Impressões finais: Yowamushi Pedal

-Depois de muita espera, finalmente terminei.

-Yowamushi oscila entre dois extremos: o realismo e o antirrealismo. Os segundanistas sem talento são derrotados pelos primeiranistas que tem talento, ao mesmo tempo que os membros que ficam para trás do pelotão conseguem milagrosamente alcançar sua equipe com toda a facilidade do mundo.

-O autor tenta argumentar que os resultados da corrida não seguem uma lógica determinista, com contratempos e várias explicações de cunho técnico, mas quando chega a hora de colocar isso em prática, ele precisa inventar várias maneiras de explicar a vitória dos competidores – como pulmões superdesenvolvidos ou saber a direção do vento – ou simplesmente enrolar o suficiente para ninguém prestar atenção nisso. Ele queria que a Sohoku ganhasse a primeira etapa do campeonato, e por isso introduziu aqueles cones no meio da pista. Fez o Makishima perder para conseguir um pouco de tensão logo depois de o Onoda ter passado 100 competidores como se não fosse nada, e na etapa seguinte o Tadokoro – que estava em péssimas condições – consegue alcançar o resto do time simplesmente com o apoio emocional do Onoda. Na prática, ao invés de seguir o determinismo do mundo real, as corridas seguem o determinismo do autor, que se torna óbvio demais muitas vezes.

-Pelas razões expostas acima, a tensão – que deveria ser onipresente – é deixada de lado, pois nós sabemos que se os ciclistas da Sohoku quiserem, eles podem converter diretamente força de vontade em energia motriz para pedalar, independente das condições físicas. Em contrapartida, destaco aqui que há um certo potencial do autor em criar situações dramáticas de forma orgânica, por meio de flashbacks. Estes – e não as cenas cômicas – são os que criam mais identificação dos indivíduos que compõem o elenco com o público.

-O melhor exemplo é o Shinkai. Cerca de 10 episódios atrás, não se sabia nada sobre ele, a não ser que criava coelhos. Por incrível que pareça, ele acabou evoluindo muito mais (na minha visão subjetiva) do que seus companheiros de equipe no atributo de carisma, apesar de sua apresentação propriamente dita ter sido tardia em relação ao resto. A história do coelho foi a coisa mais humana e de tamanha sensibilidade que havia visto até o momento, e aquela frase fez todo o sentido e teve um profundo significado no universo da trama e na “mensagem” propriamente dita. Até o momento, só se falava de vencer a corrida a todo custo e de espírito de equipe, e então chega alguém que desiste de competir, como forma de compensar o filhote da coelha que ele atropelou por ter buscado a vitória insanamente e sem se importar com mais nada.

-Isso não dura muito tempo, pois o Midousuji, ardiloso do jeito que é, recorre a um ataque psicológico que explora a fraqueza do oponente. Em comparação às constantes recaídas do Onoda, esse trauma do Shinkai de não conseguir ultrapassar o oponente pela esquerda foi mais impactante, mais motivado. O Onoda faz tanto isso que chega a ser irritante, mas quando ocorre com um personagem de personalidade forte e psicologicamente estável na maior parte do tempo, é uma ótima tática para expandir seu carisma e personalidade. O Shinkai deve equilibrar sua sede de vitória com a sua bondade natural, mas ao entrar em contato com alguém como o Midousuji, não consegue manter o autocontrole e torna-se novamente obcecado pela vitória.

-O Midousuji é mais esperto e vence no final, apesar de tudo. Um cara cheio de artimanhas como ele já havia pensado na desvantagem que o posicionamento de seu corpo traz e se aproveitava disso para dar a impressão de estar em desvantagem, assim como o blefe emocional de antes. Nota-se que ele não jogou o corpo para trás na primeira etapa e por isso empatou, o que indica que ele é o tipo de corredor que supera constantemente os próprios limites e está sempre pensando em como melhorar seu desempenho. Em seguida, temos a recuperação da Sohoku e o Onoda subindo com o Tadokoro ao som de “Daisuki Hime”, que é até engraçado, mas não é o bastante para justificar o fato de um ciclista mal disposto conseguir alcançar o time. No fim é tudo decisão do autor.

-Pessoalmente, estou torcendo pra Hakone, por preferir o time deles ao Sohoku como personagens e como ciclistas também. O nível de confiança dos membros da equipe uns nos outros é tão pleno que eles não precisam ir buscar os companheiros atrasados, justamente por não subestimá-los. Se eles não conseguem acompanhar, que fiquem para trás, oras! O que muda em questão de ponto de vista é a exaltação do Midousuji da própria filosofia de vitória a qualquer custo, ao passo que o Fukutomi prefere ficar calado ao invés de ensaiar um discurso inútil.

-Bom, gente, é isso aí. Foram 38 episódios comentados, embora muitas vezes resumidamente e com atrasos de minha parte, e o que fica são as recordações. Generalizando, Yowamushi é um anime relativamente lento em seu ritmo, com toneladas de frases e discursos de motivação, que foca mais nos flashbacks e no espírito de competição predatório do que na tensão da corrida propriamente dita. Resvala em dois extremos conforme a conveniência exigida, o que desestabiliza um pouco a suspensão de descrença, principalmente quando a Sohoku é tão beneficiada quanto foi pelos deuses do anime. Eu provavelmente vou assistir a segunda temporada, porém não irei comentá-la, pois sinto que já tirei do anime tudo que podia ser tirado e ficaria redundante de qualquer jeito. Parabéns aos que acompanharam tanto o anime quanto os comentários, vocês são maravilhosos. Até o próximo post.

Nota: 60/100
Nota final: 1742/26 = 67/100