bem, digamos… exótico. Não bastasse isso, a personalidade do protagonista masculino também irritou muita gente, visto que ele passa muito longe de possuir uma personalidade forte, tampouco carismática. Bem, até o momento nunca assisti ao anime (pretendo), mas passarei minha visão sobre o seu material original.

Eu sei que todo mundo já viu essa imagem trocentas vezes, mas vou colocar mesmo assim.

O mangá é de autoria do Oshimi Shuuzou, já está finalizado e foi serializado entre 2009 e 2014 na revista Bessatsu Shounen Magazine, da editora Kodansha. Seus gêneros principais são drama, romance e psicológico. Ele conta a história de Kasuga Takao, um estudante sem nenhuma característica especial fora seu gosto pela leitura, especialmente por livros mais undergroung, até que um dia ele acaba pegando as roupas de banho da sua amada Saeki Nanako acidentalmente, sendo flagrado no ato por Nakamura Sawa, que começa a chantageá-lo fortemente a partir daí.

Ela é louca, mas a obra não seria nada sem ela.

Antes de tudo, deve-se alertar: caso você não esteja disposto a sentir incômodo, raiva e uma penca de emoções negativas ativadas propositalmente pela própria obra, definitivamente é meio que recomendável passar longe disso aqui, pois nela, durante toda a sua extensão, são muito mais frequentes momentos que trazem amarguras do que alegrias.

Também vale salientar que há nela vários toques de simbolismos mais subjetivos para representar o estado psicológico do protagonista, sendo que eles são justamente um dos motivos para o nome do mangá ser Aku no Hana (Flores do Mal), pois seu livro favorito é “Les Fleurs du Mal”. Ele realmente existe e foi escrito pelo Francês Baudelaire, cujas criações eram consideradas uma leitura muito densa e de difícil compreensão.

Eu fiquei surpreso quando descobri que realmente existia.

Tendo isso em vista, comecemos falando dos personagens da obra, os quais considero o ponto alto da história. Inicialmente, deve ser definido que um protagonista não precisa de carisma ou caráter admirável para ser considerado um bom personagem. O cara pode ser o mais “bundão”, de pior índole, te deixar com vontade de jogar ele de uma ponte a cada vez que o vê, e mesmo assim isso não vai torná-lo automaticamente um personagem ruim. O fator determinante sempre é como será trabalhado e desenvolvido ao decorrer do enredo.

E é justamente isso que os personagens principais de Aku no Hana são — completamente detestáveis. O protagonista é fraco psicologicamente e internamente arrogante (ele se achava superior meramente por ler livros e fingir que entendia tudo), já a Nakamura é totalmente perturbada e insana, enquanto a Saeki inicia a história como uma visão um pouco mais idealizada por parte do Kasuga (tão boazinha que chegava a aborrecer). O enredo todo é movido em prol da exploração de seus psicológicos e nuances, tendo esse objetivo executado com grande destreza por parte do autor.

Esse negócio aí sempre representa visualmente o estado do protagonista.

Com o passar do tempo, as visões de mundo, valores e ideais de cada personagem são completamente quebrados. A ideia de cotidiano muda completamente, e vai sendo despertado no protagonista através da Nakamura  um desprezo cada vez maior pelo ordinário, levando-o a cometer até mesmo atos de grandes proporções. Nesse meio-termo a Saeki estava desesperada para trazê-lo “de volta para a luz”, para isso perdendo cada vez mais sua imagem de garota pura e doce.

A trama fica gradualmente mais nervosa e tensa do início até seu maior clímax, no qual os três personagens chegam ao ápice da ruína psicológica. Alguns dizem que os personagens são só ruins e pronto, sem desenvolvimento, fato que me faz pensar seriamente se leram a obra até o final. Após esse clímax inicia-se o arco da redenção deles, em que são trabalhadas suas saídas do fundo do poço. São efetuados nele a antítese da outra parte da obra, objetivando a evolução dos personagens após tantas decaídas.

Esse turbilhão de ações e sentimentos são muito bem passados para o papel através da ótima arte do autor. As páginas duplas impactam bastante, e o character design, apesar de normal, é agradável e com nível considerável de detalhes. Ademais, o estado mental dos personagens é bem representado em suas expressões faciais, apesar do esforço do Oshimi para não deixar fácil demais perceber o que eles estão sentindo em cada momento.

Entretanto, a obra carece de um senso de realismo maior na sua dimensão diegética. Mesmo os personagens principais sendo bem orgânicos, me incomoda bastante a reação das pessoas ao redor sobre seus atos, visto que muitas vezes se impactam pouco e tomam medidas mais brandas que o esperado em situações nas quais isso não deveria acontecer. Também acho difícil uma família com boas condições financeiras deixar a porta da frente da casa fácil de ser aberta pelo filho à noite quase todo dia por um bom tempo.

Eu sairia correndo.

O final é completamente fechado e condizente com os desenvolvimentos tomados pelo enredo durante toda a sua duração. Pros amantes de casais definidos também é um prato cheio, pois o romance termina muito bem, além de que o autor decidiu fazê-lo à la Onani Master Kurosawa (quem leu sabe bem do que estou falando). Aku no Hana tornou-se com facilidade um dos meus mangás favoritos, e apesar de não ser amado por todo mundo deixo a recomendação.

Nota: 9/10

Jacó Neto

Estudante do curso técnico em informática, 16 anos, nordestino, gosta de qualquer coisa relacionada a cultura pop japonesa. Meu anime favorito é 3-Gatsu no Lion.