As Crônicas de Arian 2 – Capítulo 23 – Livre

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Capítulo 23 – Livre

Jon despertou e seus sentidos voltaram lentamente. Após algum tempo, conseguia escutar e ver o que estava a sua volta, mas seu corpo não se mexia. O local era bastante escuro, embora desse para notar pela pouca luz vindo da entrada que se tratava de uma caverna. A pergunta é, como foi parar ali? Não lembrava nem de ter ido dormir na note passada.

— Finalmente acordou.

Jon desviou seus olhos para a voz que vinha do canto esquerdo da caverna. Havia alguém sentado em uma pedra. Pelo manto preto poderia jurar que era Raz, mas a silhueta era um pouco menor que a dele, sem falar na voz mais fina. Foi então que a figura se virou para ele e Jon ficou ainda mais confuso. Era uma mulher que nunca tinha visto.

— Você estava suando frio e gemendo a noite inteira, e como não era efeito do que dei a vocês, suponho que estava tendo outro pesadelo com a bruxa de Lain… Deve ser a terceira vez que isso acontece desde que saiu de Amit. Tem que superar garoto, ou vai acabar te destruindo mais do que já está. Feridas físicas saram sozinhas, mas as da mente precisam de um pouco mais de esforço da nossa parte.

— O… que…

— Difícil falar? É normal, seus músculos estão todos meio paralisados, incluindo os da boca. Você vai recuperar os movimentos gradualmente.

O garoto continuou a olhar para ela sem entender o que estava vendo. Foi então que ela tirou o capuz negro e falou:

— Calma, Jon. Sou eu, Raziel, meu pagamento muda minha aparência, assim como o de Lara. Aproveite, são poucos os que já me viram nessa forma.

Jon tentou falar alguma coisa, mas nenhum som saiu de sua boca.

— É, acho que vai ter que esperar mais um pouco até poder falar direito. Vamos por partes. Para começar imagino que deseje saber o que está acontecendo…

Jon fez um sim com a cabeça.

— Já ouviu falar do Beijo do Sono Eterno?

Jon tentou fazer um não com a cabeça, mas não conseguiu se mover muito.

— É uma substancia que está ficando bem famosa na União central. Estamos nos esforçando para acabar com ela, mas continua se espalhando. Ela te faz cair em sono profundo e apaga um pouco de suas memórias de antes do ocorrido. O uso mais comum é entre estupradores. O pó não tem gosto, então eles colocam em uma bebida e a vítima desmaia pouco depois. Quando acorda, o estrago já foi feito e ela não se lembra da pessoa que a drogou. É bem problemático… Mas em resumo, foi o que ocorreu com vocês, desculpe por isso…

Jon parecia assustado, e então Raz completou.

— Não precisa fazer essa cara, o veneno é quase inofensivo, só faz as pessoas dormirem por um bom tempo. No seu caso, no entanto, está com a alma tão danificada que não quis arriscar e te dei o antidoto para acordar antes do efeito passar. Tive que usar uma baita dose para colocar a Valkyria e o Lobisomem para dormir, então enquanto eles devem acordar em breve, um humano como você ficaria dormindo por uns 10 dias, o que pode ser perigoso.

— Por… quê… Fez… Isso?

— Sendo o mais direto que posso, precisava testar o Arian, confirmar se ele é mesmo quem Lara pensa que é. Sendo esse o caso, era necessário saber se ele herdou o poder da mãe ou do pai, e com vocês acordados não seria possível chegar ao extremo que precisava para descobrir. Não espero que me perdoe por isso, só quero que entenda e depois explique aos outros quando acordarem.

Jon tentou olhar a volta dele para ver se estavam todos ali, mas não conseguia mexer corpo.

— Estão… todos… bem?

— Os que estão aqui sim, mas enquanto Arian lutava comigo a tempestade de portais avançou até o acampamento. Arian, Lara e Kadia foram pegos por um dos portais. Não faço a menor ideia de onde foram parar ou se estão vivos ainda.

Jon arregalou os olhos.

— A missão…

— Não adianta se desesperar, Jon, não tem nada que possamos fazer. Se estiverem vivos vão dar um jeito de voltar para cá, se não… Melhor não ficarem por aqui esperando muito tempo… Logo depois deles sumirem peguei todos vocês e trouxe para essa caverna. Já tinha gasto muita energia na luta, e teleportar todos vocês até aqui gastou mais um bocado, o que me levou a minha aparência atual.

Mudança de sexo, Jon já tinha ouvido falar daquele tipo de pagamento. Assim como o de Lara, pagamentos que alteravam a forma do corpo estavam entre os mais incomuns.

Ambos ficaram um tempo em silêncio, até que Jon finalmente conseguiu se mexer e olhar a volta dele. Estavam todos dormindo tranquilamente. Raziel se levantou e foi até a entrada da caverna. O sol estava quase sumindo no horizonte.

Jon pensou um pouco, respirou fundo, e perguntou.

— Valeu… a pena?

Raziel riu.

— Sim e não… Descobri o que queria, mas não faria a mesma coisa se soubesse o que iria acontecer no fim…

— Ele tinha… O poder… dos pais dele?

— Parece que o da mãe, mas não faz a menor ideia disso ou como usa-lo… Pensando bem, devido ao estado atual dele, é bom que nem aprenda mesmo. O mais preocupante no entanto era se tivesse o poder do pai… Fui ordenado a mata-lo se fosse esse o caso.

— É perigoso?

— Muito… Mas o mais intrigante, no entanto, é o que exatamente fizeram com ele. Ele não parece em nada com o que deveria ser…

— Sabe… a raça dele?

Jon finalmente estava conseguindo voltar a falar quase normalmente.

— Sei… Mas não vale de grande coisa. Como disse, ele não está como deveria, e não faço ideia do por que.

— Li muitos livros de raças… As características dele não batem com nenhuma…

— Não vai achar nada sobre a raça dele nos livros dos humanos, é muito antiga. Talvez na biblioteca de Moonsong ou dos Altos Elfos, embora a área com essas informações seja provavelmente bem restrita… Mas como dizem, tem coisas que é melhor não saber…

Jon não perguntou mais nada depois disso, apenas ficou olhando perplexo para Raziel.

— O que foi?

— Não entendo você… É um aliado ou inimigo?

Raziel riu da pergunta.

— Nenhum dos dois… Ao menos por enquanto.

— Temos que achar a Lara, se o Lich pegar o fragmento tudo que fizemos será em vão.

Raziel se virou e se ajoelhou ao lado de Jon.

— Já saiu do Sul, Jon?

— Não…

O vendo mais de perto, achou assustador o quanto sua aparência feminina era atraente. Já tinha escutado que vampiros em geral eram muito bonitos, mas aquilo foi acima do que esperava.

— Lara me contou da missão de vocês… Entendo a importância, mas… Não podemos intervir nisso. Existem problemas bem maiores que Victor e sua obsessão pelos celestiais nesse mundo.

— O que quer dizer? E o que os celestiais tem a ver com isso?

— Se viver o bastante vai acabar descobrindo… Fora que temos mais negócios com o Norte que o Sul no momento. Se tivéssemos que escolher qual dos dois nos aliar, bem…Digamos que o Rei de vocês não é muito bem visto pela união central. O pai dele não era perfeito, mas ao menos era melhor com diplomacia. Já o filho parece que não aprendeu nada com seu antecessor.

Raziel se levantou e olhou novamente para o lado de fora. A noite estava começando a cair.

— Está quase na minha hora. Vou deixar para você a explicação do ocorrido, já que duvido que os outros vão encarar as coisas de forma tão calma. E aproposito, se precisar de um novo trabalho um dia, me procure em Moonsong, será muito bem vindo.

Jon riu de forma debochada.

— O que um humano que não sabe lutar ou usar magia iria te servir?

— Seu corpo é irrelevante, o que me interessa é sua mente e o que poderia fazer com ela se treinado adequadamente. Se saiu bem em Amit para alguém sem experiencia em situações críticas. Só precisa melhorar sua tomada de decisão, nem sempre vou estar lá para corrigir seu erro.

Jon não entendeu a princípio, até que refazendo rapidamente os acontecimentos naquela cidade, lembrou de quando caiu da torre com Joanne e Zek.

— A torre… Foi você?

O sol finalmente se pós. Raz se virou uma última vez, sorriu para Jon, e falou antes de sair pela entrada da caverna.

— Até mais, Jon, espero que nossos caminhos se cruzem de novo um dia. E é bom não saírem daqui por mais alguns dias. A tempestade de portais ainda está forte nessa área.

— Espera, onde você vai?

— Voltar para casa e contar a meu melhor amigo que sua filha foi pega por um portal. Mal posso esperar… — disse ele, cabisbaixo, antes de desaparecer na noite.

Jon não conseguiu se mexer até o dia seguinte, quando Zek e Marko acordaram. Diferente dele, os dois rapidamente conseguiram ficar de pé. Jon explicou a situação, enquanto Zek usava de energia celestial para acelerar a recuperação dele, fazendo o mesmo com Joanne e Irene em seguida. Jon explicou de novo o que ocorreu para as duas.

Irene parecia desesperada, mas Joanne, em comparação, apenas sentou no chão e ficou lá parada olhando para a saída da caverna, dizendo que precisava pensar. Tiveram que esperar mais 2 dias para a tempestade de portais passar e eles finalmente conseguirem sair da caverna. No terceiro dia, quando amanheceu, todos foram checar o estrago da tempestade no acampamento.

— Não! Não! Não! Não!

Marko estava desesperado observando a carroça virada com seus vinhos caídos e em grande parte quebrados. Dorian sentou em uma pedra e estava com uma cara difícil de descrever. Desde que recebeu a notícia do que aconteceu parecia mais perdido que Joanne, o que era curioso considerando o fato que não parecia estar ligando muito para nada daquilo até ali. Irene continuava aflita perguntando a Marko se não podia farejar os desaparecidos.

— Esses portais de tempestade geralmente só mandam as pessoas para outro lugar desse mesmo mundo, podem estar perto. Já li vários relatos de pessoas que foram encontradas em outra parte do mundo depois de serem pegos por eles.

— Eles podem estar em qualquer lugar desse mundo, Irene, qualquer um! Isso inclui terem sido jogados no meio do mar. Meu olfato não é tão bom assim. Mas não se preocupe tanto, Arian é muito chato de matar.

— Não é com ele que estou preocupada… Se perdermos a relíquia…

— Se estiverem vivos os veremos de novo algum dia. Se mire na Joanne, ela finalmente relaxou e viu que não tinha nada que pudesse fazer.

— Na verdade é isso que mais me preocupa.

Joanne estava deitada na grama olhando para o céu com um sorriso de todo tamanho na cara. Jon não estava entendendo nada, então se aproximou e perguntou.

— Tudo bem, Joanne?

— Agora está…

— Não está… preocupada?

— Inicialmente… Mas se pensar bem, o que podemos fazer? Nada, absolutamente nada. Eles podem estar muito bem, podem estar com problemas, ou podem estar mortos, seja qual for, não existe nada que possamos fazer. Como Marko disse, se estiverem vivos, vão dar um jeito de nos encontrar.

— Concordo, mas… Não sei… Você parece estranha.

— Acredite, estou mais do que bem, Jon… Me sinto… Livre.

Sem saber o que dizer, Jon apenas se sentou ao lado dela. Joanne então olhou para ele com mais atenção, até ele corar.

— O que foi?

A garota se levantou e sentou bem perto dele.

— Jon, o que falou para mim em Amit… Sobre estar apaixonado por mim… Foi sério, ou só devido ao momento?

— Claro que foi sério! Eu…

Jon olhou para Marko, que fez um sinal de positivo com o dedo, tentando o incentivar.

— Por que acha que me esforcei tanto para virar seu assistente, droga? Estou apaixonado por você desde a primeira vez que te vi.

Assim que ele confirmou, Joanne se aproximou e o beijou. Foi um beijo simples, com os lábios apenas se encostando.

Assim que seus rostos se separaram, Jon tomou ar e perguntou, incrédulo.

— Isso… Isso é um sim?

— Vamos ver no que dá… Não tenho nada melhor para fazer, e estou de folga. Dê o mérito a Kadia, no entanto, foi ela que me inspirou quando atacou o Arian a alguns dias. Eu devia aproveitar enquanto ainda estrou viva e ainda tenho um braço sobrando. Não sei o que me espera amanhã…

— Isso não foi muito romântico…

A garota riu.

— Para ser honesta, nunca olhei para você dessa forma por causa da diferença de idade… Mas pensando agora, você é basicamente tudo que desejei em um namorado e nunca consegui.

— Um magrelo que não sabe lutar?

— Já tive o bastante de parceiros fortes. Nunca deu certo. O pior é que nem eram bons de cama no fim das contas, isso sim foi uma decepção.

Jon se surpreendeu com a sinceridade. Essa Joanne ele nunca tinha visto.

— Eu luto por nos dois, não preciso de um homem forte para me defender, preciso de um inteligente que consiga manter uma conversa e goste de mim pelo que sou. E bem… Se for bom em outras coisas é um bônus.

— Isso eu posso fazer… Quer dizer, a primeira parte… As outras coisas eu não sei.

Jon parecia envergonhado. Foi quando Marko que estava ouvindo tudo de longe gritou.

— É só me pedir dicas. Vou te ensinar tudo que sei e essa mulher vai ficar viciada em você!

Joanne riu.

— Não sei não, nunca me viu fora do papel de líder chata… Posso não ser exatamente o que você pensa.

— Então, como você disse, vamos ver no que dá…

Jon fechou o punho, engoliu a seco para tomar coragem, e dessa vez foi ele que a beijou.

— Esse é meu garoto! — gritou Marko, observando os dois. Estava quase chorando, mas Jon não sabia se era de felicidade por ele, pelo desaparecimento do seu melhor amigo, ou pela perda das garrafas de vinho de Amit.

Irene estava olhando para o recém formado casal com um ar de preocupação. Dorian continuava pensativo, mas sorriu e fez um sinal de positivo para Jon. Já Zek parecia confusa com o que estava vendo, ora olhava para eles e hora para o chão, pensativa.

— Certo, seu romance de lado, o que vamos fazer? — questionou Irene.

— Ir para cidade mais próxima, aproveitar o dinheiro que sobrou para a viagem, e se eles não derem as caras até o dinheiro acabar, voltamos para casa.

— E nós? —  perguntou Marko.

— Estão liberados, façam o que quiserem. O resto do dinheiro de vocês…

Antes que Joanne pudesse terminar o que ia dizer, todos eles se viraram para o barulho de um grupo de 3 pessoas a cavalo indo na direção deles muito rápido.

— Aquela capa não é igual a do Arian?

— É sim.

O cavalo parou na frente de Joanne. Era uma mulher no cavalo. Ela tirou o capuz, revelando um cabelo preto, preso por um rabo de cavalo. Dava para ver que não era humana pelos olhos, de uma cor verde bastante peculiar e com uma fenda no meio.

— Joanne Hacken? — questionou a estranha.

— Eu mesma.

— E você seria o Jon, um teleportado?

— Sim…

— Meu nome é Omaha, sou a líder dos guardiões de Distany. Se quiserem confirmação da minha identidade perguntem ao Marko. Preciso que vocês venham comigo para Distany, agora.

— Não só permitem meio-elfos lá? — questionou Joanne.

— Vocês foram convidados.

— Por quem?

— É complicado…

— Está tudo bem por lá? — perguntou Marko.

— Sim, o problema não é exatamente o lugar, mas quem.

— Não vão perguntar do Arian? Creio que sabiam que estava com a gente. — comentou Jon.

— Sim, sabíamos. Ele e mais duas garotas foram pegos por um portal, correto?

Marko se surpreendeu com a adivinhação.

— Como você…?

— Eu disse, é complicado… Para ser honesta eu não acreditei quando ela me passou a localização e ordens, até ver que tudo tinha acontecido exatamente como ela disse.

— Quem? — perguntou Dorian.

— Uma meio-elfa que chegou ontem em Distany com um humano… Sara… Ela… Vocês não vão acreditar…

Próximo: Capítulo 24 – A Elfa Temporal

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PS: O capítulo ainda não passou pelo revisor, então pode conter alguns errinhos.