As Crônicas de Arian 2 – Capítulo 22 – O Vampiro

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Capítulo 22 – O Vampiro

Depois repetidas tentativas de ataque, se é que Arian podia chamar disso, Kadia dormiu amarrada a uma arvore enquanto Lara ficou de vigia anulando a super força dela com magia celestial a noite inteira, para evitar que se soltasse e voltasse a atacar Arian.

Assim que amanheceu, ela já havia voltado ao normal, mas estava tão envergonhada que não conseguia olhar Arian cara a cara. Lara, exausta, foi dormir. Jon e o guia estavam conversando, enquqnro Zek só observava. Os outros foram caçar algo na floresta.

O dia correu com Kadia isolada do grupo olhando os arredores com seu pássaro e reportando de tempos em tempos a situação da tempestade de portais, que embora tivesse regredido, parecia longe de terminar.

Arian estava a observando de longe. As vezes ele começa a caminhar na direção dela, mas no meio do caminho dava meia volta e voltava a se encostar em uma arvore, pensativo.

“Para de pensar em como falar com ela, e só vai falar com ela!”.

“E digo o que?”

“Sei lá, improvisa algo… Não, espera, que tal dizer que adorou e pedir para ela terminar o serviço?”.

“É, isso vai deixar a situação bem menos desconfortável para nos dois, com certeza…”.

“Só fala alguma coisa, seus pensamentos dando voltas sobre isso estão me incomodando”.

“Não tenho como não pensar nisso. Ela acabou de perder parte das memórias, e agora que parecia estar ficando mais a vontade com o grupo de novo isso acontece”.

“Então fale isso para ela e pare de me atormentar com seus pensamentos”.

“Vou dar mais um tempo, amanhã falo com ela”.

“Covarde…”.

Mais a noite, todos estavam comendo, quando Marko observou o guia e Lara conversando e não se aguentou.

— O que vocês dois tanto conversam baixinho?

De fato, aquilo estava deixando Arian curioso também, principalmente depois deles falarem dias atrás que iriam revelar mais sobre como eles se conhecem.  

— Acho melhor contar a eles de uma vez — propôs o guia.

— Não!

— Que isso, Lara, não é nada demais.

O homem deu um sorriso sarcástico. Durante o dia ele se cobria todo com seu manto e mal dava para ver seu rosto por baixo do capuz, mas a noite parecia mais a vontade e geralmente retirava o capuz. Poderia jurar ele era um vampiro se já não tivesse visto o sol bater em seu rosto sem que isso o incomodasse.

Aparentava uns trinta e poucos anos, e não fosse o cabelo preto até o pescoço todo bagunçado sobre o rosto e postura desleixada, chamaria até atenção pela beleza anormal.

— Nada demais? Você só pode estar de brincadeira, Raz.

Marko franziu a testa, cada vez mais curioso.

— Ele é seu ex-namorado, por acaso?

— Não! De jeito nenhum! Não se enganem por esse rosto, esse cara tem idade para ser meu avô!

— Viu? Quanto mais enrolar para explicar as coisas pior isso vai ficar.

Lara soltou todo o ar do pulmão, como se tivesse desistido.

— Certo… Mas só expliquei o essencial.

O guia então se virou para o grupo.

— Bem, para começar, digamos que menti sobre algumas coisas… Eu já conhecia Lara, servi o pai dela por anos, na verdade.

— O rei de Moonsong? — perguntou Jon.

— Ele mesmo, Alexander Moonsong.

Dorian ficou curioso e falou sério uma das poucas vezes aquele dia.

— Não serve mais? Devia ganhar uma fortuna.

— Já juntei o bastante. Queria conhecer o mundo e então comecei a viajar… Mas quando vi Lara com vocês fiquei curioso, e decidi me juntar ao grupo me oferecendo de guia.

— Isso explica ter cobrado tão barato — disse Joanne.

— Na verdade, nem precisa me pagar nada. Já juntei mais que o bastante para minha vida toda.

— Não me parece certo… Suas dicas sobre as melhores estradas estão sendo realmente úteis.

O homem riu.

— Bem, faça como quiser.

Marko então deu um sorriso estranho.

— Estão fazendo as perguntas erradas. O que temos que saber agora é, o que sabe de constrangedor da Lara?

— Nossa, tem tanta coisa… — o homem começou a pensar, provavelmente escolhendo as melhores histórias.

Lara arregalou os olhos.

— Não ouse…

— Por que? Todo mundo faz coisas constrangedoras na infância, seria bom contar algumas suas para ver se sua má fama aqui melhora. Sinceramente, nunca pensei que aquela garota doce se tornaria… bem… você.

— Cala essa boca, Raz!

O grupo só conseguiu rir enquanto o guia a encarava com desgosto.

— O completo oposto da irmã…

— Pare de me comparar a ela! Já tive que aguentar isso minha infância inteira.

— Como quiser… Que tal falarmos então daquele sua coleção de vestidos macabros feitos a mão? Nunca peçam para ela costurar nada, nunca vi alguém tão ruim nisso. Falando nisso, lembrei de algo interessante… Sabiam que ela explodia o quarto dela quase todo dia? 

— Pera, como assim? — Assim como Jon, ninguém entendeu a última parte.

— Quase toda madrugada a gente escutava uma explosão. Era Lara mandando o quarto pelos ares. Essa louca ficava acumulando energia celestial no corpo enquanto dormia, e liberava tudo quando acordava, jogando longe ou destruindo quase tudo que tinha a volta dela.

— Eu não sabia controlar, droga! Não era minha culpa!

— Nunca vi alguém tão lerdo para aprender a controlar energia. E pior, atrapalhava o sono de todo mundo. Vários nobres que moravam perto do castelo de mudaram e as casas perderam o valor pelo barulhão que Lara causava toda madrugada. Alexander criou uma equipe especializada em refazer os quartos dela, tinham um bando de moveis iguais prontos, porque explodia o quarto inteiro sem parar, as vezes tínhamos que mudar ela de quarto porque destruía parte das paredes também. 

— Que coisa louca, nunca ouvi falar de ninguém que acumula energia de outra dimensão dormindo — falou Irene.

— Como acha que consigo manter a relíquia do Lich comigo? Se tivesse que ficar me concentrado para anular ela o tempo todo não iria poder dormir.

— Estava no relatório que recebi sobre ela. A ligação da Lara com a dimensão celestial é tão forte que a alma dela abre portais e drena energia da dimensão sem que ela precise se concentrar, e é comum acontecer enquanto ela dorme. — relatou Joanne.

— Depois de um tempo ninguém ligava mais, a gente só escutava uma explosão e depois um empregado via Lara andando pelada com cara de sono a procura do quarto reserva dela.

— Até que nesse caso é uma esquisitice útil… Pera, então aquelas explosões que escutava as vezes no dormitório da torre de luz era você? — perguntou Irene.

Lara não falou nada, mas sua cara de culpada dizia tudo.

— Agora está explicado como ela ganhou um quarto só para ela isolado no último andar… Pensei que era por ser rica, mas na verdade era para não matar ninguém enquanto dormia… Carregar esse treco amaldiçoado é até bom, está sugando sua energia e evitando de nos matar enquanto dorme.

— Nunca matei ninguém enquanto dormia… eu acho.

— Na verdade ela quase matou um bando de empregados quando tentavam a acordar pela manhã… Por que acha que passamos a usar aquele sino barulhento para te acordar? A mania dela de dormir pelada veio disso também, ela cansou de ficar chorando pelos pijamas que destruía quando tinha os surtos.

— Ela chorava por pijamas?

— Eram feitos a mão por ela, acredita? Mas honestamente? Eram uma aberração, explodir eles com magia celestial era um favor a ela mesma. 

Lara estava fazendo uma cara muito feia, e Arian não sabia bem se era em defesa dos pijamas feios ou as histórias que Raz estava contando, mas estava achando aquilo tudo muito engraçado.

— Pera, ela ainda dorme pelada? —  questionou Marco, focado na parte que o interessava.

A garota colocou a mão no rosto, sem saber o que fazer para parar aquele show de humilhação, que seguiu pela noite a dentro, até que todos foram dormir.

No dia seguinte, a tempestade de portais não havia parado, mas aumentado em vez disso.

— Certo, vamos ficar por aqui mais um dia, se isso não parar procuramos uma rota alternativa — disse Joanne, desanimada.

Arian e Kadia ainda estavam em uma situação estranha, e o resto do grupo entediado por ficar tanto tempo ali parado. Menos Marko e Irene, eles pareciam estar se divertindo muito toda vez que entravam na mata por algum tempo para conseguirem privacidade.

Quando começou a entardecer, Raz foi até Arian, para o profundo incomodo de Lara, que passou o dia falando com seu ex-empregado.

— Arian, vi que é bom com espadas. Que tal matarmos esse tédio treinando um pouco?

— Sabe lutar?

O homem riu.

— Um pouco.

Arian se levantou a tirou duas espadas das costas.

— Certo. Vamos usar essas espadas médias. Ao menos assim estaremos usando as mesmas armas.

— Justo.

Em seguida, os dois se afastaram e começaram a lutar. O resto do grupo, sem nada para fazer, ficou assistindo, e para a surpresa deles, o guia estava pressionando Arian. 

— No que ele servia seu pai mesmo, Lara? — perguntou Jon, impressionado.

— Era meu instrutor de esgrima e um dos principais generais do meu pai.

— Agora as coisas estão fazendo sentido…

— Aposto 10 moedas nele — disse Dorian, com um sorriso enorme na cara ao ver Arian passando aperto.

— Apostado — disse Lara.

A luta era muito bonita, lembrando mais uma dança bem coreografada que um combate real. Ambos saltavam para trás, esquivavam e bloqueavam ou desviavam a trajetória da espada do adversário repetidamente. Raz parecia mais forte e ágil que Arian, que começou a evitar disputadas de força e forcar mais em esquiva.

De repente, o homem tentou surpreender Arian com um chute, mas o guardião desviu e chutou Raz na barriga. Ele foi jogado alguns metros, deu uma cambalhota para trás e recuperou a postura, mas Arian já estava vindo a toda para cima dele. O guia se jogou para o lado para desviar. Em seguida, ambos giraram ao mesmo tempo, e suas espadas pararam a centímetros da garganta um do outro.

— Empate? — reclamou Dorian.

Arian estava sorrindo, mas o homem a sua frente não parecia tão satisfeito quanto ele, pelo contrário.

— Boa luta — disse o guardião, cumprimentando Raz com a cabeça.

— É… — respondeu o homem, parecendo decepcionado com algo.

“Tem algo errado…”

“Do que está falando?”

“Acho que ele não estava lutando a sério com você”

“Então por que deixou acabar em empate?”

“Por isso falei que tem algo estranho”

Arian queria continuar, mas Raz disse que estava cansado e a luta acabou ali.

Caiu a noite, todos comeram o cavalo selvagem que Marko cassou, e estavam se preparando para dormir, enquanto o céu ficava gradativamente mais nublado, ameaçando uma chuva. Foi quando aconteceu. 

Do nada, Jon começou a tossir e gemer de dor. Zek correu até ele, mas acabou caindo no meio do caminho. Em seguida o mesmo aconteceu com Dorian, Kadia, Marko, Irene e Joanne. Lara resistiu um pouco mais usando de energia celestial, mas acabou caindo.

Arian sentiu uma dor tremenda passando pelo seu corpo, a ponto de quase o fazer desmaiar, mas antes disso, deu um grito e seus olhos ficaram vermelhos. Seja o que for que estava afetando seu corpo foi anulado, e em seguida os olhos voltaram a cor normal. Ele então notou que todos a sua volta haviam desmaiado, menos Raz, que o encarava com uma expressão pensativa.

— Já era tempo do veneno afazer efeito.

— O que você fez?! 

— Não queria interferências.

Arian, prevendo o que viria a seguir, recuou para não acabar machucando os que estavam caídos em uma possível luta, enquanto o guia tirava uma espada relativamente fina e toda prateada das costas, escondida em baixo do manto negro que ele usava o tempo todo.

— Como sabia que o veneno não iria funcionar em mim?

Raz começou a caminhar lentamente até ele.

— Se funcionasse não seria quem eu fui ordenado a encontrar. Embora admita estar confuso com que sua mãe fez com você para ficar tão fraco.

Arian estava cada vez mais confuso enquanto encarava aquele homem. Ambos estavam parados em meio a uma clareira, enquanto o barulho da tempestade de portais ecoava a distancia.

— Sabe quem eu sou?

— Só existe um ser que faz sentido ter uma garota de cabelos brancos e olhos vermelhos a seu lado, e ele se chamava Marven Stormlight… 

Arian olhou para <E>, que também parecia confusa com o que o homem falou.

— Você pode ver ela?

— Não, e nem preciso, só existe uma garota com essa descrição, e conheço ela bem melhor que você.

— Quem ela é?

— Não conte! — gritou Lara.

Para surpresa de Arian, de alguma forma ela ainda estava acordada, lutando contra os efeitos do veneno com sua energia celestial e se esforçando para não desmaiar.

— Só aos vitoriosos é dado o direito de exigir respostas, garoto. E é bom usar sua outra espada, porque dessa vez nossa luta vai ser até um dos dois acabar morto — disse o homem, enquanto seus olhos verdes ficavam vermelhos e seu cavalo preto mudava para branco.

Arian já tinha ouvido falar daquela raça, mas nunca havia visto ninguém dela em pessoa. Eles podiam alterar a cor dos olhos e cabelos, e diferente de vampiros normais, o sol não os matava, apenas os deixava mais fracos e mudava levemente a aparência.

— Um vampiro puro?

— Não, mas é esse o nome que os humanos ignorantes nos deram. 

— Raziel, pare! — gritou Lara, se arrastando lentamente até eles.

— Pare de tentar se mexer princesa, só vai aumentar a dor que está sentindo. Mesmo com seu poder não vai anular esse veneno tão facilmente. Tive que colocar uma baita dose na comida para deitar aquele lobisomem, então me admira ainda estar consciente. 

“Raziel não é o nome de um classe SS de Moonsong?”.

“Não importa agora… O que importa é o que ele sabe sobre a <E>”.

Arian tirou sua espada bastarda e questionou o vampiro.

— Alguma chance de acabarmos isso em paz? Não lembro de ter feito nada contra você.

O vampiro riu.

— Todos servimos a alguém, Arian… Alguns ao destino, outros a deuses, e eu a meu Rei. E infelizmente para você, tenho que cumprir a ordem que me foi dada. 

O homem desapareceu, e quando finalmente Arian entendeu que ele tinha teleportado, a espada de Raziel já estava perfurando a beirada de seu pescoço.

Antes que a arma penetrasse fundo, uma energia azul cobriu o corpo de Arian e repeliu a lamina.

Ao notar isso, o atacante teleportou para longe, enquanto Arian caiu no chão, parecendo estar com dor. A energia azulada desapareceu e seu pescoço começou a sangrar.

Lara estava gritando de dor enquanto segurava seu bracelete. As inscrições no objeto brilhavam muito. Seja o que for, estava tentando quebrar o bloqueio que Lara fez.

“Que magia é essa? Nunca vi nada parecido”

“Não existe magia de teleportar tão rápida, aquilo é magia inrerita”

— Fascinante… Parece que seja lá o que isso for ativa sozinho quando algo representa perigo de morte para você. Mas não parece estar funcionando tão bem quanto em Amit. Lara, desista de bloquear isso e liberte seja lá o que dá essa energia azul para ele. Caso contrário ele vai morrer sem ter como reagir.

— Mas que droga, Raziel! — gritou Lara, parecendo desesperada.

— É meu último aviso, desfaça esse bloqueio. Não vai ter mérito algum matar alguém tão fraco.

Em seguida, o vampiro teleportou para frente de Arian, que rapidamente se jogou para o lado para desviar da espada. Assim que o fez, Raziel teleportou de novo, mirando novamente em sua garganta. Assim que a espada penetrou a energia azul novamente protegeu Arian, que se aproveitou para acertar um soco em Raziel. Quando o punho encostou no rosto dele a energia a volta do punho foi liberada e o homem foi jogado com tamanha força para trás que derrubou várias arvores com o corpo.

Em seguida, no entanto, a energia sumiu, de novo, e o pescoço de Arian começou a sangrar, enquanto seus olhos ficavam indo de azul a cor normal sem parar. Ele começou a sufocar com o sangue da garganta cortada, enquanto Lara tentava liberar o bloqueio ao espirito no corpo de Arian.

Raziel se levantou e estava voltando calmamente.

— Já dei tempo o bastante, Lara. Agora é para valer.

Raziel teleportou para as costas de Arian, que se virou rapidamente para bloquear com sua espada, mas não conseguiu aguentar a força do golpe e foi jogado para trás. A velocidade do homem era completamente insana, nunca tinha visto nada parecido. 

Enquanto ele se levantava, Raziel teleportou para frente dele e mirou novamente seu pescoço. Arian se jogou para trás, mas só conseguiu evitar ter o pescoço cortado. Ao invés disso, a lamina acertou seus olhos.

Ele gritou de dor. A lamina atravessou de um lado a outro a linha onde ficavam seus olhos, agora cortados e sangrando. Ele não conseguia ver mais nada.

—  Você é uma decepção, garoto. 

Raziel chutou Arian no peito e o guardião caiu para trás. O adversário então se preparou para o golpe final e desceu a espada novamente mirando o pescoço de Arian, que cego, estava sem reação.

— Raziel, não!

Ao tempo que Lara gritou, o brilho no bracelete dela sumiu. O bloqueio estava despeito. A Lamina da espada de Raziel parou antes de conseguir chegar aos pescoço de Arian. Ele abriu os olhos, agarrou a lamina da espada de Raziel com a mão, se levantou com um solto, e chutou a barriga do inimigo, que foi arremessado a uma velocidade absurda para trás, até bater em um enorme tronco de arvore e explodi-lo em pedaços com o corpo. A arvore de mais de 50 metros caiu com um forte estrondo que ecoou por toda a floresta.

Arian soltou a espada de Raziel e pegou a sua, que estava no chão perto dele. A energia cobriu os ferimentos e refez o tecido perdido, incluindo o dos olhos. Mas assim que ela desaparecesse, Arian nem queria imaginar a dor que iria sentir.

O dano era tanto que mal Lara tinha liberado a energia e ele já estava sentindo muita raiva, uma ódio que não era dele, mas de outra pessoa. Se não andasse rápido, iria perder o controle e acabar machucando os membros do grupo desmaiados, que ele torcia para que estivessem melhor do que pareciam. 

“Ele usou o veneno em Lara também, então não deve ser nada letal. Melhor se preocupar com você mesmo agora”.

Raziel se levantou sem parecer que tinha sofrido dano, embora seu manto negro estivesse bastante rasgado.

“Como isso é possível? Ele devia ao menos ter quebrado vários ossos”.

“Não importa, vou acabar com isso agora, antes que fique fora de controle e machuque os outros”.

Raziel teleportou para onde estava sua espada e depois ele e Arian avançaram um contra o outro. Cada vez que a lamina das espadas se encostava, a de Raziel era repelida com uma força tão grande que arremessava longe toda vegetação a volta deles. Se fosse um humano seu braço quebraria.

Quando ele chutava ou tentava um soco Arian bloqueava com o braço. Em força física o vampiro era muito superior, mas a energia azul compensava isso para Arian. E novamente a espada de Raziel foi repelida, com Arian aproveitando a guarda aberta para saltar contra ele e acertar um soco com toda força em seu rosto. Ele foi jogado contra o solo, arremessando terra para todo lado. Notando que perdera vantagem, Raziel teleportou alguns metros para trás, ofegante.

Ele claramente não estava usando tudo que podia, o que iria fazer a seguir. Ele correu para frente e teleportou, mas dessa vez Arian podia ver tudo a sua volta, graças a energia que o estava cercando. Assim que sentiu um leve deslocamento da energia a volta dele, Arian se virou mirando a espada ali e liberou toda a energia acumulada na lamina. Razel foi pego em cheio e jogado a uma distancia tão grande para dentro da floresta que Arian perdeu de vista. 

— Acabou — disse o guardião, aparentando clara vantagem na luta.

— Arian, cuidado, ele não vai cair só com isso! —  disse Lara, já conseguindo ficar de joelhos, e respirando com dificuldade.

Ela tinha razão. Raziel estava voltando calmamente até ele, enquanto limpava a sujeira de terra em seu peito. A parte de cima da roupa não existia mais, revelando um enorme ferimento no peito feito pelo ataque do guardião.

— Foi isso que deu trabalho aos classe SS que enfrentou em Amira? Faz cocegas… 

Depois dele dizer isso, fechou os olhos, como se estivesse se concentrando, e a ferida se regenerou quase que instantaneamente.

— Não sei como previu onde eu iria teleportar, mas vamos ver como se sai se eu aumentar a velocidade.

Raziel correu até ele e então começou a teleportar sucessivamente, mirando cada hora em uma parte do corpo diferente. Mesmo ele prevendo de onde ele iria vir, não tinha tempo de se mexer e bloquear, era rápido demais.

“Ele descobriu!”.

Arian sabia do ponto fraco daquele poder, mas era bem raro alguém descobrir. A energia azul se movia pelo seu corpo e acumulava nas áreas onde iria sofrer impacto para bloqueá-lo. Mas ela demorava um pouco a ir de uma área para outra, e com Raziel teleportando sem parar com sucessivos ataques rápidos, estava conseguindo acertar todo seu corpo antes que a energia pudesse mudar de área e bloquear o golpe.

Em pouco tempo, a parte do braço sem armadura já havia sido acertada tantas vezes que ele tinha a impressão de que iria cair, assim que não tivesse mais a energia azul para sustentar o membro no lugar.  Por um momento pensou ter vantagem, mas agora estava sendo completamente humilhado, o que só acelerava ainda a possessão do espirito no corpo dele.

Quando ameaçou perder o controle com um berro cheio de raiva que liberou a energia azul em seu corpo para todo lado, Raziel teleportou para longe de Arian.

— Todos esses anos e é só isso que consegue fazer? Depender dessa… coisa? Nem mesmo a habilidade inrerita que herdeu da sua mãe aprendeu a usar? Cada vez menos entendo porque ela te escolheu, mas você não merece.

— Que habilidade? E de quem está falando?!

— Sua ignorância me irrita cada vez mais. Todos esses anos de esforço dela e no que você gastou esse tempo, treinou para se tornar um guarda-costas de elfos? Seus pais chorariam sangue se estivessem vivos.

Arian estava respirando com dificuldade, e era cada vez mais difícil não ceder o controle para a entidade que queria dominar seu corpo.

— Vamos pelo menos sair daqui. Estou quase perdendo o controle, se a luta continuar vou acabar machucando todo mundo.

— Se é isso que o preocupa, vou garantir que você vai morrer antes de machucar alguém.

— Você está cansado. Por mais forte que seja, teleportar deve gastar sua energia.

— Gasta. Mas ainda tenho o bastante para terminar essa luta.

Raziel teleportou de novo, no que Arian tentou prever e desviar, mas voltou ao mesmo problema. Raziel teleportava de novo assim que aparecia, repetidamente, ao ponto de que Arian nunca sabia quando realmente o ataque iria vir e quanto era um blefe.

Era uma estratégia insana e devia estar consumindo muito da energia do vampiro. Arian só podia tentar se defender, bloquear e desviar.

“Droga, não! Não!”

Em desespero, e cada vez mais ferido, sua consciência se foi.

A energia azul a volta dele aumentou e então tudo foi liberado ao mesmo tempo. Raziel foi arremessado longe, Arian saltou em cima do corpo do vampiro, ainda em movimento, o agarrou pela cabeça e jogou na direção do seu grupo. 

Arian mirou a espada naquele direção e se preparou para liberar a energia dela.

“Não! Para!”

Internamente, ele lutava para parar seu corpo, mas não tinha efeito algum, era como se outra pessoa estivesse no controle.

Pouco antes da energia ser liberada, Raziel teleportou para frente dele e acertou um soco no no braço de Arian, desviando a direção da espada e evitando que acertasse o grupo no chão. Em seguida acertou um soco que jogou Arian a mais de 30 metros, só parando quando acertou as costas em uma arvore. Embora não pudesse controlar seu corpo, ainda sentia toda dor.

— Então é assim que fica quando se deixa ser dominado por essa coisa? Esperava mais.

O impacto foi mais forte que qualquer coisa que já havia sentido, e não parou, Raziel começou a teleportar sucessivamente, acertando um soco em cima do outro. Arian tentava revidar, mas era inútil,  o vampiro era muito mais forte fisicamente que ele. E embora parecesse cansado, nem de perto estava em seu limite.

Outro soco jogou Arian contra uma arvore, e pela primeira vez, ele viu aquela sua forma descontrolada cair de joelhos, completamente atordoada e respirando de forma ofegante devido a sucessão de ataques. Nem seu estado sem controle era páreo para aquele vampiro puro. 

— Finalmente se acalmou?

Não havia como parar ele naquela forma antes de sua energia espiritual acabar, então como esperado, Arian ficou de pé mais uma vez. Dando um berro e se preparando para avançar contra Raziel.

— Lutar com essa versão raivosa de você não tem muita graça — dizendo isso, Raziel colocou a mão para frente, e um circulo de magia se ativou abaixo de Arian.

Era uma armadilha, por isso Raziel estava o jogando de um lado para o outro com socos em vez de suar sua espada. Queria o colocar naquela posição, onde havia armado uma magia. Arian sentiu uma dor tremenda e se ajoelhou.

— Isso é uma magia anti-possessão. Deve doer um bocado, mas quero você de volta nesse corpo, e não ficar brincando com um espirito em fúria.

— Raziel, já chega! — gritou Lara, caminhando lentamente até eles.

— Ele não é digno, Lara! 

— Não é você quem decide isso! 

Arian tinha ganho o controle de seu corpo de volta, mas sentia que iria desmaiar a qualquer momento. Um pouco da energia azul ainda cobria parte de seus ferimentos, mas não conseguia respirar direito devido ao corte na garganta, e seu corpo estava todo ferido. Lara tentou ir até ele, mas caiu no meio do caminho, ainda sobe o efeito do veneno.

Raziel, observando tudo com um ar de decepção, pegou sua espada no chão e teleportou para cima de Kadia.

“O que ele…?”

— Vamos a sua última chance, Marven.

Dizendo isso, o vampiro cravou sua espada no meio do peito da demônio.

Arian não gritou, não tinha mais forças para isso, ele só ficou lá sem reação por algum tempo, enquanto se sentia completamente impotente. Foi como ver a mãe de Sara, tudo estava acontecendo de novo.

Ele se levantou com dificuldade, ainda com um pouco da anergia azul tentando sustentar tudo que estava destruído em seu corpo, principalmente seus olhos. No momento, tudo que via era em um azul brilhante, e podia enxergar em 360º, o que só o deixava mais confuso.

Ele caminhou até Kadia lentamente, enquanto Nuvens negras cobriram os céus em uma velocidade anormal e o vento aumentava.

Antes que ele chegasse até ela, começou a chover, ao mesmo tempo que uma sucessão de relâmpagos ressou pelos céus. Pensando agora, quase todos os seus momentos mais tristes eram marcados pela chuva. Não acreditava em deuses, mas era como se houvesse um ser que controlava os céus caçoando dele.

Ele chegou até Kadia e se ajoelhou, encostando a mão em seu pescoço. Ela não respirava.

— Por que? — peguntou ele, baixinho, e com os olhos cheios de raiva, mas sem mais forças para lutar. 

O vampiro retirou a espada do peito da demônio, de onde um pouco de sangue começou a sair.

— Era a única coisa que ainda não tinha testado — disse Raziel, olhando para ele com uma satisfação que Arian não entendia — Mas fico feliz de ter feito.

— Está feliz com meu sofrimento?

— Não, é por ver que tem mais de sua mãe em você do que… 

Antes de completar a frase, Raziel foi arremessado a vários metros com um soco na cabeça. Era Lara, parecendo furiosa. Ela acumulou energia celestial no punho e acertou o vampiro em cheio.

Em seguida, o barulho dos trovões começou a aumentar de forma complemente anormal, até porque, o barulho não vinha do sol, mas de dentro da floresta.

— Temos que sair daqui! — disse Lara, olhando para Arian.

Arian só entendeu porque depois de olhar na mesma direção dela. Um portal acabara de aparecer e desaparecer a uns 30 metros deles.

— A tempestade de portais chegou aqui!

Arian pegou o corpo de Kadia nos braços e se esforçou para levantar e tentar sair dali, mas do nada, com um forte barulho, um portal surgiu ao lado deles. 

— Lara! — gritou Raziel, em desespero, teleportando para onde ela estava.

Mas era tarde. Assim que o portal surgiu Arian, Lara e Kadia foram sugados para dentro, e em seguida o portal sumiu.

Raziel fez uma cara de pavor pela primeira vez em anos, contemplando a área onde a pouco estava a filha do seu melhor amigo, a qual  ele não fazia mais a menor ideia de onde fora parar, ou se ainda estava viva.

Próximo: Capítulo 23 – Livre

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PS: O capítulo ainda não passou pelo revisor, então pode conter alguns errinhos.