As Crônicas de Arian – Capítulo 32 – Amira

Índice para todos os capítulos: aqui

O Livro completo já está a venda na Amazon.

Capítulo 32 – Amira

— Tem certeza que abençoaram todos os corpos? Se todos os mortos daqui virarem amaldiçoados, vai ser um desastre — Joanne estava falando com Jon, enquanto olhava para a vila de Ane. Eles tinham dormido em uma das casas que ainda estava inteira.

— Eu fiz uma marca em cada corpo que purificamos, e uma recontagem hoje de manhã, não se preocupe — respondeu Jon, fazendo anotações em alguns papéis.

— Sério? Pensei que não conseguisse lidar com mortos… — Joanne parecia surpresa.

— Eu tinha que superar isso uma hora ou outra… — Ao dizer isso, ele olhou de leve para Marko, que estava fazendo um sinal de positivo. Foi ele que o convenceu a tentar enfrentar seu horror a pessoas mortas.

— Excelente. Vamos embora então.

Ao se virar, Jon viu algo que estava o deixando abismado desde ontem a noite. Uma criança grudada em Lara não era algo que se via todo dia.

— O que foi? — perguntou Lara a Jon, enquanto ajudava Ane a entrar na carruagem. A garota não saiu do lado dela desde que voltaram à vila.

— Nada, é apenas que… uma criança gostando de você… é estranho — disse ele, com os olhos em Ane. A garota tinha acabado de perder a mãe e todos os amigos da vila, então sua forte expressão de tristeza era o esperado. Seus olhos estavam bastante inchados, indicando que deve ter chorado a noite toda.

Arian, por outro lado, parecia mais alegre que o normal. Mas, curiosamente, fazia um olhar triste sempre que olhava para Kadia, que estava o evitando desde que chegaram.

— Jon, eu… — Arian se virou para Jon, e Zek na mesma hora se colocou na frente dele, com a mão na bainha da espada.

— Calma, não vou fazer nada com ele, Zek. Na verdade, é o contrário. Queria me desculpar por ontem. Marko contou o que aconteceu. O outro eu… é estúpido…

— Ah… Está tudo bem. Eu exagerei também.  

Os dois apertaram as mãos, enquanto Zek olhava desconfiada para Arian. Jon ainda estava meio nervoso com o que ocorreu, mas depois de Marko conversar com ele, contando pelo que Arian já havia passado, se sentiu um pouco mal pelo que tinha dito. Apesar disso, não se aguentou:

— Mas não acredita mesmo em deuses? — questionou Jon.

— Não é que eu não acredite. Tem muitos seres estranhos nesse mundo. Alguns tão poderosos que fogem à compreensão. Mas não acho que eles olham por nós, ou escutam a prece das pessoas. Anos trás, eu acreditava, mas… — Arian parecia estar lembrando de algo. — Um amigo me disse uma vez que somos moldados através de nossas experiências, e as minhas, em sua maioria, não foram muito bonitas… Hoje em dia, eu só acredito no que posso ver.

— Não viu Lara realizando um milagre ontem?

— Não, vi uma sacerdotisa poderosa salvando uma garotinha — Arian olhou para Lara com um sorriso ao dizer isso.

— Exatamente! Parem de dar crédito pelo que eu faço a pessoas que nunca viram! — disse Lara.

— Mas, Lara, você já viu a deusa Alizen, ou pelo menos disse que viu… — comentou Jon. — Deve ter sido ela que te permitiu salvar a garota.

— É sério? — perguntou o guardião, encarando Lara com curiosidade.

— Não, foi só um sonho, esqueçam isso! E ninguém permitiu nada, eu escolhi fazer, parem de tentar dar meu crédito a aquela mulher!

— Seu sonho iniciou essa missão, então deveria dar um pouco de crédito a ele, e a Alizen. Só não entendo porque ela escolheu alguém como você para…

— Jon, calado — interrompeu Joanne, ao notar que ele iria revelar algo que não devia.

— Desculpe…

Seguiram viagem sem grandes problemas, fora uma estrada enlameada pela chuva, que obrigou parte do grupo a empurrar a carroça. Um dos poucos momentos em que Jon agradeceu por não ter uma força acima do normal. Dorian também ficou só olhando, enquanto Arian, Marko e Kadia empurravam a diligência pela estrada, afundados em meio metro de barro. Segundo Dorian, era ilógico quem tinha uma força normal tentar ajudar. 

— Isso é nojento — reclamou Kadia, enquanto suas botas afundavam completamente na lama.

— Não se preocupe Kadia, você está muito sexy com essa lama pelo corpo todo — falou Marko, com um sorriso forçado no rosto.

“Tinha algo errado com ele”, pensou Jon.

— Não, <E>, isso não é divertido! Sua visão de diversão é deturpada… Kadia, não faça isso! — gritou Arian. Os olhos da garota estavam começando a brilhar.

— Se eu usasse toda minha força, iríamos mais rápido. 

— A madeira não foi feita para aguentar alguém com a força de 30 homens fazendo pressão sobre uma área pequena. Vai quebrar a carruagem!  

— Não seria uma má ideia… — disse Marko, cujo humor só estava piorando.

Depois de um bom tempo e resmungos do pessoal que estava empurrando, voltaram a uma estrada mais firme. À noite, pararam à beira da floresta, como de costume. Mas, diferente das noites anteriores, Jon não conseguiu conversar com Marko. Ele se isolou, a uma boa distância deles, e estava sendo grosseiro com qualquer um que chegasse perto. Agora eram dois gerando um clima estranho no grupo: Kadia evitando Arian, e Marko, depressivo. Tirando o último, todo resto do grupo estava sentado à volta de uma fogueira.

— O que está acontecendo? — falou Jon, pensando alto.

— Os mercenários levaram todas as bebidas da vila, e a dele acabou hoje de manhã — explicou Irene, observando Marko.

— Já vi pessoas que gostam muito de beber, mas nunca ficaram assim por um dia sem álcool.

— Só ignorem ele, até o infeliz encontrar álcool de novo. Sempre fica depressivo e rabugento quando está sóbrio — disse Arian, parecendo incomodado.

— Mas ele está chorando… — Irene estava com uma cara preocupada.

— Ele fez coisas que não consegue esquecer quando era mais novo… Sem o álcool, ele é obrigado a lidar com elas.

Após Arian dizer isso, todos olharam para Marko com ar de curiosidade.

— Eu ofereci pagar para apagarem a memória que o incomoda, mas ele se recusou… Pelo menos não é lua cheia, aí sim teríamos problemas de verdade.

— Kadia, o que você…? — Joanne questionou a demônio, que estava com uma cara horrível, enquanto olhava para Marko.

“Deve estar lendo a mente dele”, pensou Jon. Ao observar a concentração da demônio, Arian pareceu ter chegado a mesma conclusão.

— Não conte a ele o que viu, ou ele não vai mais conseguir olhar na sua cara. E recomendo parar de encará-lo com essa expressão também —  disse Arian, baixinho, e parecendo pouco à vontade em falar com Kadia, no momento.

— Por que está sussurrando? — questionou Irene.

— Ele pode nos ouvir se eu falar alto, tem uma audição bem melhor que o normal.

Kadia pareceu ter ignorado o que Arian falou.

— Mudando de assunto. É impressão minha, ou aconteceu algo entre vocês? Não se falaram o dia todo, e agora estão mantendo dois metros de distância um do outro… — perguntou Irene, observando que Arian e Kadia não tinham sentado lado a lado, como fizeram nos dias anteriores.

Era bem fácil notar que havia um clima ruim entre eles. Arian então olhou para Kadia, que continuava com o rosto virado na direção de Marko.

— Acho que ela viu as memórias da Ane do ocorrido na base dos mercenários.

— E qual o problema disso? — questionou Jon.

Arian olhou para o fogo a sua frente, pensativo, e disse:

— O que você faria Jon, salvaria 200 pessoas, ou uma única criança que você conhece?

Jon nem precisou pensar.

— Todas as vidas têm o mesmo valor, quer você conheça a pessoa ou não. Então escolheria o maior número possível de pessoas, óbvio.

— Então temos outra coisa que discordamos. E acho que Kadia está do seu lado.

Foi então que Jon se deu conta. O exemplo de Arian tinha acontecido ontem, no local onde ele resgatou Ane. Ele olhou para a garotinha, dormindo ao lado de Lara, sem saber o que dizer. “Ela valia pela vida de 200 pessoas…? Na teoria não, mas a opção de deixá-la morrer não parece correta também… Será que não existia uma terceira opção?”, pensou o garoto.  

— Uma demônio bisbilhoteira, um rato de livros religioso e moralista, um tarado por elfas de sangue frio, uma sacerdotisa com ego inchado, e um cavaleiro gigante e chorão. Que grupo fantástico nós formamos… — disse Dorian, parecendo entediado.

Uma chuva de pedras pequenas voaram em cima dele logo depois, por parte de Arian, e o resto dos envolvidos em sua frase. Jon não sabia se ele fez de propósito ou não, mas tinha ajudado a aliviar o clima pesado daquela noite.

— Meu deus, sua louca! — Dorian começou a gritar de dor.

Querendo se juntar a brincadeira, mas sem entender bem a ideia, Zek arremessou uma pedra grande, a uma velocidade estúpida, que quebrou o ombro de Dorian. Depois disso teve que ficar ajudando a curar ele, junto com Irene, durante a noite. Apesar de achar engraçado inicialmente, Jon ficou com pena de Zek depois. Era raro vê-la tentando se enturmar, e bem quando tentou, acaba dessa forma. Arian, no entanto, ficou rindo daquilo até dormir.  A magia da dimensão dos celestiais apenas ajudava o ferimento a se curar mais rápido que o normal, não tirava a dor, então Dorian ficou resmungando a noite toda.

Um dia de viagem depois, chegaram à Amira. Uma cidade cercada por um enorme muro de concreto e pedra, com mais de 50 metros de altura. Depois de Arcadia, era a cidade mais populosa do Sul. Jon nem precisou pensar para entender o porquê. Os muros altos passavam um ar de segurança ao local, e como ficava bem no meio do país, servia de passagem para vários viajantes, criando um ótimo local para comércio.

Assim como em Arcadia, era proibido andar a cavalo lá dentro, então, assim que passaram pelos enormes portões da entrada, tiveram que deixar seus cavalos e carruagem no estábulo. Marko disse que os encontraria mais tarde, e foi correndo atrás de um bar. A parte curiosa é ele não ter perguntado onde eles iriam ficar. Na entrada também tinha um letreiro com as regras da cidade. A lista de coisas escritas ali era absurda.

Existia um sistema de impostos no Sul, e uma obrigação de envio de tropas para fronteira quando necessário, mas fora isso, e algumas leis básicas, cada cidade podia inventar as regras que bem entendesse. Na verdade, não só no Sul, nesse mundo, a independência das cidades era um sistema bem comum, e criava uma cultura bizarra de cidades completamente diferentes umas das outras.

— Ignore a placa com as regras, Jon. Só o que precisa saber é “jamais jogar nada no chão” e “agredir verbalmente alguém na rua”. Ou seja, nada de discussões nervosas. A proibição de roupas muito reveladoras não vai ser um problema para você… — Arian então se virou para Kadia, se atentando a sua roupa de couro, colada ao corpo. — Já a Kadia, deveria passar longe dos guardas da cidade…

A demônio o ignorou.

— Não estou vendo nenhum guarda… — disse Jon, observando seus arredores.

— Eles usam roupas normais para se disfarçar no meio das pessoas. Existe uma obsessão por pegar alguém fazendo algo errado por aqui. Mas se quiser encontrá-los, preste atenção nos pulsos, só são admitidas pessoas que sabem usar magia na guarda dessa cidade, e todos são obrigados a usar braceletes de contenção. — Arian então se virou para Ane, que estava segurando a mão de Lara. — Preciso levar Ane até o estabelecimento da minha antiga Guild na cidade. Acho que consigo alguém de confiança para levá-la até Distany antes de partirmos. Se não conseguir, ela estará segura lá enquanto aguarda um dos guardiões de Distany vir buscá-la.

— Certo, vamos estar no alojamento principal da cidade… Amira Palace, acho que era esse o nome… Espero que ainda exista, faz muito tempo que vim aqui… —  Joanne estava olhando de um lado para o outro da rua, como se tentasse se localizar.

— Mas nem pensar. Já viu como é o alojamento da guild do taradão das elfas? Tem até termas! Se usarmos o nome dele conseguimos os quartos com desconto — disse Dorian.

— Que tal, sabe, me consultar antes?! — reclamou Arian.

— Você iria ficar de frescura. Vamos lá, não tem lugar mais seguro do que aquela guild nessa cidade. Querem um local seguro, não?

— Se o que ele diz é verdade… — disse Joanne.

Arian parecia incomodado, mas acabou cedendo.

— Me sigam — disse ele, com uma cara de quem não estava gostando da ideia.

Seguiram para a parte leste da cidade. Estavam beirando o muro, até que em determinado ponto, ele começou a subir de altura. Jon estranhou, até notar que não era o muro que estava aumentando. A parte leste foi construída colada em uma montanha, e o muro continuava subindo por ela.

— O que é aquela construção gigantesca no topo? — Jon estava intrigado com aquilo fazia algum tempo. 

Havia um prédio de concreto quadrado, de uns 6 a 7 andares de altura, no topo da montanha. Isso e uma estátua gigante de um cavaleiro e uma elfa, que parecia estar localizada bem no meio da cidade, chamavam bastante atenção.

— Uma prisão. Como eu disse, existe uma obsessão em prender pessoas por aqui, então construíram aquele local para intimidar quem entra na cidade, e comportar o excesso de prisioneiros.  Marko já passou um mês lá quando foi pego saindo pelado de um certo estabelecimento… Se me lembro bem, se você jogar lixo no chão nessa cidade, te jogam lá por uma semana — disse o guardião, olhando para o cume da montanha. 

Algum tempo depois, chegaram em um estabelecimento enorme, de 10 andares, feito em madeira refinada e pedras com vários símbolos esculpidos. Atrás do local, um enorme paredão de pedra, do qual dava para ver água caindo. Parecia uma pousada de luxo, como algumas que viu em Arcadia. Na entrada, o nome, “Scarlet Dragons”, cravado em uma placa de metal.

— Caramba! Isso não era tão grande da última vez que vim aqui — disse Joanne.

— A guild dele era minúscula cinco anos atrás. Acho que esse lugar nem era deles, só tinham uma cede bem pequena em Arcadia — disse Marko, aparecendo atrás deles com uma garrafa enorme nas mãos.

— Como nos achou? — perguntou Jon, intrigado.

— Pelo cheiro… 

Jon ficou em dúvida se ele estava debochando ou falando a verdade, mas resolveu deixar para lá.

— Bem, tinha achado estranho quando o Dorian disse termas, mas como o local fica colado em uma montanha, faz sentido conseguir água por esse paredão de pedra aí atrás — disse Jon.

— Tinha algo assim no seu mundo? — perguntou Zek.

— Meu mundo não era tão diferente desse… Imagino se todos seguem os mesmos padrões… 

— Não, meu mundo não tinha nada a ver com esse. Métricas, o modo de falar, costumes, era tudo completamente diferente. E os terrenos também — disse Kadia.

— Entendo… Talvez eu tenha dado sorte então. Mas tem algumas coisas que parecem coincidência até demais…

Enquanto Jon pensava, Arian entrou no local na frente deles. Tinha uma mulher usando uma roupa de funcionária, com o símbolo na guild, no balcão de recepção, mas ela nem olhou para a cara dele. Cabelo preto, preso em um rabo de cavalo, e um rosto bastante comum. Devia ter perto dos 40 anos. Ao notar a presença de alguém parando à frente dela, só perguntou de forma automatizada:

— Identificação, por favor.

Arian tirou uma corrente do pescoço. Tinha um pedaço de metal cheio de símbolos, preso nela.

— Arian, membro 0007, temporariamente desativado.

A mulher deu um pulo, no susto, quase caindo para trás. Depois olhou para o rosto dele, como se quisesse confirmar a identidade por baixo do capuz.

— Arian? Não acredito! Siren, Atlas, olha quem deu as caras! — gritou ela, na direção do bar da guild, que ficava a uns 20 metros da recepção.

Um loiro alto, com cabelo bem penteado para trás, e barba feita, levantou e veio correndo. Jon lembrou dos príncipes mimados que lia em histórias, quando o viu.  Ao lado dele, veio um outro homem. Cabelo preto curto, olhos cansados, barba por fazer e usando um casaco de couro surrado. Era o completo oposto do loiro.

— Seu desgraçado. Por que não deu notícias? Está sumido dos registros faz mais de um ano. — disse o loiro, abraçando Arian, que parecia meio incomodado. — Pensei que tinha morrido na guerra, até começarem os rumores que um dos guardiões de Distany se chamava Arian.

— Oi, Siren… — assim que o homem o soltou, Arian rapidamente se afastou um metro para trás. Olhou então para o sujeito de cabelo preto e sorriu. — E… como era? Atlasianubis? —

Marko e Dorian caíram na risada quando escutaram o nome.

— Não use meu nome completo, idiota! Estou quase conseguindo fazer todo mundo que conheço esquecer dele… — disse Atlas, que ficou levemente envergonhado, olhando para as pessoas atrás de Arian.

— Mas é um belo nome — disse Kadia.

— Não escute essa louca, o nome do pássaro dela parece uma maldição em língua demoníaca — disse Marko.

Jon tentou segurar o riso, mas não conseguiu. E para piorar, Dorian, que estava caindo na risada, ainda completou:

— Acho que você tem chance com ela. Se não pela sua aparência, pelo seu nome exótico.

— Infelizmente, por mais bonita que essa mulher de… roupas reveladoras…?

Kadia não pareceu se importar, já devia estar acostumada com aquele tipo de comentário sobre sua vestimenta.

— Bem, já estou acompanhado.

Atlas apontou para uma mulher em um manto negro no bar, que veio até ele e parou a seu lado. Seu rosto estava encoberto por um capuz, mas seus lábios vermelhos chamavam atenção. Estava usando uma bota preta, e um… “Vestido preto? Que roupa maluca era aquela?”, Jon se perguntou.

A mulher então falou algo no ouvido de Atlas.

— Sim, senhora… Bem, temos que ir. Outro dia a apresento a vocês.

Nisso, ele pegou a mão da garota e saíram pela porta da guild.

— Estão com você? — perguntou a atendente, olhando as várias pessoas atrás de Arian, observando o lugar.

— Sim, tem quartos sobrando para todos?

— Claro.

— E quero abrir uma missão, classe A+ ou S, para levar uma garota até Distany. 50 moedas de retorno.

— Classe C+ ou B já seriam mais que o bastante para uma escolta segura, e poderia pagar bem menos. A garota está sendo ameaçada ou algo parecido? — questionou a atendente.

— Só por segurança. Não quero correr riscos.

— Tudo bem.

— Classe? É como o rank dos sacerdotes? — perguntou Jon, interessado.  

— É bem parecido. Pessoas dentro de guilds são divididas em classes, de acordo com os feitos e capacidade ofensiva ou defensiva. Ajuda a definir que tipo de missão elas são adequadas a fazer. É parecido com o rank dos sacerdotes, como você disse, mas os critérios são diferentes — disse Joanne.

— Cinquenta moedas? Por uma escolta de poucos dias? Eu mesmo faço! — Siren escreveu seu nome no contrato, antes mesmo da atendente terminar de redigir.

— Para quando? — perguntou o homem loiro.

— O quanto antes. De preferência agora. Estou em outra missão. — disse Arian.

— Certo. Partimos amanhã então — falou Siren.

Arian foi até Lara e pegou a mão de Ane, que já não parecia mais tão assustada com ele, apesar da expressão triste que estava fazendo.

— Ane, sei que passou por muita coisa ruim até agora, e não posso lhe compensar pelo que perdeu, ninguém pode. É algo que vai ter que viver para sempre com você, e espero que supere. — A garota tinha um olhar perdido. Arian respirou fundo e completou:  — Mas posso te prometer uma coisa: tudo vai melhorar a partir de agora. O Siren é legal, pode confiar nele. E não deixe ele ficar jogando charme para todos os homens bonitos que achar no caminho. — disse o guardião, apontando para o homem.

— Ei, não me divirto enquanto estou trabalhando — reclamou Siren dando uma risada.

Arian riu, e continuou: 

— Lembra de Distany, Ane? O lugar que eu falava para sua mãe? Siren vai te levar para lá. Quando crescer pode decidir se quer ficar ou não, mas por enquanto, é o lugar mais seguro e feliz que existe para você. Acredite em mim, você vai gostar. — Arian olhou pensativo para ela. Parecia estar escolhendo as palavras para o que diria a seguir. — O que aconteceu naquele acampamento, foi escolha minha, e só minha. Se sentir qualquer culpa por aquilo, vou ficar muito triste. Você é a vítima, não a culpada. Entendeu?

A garota não respondeu, parecia pensativa, enquanto a mão ainda estava agarrada a capa de Lara. Siren se aproximou dela e se agachou, ficando na altura da garota.

— Oi, Ane. Vou ser seu acompanhante daqui para frente. Sou muito mais divertido que o Arian, e como pode notar, mais bonito também — Ele falou com um ar de deboche, o que conseguiu tirar um leve sorriso da cara da garota. O homem parecia ter jeito com crianças.

— Parece que antes de partirmos vamos ter que te dar um banho, não vou te levar na minha garupa com esse cheiro — disse o homem, fazendo uma cara feia. Ele então colocou a mão para frente, como se pedisse a garota para segurá-la — Vamos?

Ane finalmente soltou a capa de Lara. Siren então, pegou na mão dela, e a levou com ele.

Após algum tempo, e já distante no corredor, ela se virou para eles, e pela primeira vez, depois do ocorrido, falou algo:

— Obrigada — disse ela, olhando para Arian e Lara. O guardião e a sacerdotisa acenaram, dando um leve sorriso.

— Não tem problema ele dar banho nela? — Lara estava com um olhar desconfiado.

— Talvez se fosse um menino… Mas uma garota? Está segura, sem dúvidas — disse a atendente rindo.

— Arian, qual a sua classe? — perguntou Irene, tentando ler o que estava escrito no medalhão dele, que estava na mesa da recepção. Jon estava ficando admirado em ver como ela não tinha mais cerimônia alguma para falar com os novos membros do grupo.  

— Não importa, estou desativado — disse ele, pegando o medalhão rapidamente e colocando no pescoço.

— Ele é um SS, por isso tanta gente o conhece, só existe ele e mais um na Scarlet Dragons que ganharam classe SS. Mesmo estando desativado, o líder continua vendendo ele como membro para conseguir mais afiliados — respondeu a recepcionista.

— Isso explica muita coisa… — disse Arian.

— Pera, significa que eu sou um SS também, por ter te derrotado? — Dorian estava olhando para Arian com um ar de superioridade.

— Quando você me derrotou?

— Se não tivesse feito aquela trapaça de ficar azul teria levado uma surra.

Arian desistiu de discutir, não parecia querer entrar no assunto.

Logo depois, pegaram as chaves de seus quartos.

— Certo… pelos próximos 3 dias, façam o que quiserem, mas vou chamá-los de forma rotativa para fazer guarda na frente do nosso quarto. Mesmo com vocês dizendo que esse lugar é seguro, não quero arriscar.

Lara, Irene, Zek e Joanne ficaram no mesmo quarto. O resto do grupo estava em quartos separados. E para economizar, Joanne pediu a Marko para deixar Jon ficar com ele, no mesmo quarto.

Já era noite quando Jon estava voltando do Bar, onde comeu o melhor sanduíche desde que chegou aquele mundo, que, no geral, não tinha comidas muito saborosas. Subiu, junto a Kadia, Joanne, Irene e Zek, para o terceiro andar, e estava para entrar em seu quarto, quando algo lhe chamou atenção: Lara caiu, quando eles estavam passando na frente do quarto de Arian.

— Está caindo depois de dois copos de vinho? Você é muito fraca com bebida, Lara — disse Joanne.

Quem estava na frente provavelmente não podia ver, mas Lara empurrou um papel pequeno por baixo da porta do quarto de Arian, antes de se levantar. Jon ficou em dúvida se a dedurava para Joanne ou não. Lembrando do passado, não achava uma boa ideia. Ela quase não estava pegando no pé dele atualmente, mais concentrada em parecer uma boa moça na frente de Arian. Se queria falar algo secretamente com ele, que seja. Mas admitia, estava curioso para saber o que ela escreveu naquele papel.

Próximo: Capítulo 33 – O Garoto Mágico dos Livros

Ao terminar dê um feedback breve do que achou do capítulo, isso ajuda o autor.