As Crônicas de Arian 2 – Capítulo 14 – A Bruxa de Gelo

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Capítulo 14 – A Bruxa de Gelo

“Eles tem que se livrar logo dela”

“Olha o que a mãe dela fez, eu sabia que era um erro mante-la no castelo, a mulher era louca”

“Ela nem mesmo deve ser filha dele”

“Tomara que tirem logo ela daqui, ou a condenem a ficar presa junto com a mãe, não aguento mais olhar para ela”

“Ela vai acabar tentando matar a princesa. Viram como ela a olha? É pura inveja”

“Acho que ela está ouvindo?”

“É bom que escute mesmo, quem sabe ela mesmo não acaba com a própria vida ou sai daqui”

Uma garotinha de 6 anos chorava no canto de um grande quarto decorado com luxo, enquanto lembrava do que escutou os servos cochichando, desde a morte da rainha.

Tentou ignorar o que falavam, mas depois de um ano chegara a seu limite. Em profundo desespero, ela só conseguia encarar o chão, aflita com qual seria seu destino. Devia estar no salão de festas, ao lado de sua irmã, mas não tinha mais coragem de encara-la. Já havia se passado um ano, mas o olhar triste de sua irmã permanecia, a lembrando o tempo inteiro do que tinha feito. Só queria ficar trancada ali em paz, sem ver ninguém, na esperança de esquecer o que aconteceu.

Foi quando um homem abriu a porta lentamente e entrou no quarto. Alto, de cabelos negros levemente ondulados que chegavam até o pescoço, olhos vermelhos e uma barba por fazer, era a única pessoa que ainda parecia gostar dela de verdade. “Ou será que estava fingindo esse tempo todo?”, pensou a garota.

— O que houve, Lara? Não vai ir ao aniversário de sua irmã?

— Minha mãe… Disseram que ela foi… — a garota estava com dificuldade de dizer a palavra final. Tanto pelo medo da confirmação, quanto as lagrimas e o nariz entupido atrapalhando.

O homem suspirou, pensando no que dizer.

— Sua mãe fez uma coisa muito ruim, e foi punida de acordo. O julgamento levou um ano. E sim, ela foi considerada culpada e morta ontem.

Ela já sabia pelos comentários dos empregados do castelo. Mas receber a confirmação ainda doeu. A respiração dela ficou mais alta, enquanto tentava desesperadamente limpar as lagrimas do rosto.

— Deviam fazer o mesmo comigo… — disse a garota baixinho enquanto soluçava.

Lara não olhava para ele, só continuava a encarar o chão enquanto falava, estava envergonhada demais de si mesma para encara-lo.

O homem se aproximou e ajoelhou em frente a ela.

— Lara, olhe para mim.

— Não, não quero mais olhar para ninguém. Você disse que era temporário, que iria passar, mas faz um ano que todos me olham como se me quisessem morta.

A garota se encolheu ainda mais contra a parede de pedra. Sua respiração estava ofegante, e parte da franja presa ao rosto molhado de suor e lagrimas. O desespero com que ela falava estava deixando o homem a sua frente cada vez mais aflito.

— Você vai me mandar embora, não vai? Não sou burra. Depois do que fiz com sua esposa, ela… e eu, eu sou só uma humana normal, nem acreditam que sou sua filha.

— Você não fez nada de errado, Lara, porque deveria ser punida?

— Eu a matei! Eu dei a ela o colar amaldiçoado! — lagrimas voltaram a cair dos olhos da garota sem parar.

— Lara… — O homem fez uma breve pausa, parecendo chocado — Estava se sentindo culpada por isso até agora? Eu te falei, não foi sua culpa, sua mãe te fez fazer isso porque sabia que Inara confiava em você. Você não teve culpa! Nem eu nem sua irmã a culpamos por isso, acredite.

— Ela era minha mãe, eu vim dela! — gritou — Eu tenho o mesmo sangue podre e vou acabar matando a sua verdadeira filha se continuar aqui.

O homem arregalou os olhos na última parte.

— Onde escutou isso?

— Os servos, seus concelheiros, todo mundo desse castelo… todos me olham como se eu só estivesse aqui de favor… Foi sempre assim, mas eu ignorava, a opinião deles não importava. Mas agora… Acho que eles tem razão. — a expressão de Lara parecia cada vez mais fúnebre.

O homem respirou fundo e levantou sua mão nesse momento, para o profundo temor da garota, que se encolheu ainda mais contra a parede. A mão dele então desceu lentamente sobre a cabeça da pequena humana, e ele disse da forma mais calma que pode:

— Lara, a verdade é que você não é como nós, e nunca será. Isso é uma coisa rara, quase nunca se vê alguém nascer humana no cruzamento com nossa raça. E sim, vão te julgar por isso a vida toda, como um defeito, como alguém que não merecia estar entre nós. É algo que vem desde a antiguidade, e ainda vai demorar muito para mudar.

A garota voltou a chorar ao ouvir as palavras duras do pai, que continuou.

— Mas nem tudo é ruim. Lembra o que seu tutor disse? Nunca viu um ser com uma quantidade tão grande de energia espiritual como você. Acredite, aquele velho não mente. Você pode não ter nascido como nós, mas tem seus próprios dons, como você mesmo gostava de deixar claro quando humilhava sua irmã nas aulas de controle de energia espiritual. Para ser honesto, sempre achei que era orgulhosa até demais, por isso nunca notei que as bobagens que falavam sobre você a incomodavam.

— Não é tudo bobagem, eu realmente sinto inveja dela. Todos sorriem quando olham para minha irmã, a parabenizam por cada coisa boa que faz… Também queria que me olhassem assim…

— É mesmo?

O homem não parecia tão espantado com a resposta.

— Ao menos, gostaria que parecem de me olhar como se fosse uma mancha sujando o palácio. Todos aqui sempre gostaram da minha irmã, desde que ela nasceu. A mim eles só suportavam, e desde que ela morreu, só me odeiam. E a cada vez que veem o rosto triste da minha irmã pelo que eu fiz, eles me odeiam ainda mais.

O rei olhou pensativo para ela. Tentando achar as palavras certas.

— Bem, eu posso ordenar que não falem sobre você ou olhem para você dessa forma, mas seria tudo falso. Sabe o que eu penso sobre falsidade, não?

— Melhor palavras duras honestas do que uma mentira gentil.

— Exatamente! E mesmo que talvez nunca venham a gostar de você, o respeito deles você pode conquistar.

A garota se acalmou um pouco e olhou para o pai.

— Como?

— Se torne tão boa em alguma coisa, que eles não possam te ignorar. Sempre achei seu jeito egoísta um pouco preocupante até agora, mas no momento, é disso que você precisa. Ficar triste com o que dizem de você ou se culpando por algo que não é sua culpa não vai adiantar nada. Nada vai mudar. Ao invés disso, os ignore e mostre a eles que você pode fazer coisas que os filhos sangue puro deles nunca poderão.

— Como me tornar uma heroína SS? É fácil para minha irmã, mas não tenho como conseguir isso sendo humana.

— Acha mesmo? Tem vários heróis lendários por ai que não são vampiros. O que me diz de Lancaster? Ele era um humano normal, como você.

A garota torceu a cara para a sugestão.

— Ele fez um pacto com um dragão.

— E você ganhou toda essa habilidade anormal em magia celestial… Se aprender a usar isso direito, pode se tornar alguém muito maior do que pensa.

A garota olhou para ele meio incrédula, ele claramente só queria anima-la.

— Como sabe?

— Uma certa deusa me contou… Mas disse que tinha que esperar a hora certa de dizer, e também para lhe dar isso.

O homem levantou um objeto embrulhado que estava em sua mão e o colocou na frente dos olhos de Lara.

— O que é isso?

— Uma Lâmina espiritual. Sua irmã também acabou de ganhar uma que pertencia a mãe dela, embora seja bem diferente em formato. Não gosta de coisas caras? Isso aqui vale mais que um castelo. Está comigo a 500 anos, inativa, dormindo. E embora tenha dúvidas, talvez se dê bem com a sua personalidade arredia. Lancaster fez um pacto com um dragão para virar um herói, você diz. Não foi exatamente isso, mas se acha que fará diferença, que tal fazer o seu próprio pacto com um dragão?

A garota parou de chorar e olhou para ele sem entender. Seu pai então desembrulhou o objeto. Era uma espada de vidro, que Lara ligou rapidamente a uma história que gostava muito.

— A espada da bruxa de gelo…

Era a heroína favorita de Lara. Não estava mais viva faz muito tempo, mas haviam diversos livros relatando seus feitos inacreditáveis, sempre junta a sua fiel companheira, uma espada com a alma do dragão de gelo mais poderoso que o mundo já viu.

Seu pai riu.

— Você adorava aquela história… Sim, essa é a espada de Izary, também conhecida como a bruxa de gelo.

— Como?

— Como a consegui? Digamos que sua mãe não foi o único caso que tive… Eu tenho muitos defeitos, mas me derreter por mulheres estranhas que conheço por ai é sem dúvida o pior deles. Por isso nunca quis me casar, mas meus pais me obrigaram quando assumi o reino… Bem, de qualquer forma, Izary me deu essa espada em seu leito de morte, esperando que um dia aparecesse outra pessoa capaz de usa-la. Vejamos se você é a escolhida, como uma certa Deusa afirmou que seria. Toque no cabo da espada e chame pela alma do dragão usando seu nome. Lembra do nome do dragão, não?

Lara pegou no cabo da espada e chamou pelo nome que dragão que a acompanharia pelo resto de sua vida.

— Arcadian!

A espada brilhou com um forte azul, assim como os olhos de Lara.

O pai da garota sorriu.

— O par perfeito… Parece que agora você é a nova bruxa de gelo. Sem falar que acaba de fazer um pacto com o dragão azul mais forte que já existiu.

A garota o olhou com uma felicidade indescritível emanando de seu rosto. Tinha sido escolhida por algo muito mais poderoso que ela, ou em outras palavras, algo com o que ela só podia sonhar havia reconhecido seu valor, a considerado digna de seu poder.

— Certo, pronta para ir cumprimentar sua irmã agora? Ela provavelmente não aguenta mais aquela gente estranha a sua volta a relembrando que sua mãe morreu ao dizerem que sente muito. Vá até lá e fique do lado dela. Se a repulsa que estão de você for tão grande quanto diz, é capaz de a deixarem em paz para te evitar.

A garota perdeu um pouco do ar de felicidade e ficou pensativa com a proposta.

— Vamos lá, você foi escolhida pela alma de um dragão lendário e está segurando a arma da sua heroína favorita. O que importa o que as outras pessoas pensam de você comparado a isso? E lembre-se, você é minha filha, Lara, não importa o que sua mãe fez, ou o que os outros dizem, sempre terei orgulho de você.

Lara apertou o cabo da espada com força. A arma brilhou, como se algo estivesse falando com ela. Ela ficou com uma expressão séria e olhou para o pai.

— Eu… Eu vou tentar. Posso levar a espada?

— Claro. É uma arma espiritual, idealmente você nunca se separa dela. É uma companheiro para a vida.

Lara se trocou rapidamente, limpou o rosto e foi para a porta do quarto junto com o pai. Ela então parou bem na divisão da porta com o corredor, notando que suas mãos tremiam.

— O que foi?

— O que é aquilo que você fica repetindo quando está nervoso antes de ir a uma reunião?

— “Seja forte, Alexander”? Minha mãe que me ensinou isso para eu me acalmar antes de alguma apresentação em público. Como sabe odeio discursos desde que nasci. Mas a frase completa que ela me disse é meio diferente e mais interessante do que a parte que uso para me motivar.

Depois disso ele disse as palavras que ela nunca mais esqueceria, pelo resto de sua vida.

*************************

 

Lara acordou deitada no chão, com vários escombros a volta dela. Estava tonta e com muita dor na cabeça. Pensou que sua cabeça estava rodando, mas logo notou que era o local que estava se mexendo. A torre tremia e estava lentamente se inclinando em direção a cidade.

— Lara, a torre vai cair, corre para a beirada e se segura na janela! — gritou Marko, ao ver que ela tinha acordado.

Ele estava tentando ajudar Jon e Joanne a retirar Zek de seu caixão e arrasta-la para uma das janelas. O problema é que Kadia ainda estava tentando mata-lo para pegar Lara, como Arx havia ordenado. Com Marko distraído, ela já havia acertado vários golpes no licantropo. A armadura protegia boa parte de seu corpo, mas o gigante estava cheio de cortes no rosto.

Irene já tinha se posicionado em uma das janelas atirando flechas para tentar distrair Kadia. Infelizmente não faziam muito efeito, e a demônio não parecia nem um pouco preocupada com a queda da torre, provavelmente devido a lavagem cerebral de Arx.

Arian estava lutando contra Arx e Lian ao mesmo tempo agora, enquanto os dois tentavam carregar o caixão de metal com a filha de Arx, que ele havia fechado assim que a torre começou a cair. No momento a prioridade dele de pegar Lara e a caixa amaldiçoada tinha ficado em segundo plano.

A torre se inclinou ainda mais. Foi então que Arx e Lian correram para uma das janelas com o caixão e pularam para o lado de fora. Arian saiu correndo atrás deles e se jogou para o lado de fora também, desaparecendo da vista de Lara em seguida.

— Ele é louco! — gritou Joanne.

Com o terreno cada vez mais inclinado, Marko também não viu opção. Agarrou Lara e se jogou por um dos vidrais. Kadia o seguiu. O lobisomem se transformou em um meio urso, deixou Lara em uma das janelas e voltou a atacar Kadia, agora ambos do lado de fora. Com a inclinação do prédio eles tinham que se segurar em algo o tempo inteiro para não caírem, era uma luta completamente insana. A parte do meio da torre iria cair no mar, mas a parte superior bateria em cheio na ponta da cidade de Amit.

Abaixo deles Arian escorregava pela torre ao mesmo tempo que lutava contra Arx e Lian. Na verdade Arx é quem estava lutando, enquanto Lian se preocupava em descer em segurança com o caixão, o qual Arian fazia questão de acertar com um chute sempre que podia, de forma a manter Arx distraído, já que se o caixão deslizasse pela beirada na parte em que estavam, cairia diretamente no mar.

A luta era muito confusa, já que estavam atacando, desviando e defendendo golpes enquanto deslizavam ou caiam pelo prédio em queda. Arian parecia bem mais experiente nesse tipo de luta em movimento, e como ele não tinha nada de valor para se preocupar, eles é que pareciam estar sendo pressionados.

— Por Alizen! — disse Jon, olhando para baixo — Tem um exército de demônios fantasmas descendo atrás do Arian.

— Também estou vendo eles, não são fantasmas, e estão só desesperados com a queda da torre — disse Lara, com uma cara bastante preocupada.

Vários demônios estavam saindo de alguns andares da torre, completamente perdidos quanto ao que fazer para se salvarem.

— <E> está saltando feito uma louca de um lado para o outro e matando eles antes que cheguem nele, então os que estão correndo até o Arian são fantasmas — afirmou Jon.

Joanne, que estava ao lado de Jon segurando o corpo de Zek, ainda desmaiada, parecia perdida, e muito assustada com o que estava para acontecer. Eles estavam no topo da torre que em pouco tempo iria se chocar com a cidade de Amit. O impacto mataria todos ali que fossem humanos normais.

— Marko, qualquer ideia é bem vinda. Não sei o que fazer! — disse ela.

— Posso saltar antes da torre se espatifar na cidade, mas só tenho como levar 2 comigo, e talvez um nas minhas costas se aguentar se segurar. O problema é parar a Kadia nesse meio tempo.

— Leve a Lara, Jon e Irene. Zek é muito resistente, talvez aguente o impacto. Eu tento parar a Kadia.

— E você, como vai evitar morrer na queda? — questionou Jon.

Joanne não respondeu a pergunta. A resposta era obvia.

Lara não achava a solução muito viável.

— Isso nunca vai dar certo…

Kadia provavelmente iria saltar contra Marko quando ele tentasse pular antes do impacto e todos iriam morrer.

Não ligava para eles, e menos ainda para seu propósito de salvar o Sul. O motivo daquela jornada para ela nunca foi o Lich, mas sim a pessoa que agora estava no meio da torre. Ainda assim, a ideia de todos ali morrerem não a agradava. Era o equivalente a Arx ganhar, e ela odiava perder.

A sacerdotisa suou frio ao olhar para baixo e pensar na única solução para tentar salvar todo mundo. A torre estava rapidamente virando, e chegaria a 90º antes de bater. O timing tinha que ser quase perfeito.

— Só pode ser brincadeira… — disse Irene, observando que de vários andares abaixo deles estavam saindo demônios do mesmo tipo que os atacaram dias atrás.

— Ótimo… Use tudo que tem Arx… Só vai doer mais quando perder… — disse Lara, tentando esconder seu nervosismo.

A garota então se inclinou para frente, esperando o momento certo, precisava que a torre se inclinasse um pouco mais.

— Joanne, pense rápido!

Ao dizer isso Lara jogou a caixa amaldiçoada para a sacerdotisa, que a pegou no susto e imediatamente começou a gritar de dor.

— Lara, o que está fazendo? — questionou Irene, vendo ela se preparando para fazer algo.

— Salvando a sua bunda, Irene! Quando eu gritar, se preparem para pular! E se eu conseguir, não ousem me dizer que foi Alizen que fez isso!

Pouco antes de se soltar da janela ela exitou, e então disse para si mesmo baixinho.

— Seja forte, Lara…

A sacerdotisa então largou da janela e começou a correr pelo lado de fora da torre. Ainda estava muito inclinada, então ela caia e deslizava em algumas partes, machucando a perna toda no processo. Os vários demônios saindo dos andares inferiores começaram a persegui-los também, a obrigando a se jogar de um lado para o outro enquanto descia a torre, evitando assim suas garras. Sua perna estava ficando toda machucada, e o vestido apertado rasgando cada vez mais.

Ela já estava em 1/4 da torre, e se aproximando de Arian. Mas não era o bastante, tinha que estar perto da metade para isso dar certo.

Um demônio vindo pela frente saltou contra ela. Ela conseguiu desviar, mas quase saiu pelo buraco de uma janelas. Tentou então fazer como Arian, e deslizar pela torre, ao invés de correr. Os demônios continuavam vindo atrás dela, já haviam mais de 20, não tinha como lutar contra todos.

Foi quando um deles saltou contra ela com as garras mirando seu pescoço. Ela colocou a espada na frente do corpo para bloquear, congelando a criatura antes que tocasse nela, mas o impacto com o demônio a jogou vários metros para o lado. Seu corpo estava todo machucado, e o vestido mal cobrindo seu corpo, de tão rasgado.

Outro veio para cima dela. Novamente tentou bloquear com a espada, mas o corpo da criatura a acertou e jogou para baixo. A espada caiu de sua mão e ela bateu a cabeça, tudo estava ficando nublado. Arian a viu e gritou alguma coisa, mas  só o que ela conseguia ouvir eram as palavras de seu pai, que ela nunca esqueceu.

“Quando estiver com medo, quando parecer que não existe solução, apenas seja forte, Lara. Tenha coragem de fazer o que acredita, de dar um salto de fé, fazer o que ninguém mais faria.”

Lara repetiu as palavras baixinho para si mesma, enquanto puxava uma quantidade insana de energia celestial para seu corpo, gerando uma regeneração acelerada dos ferimentos.

— Seja forte, Lara… Ou todos vamos morrer.

Com um grito, ela se levantou e correu, desviando de um demônio que saltou sobre ela. Estava quase no meio da torre, e a poucos metros de Arian, que agora parecia em tremenda desvantagem contra Arx e seu mordomo, que deixaram o caixão protegido e partiram para cima dele. Seu rosto estava com um enorme corte da espada de Lian, e o guardião parecia cansado.

— É agora!

Lara colocou o braço para cima, e no mesmo instante a espada que havia caído de suas mãos se levantou no ar e foi em sua direção. Ela saltou e agarrou a espada em pleno ar, gritando.

— Arcadian!

A espada começou a brilhar com um forte azul, assim como os olhos de Lara, enquanto ela ainda corria e desviava do ataque dos demônios a sua volta na torre em queda livre. Com um forte brilho, a espada sinalizou que estava pronta.

— Arian! — gritou ela, já a poucos metros do guardião, que pareceu entender na hora o que iria acontecer. Ela, afinal, já havia feito o mesmo na luta contra os goblins.

Lara apoiou os pés em uma elevação e cravou sua espada na parede, gerando uma forte explosão de ar frio.

Nesse dia, o grito estridente de um dragão pode ser ouvido até nas cidades vizinhas, enquanto uma forte luz branca começou a sair da espada e congelar toda a parede da torre. Todos os demônios atrás de Lara foram congelados. Arian saltou sobre Lian e o jogou para baixo bem quando o congelamento chegou neles. O mordomo de Arx foi congelado na hora, junto do caixão com a filha de Arx. Já o lorde conseguiu saltar evitando o congelamento. Quando ele caiu de volta o chão estava escorregadio devido ao gelo, e ele só conseguia olhar pasmo para o Lara havia feito.

Lara sorriu para ele, ainda segurando sua espada contra o chão, da qual um forte ar gélido estava emanando. Arian estava embasbacado pela visão da sacerdotisa, enquanto o sol aparecia por trás da torre, iluminando o gelo e os belos cabelos dourados da sacerdotisa.

— Inacreditável… — disse Arx, tentando crer no que estava vendo. A única coisa que conseguia lembrar era de uma história antiga da bruxa de gelo, que congelou uma montanha inteira para aprisionar uma criatura lendária. Pensava que era só uma lenda idiota e exagerada, ao menos até aquele momento.

Ilustração oficial da cena

A magia da espada estava chegando no topo da torre. Vendo isso, Marko correu até o grupo, agarrou todos como dava e se jogou para a parte de baixo da torre, alguns andares abaixo, que já estava congelada. Kadia imitou o movimento, e saltou para evitar ser congelada, já mirando a cabeça de Marko na descida. O lobisomem se jogou para um lado e empurrou parte do grupo que estava segurando para o outro, tentando evitar que fossem acertados. Irene, no entanto, ficou muito próxima e levou o golpe de Kadia, que abriu um enorme corte em seu peito.

— Irene! — gritou Marko, se jogando em cima de Kadia para evitar que ela desse o golpe final e arrancasse a cabeça da garota.

Enquanto isso o resto do grupo saiu escorregando em direção a beirada da torre.

— Jon, se segura em algo! — gritou Joanne, agarrada ao corpo de Zek, enquanto tentava se segurar em algo e lutava contra a dor que a maldição da caixa estava lhe causando.

Jon apoiou os pés em uma elevação congelada, que antes devia ser um beiral. Já Joanne, que estava caindo de costas, não viu a elevação para a qual estava deslizando e bateu de cabeça nela. Ela soltou Zek e ficou totalmente zonza. Jon deslizou com dificuldade até o local onde ela estava, perigosamente perto da beirada.

— Você está bem?

Joanne não respondeu, parecia completamente zonza, lutando contra a dor em sua cabeça, a vinda da caixa, e o medo do impacto da torre com o chão, que provavelmente iria matar todos eles.

Foi então que da parte de baixo da ponta da torre onde eles estavam começaram a sair várias estacas gigantes de gelo, se estendendo da torre até o chão da cidade de Amit. Com um forte estrondo, a torre parou de cair. Na verdade não parecia mais uma torre, e sim ponte de gelo levemente inclinada ligando Amit ao castelo de Arx, passando por cima do mar.

O impacto das estacas parando a torre fez Joanne e Zek deslizarem para a beirada da torre. Joanne estava claramente sem forças para se segurar em algo. Ela tentou soltar a caixa, mas o objeto parecia preso a sua mão, como se estivesse tentando mata-la. Ela e Zek estavam cada vês mais próximas da beirada.

Jon não pensou duas vezes, e se jogou na direção deles, deslizando até a beirada, usando cada mão para agarrar o braço de uma delas, e os pés para se segurar em uma leve elevação. Quando se deu conta estava debruçado na beirada da torre segurando Zek e Joanne penduradas. Abaixo delas, uma queda de 100 metros até os vários prédios de Amit.

— Marko! — gritou Jon, enquanto usava toda força que tinha para não deixa-las cair.

— Aguenta ai, Jon! — gritou ele, que estava ocupado com Kadia e desesperado com a situação de Irene, no momento agonizando enquanto tentava usar energia celestial para curar o corte profundo em seu peito.

— Me solte, Jon — disse Joanne — Você está fraco, não vai conseguir segurar nos duas por muito mais tempo, que dirá nos puxar.

— Nem pense em uma coisa dessas — disse o garoto, tentando fazer força para puxar as duas, sem sucesso. Quase perdeu seu apoio, e por pouco não caiu junto com elas.

— Que droga, Jon! Zek te ama! Tem que salva-la!

— E eu amo você! Como acha que vou me sentir pelo resto da vida se deixa-la morrer?!

Joanne arregalou os olhos por um breve instante nesse momento. Jon jurou que pode ver uma lagrima em seus olhos antes dela se recompor:

— Jon, isso é ilógico, nos duas vamos cair com você junto se não soltar uma de nós.

— Eu não sou o Arian, não consigo fazer essa escolha. Não vou viver sabendo que deixei uma de vocês morrer pela outra!

— Mas vamos todos morrer assim!

— Que seja, ao menos eu vou morrer sem culpa!

Foi então que a torre tremeu devido ao impacto de algo contra a torre na parte de baixo, onde Arian e Lara estavam lutando contra Arx. Jon perdeu o apoio dos pés. Ele pode ouvir um grito estridente de Marko, provavelmente tentando chegar até eles, mas era tarde.

Próximo: Capítulo 15 – Adeus

Comente o que achou do capítulo, o autor agradece.

PS: O capítulo ainda não passou pelo revisor, então pode conter alguns errinhos.