Impressões semanais: Valvrave the liberator episódio 1 – Mechas, vampiros, guerra e Alemanha nazista no espaço


-Uma grande odisséia está para começar…

Valvrave the liberator (Kakumeiki Valvrave) está sendo produzido pelo estúdio Sunrise (Code Geass, Tiger&Bunny, Love live!, toda a franquia gundam, Danshi Koukousei no nichijou e muitos outros em suas 11 repartições). O diretor é Kou Matsuo (Kurenai, Natsuyuki rendezvous, Red garden, Rozen Maiden) e o roteiro original é escrito por Ichiro Okouchi, o mesmo roteirista do tão aclamado Code Geass. Além disso ele é patrocinado por algumas empresas grandes, como a Bandai e a Aniplex. Em teoria, Valvrave tem tudo para dar certo e ser um grande hit. 

-Sua fórmula é bastante comum e remete principalmente a franquia Gundam, mais especificamente Gundam Seed, um dos animes mais vendidos no Japão. Duas nações iniciam em conflito por um motivo qualquer e o herói será o responsável por combater a nação imperialista expansora e por um fim à peleja. Para isso, ele precisará pilotar  uma máquina de última geração e o fará com louvor, apesar de nunca ter sido submetido à nenhuma aula teórica ou sessão de treinamento em sua vida. Assim como Gundam, provavelmente haverá um enfoque maior nos dramas pertinentes a guerra e na busca por uma possível mediação tendo como principal finalidade a consolidação da paz entre as duas potências. 
-Esse é o nosso personagem principal, Haruto. Como vocês podem ver, ele é um estudante ordinário de ensino médio sem nenhuma qualidade ou característica que o diferencie dos demais. Minto, tem uma: ele tem uma certa aversão por batalhas e competição, como podemos perceber no decorrer de todo o episódio. O modo como ele desistiu da disputa contra Shouko no início e algumas de suas falas evidenciam isso. Serve inclusive como um bom contraste com a guerra que está ocorrendo entre Arus (comercialista) e o império Dorssia (militarista).


-Do outro lado, temos os vilões, um grupo de 5 adolescentes treinados e especializados nos ramos de infiltração e espionagem (e pilotar robôs, mas ninguém precisa de treinamento para isso). Os jovens não hesitam em matar todos que se interponham entre eles e seu objetivo, e alguns até se divertem com o ato. Com discutível exceção do líder, por enquanto nenhum deles vai além do esteriótipo estabelecido, sendo apenas subordinados que se impõem pelas suas ações. Sua missão é obviamente roubar a arma secreta que atende pela designação de Valvrave.

Um fanservice básico para a garotada
-A execução do anime é bem direta e com poucos rodeios. Todas as cenas contribuem para a narrativa sem cair nas armadilhas do excesso e da frivolidade. Uma cena que achei bem dirigida e me agradou bastante foi aquela em que os estudantes se comunicam por wi-fi, ao passo que a ambientação é construída de forma fluida com poucas palavras e alguns dos personagens que irão figurar no enredo fazem uma aparição momentânea, além de expor alguns dos cenários típicos do colégio, como a quadra de basquete e os gramados. Esse tipo de abordagem se sobressai em comparação a uma exposição típica (dois personagens falando com algumas mudanças de enquadramento), por imbuir no espectador um senso de comunidade e rotatividade, que se traduzem como o fluxo de informações e pessoas. O protagonista não é o bambambam, mas sim uma parte de um todo e igual perante à sociedade. Em Durarara!!, esse ferramenta também era empregada com a mesma finalidade, mostrar que existe ali um antro dinâmico e consolidado.

-Apesar de esse antro parecer gozar de relativos bem-estar-social e conforto, por fora ele está exposto à vários níveis de interferência, como evidencia a infiltração dos vilões, que se deu sem maiores transtornos. Nesse cenário de comodismo, vemos o florescer da juventude dos cidadãos de Arus que se intercala com a ética espartana de Dorssia. Haruto vive sua vida em uma escala mínima, onde sua maior preocupação é ir amealhando confiança no transcorrer da história para se declarar à sua melhor amiga Shouko. Por outro lado, os cinco jovens já convivem com uma responsabilidade imensurável capaz de causar grandes deformações na escala de Haruto e de todos os outros estudantes. 

Ele roubou sua chave, conta pra sua mãe, Haruto!
-Outra cena marcante é aquela em que o rival de cabelo branco põe a filosofia de neutralidade de Haruto à prova. Ele afirma que “Felicidade não se divide em suas partes”, uma sentença preto no branco e extremista. Isso deixa muita coisa subentendida e introduz a primeira divergência de opiniões entre o protagonista e seu rival, criando futuras expectativas para o desenvolvimento de ambos, que se bem trabalhadas, poderão impulsionar vários embates ideológicos e propiciar climaxes e cliffhangers poderosos e memoráveis. De jeito algum o rival poderia perdoar alguém com uma visão tão idealista e ingênua. Não importa quantos tratados de paz, negociações e acordos de não agressão-mútua sejam assinados. Eles estão em uma zona de guerra! Como diria o saudoso Niccolo Machiavelli em seu livro “O Príncipe”, “uma guerra não pode ser evitada, apenas adiada”. É uma temática similar a de Shingeki no Kyojin, em que o personagem Marco se posiciona de maneira similar. Eu considero muito quando um roteiro de guerra se predispõe a mostrar os dois lados da moeda. Em Gundam Seed era algo bem comum, explorado majoritariamente pelo afastamento de Kira Yamato e Atrhun Zala, dois amigos de infância que acabaram deslocados para extremos opostos e se viram forçados a guerrear. Code Geass também faz essa abordagem a partir da contraposição do idealismo de Suzaku com o realismo de Lelouch. Sunrise sendo Sunrise.

-A despeito dos elogios, o episódio passa longe da margem da perfeição. A morte da Shouko foi previsível e por ela ter tido pouco desenvolvimento, acabou não tendo tanto impacto quanto deveria. No melhor dos casos, foi apenas uma ferramenta de roteiro para o Haruto mudar o seu jeito de ser. As cenas seguintes foram executadas quase no automático, com Haruto subindo as escadas do Mecha mais próximo das redondezas (que por conveniência de roteiro, era o mais avançado da colônia e havia sido conduzido para a superfície pelo elevador de propulsão) e Valvrave destruindo todos os drones com facilidade. Pouco se pode dizer da qualidade das lutas, prejudicadas por uma poluição visual e falta de iluminação no mínimo desconcertantes. Por vezes, só consegui distinguir a parte fosforescente do Valvrave e os feixes de luz vermelhos que deixava para trás. Muitos atentaram para o 3DCG, mas o maior problema para mim é o design do Valvrave. Ele é muito “gordinho”, o que faz com que seus membros sejam obscurecidos pelos seus contornos avantajados, e todos sabemos que em lutas de mecha é essencial que o robô tenha braços e pernas bem definidos. 

Recomendo ler essa parte depois de assistir o episódio para não estragar a surpresa. Estão avisados.

-Sim, eu sei que vocês tiveram várias reações de êxtase com a cena do epílogo. O rival de cabelo branco mostrou que é um ser pensante e não brinca em serviço. Além de esfaquear o Haruto, ainda alvejou pontos vitais 3 vezes para ter certeza de que o serviço estava completo. É assim que um vilão tem que se portar, nada daquele papo de que “eles não são dignos de serem mortos” (cofcof* Majestic Prince *cofcof) ou “da próxima vez que nos encontrarmos, seremos inimigos”. O cara é um Genre Savvy com orgulho. Também sei que alguns de vocês devem ter se decepcionado com o plot twist em que Haruto volta à vida como vampiro, apesar de as bases para isso terem sido construídas na cena em que ele se conecta ao Valvrave. Eles poderiam ser mais malandros e deixar a morte dele em aberto até o começo do próximo episódio, mas acredito que o vampirismo também deve ter criado o efeito desejado. Eu espero apenas que esse estado de imortalidade venha com uma certa restrição, um contrato, como em Darker than Black (mas nada de comer chips ou escrever poemas. Alguém mais tem a sensação de que os “pagamentos” naquele anime são gerados em um algorítimo aleatório?). 

As fujoshi pira
PS: Acho que eu convenço mais as pessoas a ver Valvrave se eu disser que a abertura é cantada pela Mizuki Nana. Só comentando. Falando em seyuus, podem esperar pelo Yuuki Kaiji de novo, pois ele faz parte da staff.

PS 2: Quem está achando que vai ser o novo Guilty Crown pode ficar tranquilo, pois aquilo de que o roteirista de Code Geass escreveu Guilty Crown é uma informação incompleta. O Ichiro esteve sim presente na composição do roteiro, mas como roteirista auxiliar. O principal responsável por aquele trainwreck todo foi o Yoshino, que só escreveu o script de uns 2 episódios de Geass.