As Crônicas de Arian – Capítulo 34 – A fugitiva

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Capítulo 34 – A fugitiva

— Tem certeza, Arian? Não são missões para sua classe, e o pagamento é péssimo, não é à toa que ninguém pegou ainda. — A recepcionista estava olhando confusa para os dois registros que Arian escolheu, junto ao bolo de missões disponíveis que ele trouxe de volta.

— Preciso de algo rápido e perto daqui, essas estão ótimas. A recompensa não importa. Fez as duas identificações temporárias que te pedi?

— Sim, estão aqui. Para que vai usá-las?

— Não quero reativar a minha antiga. Essas de membros temporários são a melhor opção.

— O certo seria colocar a garota na classe D, mas como deu sua palavra que ela é pelo menos A+, coloquei C, como fiz com seu amigo.

— Obrigado. — Arian pegou e conferiu rapidamente as identificações. —  Bom, é isso. Devo voltar em 1, ou 2 dias.

— Boa sorte.

O guardião saiu apressado pela entrada da guild. Pela altura do Sol, já estava atrasado. Tinha passado um pouco da metade do dia, que foi quando Lara combinou dos dois se encontrarem, ou mais precisamente, dele ajudá-la a fugir. Se dirigiu para o beco que separava o prédio da guild das casas em volta. O quarto dela era na mesma altura do seu, quinto andar, e Lara disse que colocaria duas toalhas na janela, para ajudar na identificação. Não tinha uma corda, o que significa que ele teria que escalar para pegá-la.

Arian conversou com os guardas, pagos pela guild, que ficavam de vigília em volta do prédio. Mostrou sua identificação e avisou que iria pegar sua namorada pela janela, descrevendo tudo como um fetiche dela. Todas essas instruções estavam na carta que Lara deixou para ele, que foi passada por debaixo da porta.  Arian não gostou da ideia, e nem <E>, que estava querendo o matar com os olhos desde que falou a palavra namorada. Mas o pagamento que Lara prometeu era alto demais para ele recusar.

Escalou a construção, tentando ficar longe das janelas, enquanto um dos vigias ficava de olho nele, provavelmente para conferir se só iria fazer o que tinha combinado. Também mudou a cor de sua capa para a mesma cor da parede, na tentativa de chamar menos atenção. Tinha várias decorações de metal e pedra presas na parede, o que tornava fácil escalar. Foi até a janela com as duas toalhas. Ela dava para um banheiro, provavelmente do quarto de Joanne. Lara apareceu pouco depois, na janela ao lado, que dava para o cômodo principal do quarto. Fingiu estar olhando a paisagem, e fez sinal com a mão para ele aguardar. No momento, o que ele queria mesmo saber é como Lara faria para fugir de Joanne e as outras, que estavam no mesmo quarto?

As mulheres dentro do quarto estavam conversando algo. Lara disse que precisava ir no banheiro, e logo depois apareceu na janela que Arian estava. Ele a segurou e pulou para o beco. O impacto quebraria as pernas de um humano normal, mas no caso dele não era nada demais. Logo depois viu uma fumaça negra saindo da janela com as duas toalhas, e os gritos de Joanne amaldiçoando Lara.

— O que você fez? — perguntou Arian, olhando confuso para cima.

— Disse que daria um jeito para elas não nos seguirem, não disse? Agora corre!

— Quer mesmo fazer isso? — perguntou, enquanto corria junto com ela para fora do beco.

—  Vamos, ou não te conto nada!

O vigia fez um sinal de positivo para os dois, conforme eles saíam correndo pela rua. Arian e Lara sorriram de volta.

— Me sinto um idiota…

— Por quê? Eu sou a namorada com fetiche por fugas, você é só o namorado obediente.

— Não tinha uma história melhor? A sua deixou uma garotinha muito brava. — disse Arian, enquanto olhava para <E>, correndo com uma cara emburrada, ao lado dele. Seja qual for a dúvida que ela tem quanto a Lara, tinha deixado para lá no momento.

Lara não respondeu, só começou a rir, para o espanto de Arian.

“Ela sabe sobre <E>? Ou só achou o que eu falei engraçado?”.

Os dois pararam depois de chegar em uma rua maior, cheia de charretes e carroças passando. Era uma das ruas principais. Como não se podia entrar em Amira a cavalo, para ir de um lugar para o outro se usava o transporte público. As charretes mais luxuosas eram pagas, e as mais simples, que cabiam bem mais pessoas, gratuitas.

— Certo… Vamos para a cidade de Avile, é bem próxima. Mas eu ainda acho arriscado.

— Não se preocupe, eu deixei a relíquia com elas. Então os que estão atrás daquilo não vão ter motivos para nos perseguir.

De fato, a pequena caixa preta, que Lara sempre carregava no cinto, não estava com ela. Arian só pode pensar que foi isso que ela usou como distração. O objeto produziu aquela fumaça quando ela o largou para trás.

— Tudo bem fazer isso? A Joanne parecia mal aquela vez que passou a caixa para ela.

— Tem três para segurá-la ali, não devem ter problema se ficarem todas juntas… Mas e agora, para onde?

— Temos que pegar uma charrete até a saída, é bom que já vejo um cavalo novo no estábulo. E Lara, cubra mais seu rosto com esse capuz, você chama muita atenção.

Lara obedeceu, com um enorme sorriso na cara. A roupa dela era simples, o que chamava atenção era seu rosto, que era lindo.

“Chama muita atenção dos outros, ou é você que não consegue parar de olhar para o rosto dela?”.

“Eu gostava mais quando você ficava calado a maior parte do tempo…”.

“Achei que você iria parar de me usar se fizesse isso, mas como não funcionou, vou voltar a te incomodar com mais frequência”.

Arian tentou ignorar seus pensamentos e assobiou para uma charrete luxuosa que estava passando. Os dois entraram.

— Para a saída Sul, por favor.

— Sim, senhor.

No meio do caminho, perto do centro da cidade, uma estátua gigantesca chamou a atenção de Lara. Era um homem com uma armadura feita de pele de dragão e uma espada, segurando uma mulher em um dos braços. Ela tinha orelhas élficas e um cabelo bem longo. Tocava o rosto do cavaleiro com uma das mãos e ele a olhava, como se estivesse em transe.

— Essa estátua não está errada?

— Lancaster e Amira. Nunca leu a história deles? Era a favorita de Emily, uma das mais românticas entre os contos de heróis antigos. Tem esta estátua e outras menores, dos dois, em diferentes posições, espalhadas pela cidade toda.

— Emily?

— Uma garota que conheci… Era como uma irmã para mim.

Lara deve ter notado que ele não queria falar do assunto, porque logo mudou de tópico.

— A mulher de Lancaster não é a filha da rainha dos celestiais, Lux? Tem uma estátua deles juntos na cidade da luz. A demônio Amira traiu os dois e morreu pelas mãos de Lux. Fora ela, só tem o dragão com quem Lancaster fez seu pacto, dizem que está sempre na sombra dele.

— Sério? Eu nunca li. A história que Emily me contou não citava nenhuma Lux, e era bastante floreada no romance. A parte do dragão era meio diferente também. Vou perguntar ao Jon se ele sabe algo a respeito depois. — A atenção de Arian se voltou para uma loja enorme com um escudo e uma espada na frente, da qual eles estavam se aproximando. — Vamos descer aqui. Temos que comprar armas de prata se vamos mesmo fazer isso.

Arian pagou a carruagem, e os dois entraram em uma loja gigantesca de armas logo depois. Ele comprou quatro espadas de prata de média qualidade e uma normal, já que as dele tinham quebrado na luta contra Malak.

— Se quer uma espada reserva, não é melhor comprar uma de melhor qualidade?

— Elas nunca duraram muito mais que as de média qualidade para mim, e custam mais do que o dobro. Se tratando de armas, ou você gasta uma fortuna com uma arma quase inquebrável, ou então é melhor comprar uma barata, já sabendo que vai quebrar em algum momento. Se precisar lutar contra alguém com uma arma mágica, eu tenho a arma de maior confiança na minha cintura.

— Por que não usa só ela? Lâminas espirituais são quase tão eficazes quanto armas de prata contra criaturas mágicas.

Arian tirou a espada e mostrou a Lara. Estava cheia de fissuras.

— Não tem como reparar, já que a alma está praticamente morta. Quanto mais eu uso mais perto ela fica de quebrar. — Arian olhou para a espada, com um pouco de tristeza nos olhos. — Foi a única coisa constante, fora uma certa pessoa, que tive comigo desde que acordei há cinco anos. Não quero nem pensar no que vou fazer no dia que quebrar.

Arian pagou pelas espadas mostrando seu medalhão de Distany. O homem no balcão passou um objeto de metal quadrado, cheio de inscrições, em cima do medalhão, e considerou tudo pago.

— Que isso? Não tinha na cidade da luz, nem na que eu morava quando pequena.

Ambos saíram da loja e se dirigiram ao estábulo, que era perto dali, enquanto Arian explicava sobre o novo sistema de pagamento.

— Tem uma magia que estão usando nas grandes cidades que transfere o pagamento em créditos, é bem recente. No meu caso, usando o medalhão de Distany, fica creditado para o governo da cidade pagar. Se pagar usando o medalhão da guild, fica creditado para ela pagar. Cada cidade grande tem uma loja especial de troca, que faz a transação entre as cidades, guilds e lojas que estão participando do sistema. É bem mais eficiente do que carregar sacos de ouro por aí com você.

— Ainda acho pagar com moedas mais simples.

— É, mas em alguns anos acho que isso vai tomar o lugar das moedas.

— Certo. E para que quatro espadas? Não é melhor eu usar a minha? É muito superior a essas.

— Prata é mais eficiente contra amaldiçoados e licans. Se bem que a sua pode congelar eles… Mas suponho que gaste sua energia e a da criatura na espada para isso, então é melhor não desperdiçar.

— Pegou algo tão difícil assim? Eu só queria me divertir um pouco.

— Não é difícil… Mas vários conhecidos da minha guild morreram exatamente por começarem a achar que eram fortes demais, e aí se descuidavam. Consegue imaginar um classe A sendo morto por goblins? Já aconteceu, mais de uma vez.

— Você mudou muito. Quando o conheci, era descuidado e impulsivo. Admito que era mais divertido naquela época… — Lara o olhou como se buscasse um vestígio da pessoa que ela conhecia, ou talvez estivesse comparando os dois mentalmente.

“Notou como o modo que ela descreveu você é similar à sua confiança excessiva durante combates, anos atrás? Você era muito burro…”

“Inexperiente, não burro…”.

Arian ia perguntar alguma coisa a ela, mas resolveu esperar. Tinham acabado de chegar ao estábulo principal, na saída da cidade. Ele foi diretamente ao setor de vendas.

— Quanto por um White Astalion?

— 100 moedas de ouro.

— Pode trazer todos aqui?

— Só tenho seis, mas para quê?

— Apenas um teste que gosto de fazer.

O homem trouxe os seis cavalos. Arian se afastou deles e começou a assobiar, como se estivesse os chamando. Eles ficaram o observando por um tempo, até que um deles foi em sua direção, andando calmamente. Arian acariciou a cabeça do animal.

— Fico com esse.

— Para que isso? — questionou Lara.

— Ele gostou, ou se interessou por mim. Isso faz diferença entre ficar a seu lado, ou fugir em horas críticas. Tem mais chance de nos darmos bem.

— Parece frescura…

Lara tentou fazer o mesmo, mas nenhum cavalo foi até ela. Ela então fez uma cara furiosa, e os cavalos recuaram para trás.

— Como eu disse, isso é bobagem.

Arian começou a rir.

— Depois pedimos para Kadia ler a mente deles e descobrir quem está certo.

“Isso se ela voltar a falar com você…”

“Poderia ficar quieto?”

Lara olhou para os cavalos por um tempo e se decidiu.

— Certo, eu fico com aquele com a marca preta na cabeça.

— Vão comprar ele também? — perguntou o homem que trouxe os cavalos.

— Não, só alugar por 3 dias.

Arian usou o mesmo sistema do medalhão de Distany para fazer o pagamento, e eles seguiram viagem saindo pelo portão da cidade. A estrada era bem movimentada, com carroças indo e vindo sem parar. Quando viraram para uma estrada um pouco menor, rumo à cidade que requisitou a missão, Arian finalmente perguntou.

— Que tal algumas respostas que me prometeu?

Lara o olhou pensativa, e então disse:

— Marven Stormlight.

— Como?

— Era seu nome, Marven Stormlight. Sua mãe se chamava Liaz Stormlight.

— Minha mãe… Ela está viva? 

— Desapareceu há cinco anos, junto com você. Pensávamos que estavam mortos…

— Qual era a cidade?

— Fica ao sul da cidade de Breves, na União Central. Uma cidade chamada Ether.

Arian tentou usar as informações para localizar mais ou menos a cidade, na sua mente. A União Central era o maior país do continente, se localizando bem no centro do mesmo. Era um território enorme. E diferente do Sul e do Norte, a União Central não tinha um Rei a qual todas as cidades respondiam. O que se tinha eram várias cidades, se unificando por tratados, e um concelho geral, com representantes de cada um dos principais territórios daquele continente. Tudo era decidido pela votação desse concelho, desde tratados de comércio, a punições por quebras de acordos preestabelecidos. O número de cidades na União Central era absurdo, então Arian estava com dificuldade para lembrar onde ficava Breves, que Lara acabou de citar.

— Antes que pense em ir para lá desesperadamente, a cidade não existe mais.

— Como assim?

— Boa parte dela foi aniquilada por uma explosão há cinco anos, e todos os habitantes se tornaram amaldiçoados. Não existem provas, mas acham que foi o Lich.

— Aquele Lich? O da lenda da grande guerra do Sul e do Norte? Não achei que existia de verdade, e mesmo que exista, pensei que o problema dele era com o Sul.

— Eu também…

Arian ficou mais um tempo pensativo.

— Já é melhor do que nada, mas… Como vim parar aqui se morava em uma cidade no meio do continente?

— Isso eu não sei dizer, embora ache possível bolar algumas teorias plausíveis.

— Certo. Sabe o que eu sou então?

— Talvez…

— Como talvez?

— É complicado… Me dê um tempo para elaborar sobre isso — disse Lara, com um sorriso sádico, enquanto observava o desespero de Arian.

Ela logo voltou a fazer uma expressão mais inocente. Arian estava começando a achar que tinha entendido os comentários de Joanne e Jon sobre a personalidade dela. Ele estava frustrado, de tudo que queria saber, isso era o que mais lhe afligia, isso e…

— Certo. Sabe se eu conhecia alguém com um nome que começava com a letra E? E como você me conheceu? Morava perto?

Lara deu uma risada leve. <E>, que estava sentada à frente de Arian no cavalo, olhou interessada, nesse momento.

— Infelizmente, suas perguntas se esgotaram, se eu responder tudo de uma vez, Joanne me mata. Na verdade, como disse na carta que deixei em seu quarto, ela queria que eu enrolasse você, e só contasse o que sei em Sunkeep. Já te contei mais ou menos metade das informações que tenho.

Arian soltou um resmungo, se amaldiçoando por não ter escolhido melhor as perguntas. O que conseguiu era melhor do que nada, mas não o ajudava muito em suas principais dúvidas, e ainda gerava mais perguntas.

— Agora é minha vez. Me conte sobre algumas de suas aventuras nos tempos de guild.

— Marko não te contou tudo?

— Só do tempo do exército para frente. Me conte algo que não contou para ele.

Arian ficou um tempo pensando.

— Conhece a cidade das Dungeons?

— Já ouvi falar, mas nunca fui lá. Uma ilha à leste daqui habitada pelos primeiros elfos, há mais de 5000 anos, antes de evacuarem o local. Hoje em dia, tem uma cidade controlada pelos humanos, e muitos aventureiros explorando as cavernas da ilha e um abismo gigante que tem lá, em busca de tesouros deixados pelos elfos, quando evacuaram o local às pressas — respondeu Lara, para a surpresa de Arian. — Viu? Jon não é o único que sabe das coisas — completou ela.

Arian riu.

— Bem… No meu segundo ano na guild, fui mandado para lá…

Arian foi contando as histórias mais felizes de que se lembrava, até chegarem na cidade, à tarde. Os cavalos eram muito rápidos. Em montarias normais teriam demorado o dobro do tempo, e eles estariam muito cansados quando chegassem. Esses, no entanto, não tinham nem suado.

A vila era pequena, não parecia ter mais de 10.000 habitantes, e a maioria das casas era bem rústica. A cidade era cercada, do lado direito ficava um enorme lago, e à esquerda a floresta de Ark.

— Chegamos. Avile… faz tempo que vim aqui. É famosa pelo vinho e pão temperado. 

— Tem interesse em algum dos dois?

— Não muito, não consigo beber nada que não seja água sem querer vomitar.

— Sério?

— Adoraria dizer que é uma piada ruim… Se ficar com pena e quiser me dizer o que eu sou agradeço.

— Não sou tão fácil…

“Olha para esse sorriso sádico… Gosto cada vez mais dela”.

“Não, só aprecia qualquer coisa que me perturbe…”.

— Muito bem… Os ataques ocorrem ao sul da cidade, sempre saindo da floresta de Ark. Não é uma missão tão difícil, mas sempre podem mudar de nível com adversidades, e tem muitos ninhos de goblins nessa área da floresta.

— Nunca vi um. Dizem que são nojentos.

— A nojeira é o de menos, eles atacam em grupo, da forma mais traiçoeira possível, e o sangue deles gruda na sua espada, é horrível de tirar… Temos que encontrar o contato na guarda da cidade, veio de lá a requisição. Para onde era a guarda…?

Arian se achou depois de um tempo, e os dois pararam na frente de uma pequena casa, que parecia ser a base do quartel do local.

— Viemos pela missão 568844EW, destruição de um núcleo pequeno de amaldiçoados na floresta de Ark. Precisamos de um observador — disse Arian, desmontando do cavalo e se apresentando na porta da casa.

Logo depois, um soldado apareceu na porta.

— Podem apresentar as identificações?

Arian passou os medalhões de membros temporários dele e de Lara.

— Baldur, classe B+, nunca ouvi falar. E Lara, classe C… Pensei que mandariam um classe B ou A…

— Não vai conseguir um classe A pagando 5 moedas de ouro… Acredite amigo, pode não parecer, mas é seu dia de sorte.

O militar olhou incrédulo para ele. Depois olhou para Lara, e ficou meio hipnotizado por um tempo, muito provavelmente, pela aparência dela. Lara parecia uma daquelas celestiais, com beleza sem igual, descritas em livros antigos, então não era surpresa chamar tanta atenção. Mas logo o homem voltou a si.

— Sei… Bem, se fracassarem vão acabar mortos, ou não levando nada, então não é como se tivéssemos algo a perder. Johan, você vai com eles como observador, para comprovar que o trabalho foi realizado.

Um garoto com cabelo até o ombro, bastante cacheado, saiu de dentro da casa, que servia de sede da guarda.

— Senhor, eu acabei de entrar para a guarda, não acho que tenha experiência para…

— Exatamente, nenhuma iniciação é melhor do que se meter no meio da floresta de Ark em uma aventura. E veja pelo lado bom, se voltar vivo vamos parar de pegar no seu pé. Seu trabalho é só observar, esses dois que vão ter que fazer todo trabalho pesado, então só torça para serem bons.

— É seu dia de sorte, Johan. Vai se aventurar com uma mulher linda e um guerreiro de alto nível — disse Lara, com um sorriso confiante.

O garoto corou e ficou encarando Lara. Era mais um hipnotizado pelo rosto dela. Mas o transe não durou muito tempo.

— Espero que esteja certa… — disse o garoto, de uns 14 anos, como se estivesse indo para seu enterro.

Lara e Arian riram. Depois o garoto montou em um cavalo e os três seguiram em direção à floresta. <E> estava em pé na traseira do cavalo. Parecia empolgada com a aventura.

— Não querem esperar até amanhã de manhã? — perguntou o garoto, checando sua espada na cintura. Não tinha armadura, só usava um uniforme cinza e botas pretas, como era o padrão da guarda local.

— Estamos com pressa. Vamos só fazer uma vistoria superficial, enquanto ainda temos luz do dia. Quando anoitecer voltamos. Se formos de manhã, vai ser mais difícil achar os amaldiçoados e a direção de onde estão vindo. Eles quase não se movem durante o dia — disse Arian.

— Que outra missão é essa que está carregando? — perguntou o garoto, ao notar que Arian tinha mais um papel com ele, com a beirada saindo do bolso da calça.

— Uma extra, pessoal, ou quase isso… Mas essa não precisa de observador — disse ele, colocando o papel para dentro do bolso.

Lara e o garoto o olharam com ar de dúvida, e ele explicou qual era a missão secundária que queria fazer, enquanto eles entravam na floresta.

A uma certa distância deles, um homem e uma mulher, cobertos por mantos negros, os observavam.

— O que acha? — perguntou o homem.

— Perda de tempo, não está com ela — disse a mulher.

— Ela pode estar escondendo.

— Poderia ver os portais para a dimensão negra abertos, se estivesse com ela.

— Que droga, pouparia um bocado de destruição em Amira… Voltamos ao plano A então, e aguardamos os reforços. Raziel foi pegar o que lhe pedi, e os outros devem estar chegando amanhã.

— Vamos voltar para Amira, temos preparativos a fazer — disse a mulher, virando seu cavalo.

—  Vá na frente. Vou ficar por aqui, de olho neles.

— Como quiser.

A mulher partiu a galope com o cavalo, em direção à cidade de Amira. O homem ficou encarando as costas de Arian, enquanto ele e os outros dois a seu lado entravam na floresta.

— Entrar na floresta de Ark ao entardecer não é uma boa ideia… É bom não morrer agora, Arian, ou pode acabar perdendo a chance que vou te dar de descobrir tudo que sempre quis nos últimos anos…

Próximo: Capítulo 35 – A demônio frustrada

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