Impressões semanais: Dokidoki Precure 9 e 10

-Não, eu não abandonei Precure.

-Antes de tudo, devo me desculpar pelo atraso e pela ausência do post da semana passada. Muitos animes estreando somado a entrada de dois membros+mudança de design do blog acabaram tomando meu tempo. Apesar disso, eu escrevi as impressões finais de Tamako e de Vividred, pois eram os últimos episódios, afinal, ao passo que o episódio 9 de Precure não apresentou muita relevância para o enredo como um todo.

Episódio 9

-O episódio da Ai-chan. Basicamente o “Onii-chan” pede para Mana e Rikka tomarem conta dela em uma cena bem humorada em que ele distribui elogios e as enrola brilhantemente, fugindo de taxi em seguida. Para alguém que supostamente deveria ser apenas o homem cheio de segredos da história, ele consegue se sobressair com seu carisma em suas breves aparições. Sem sombra de dúvidas, poderíamos chama-lo de “gentleman” pelas suas palavras. Não obstante, ao mesmo tempo, suas ações o fazem um playboy exemplar, principalmente pela forma como alicia o sexo oposto a fazer suas vontades e responder às suas expectativas. Se pararmos para pensar, essa cena tem uma conotação bem ousada que as crianças não irão perceber, e esta pode ser traduzida como sendo a velha história do pai que engravida a esposa e arreda o pé para não ter que arcar com a responsabilidade. Tô de olhos em vocês, Toei, tô de olho em vocês!

-As fadas se oferecem para serem babás da pequenina, e como já é de praxe e praticamente uma regra consolidada de desenhos animados em geral (tanto ocidentais quanto orientais), cuidar de um bebê maior do que você mesmo nem sempre é uma boa idéia, pois podem acontecer coisas desse tipo:

-A primeira imagem mostra Lance sendo chupado com força. Na segunda, Ai-chan faz Raquel levitar. Já na terceira, Ai-chan faz uma excursão pela escola, causando um estardalhaço por onde passa com seus poderes telecinéticos. São sequências bem animadas e divertidas com uma música de fundo bem clichê, mas que consegue climatizar bem as cenas para quem assiste. O único problema é que essa abordagem não contribui muito narrativamente falando, mas como é o primeiro episódio desse tipo, acho que dá pra relevar, até porque as cenas foram bem dirigidas (ao contrário das cenas de luta, que ainda estão econômicas por demais e necessitam urgentemente de mais pancadaria).
-Mas não é como se o episódio em si fosse completamente inútil, tendo em conta que novas informações nos foram repassadas. Uma delas é a possibilidade dos mascotes serem usados como ferramentas de comunicação no seu “modo-celular”, e a outra se refere à origem dos Cure Lovies, que são manufaturados em momentos de fortes emoções por parte das garotas. Ainda é incerto o papel da Ai-chan nesse processo, pois se ela realmente for necessária, como explicar a existência destes itens antes de seu nascimento? É uma questão passível de deliberação. 
-A única coisa que sabemos é que sua magia tem a poder de amplificar as capacidades físicas de garotas mágicas, de acordo com sua percepção e julgamento da situação em vigor. Ela é capaz de selecionar exatamente o que as garotas precisam no momento, o que pode ser algo prejudicial para a dinâmica das batalhas por acabar facilitando-as desnecessariamente. 

Episódio 10

Raquel: Rikka, você seria uma ótima esposa para a Mana!
Rikka: Você sequer sabe o que isso significa?
*transição de cena
Mana: Eeeeh, você, minha esposa?
Rikka: Eu sei, que piada!
Mana: Que nada, até consigo imaginar! 
Mana: Uma esposa está sempre ao seu lado, e você confia nela mais do que qualquer um! Combina perfeitamente com você!
-Precure, transmitindo vibes yuri desde 2004.
-Assim como o episódio anterior, este não contribuiu muito para a trama, mas tivemos um bom desenvolvimento de uma personagem que até então não havia ocupado os holofotes. Sim, esse foi o episódio da Rikka.
-Makopi resolve se transferir para o colégio em que Mana estuda, de forma a aprender mais sobre o mundo em que estão vivendo e encontrar a princesa, o que faz bastante sentido e mostra que ela sabe usar o bom senso. Claro que também tem o fato de ela querer estar perto das outras, como Davi fez o favor de anunciar, mas até agora ela está fazendo progresso, tentando e seguindo em frente, e isso é essencial quando se vai atrás de algo ou de alguém. Se eu fosse ela, entregaria uma foto da princesa para a polícia a fim de divulga-la na seção de desaparecidos, mas infelizmente a câmera fotográfica ainda não foi inventada em Trump Kingdom. Outra opção seria a internet, mas o termos de busca provavelmente incidiriam em uma página de contos de fadas ou fotos de cosplay. Uma coisa é certa: se mesmo a Alice com sua rede de informações que cobre a cidade inteira não encontrou a princesa, conclui-se daí que ela não está nessa cidade, ou como teorizaram nos fóruns gringos, ela poderia ser a própria Ai-chan. Mas não acho que Precure vá trilhar caminhos tão previsíveis nessa temporada, visto que já subverteram alguns clichês de Mahou Shoujo nos primeiros episódios, como o monstro que ficou sem bateria e a análise das duas impressões digitais que coincidiam enquanto investigavam a identidade de Cure Sword. 

-Falando em Makopi (que está de folga desde o episódio 6, e a Mana insiste em nos lembrar do fato), ela continua surpreendendo com sua personalidade. Quem achava que a mesma era desengonçada apenas cozinhando viu apenas a ponta do iceberg. Ela não tem noção nenhuma de nada pelo que parece, e confiar na mesma para realizar qualquer tarefa é uma decisão questionável. O contraste dela com seu alter ego é tão grande que acaba remetendo ao contraste entre Peter Parker e homem aranha. E o mais curioso é que ela própria não se dá conta disso, e várias vezes ela faz cara de sonsa em certos enquadramentos. Seu penteado do beiçola (resistindo a tentação de fazer uma montagem no photoshop) também faz pouco para melhorar sua imagem. Makopi é kawaii de sua própria maneira, e assim como Mana, ela consegue marcar presença como uma personagem multidimensional. Irei então ao tema abordado pelo episódio.
-Devo dizer que esta é a primeira vez que vejo esse formato em Dokidoki Precure. Quem acompanhou meus posts de Tamako (e assiste Precure mas não se manifestou aqui ainda) sabe bem do que estou falando. O episódio inteiro se desenvolveu por meio de nuances no comportamento de Rikka, que ao ver Mana interagindo com Makopi de forma tão amigável, acabou por sentir um pouco de inveja da relação entre as duas. Não é para menos, visto que Mana é sua amiga de infância, e por conseguinte é natural que ela tenha ciúmes, mas o que mais se destaca aqui é ver uma Precure ser influenciada por sentimentos egoístas, algo totalmente novo no anime. Confesso que não é o anime mais acessível e instigante, mas a variedade de idéias e recursos que o roteirista emprega explora a narrativa e suas personagens já deixa muitos animes da temporada no chinelo. Ryota Yamaguchi fez um ótimo trabalho em animes como Ao no exorcist, Sailor Moon Stars e Medabots (ele também escreveu Digimon data squad, mas não posso julgar por não ter assistido). O currículo dele pode não ser vasto, mas ele certamente sabe como lidar com animes de 4 cours sem perder a versatilidade. Esse é o cara que eu colocaria para ser o escritor de Vividred, se fosse possível voltar no tempo e usurpar a cadeira do diretor.
-Falando da execução em si, foi bem elaborada com alguns deslizes justificáveis ao fim. A problemática de Rikka foi extremamente fiel à realidade. É muito comum que o ser humano não costume reconhecer o sentimento da inveja, o que acaba causando um mal entendido em que este se distancia subconscientemente do problema com a auto-justificativa de não querer atrapalhar o relacionamento das duas pessoas com as quais convive. E foi exatamente o comportamento da Rikka ao ficar para trás bloqueando a passagem dos paparazzi e se recusar a dormir na casa de Mana. É o famoso “mostre, não fale” em sua forma mais pura. Mas como nem tudo é perfeito, essa abordagem padeceu de alguns entraves. O primeiro deles é a presença obrigatória do monstro da semana e stock footage das transformações em todo episódio, o que já consome um tempo precioso que poderia ser utilizado para explorar isso mais a fundo. O segundo é a necessidade de fazer com que as crianças entendam a mensagem que está sendo passada, e a solução para isso foi a  quebra da sutileza, no que a Rikka deu voz aos seus sentimentos abertamente para que a audiência soubesse o que estava acontecendo. Não obstante, nenhum dos dois elementos atrapalhou a minha experiência em nada. O próprio monstro compartilhava do mesmo sentimento da Rikka e a quebra da sutileza se deu no momento adequado, após o término da luta, o que me deixa com poucos argumentos para criticar o episódio. 
-Bem pautado, bem executado, bem planejado e bem distribuído, fazendo uso de uma abordagem diferente e desenvolvendo as personagens. Esse foi um dos melhores episódios de Dokidoki Precure até agora, e eu recomendo a todos assistirem.
                         
-Até a próxima.
Também recomendo ler: Dokidoki! Precure Episode 10: Diamond in the rough (provavelmente a melhor análise do episódio na internet)