As Crônicas de Arian – Capítulo 31 – Aquela que pode mudar o destino

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Capítulo 31 – Aquela que pode mudar o destino

O cavaleiro negro sumiu logo depois de Malak ser morto. À volta de Arian havia apenas pedaços de corpos. A maioria das pessoas morreram depois de ter toda sua energia absorvida, e o ritual começar a consumir partes de seus corpos. Alguns poucos, no entanto, sobreviveram. Infelizmente, nenhum deles era do vilarejo. Na verdade, a parte onde os habitantes do vilarejo estavam, não tinha mais quase nada, fora suas roupas, que o ritual não consumia. Perto deles, iluminada pela luz da lua, a estátua de Alizen, para a qual Arian estava olhando com ódio.

Alguns sobreviventes estavam parados, parecendo em dúvida quanto ao que fazer, e outros, começaram a pegar os pertences dos mortos. Sete deles foram em direção a Arian, com suas armas em punho.

Arian os estava vendo, mas não se movia, não se importava mais.

“Vai mesmo deixar eles te matarem? ”

“Não quero mais sentir isso…”

“É ruim, não é? A maioria das vezes fui eu que tive que sentir essas coisas… Estou cansado Arian, cansado de lutar em vão, de perder quem nós gostamos, e principalmente, de ter que carregar sozinho a culpa pelas nossas escolhas… Então se quer morrer, por mim tudo bem. Mas fico feliz que, ao menos dessa vez, você teve a coragem de encarar as consequências sozinho. ”

Arian continuava a encarar a estátua de Alizen, agora na esperança de que se aquela deusa realmente existisse, como Jon falou, permitiria que ele morresse ali, sem a costumeira interferência da anomalia em seu corpo. Talvez ele finalmente pudesse encontrar paz… Foi quando notou que <E> o estava balançando, desesperada, apontando para os homens de Malak que caminhavam em sua direção.

— Eu estou cansado <E>, cansado de tudo isso…

A garota começou a gritar algo, enquanto chorava, mas como sempre, não saía nenhum som. Vê-la sofrendo o machucava, então ele fechou os olhos. Foi quando os homens se aproximaram correndo, prontos para cortar sua cabeça.

— O que está fazendo seu idiota?!

Arian abriu os olhos ao escutar aquela voz. Kadia pulou em sua frente e cortou os três homens que se aproximavam com apenas um golpe de sua enorme espada. Lara e Joanne mataram os que vinham pelas costas. 

Arian não falou nada, só olhou para Lara e Joanne, com a garota em seus braços, e um olhar triste.

“Sacerdotisas… Talvez elas…”

Seu olhar mudou de alguém triste, para uma súplica.

— Vocês não podem fazer algo? O coração dela parou há pouco… talvez… 

Joanne tocou na garota e começou a falar algumas palavras, mas nada mudou.

— A maldição é muito forte, não posso pará-la. Mesmo que tente reanimá-la, é inútil sem retirar a maldição antes.

Lara estava fechando e abrindo a mão, nervosa, vendo a situação.

Olhou para Arian, depois para a garota, e para o objeto que carregava na cintura, uma pequena caixa preta, do tamanho de um punho, cheia de inscrições.

— Lamento, Arian, não tem nada que eu possa fazer — disse Joanne para Arian, que fechou os olhos, tentando não chorar.

— Mas eu posso! — Lara, irritada, jogou o objeto que estava em sua cintura na mão de Joanne, que na mesma hora foi ao chão, parecendo estar com muita dor.

— O que você? Ai… minha cabeça, mas que droga, Lara!

— Aguente um pouco.

— Me passe ela — disse Lara, chegando ao lado de Arian.

Ela segurou a garota, mas diferente de Joanne, não falou nada, só a observou, como se estivesse vendo além dela.

— A maldição foi ligada ao ritual de sacrifício, está usando a energia de alguns dos corpos restantes para manter ela ativa. Tenho que quebrar a ligação.

Um vento muito forte começou a vir da direção de Lara, enquanto seus olhos e mãos emitiam um brilho dourado. Logo depois, as tatuagens de Ane começaram a regredir.

— O que você…  — Kadia estava olhando a toda volta, deslumbrada.

— Só pode ser brincadeira… Um demônio que pode ver os círculos de conversão da dimensão dos celestiais? — perguntou Joanne, suando frio, enquanto parecia tentar se concentrar com a pequena caixa preta na mão.

Kadia não respondeu, mas fez uma cara de quem falou o que não devia.

— Essa imbecil é a única que consegue tantos, uma vez abriu mais de 30 ao mesmo tempo, e nem sequer precisa recitar encantamentos para abri-los. Mas ela não vai conseguir conter esse objeto sozinha por algum tempo, depois de gastar energia com a maldição — falou Joanne, ficando cada vez mais pálida.

— Uma meio-elfa não vale o destino do Sul inteiro, Lara! — gritou Joanne.

Lara a ignorou e continuou. As tatuagens tinham parado de regredir, e vários corpos de homens de Malak começaram a ser desintegrados à volta deles.

— Droga, não é o bastante! Está puxando mais energia para se manter ativa… — Lara parecia irritada, era como se estivesse sendo desafiada pelo espírito de Malak. — Protejam os olhos. Não vou perder para um mago morto!

O vento aumentou ainda mais, empurrando tudo a volta de Lara. Arian notou que não estava mais se sentindo tão cansado e o ferimento em seu braço, feito pelas lâminas de ar de Malak, estavam se curando absurdamente rápido.

— Agora, volte! — gritou Lara.

Ane abriu os olhos, dando uma grande puxada de ar. Estava reganhando a cor normal, e as tatuagens desapareceram completamente.

Arian estava incrédulo. Já esteve em muitas situações parecidas, mas…

— É a primeira vez que… Elas nunca voltaram… — Os olhos de Arian estavam avermelhados de chorar, enquanto olhava para a pequena meio-elfa, que ainda respirava com dificuldade.

— É porque você não estava comigo — disse Lara, exibindo um sorriso confiante.

<E>, como sempre, quando se tratava de Lara, estava a observando com um olhar distante, embora seus lábios estivessem esboçando um sorriso.

— Minha mãe…? — perguntou Ane, ainda parecendo meio perdida.

Arian balançou a cabeça, e a garota começou a chorar. Ele tentou se aproximar para abraçá-la, mas ela recuou, se escondendo atrás de Lara. Arian já imaginava o motivo.

— Você vai ficar bem, Ane, eu juro… Pode levá-la, Lara? Acho que gostou de você.

Lara olhou meio desconfiada para a garota, mas concordou com a cabeça, e a pegou no colo.

— Lara, me ajuda aqui, droga! — gritou Joanne, que parecia um corpo sem vida.

Lara foi até ela e tocou a pequena caixa preta com uma das mãos. Logo depois disso, Joanne respirou fundo, e foi reganhando sua cor pouco a pouco.

Arian pegou um dos cavalos dos mercenários. Não era muito bom, como era esperado, os cavalos bons eles vendiam, e só mantinham com eles os de baixo valor. Lara estava com seu cavalo ao lado de Joanne, com uma das mãos tocando a caixa preta que ela estava segurando. Ambas pareciam ter que ficar em contato com o objeto, pelo que Arian entendeu. Claramente tinha uma maldição naquilo, mas não sabia exatamente qual. A outra mão de Lara guiava o cavalo, ao mesmo tempo que seu braço dava suporte ao corpo de Ane, que estava na sua frente.

Galoparam em silêncio por algum tempo, enquanto voltavam para a cidade de Ane, até que Kadia, que parecia estar nervosa olhando para a caixa preta, desde que saíram da base dos mercenários, perguntou:

— O que é essa caixa?

— Nada demais. O que tem dentro que é interessante, a… — Lara parou antes de terminar a frase, com Joanne apertando o braço dela.

— Se sobrevivermos até o final da viagem, você vai descobrir — falou Joanne. E depois completou olhando para Arian. — No entanto, se dependermos desse maluco, não sei se vai ser possível… 

— Me desculpe…

— Eu desculparia, se não achasse que você vai fazer de novo a qualquer momento…  Admito que pensei em te despedir…

“Eu também te despediria…”

“Calado!”

— Mas depois de ver o que consegue fazer, seria um desperdício — completou Joanne.

Arian olhou para ela sem entender. Ela não estava lá durante a luta. Ao notar sua dúvida, Joanne riu.

— O falcão de Kadia chegou na área bem antes da gente, e Kadia estava descrevendo o que estava acontecendo através da visão dele, enquanto corríamos até você. Aquele cavaleiro de manto negro é seu amigo?

— Não. Já tinha ouvido falar, mas nunca tinha visto ele pessoalmente antes — disse, pensativo.

<E> estava do lado de Ane, tentando fazer carinho na cabeça da garota. Era uma visão estranha. Uma das poucas vezes que Arian viu ela se importar com alguém. Ficou imaginando se ambas teriam algo em comum.

O cavalo que Arian deixou para trás devido à exaustão, não estava mais lá, mas havia sangue no local onde ele caiu. Provavelmente foi pego por algum animal da floresta. Para levar um cavalo inteiro, provavelmente era um lican, ou uma criatura de tamanho similar.

Arian olhou para uma área mais densa e escura da floresta, para onde, provavelmente, devem ter arrastado o cavalo.

Precisava conseguir um novo cavalo em Amira. Um Harvest Drake dessa vez, ou talvez um White Astalon…

“Eu prefiro um White Astalon. Tem mais fôlego.”

“Eu também, mas o Harvest corre mais. Depois eu decido.”

“Uma pena o Nightmare não estar mais com a gente…”

“É…”

Se tivesse um Astalon ou Drake, podia ter chegado mais rápido. Se estivesse com o Nightmare, além de chegar em uma velocidade absurda, ainda teria auxílio no combate.

Enquanto Arian pensava nisso, do nada, Kadia começou a rir.

— Qual a graça? — perguntou Joanne.

— Ela está fazendo um ótimo trabalho em disfarçar… — disse Kadia, olhando para Lara.

— Saia da minha cabeça! — reclamou Lara.

— Ah, estava achando estranho mesmo. Só deve ter aceitado porque Arian pediu. Ela odeia crianças.

— Não as odeio, são elas que não gostam de mim.

— Pois é… Dizem que podem ver o que as pessoas têm por dentro… — disse Joanne, rindo. — De qualquer forma… Não vamos poder continuar a viagem com essa garota. O que pretende fazer, Arian? 

— Amira está perto, quando pararmos lá, eu arranjo alguém para escoltá-la até Distany — disse ele, enquanto olhava para a garota, que parecia estar dormindo.

— Dá para tirar esse sorriso da cara? Está me dando nos nervos, é quase como se estivesse debochando depois de tudo que fez — reclamou Joanne, reparando na cara de felicidade de Arian.

— Não, eu… só não estou acostumado com… milagres…

— Ei, não ouse chamar meu feito de milagre. Não foi uma ação divina, fui eu!

— Eu sei… Obrigado, Lara… de verdade… — falou ele, abrindo um largo sorriso.  

Como Malak disse, ele podia ser só mais um homem egoísta, com muito sangue nas mãos. Mas ao menos por esse breve momento, sem lamentações.

Próximo: Capítulo 32 – Amira

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