As Crônicas de Arian – Capítulo 28 – O gélido norte

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Capítulo 28 – O gélido norte

— Jorge, eu não tenho mais 20 anos, me dê um tempo para descansar — reclamou o homem de longos cabelos brancos, após algum tempo duelando no pátio do maior castelo do Norte, na cidade de Stronghold, capital do país. Sua postura e olhos azuis lhe davam um ar nobre, mas sua pele era extremamente branca e envelhecida.

— Madrid, leve-o para dentro e acenda a lareira do quarto do vovô, está muito frio hoje — disse o garoto de 11 anos, com um belo cabelo loiro, penteado para trás. 

— Não se preocupe, estou bem, esse velho já se acostumou com o frio do Norte, são muitos anos o suportando. Agora vá para sua aula com os sábios, soube que está se saindo muito bem, continue assim.

O garoto deu um sorriso e saiu correndo para dentro do castelo, enquanto a beirada de sua volumosa capa negra, feita da pele de algum animal, era levemente arrastada pelo chão, cheio de neve. 

— Queria que Nissius fosse assim, obediente e inteligente. Como o pai pode ter saído tão errado, e o filho tenha vindo tão bom?

— Nem tudo pode ser resolvido com criação, senhor… Nissius sempre teve uma índole ruim, se me permite dizer.

— O idiota ganancioso ao menos serviu para alguma coisa. Em 5 anos, esse garoto vai ser o melhor Rei que o Norte já teve — falou ele, enquanto Madrid, um homem careca, aparentando perto de 30 anos, vestido formalmente, caminhava para seu lado recolhendo o equipamento de duelo.

— Não acho que o pai dele vai concordar em entregar a coroa tão cedo, senhor.

— Não é como se ele governasse algo. Fica passeando por aí enquanto seu assistente fica no trono tomando todas as decisões. Se é para continuar assim, é melhor entregá-la de uma vez.  Se ele recusar, eu mesmo o mato… — Nervoso enquanto falava isso, o homem lentamente olhou para os alvos do campo de treinamento de arco e flecha, que explodiram, todos ao mesmo tempo.

— Não acho uma boa ideia chamar atenção dessa forma, senhor.

— Não, mas prova que ainda sou humano, e faço coisas estúpidas quando fico com raiva… Mas deixando isso de lado, como andam as coisas no Sul?

— Tudo indo de acordo com o previsto. Pelas últimas mensagens que enviaram, deve ocorrer em Amira.

— Ótimo. Se tudo correr como o planejado, seria uma preocupação a menos… Confirmaram a anomalia, o tal de Arian?

— A fonte diz que, em determinados momentos, existem similaridades com a descrição que o senhor passou, mas não tem certeza ainda.

— Que pena… Avise para eles tentarem trazê-lo, se possível. Mas se não conseguirem, podem matá-lo, seria um problema a menos no futuro. De qualquer forma, a prioridade é o item que descrevi. E tragam a portadora junto, não sei se Jane vai conseguir conter o objeto sem ela. Fora que, admito estar curioso para conhecer quem foi capaz de conter a maldição colocada naquilo.

— Senhor, perdão por questionar suas ordens, mas se queria garantir o sucesso da missão, não deveria ter mandado mais gente?

— Você ainda é novo nisso Madrid… Números são irrelevantes, aprendi isso com minha própria pele. E pensando agora, o preço que paguei pelos contratados vale por mais do que o exército todo que está na fronteira. O problema desses malditos, é que a maioria deles não liga mais para dinheiro, já tem mais que o bastante. Nunca gostei da frase “não tem preço”, mas foi basicamente as coisas que tive que prometer a maioria deles. Com cinco daquela classe, no entanto, a chance de falha é quase zero.

— Pela descrição do grupo, imaginei que dois seriam o bastante. Temos os outros Classe S também.

— Já foi meu tempo de subestimar os inimigos, Madrid. Perdi batalhas demais por isso. Agora mando o dobro do necessário para lidar com eles, sempre  — falou o velho, olhando as montanhas cobertas de neve, ao longe, enquanto parecia relembrar o passado.

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