Ghost Hunt (Review) – Diversos clássicos do terror em uma só obra

Um anime para quem busca algo sério no ramo do terror/suspense, com um bom roteiro e que possa causar alguns bons sustos ou calafrios.

Sinopse
Ghost Hunt é a adaptação de um mangá de mesmo nome publicado em 1998 que por sua vez foi baseado em uma Novel de 1989 de Fuyomi Ono (Shiki). Ele contá várias histórias de casos sobrenaturais sobre a perspectiva de uma equipe de investigação paranormal contratada para solucionar esses casos. A protagonista da história é uma colegial que conhece o chefe da equipe paranormal durante uma investigação em seu colégio e acaba entrando para a equipe oficialmente depois. 
Análise
Ghost Hunt trabalha com diversos casos diferentes de paranormalidade: possessão, assombração, mortos vivos, espíritos vingativos, espíritos bons atormentados ou presos por espíritos maus, vudu e até casos aonde são pessoas as culpadas pelos ocorridos e não espíritos. As ocorrências vão desde casos leves e simples a casos muito macabros com histórias complexas, passando por quase todos os tipos clássicos de histórias de suspense/terror envolvendo fantasmas (menos o terror classe B, também conhecido como “trash”).
O maior problema dessa série é o começo (primeiro caso paranormal apresentado). Embora entenda que eles estavam querendo dar uma quebra de expectativa no primeiro conto para engrandecer os próximos eu não gostei muito do resultado. Como chamariz para o resto da série o primeiro é de longe o mais fraco e anti-climático dos mistérios, e nem de perto exatamente o que quem procura um anime de terror gostaria de ver. Mas o anime melhora bastante do segundo caso em diante, com situações mais assustadoras e uma pegada sobrenatural muito mais forte. É quase como se eles estivessem ambientando o público pouco a pouco, o que faz ainda mais sentido levando em conta que os casos mais sinistros estão todos na segunda metade do anime.

Também é notável como o autor vai pegando o jeito da coisa e começa a jogar eventos sobrenaturais logo no primeiro episódio do caso (cada caso paranormal tem de 3 a 4 episódios em um total de 25), ao invés de se prender apenas ao suspense no primeiro episódio – como acontece com os dois primeiros casos. Ou seja, para quem procura terror a série só começa a ficar legal de verdade apartir do segundo caso, tendo seu ápice nos três últimos, principalmente o da “casa labirinto”, o mais interessante e macabro de todos (meu preferido do anime). 

Personagens principais
Embora tenha um bom número de personagens centrais (um monge, um padre, uma miku, um mestre yin yang, um estudante, duas garotas com poderes paranormais e um protagonista misterioso) o desenvolvimento de personagens não é um forte da série, já que os protagonistas são na verdade os casos sobrenaturais. Dito isso, os personagens da obra são bem feitos, com personalidades distintas mas sem parecerem estereótipos padronizados e sem alma – como acontece em algumas obras.
Os casos são separados e sem grande ligação um com o outro tirando a adição de novos personagens ao elenco em alguns deles. A única coisa que acaba dando uma sensação de linearidade na história é o fato da intimidade dos personagens aumentar consideravelmente de um caso para o outro e um pouco do passado de cada um deles ser revelado ao longo dos episódios. A protagonista feminina explicando sobre sua vida é uma das partes mais estranhas, porque na verdade a vida dela é bem triste e o roteiro nunca havia dado dicas sobre isso ao telespectador. Em um episódio quando ela é questionada com quem ela vive ela simplesmente explica tudo enquanto você fica com uma cara de “eita!?”. O protagonista masculino é o mais misterioso dos personagens e as informações sobre ele são as mais “picadas”, com o roteiro te entregando algumas migalhas no meio de cada um dos casos paranormais.

As histórias em geral prezam pelo suspense/terror mas tem comédia de vez em quando, principalmente no início dos casos quando o clima ainda não costuma estar tão pesado ou os personagens ainda estão reunidos no escritório da empresa discutindo por onde começar. Tem também um conto de uma fantasma que levou um fora do namorado antes de morrer assombrando um parque que é muito engraçado. Ele só dura um episódio mas é um bom alívio no clima da série para transição a segunda metade do anime. 

Sustos ou possivelmente uns calafrios estão garantidos.
Os casos em geral são muito bem construídos, começando pela pesquisa da história do local desde sua criação (relatos de ocorridos ao longo dos anos), a busca por quem ou o que deve estar causando tudo aquilo e motivo pelo qual está fazendo isso. Por fim as revelações vem a tona, algumas vezes com plot twists e outras sendo exatamente o que se esperava. Apartir dai eles tentam arranjar formas de lidar com o problema. Em uma das histórias eu até achei um detalhe que faltou ser explicado (apesar de você poder fazer cogitações sozinho) mas no geral o roteiro é bem redondinho e no final de cada história tudo que ocorreu fica bem explicado. O caso final não foi o melhor na minha opinião (o anterior a ele foi), mas é de fato um dos melhores e mais macabros (e que morre mais gente), com o bônus de um plot twist bacana no fim. O roteiro não costuma esconder informações chave, sejam elas visuais ou narradas – como é comum em animes de mistério -, então em boa parte das histórias eles dão a chance do próprio público desvendar os culpados ou alguns dos “porques” dos ocorridos antes mesmo do elenco do anime conseguir faze-lo.
O anime termina em aberto (normal já que o mangá ainda está sendo publicado), mas conseguem fazer um bom final, dando um certo fechamento, principalmente quanto aos mistérios envolvendo o protagonista masculino. Quem quiser ler o mangá tem traduzido na internet. O anime adapta até o volume 9. Vale dizer que apesar de ser um mangá publicado em uma revista shoujo o único padrão de shoujo que vão encontrar nessa obra é os homens serem bonitos (só os protagonistas) e a protagonista central ser uma mulher, de resto parece um mangá qualquer não especificamente direcionado a um gênero único. Até mesmo o romance, comum em mangás da demografia shoujo, é bem pouco focado na série. Ele até existe mas até aonde o anime adapta da obra é super brando e implícito. 
Aspectos Técnicos
A produção desse anime é bem simplória, mas como é um anime de suspense nunca é exigido grande coisa em termos de animação, então isso não prejudica muito o resultado. É inegável que uma produção de ponta poderia ter dado um brilho a mais em algumas partes mas no geral não fez muita diferença.
A direção é mediana e cumpre seu papel de seguir o original a risca sem grandes momentos de inspiração ou acréscimo. O que mais se destaca portanto é a trilha sonora, bem coerente com o anime e suas situações. A própria opening é bem legal nesse aspecto.
Conclusão
No mundo da animação achar animes de terror bons não é lá muito fácil. A maioria parece ser inspirada naqueles filmes de terror classe B (trash), com histórias mal contadas, cheia de furos e exageros ridículos tanto visualmente quanto na atuação dos personagens. Ghost Hunt, felizmente, segue por uma linha mais séria, fazendo uso do suspense e terror visual sem apelar para exageros. Dos animes de terror é de longe um dos melhores que vi até hoje e recomendo fortemente para qualquer um que goste do gênero.

PS: Assista a esse anime de madrugada e com as luzes apagadas, ajuda a criar um clima bacana.

Direção: 7.5/10
Roteiro: 9/10
Animação: 6/10
Soundtrack: 8.5/10
Entretenimento: 7.5/10
Nota final: 8/10

Trailer fanmade (bem legal):