Impressões Semanais: Orange #12

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Imediatamente conforme os segundos iniciais cruzam a tela, o penúltimo episódio de Orange deixa claro que veremos algo diferente do que fora apresentado até agora. Kakeru narra, em off, alguns acontecimentos de sua vida e deixa, de uma vez por todas, seu íntimo exposto e bem explanado, tanto no sentimental quanto aos acontecimentos não pertencentes à trama principal até então.

É aqui onde, finalmente, obtemos várias das respostas que ainda estavam no limbo e onde a opinião do público deve se solidificar, seja a favor ou contra o personagem, e logo, do anime, que se movimenta ao redor do garoto.

Não há de se negar, entretanto, a complexidade que envolve Kakeru. Muito se discutiu acerca de seu caráter, se era um covarde, um fraco, como muito li, talvez simplesmente um jovem perturbado que leu Sofócles em excesso durante a infância, ou, afinal, que o fardo carregado por si é, mesmo, insuportável.

O fato é que trabalhar com sentimentos é uma tarefa ingrata. O êxito pode proporcionar o maior dos prazeres no criador, a sensação de trabalho cumprido. A ineficácia, porém, é um grande risco, pois a inaptidão em atingir o espectador justamente com aquilo que é básico para sua imersão, torna todo o conjunto falho. Se tratando de algo tão pessoal, então, é para glorificar àqueles reconhecidos por suas habilidades de transmitir emoções genuínas de forma honesta.

Digo isso para lançar a pergunta: o que você, leitor, pensa de Kakeru? Qual sua interpretação pessoal de sua situação? O que faria em seu lugar? Pense, reflita, recolha-se para o íntimo de si para chegar a uma conclusão concreta e coerente.

Pode ser que não concordes que os sofrimentos do menino justifiquem cessar com sua vida. Mas é mesmo justo compararmos as consequências que cada um pode receber para infortúnios individuais? Claro que não. Cada psicológico é uma ilha indecifrável e inigualável, como fora brilhantemente retratado em Divertida Mente.

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É preciso sensibilizar-se com Kakeru. A conturbada relação com sua mãe, as respostas nunca obtidas acerca do pai, as frequentes e repentinas mudanças; os compromissos que impediam um cotidiano convencional. Mãe e filho tinham pensamentos distintos sobre isso. Uma mágoa acumulou-se no interior do rapaz, não por culpa sua, é claro. Nem tampouco dela. Quando crescemos, aprendemos bem como a vida adulta não traz a segurança e a onipotência que vemos em nossos pais, e a figura materna não está isenta de falhas.

Nós, como somos, não estamos isentos. A máquina perfeita do corpo humano, dizem. Perfeita como? Funcional em sua imperfeição talvez seja uma definição mais devida.

Foram pequenos elementos do dia a dia que, juntos, soterraram o bom senso e, em um pequeno momento de alegria e com a perspectiva de ter aquilo que até então fora privado – um verdadeiro grupo de amigos -, levou Kakeru a proferir as cruéis palavras finais para sua progenitora, essas que o atormentaram – compreensivelmente – para o resto de sua existência, até o momento onde tornou-se preferível buscar o reconfortante vazio do nada. Quem já viveu no fundo do poço encontrará maior facilidade em entender tudo isso, mas como Kakeru bem disse, é fácil falar que as coisas ficarão bem quando não conhece-se a respectiva situação. E mesmo aqueles com uma saúde mental em dia poderão lembrar-se de alguma vez em que se arrependem de como reagiram a algo que poderia ser contornado diferentemente do que foi. A palavra arrependimento existe e não é por acaso, assim como seu plural.

Claro que, condicionados como somos em confortar o próximo, Naho teve uma atitude animal inerte ao ser, e a reação de Kakeru, brutal e exagerada, reflete o quão conturbado é o seu psicológico, por mais que os esforços dos camaradas já tenham surtido algum efeito, visto que na narração em off do Kakeru que realmente morre, vemos o pensamento de dúvida para quem foi o chocolate de Naho, quando está não o entregou. Este é um questionamento inexiste no presente, visto que Naho já deixou seus sentimentos bem nítidos.

A pergunta que fica para o Series Finale, então, é: será que as cartas – que tiveram algum esboço de resposta, para os que tanto reclamaram, apesar de não crer que a resolução vá satisfazê-los – foram o suficiente para modificar o Kakeru que abraçou a morte para o que vemos no decorrer do anime?!

Em uma semana, saberemos.

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Qual sua nota, leitor?

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Carlos Dalla Corte

Curto 6 coisas: animes, cinema, escrever, k-pop, ler e reclamar. Juntei todas e criei um blog.