As Crônicas de Arian 2 – Capítulo 21 – A tempestade de portais

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Capítulo 21 – A Tempestade de portais

Kadia parecia confusa com o que estava vendo através de seu pássaro, e por não falar nada o grupo só ficava mais e mais apreensivo. Arian então a questionou.

— Kadia?

— São crianças. Tem várias crianças armadas junto dos mercenários. Estão se preparando para nos interceptar um pouco mais a frente, todos escondidos na mata a nossa esquerda.

Arian não parecia surpreso, na verdade, estava mais é distraído por <E>, que começou a apontar para frente sem parar. Geralmente quando ela fazia isso estava vendo algo que ele não podia. A visão dela parecia alcançar uma distancia muito maior que o normal.

— Kadia, dê uma olhada mais de perto na estrada a nossa frente para ver se encontra algo estranho.

— Está vendo algo?

— Não, mas conheço uma pessoa que está…

Kadia se concentrou por um tempo em seu pássaro, que rodou a área toda a volta deles.

— Os Isekai atrás de nós estão bem perto… Mas quanto a estrada a nossa frente, não tem nada que… — Kadia parou a frase no meio. — Temos que voltar!

— O que foi agora? — reclamou Dorian, irritado.

Do nada, aconteceu uma explosão vários metros a frente deles. Por um breve instante tiveram a impressão de ver um cenário completamente diferente dentro de um circulo da altura da carruagem, e então ele sumiu, levanto parte da vegetação próxima.

Marko parecia em dúvida quanto ao que viu.

— Isso foi um portal? 

— É uma tempestade de portais, está se aproximando daqui muito rápido! Temos que voltar, agora! — gritou Kadia.

Ninguém questionou. O grupo virou os cavalos e partiu a toda velocidade.

— O que fazemos, Joanne? — perguntou Irene, olhando para a líder. — Temos a tempestade atrás de nós e vamos dar de cara com os Isekai em alguns instantes!

— Estou pensando… — Sem chegar a uma resposta, Joanne olhou Arian. — Você tem experiencia com esses Isekais. O que me diz, Arian?

“Coitada. Se soubesse o que aconteceu da última vez que enfrentamos eles, não estaria pedindo sua opinião”. 

“Cala a boca, Aran. Eu aprendo com meus erros”.

“Veremos…”

Arian pensou um pouco e então se virou para Kadia.

— Quantos são?

— Sete. Quatro eu nunca vi e os outros são os que encontramos na estrada, o líder e seus dois discípulos. Só não entendo por que estão atrás de nós…

Arian parecia chocado com a falta de percepção de Kadia sobre seu próprio valor.

— Não é de nós, é de você! Uma demônio de alto nível com telepatia inrrerita? Isso vale uma fortuna para qualquer Rei, e para eles não é diferente.

— Eles que tentem me pegar.

Kadia pareceu ter esquecido das crianças entre os mercenários e agora só estava nervosa pensando no que os Isekai queriam fazer com ela. Ela tirou sua espada e olhou para frente, aguardando o momento que se encontrariam com os inimigos.

— Calma ai, Kadia. Não é tão simples. Se os mercenários e os Isekai nos pegarem ao mesmo tempo, vai ficar problemático. E se o grupo dos Isekai tiver um teleportado com pacto a um demônio de alto nível como você, pode causar estrago.  Fora isso, ainda temos essa tempestade de portais atrás de nós.

Outra explosão pode ser ouvida atrás deles, enquanto o Sol sumiu quase que por completo no horizonte.

— Que droga está havendo com esses portais? Já passei por aqui várias vezes e nunca vi uma tempestade chegando tão longo assim — reclamou Marko, olhando para trás.

— Acertaram o meio do grupo dos mercenários também. Estão todos dispersos e correndo para cá — avisou a Kadia, ainda observando os arredores com seu falcão.

— Nunca pensei que esse pássaro com nome feio seria tão útil. — disse Marko, recebendo rapidamente um olhar desgostoso da demônio. — Não se preocupe, não vamos deixar eles te pegarem, Kadia.

A demônio olhou para ele meio incrédula.

— Do que está falando? Nenhum demônio do meu nível ou mais forte não seria capturado por apenas 7 desses idiotas.

— Deve ser o que todo demônio pensa antes de ser capturado — debochou Dorian.

Lara também zombou do comentário.

— De onde veio essa confiança toda? Eu chutei sua bunda sozinha, caso não lembre.

Kadia aproximou seu cavalo da parte em que Lara estava na carruagem, e a encarou desafiante.

— A não ser que eu tenha visto as memórias errado, aquilo foi um treino, caso contrário eu teria partido você ao meio, Sacerdotiza.

Lara deu um sorriso e seus olhos ficaram levemente amarelados devido a energia celestial se acumulando em seu corpo. 

— Sério? Ser perseguidas por mercenários, portais e encurralados por um culto maluco não é o bastante? Querem fazer isso agora, suas idiotas? — Irene estava gritando possessa da janela da carruagem. — Arian, ou você apaga o fogo delas logo ou eu mesmo vou te drogar e dar para elas comerem em breve, pode esperar. Não aguento mais elas se bicando todo maldito dia dessa viagem! 

Arian não falou nada, só olhou para Irene meio assustado com o comentário, e incomodado com a risada incessante de Aran dentro de sua cabeça. Foi então que eles viram o grupo de Isekais se aproximando mais a frente na estrada e Joanne interviu.

— Parem os cavalos! Vocês duas, resolvam isso depois. E Arian, você conhece esses malucos, dê seu jeito, dê preferencia evitando um conflito, não quero problemas com esse culto maluco. E seja rápido, não temos muito tempo antes que a tempestade nos alcance. O resto do grupo fique atento para o ataque dos mercenários pelas nossas costas, crianças ou não eles ainda podem nos matar.

— Finalmente! — gritou Irene,  aliviada pela sua líder finalmente estar se comportando como tal.

Eles pararam e ficaram aguardando os Isekai, que também reduziram o ritmo, se aproximando lentamente deles a cavalo.

— Arian, se tem um plano, diga logo! — insistiu Joanne.

“Quer trocar?”

“Não, já disse que vou parar de depender de você”.

— Preciso do Dorian e da Lara — disse o guardião, pensativo, enquanto descia do cavalo.

— Mas nem pensar — disse o mago. — Eu cuido da nossa retaguarda, e só. Não vou ajudar em nada que te envolva.

— Só precisa fingir preparar uma magia, nada demais. Preciso de duas pessoas que possam fazer algo chamativo.

— Chamativo? É comigo mesma.

Lara desceu da carruagem e foi até Arian, aguardando mais instruções.

— Isso é estúpido, por que colocar na linha de frente quem deveríamos proteger? 

— Deixa ela, Irene. Não é como se realmente pudêssemos a proteger melhor do que ela mesma…

Joanne não parecia feliz com sua própria constatação. E Dorian continuava pouco cooperativo.

— Não vou fazer nada com você, elfo-maniaco, e menos ainda receber ordens. Fui pago para proteger o grupo, não ajudar você.

— É a mesma coisa! Qual seu problema comigo, afinal?

— Todos!

— Alguém já notou que eles estão quase aqui? — comentou Marko, observando a aproximação dos inimigos montados a cavalo.

— Deixa ele, eu vou! — disse Kadia.

“Péssima ideia…”

— Nem pensar, você está envolvida demais, vai fazer alguma besteira.

— Eu vou, Arian, quer você queira ou não. 

— Certo. Kadia, você sabe que vamos ter que matar o herói e o demônio ligado a ele vai morrer de uma forma ou de outra, não é?

— Como disse, é melhor do que viver escravizado.

Foi então que Arian então olhou para Kadia e teve uma ideia.

“Péssima ideia, se der errado ou eles não se surpreenderem, vai acabar cercado”.

“É a única forma de acabar com isso rápido o bastante para a tempestade de portais não chegar aqui. E quer dê certo ou errado eles vão acabar surpresos…”

— Kadia, o que precisa para fazer um pacto temporário?

— Você precisa misturar seu sangue ao meu e eu desejar o pacto… Por que?

— Tive uma ideia para acabar com isso rápido. Não quero que a luta dure o bastante para descobrir qual a habilidade do demônio que fez um pacto com o herói deles, ou os portais chegarem até nós.

Arian se aproximou da demônio.

— O pacto não funciona com você, eu já vi as memórias da tentativa que fiz em Amira. Você entrou naquele estado estranho e rejeitou a maldição do pacto. 

— Confia em mim, não tenho tempo para explicar… Com licença.

Dizendo isso, ele pegou na mão dela e usou a lamina da sua espada bastarda para cortar de leve o cantinho da mão de Kadia.

— Ai!

— Até a noite já vai estar curado.

Arian juntou um pouco do sangue escorrendo em sua mão esquerda, que estava tentando deixar em formato de concha.

— Você está bem abusado hoje. Tem certeza que não é sua outra personalidade que está ai? — questionou a demônio.

— Se fosse ela falaria alguma besteira sarcástica para você. Na verdade, ele acabou de falar uma na minha cabeça… Agora, quando eu avisar, deseje o pacto. Vou morder minha linguá e lamber seu sangue. 

— Só pra mim que isso soou como um fetiche estranho? — disse Marko.

Dorian riu, mas o resto do grupo parecia tenso demais para isso.

— Fiquem atrás de mim e quando eu der o sinal preparem alguma magia bem espalhafatosa, Kadia e Lara. Não é para jogar, o objetivo é só chamar atenção. Fiquem cada uma de um lado. O resto de vocês fique do outro lado da carruagem aguardando os mercenários e só intervenham se as coisas derem errado. 

Em seguida, o grupo dos Isekai chegou neles e parou. Quase todos desceram dos cavalos e se aproximaram, até ficarem a poucos metros. O homem de barba negra que estava atrás do líder do grupo, mais a frente, tirou seu capuz e olhou para Arian.

— Ola de novo, pecador.

— Pecador? Eu não era o escolhido pouco tempo atrás?

— Só queremos a demônio com telepatia, entregue ela e o deixamos ir.

Arian respondeu com sarcasmo.

— Olha, eu acho que ela não quer ir com vocês.

Kadia não falou nada, só olhou com desprezo para o homem.

— Não cabe a ela decidir. O mundo está em perigo, e a força dela se faz necessária a nós. Na verdade, a espécime é tão boa que talvez valha a pena eu mesmo usa-la. — disse ele, avaliando Kadia de cima a baixo com seus olhos — Hiuga, mate todos, menos o de capuz verde e a demônio. Se eles tiverem mesmo um pacto permanente vamos ter que manter ele vivo e trancado, enquanto a obrigamos a fazer um pacto com outra pessoa também.

Kadia ameaçou avançar, mas Arian colocou o braço na frente dela.

— Calma, Kadia.

O líder encapuzado mais a frente do grupo se aproximou de Arian até ficarem a poucos metros. Era uma garota. Cabelo preto curto e olhos com um verde brilhante, provavelmente devido a ligação com o demônio. Todos os outros estavam com capuzes encobrindo boa parte do rosto. 

— Tem certeza que ela é perigosa, Kazek? Esse sujeito parece estar a defendendo por vontade própria.

O homem de barba respondeu calmamente a líder.

— Ela está dominando a mente daquele humano e tentando te enganar, Hiuga, confie em mim. Já menti para você antes? 

— O tempo inteiro. Começando quando a obrigou a violentar esse demônio para fazer um pacto, dizendo que seria a salvação dele. — disse Kadia, olhando a mente do homem.

A garota se assustou por um momento, no que o homem de barba rapidamente interveio.

— Que vergonha, Hiuga, sendo manipulada por uma demônio que recém encontrou. Esperava mais de você.

— Tem razão, desculpe… Não vai acontecer de novo. Pessoal, se preparem.

Todos do grupo da heroína entraram em posição ofensiva. 

Arian fez um sinal com a espada e Kadia e Lara começaram a puxar energia das dimensões a que tinham mais afinidade.

Kadia estava fazendo o chão tremer de leve com a energia da dimensão negra que estava puxando, e pequenos raios surgiam vez ou outra ao seu redor. Mas como esperado, Lara era a mais assustadora. Com uma mão para a frente e outra para trás acumulando energia, seus olhos brilhavam em um forte dourado e estava fazendo um vendaval impressionante com a quantidade de energia celestial que estava puxando.

Ao ver isso, o grupo parou, e a líder falou, sem parecer preocupada.

— Acha que vai nos assustar com isso? Já matamos um classe SS antes, vocês não são nada em comparação.

Arian pareceu surpreso com a declaração. Se fosse verdade, poderiam ser mais problemáticos do que o esperado. 

“Isso vai acabar mal…”

— Hiuga, não é? A líder do meu grupo não quer problemas. Então se recuarem agora tudo acaba bem para nos dois. Não tenho nada contra você, apesar da minha amiga não ter gostado do fato de ter forçado um pacto naquele demônio.

Arian apontou para o sujeito que não podia ver com clareza por causa do capuz, mas parecia ter escamas no corpo, embora ainda lembrasse um ser humano. Em seu pescoço havia algo que lembrava uma coleira, e ele tinha uma expressão apática na parte do rosto que podia ser vista, como a de um escravo acoitado e judicado por tanto tempo que perdera a vontade própria.

— É um demônio, não tem direito a escolha. E ele está bem melhor agora que tem um pacto comigo.

— Você o violenta toda noite! Como ele pode estar melhor?! — disse Kadia.

Hiuga se assustou por um momento.

— Ele… Ele é um homem, ele gosta, estou fazendo um favor em agrada-lo. Ele até chora de felicidade, toda vez.

— É de tristeza, sua imbecil. Imagine ser violentada toda noite e ter que fingir que está tudo bem para não ser castigada! Ele tinha mulher e filha, ambas mortas por seu lider, enquanto tentavam captura-lo! — Kadia apontou para o homem de barba negra atrás do grupo, e continuou. — Toda vez que você o obriga a dormir com você ele deseja morrer, mas não pode se matar por causa daquele colar de escravidão que colocaram nele! 

A mulher olhou para o escravo atrás delas, começando a ficar em dúvida.

— Pare de escutar essa serviçal do senhor das trevas e acabe logo com isso, Hiuga.

Obedecendo, a heroína entrou em posição ofensiva.

— Último aviso, se rendam, ou eu, Hiuga Drass, 209ª heroína dos Isekai, vou leva-los a força.

Arian respirou fundo e entrou em posição ofensiva, enquanto sua roupa clareava e o simbolo de Distany aparecia na armadura e capa.

— Meu nome é Arian, sou o 7º guardião de Distany.

O homem de barba negra mais atrás pareceu surpreso. 

— Distany? Está mentindo, por que um guardião teria um pacto com um demônio?

Arian ignorou a pergunta.

— Só vou avisar uma vez, recuem ou vamos matar todos vocês. Não vai sequer haver luta, assim que eu me mexer daqui todos vocês estarão mortos.

Alguns membros do grupo recuaram um pouco, mas a heroína apenas riu.

— Mesmo que fosse um classe S não conseguiria fazer… Espera… Arian, não é? Já ouvi falar de você, o guardião que trapaceou para conseguir status de SS no Sul, mesmo não passando de um classe A… Acha que blefando assim vai conseguir me assustar? Já enfrentei coisas bem piores do que esse seu grupo. Pode chamar seus amigos do outro lado da carruagem também, só vocês vai ser muito fácil.

Na tentativa de fazer ainda mais pressão sobre eles, o homem de barba preta completou.

— Hiuga tem razão. Desista logo, garoto. Mesmo que use algum de seus truques para conseguir fugir, sabe que se machucar qualquer um desse grupo vai ser perseguido pelos Isekai pelo resto da vida, não é? Quer mesmo isso?

— Acho que não me escutou. Não vai sobrar nenhum de vocês para contar o que aconteceu aqui. 

Todo grupo inimigo se irritou com a ameaça, e dois começaram a preparar algum tipo de magia. 

Arian mordeu sua linguá e lambeu o sangue em sua mão. Ele então se posicionou como se estivesse pegando impulso para correr.

“Boa sorte com seu plano maluco. Mas não esqueça que Lara está bloqueando a energia azul, então não conte com aquilo para salvar sua bunda”.

— Ataquem! — gritou a heroína dos Isekai, tirando sua espada da cintura, enquanto seus olhos brilharam em um verde muito forte.

— Kadia!

Assim que ele gritou Kadia ativou o pacto, e o corpo de Arian reagiu na mesma hora. Seus olhos brilharam mudando de cinza claro para um forte vermelho, e no mesmo instante ele deu um impulso para a frente. Tudo depois disso foi tão rápido que a maioria ali não conseguiu acompanhar.

A heroína não teve tempo de reagir. No momento seguinte ao salto de Arian a cabeça dela estava rolando no chão, assim como a do líder dos sacerdotes, que estava mais atrás. Arian matou um em sequencia do outro com o impulso. A velocidade foi tão insana que foi quase como se ele tivesse teleportado, não fosse o barulho do choque da espada contra os corpos dos inimigos. Como esperado, o demônio com quem a garota tinha um pacto caiu no chão sem vida, logo depois da morte dela.

Os olhos de Arian haviam voltado a cor normal, mas ele não parou. Se aproveitando da surpresa dos sobreviventes do grupo, ele saltou em cima de um dos sacerdotes montados a cavalo e cravou a espada em seu peito. Em seguida desviou da espada do que estava ao lado, o derrubou com um chute, e caiu sobre ele esmagando a cabeça.

Os dois acompanhantes da heroína então se viraram, subiram em seus cavalos e tocaram em fuga. Eles não foram longe, no entanto. Ambos caíram no meio da estrada quando Arian arremessou as duas espadas das costas em cada um.

— Quando disse que resolveria rápido, não estava brincando — disse Irene, saindo de trás da carruagem e vendo o estrago que o guardião fez.

— Kadia, e os mercenários? — perguntou Joanne.

— Estão longe ainda. Se reorganizando.

Lara parecia decepcionada olhando para os corpos no chão.

— Para que precisava de nós mesmo?

— Distração. Boa parte do grupo estava concentrada em vocês.

Arian então foi até cada um deles e cortou suas cabeças.

— Precisa fazer isso? — Kadia parecia enojada.

— Só para garantir, pouca coisa volta dos mortos sem cabeça, ou se regenera. Já quase morri várias vezes por não fazer isso no passado.

Arian então contemplou o estrago de corpos espalhados pelo chão, parecendo triste pelo demônio. Kadia ter contado parte da história dele não ajudava nem um pouco a tentar ser frio quanto a situação.

— Precisava matar todos? —  questionou Jon.

— Eu avisei Jon, se um apenas escapar e contar ao culto quem os matou, não descansariam até ter nossas cabeças. Serem derrotados por qualquer pessoa que o seja tira moral do culto.

— Eles iam se render depois de ter matado os lideres, podia ter tentado negociar de novo. Você não dá valor algum a vida das pessoas? Eles podiam ter família.

— Todos são filhos de alguém, Jon, mesmo que não lembrem… —  Arian vislumbrou os corpos no chão — Todos morrem um dia, só cabe a nós tentar decidir quando. Eles nos atacaram, não o contrário, então deviam estar prontos para as consequências. Mas se está insatisfeito, da próxima vez você negocia. E quando seu método matar alguém do nosso lado, não venha reclamar comigo. 

— Pode valer o risco!

— Certo, parem vocês dois. Não quero outra cena como a da cabana. — disse Joanne.

— Isso não foi fácil demais? — Irene ainda parecia meio incrédula.

— Uma luta prolongada contra eles seria muito difícil se o demônio fosse forte. O herói se regeneraria sem parar, teria super força, e os companheiros dele dariam suporte. Mas se eu mato o herói sem ele ter tempo de reagir o demônio também morre, e o grupo fica desorientado. Os covardes pagos para servir e bajular a heroína também fogem ao primeiro sinal de perigo real. Só lamento não ter pensado nisso outras vezes…

Irene parecia curiosa com outro aspecto da coisa toda, e então perguntou.

— Como ficou tão rápido? Mal consegui ver você se movendo. E não tinha aquela energia azul ou coisa parecida.

— Quando meu corpo reage a uma maldição ganho regeneração quase instantânea, meus sentidos ficam muito mais apurados, e minha força e velocidade maiores até mesmo que as da Kadia com todo seu poder liberado. Uma pena que a janela de tempo que ganho isso é tão curta que dá para fazer bem pouca coisa, só consegui arrancar a cabeça do herói de surpresa e matar o barbudo antes de acabar o tempo.

Em seguida eles juntaram todos os corpos em uma área dentro da mata e Lara usou magia para os queimar. Claro, não antes de Dorian e Marko verificarem todos os corpos a busca de dinheiro ou algo de valor.

— Não tem vergonha? — falou Kadia.

— Estão mortos, não vão se importar — falou Marko.

Arian então jogou uma espada para Kadia.

— É da heroína deles, parece melhor que essa que você está usando,

— Realmente. Embora seja meio pequena, prefiro armas grandes.

Kadia girou a espada algumas vezes, tirou sua atual das costas, e colocou a nova no lugar. 

— A que Arx lhe deu já era melhor que essa porcaria que estava usando… Por que não ficou com ela? 

— Ficaria com algo que alguém que odeia lhe deu?

Arian não entendeu a linha de pensamento dela.

— É um objeto útil, eu não gostar do dono anterior é irrelevante. 

— Pertence a ele, então é como se carregasse um pedaço dele comigo.

— Está indo muito longe por um pedaço de metal sem vida…

Irene, vendo que aquilo não iria dar em lugar algum, tentou interromper a discussão.

— O que os mercenários estão fazendo, Kadia? 

— Parecem estar discutindo o que fazer.

— Não precisa espionar eles para saber disso. Vão nos atacar enquanto estivermos dormindo essa noite, pode apostar —  disse Arian, distraido com <E> copiando o manto amarelado dos Isekai e correndo em volta dele, em uma clara tentativa de clamar sua atenção.

— É o terceiro grupo desde que saímos de Amit, está ficando cansativo — reclamou Lara.

— A tempestade de portais parece ter acalmado e retrocedeu também — Kadia tinha voltado a vistoriar a área com seu falcão.

— Se me permitem opinar. Por precaução, acho melhor voltarmos mais na estrada.

Seguindo a orientação do guia, eles voltaram um pouco mais e armaram acampamento em uma clareira. Quase nenhuma diligencia ou pessoa estava passando por ali, o que dava a entender que a maioria já estava informado da tempestade de portais e pegando outras rotas. Aquela área era comum por ter problemas com portais, então não havia vilarejos muito próximos.

Durante a noite, todos fingiram dormir enquanto Kadia e Arian ficavam de vigia. Não deu muito tempo e Kadia falou baixinho.

— Chegaram… Se preparem.

Marko não parecia disposto a ser tão discreto, no entanto.

— Venham logo, idiotas! Eu quero dormir! 

Ironicamente, funcionou. Um grupo de mercenários saiu da floresta e correu até eles, parecendo bastante confusos em como foram descobertos. Haviam pelo menos 30 deles, e uns 10 não deviam ter mais de 12 anos, alguns aparentando até menos.

— Por que crianças?! — Kadia parecia inconformada.

— Tente não pensar nisso e mate eles da mesma forma — disse Arian, avançando contra o grupo.

— Não se espalhem. Arian, Kadia, Dorian, Zek e Marko façam um circulo a volta da carruagem, se seguirem o padrão dos anteriores o objetivo deles é matarem os cavalos para nos atrasar. Jon, se abaixa ai. E Lara, proteja o guia.

Lara olhou de mau humor para o guia do lado dela.

— Acredite Joanne, o que esse idiota menos precisa é proteção.

O homem riu.

— Que seja, só fique na carroça por precaução. Se precisarem de você eles chamam.

A luta foi patética. Como de costume, os mercenários eram fracos e a maioria foi morta rapidamente. O problema eram os muito novos. Eles mal sabiam lutar, mas deixavam todos ali meio desconfortáveis.

— Kadia, o que está fazendo, mata ele! —  gritou Arian, observando ela tentando desviar dos garotos que queriam acerta-la com suas facas. Eram quatro, e um deles não devia ter nem 10 anos.

— É só uma criança, droga! Tem que ter outra forma!

— Isso não vai fazer diferença quando ele te matar! Essa faca está envenenada!

Kadia bloqueou e arma de um dos garotos e o jogou para trás. Ele rolou vários metros e levantou chorando, parecendo estar com o braço quebrado. Kadia parecia estar se sentindo culpada por isso e o resultado foi o esperado. Se aproveitando da distração dela, um dos garotos conseguiu arranhar seu braço com uma faca, e o outro passou por ela e se jogou em cima do cavalo de Arian, preso a carruagem.

Ele perfurou bem no coração, retirou a faca e já estava mirando em outro cavalo, quando Lara o impediu jogando sua espada e atravessando a cabeça dele de um lado a outro. 

— Eu avisei, droga!

Arian estava furioso. O guardião finalizou o adulto contra o qual estava lutando e correu até Kadia. Ele chutou um dos garoto, que caiu no chão de costas, e em seguida cravou sua espada no pescoço dele. Um dos garotos ainda vivos se desesperou com isso.

— Lun, não… Seu desgraçado! — disse ele, avançando contra Arian.

Arian desviou da faca, agarrou a cabeça dele e a bateu no chão com tanta força que deu para escutar o cranio rachando. O terceiro, que já estava com braço quebrado, se virou e correu, mas caiu com uma das espadas de Arian cravadas em suas costas.

Ele então se virou e foi até o cavalo ferido. Ele estava agonizando. Arian sabia que com o coração perfurado era impossível cura-lo. Ele então fez uma cara triste e cravou sua espada na cabeça do animal.

— Aran? — questionou Lara, que ainda estava na carroça, só observando tudo.

— Quem dera… Eu queria trocar mas ele não aceitou.

— E eu pensando que ele era a personalidade fria e calculista.

— Ele odeia crianças, e ainda está furioso por ter dado a ele um serviço que envolveu uma em Amit. E Lara, cure a Kadia antes que o veneno se espalhe e faça estrago.

— Não precisa, só estou um pouco tonta, mas minha regeneração dá conta de neutralizar.

Kadia estava olhando para os pequenos corpos no chão horrorizada com tudo aquilo. Enquanto isso, Arian continuava a contemplar o corpo de seu cavalo. Tinha ele a poucas semanas, mas já o considerava seu amigo. 

— Desculpe… — disse Kadia, tendo noção de que fora sua culpa. — Mas não podia ter apenas nocauteado eles? 

— Eles voltariam amanhã e tentariam de novo. Pare de ver eles como crianças e passe a ver como ameaças… E falando em ameaçadas.

Arian foi ver como estavam Dorian e Marko, e a situação era parecida com a de Kadia. Ambos estavam com problemas com as crianças. Os garotos eles até mataram ou nocautearam, mas as garotinhas eles não conseguiram.

— Estamos bem, não se mexa dai, Arian — falou Marko, empurrando uma garota de uns 8 anos para longe dele sempre que se aproximava.

— Garotas, parem com isso, eu vou acabar machucando vocês de verdade — disse Dorian, desviando do ataque de duas garotas.

Arian respirou fundo, sabendo bem o que teria que fazer.

“Marko vai ficar um tempo sem falar com você…”

— Eu sei… — falou ele em voz alta, antes de avançar contra a garota irritada atacando Dorian com uma faca. Ele parecia ter batido nela algumas vezes, mas ela voltava e avançava novamente contra ele sempre que caia com um soco ou chute do mago.

— Arian, não! — gritou Marko, sabendo o que ele iria fazer.

Arian tirou as duas espadas médias das costas e arremessou contra os dois alvos. As armas cravaram perfeitamente no peito de cada uma. 

— São crianças, droga! Qual o seu problema?! — gritou seu amigo.

— São inimigos, Marko! Eu entendo seu problema melhor do que ninguém aqui, mas não envolva suas questões pessoais nisso! E se tem uma solução melhor é só dizer.

Pressionado, Marko então acertou um soco na cabeça da garota que avançou contra ele.

— Pronto, já a nocauteei, não precisa mata-la.

— Ela vai acordar e nos matar enquanto dormimos! Ou então voltar para o que resta do grupo e nos atacar de novo em alguns dias. Se não tem coragem para fazer, eu faço.

— Vai ter que passar por cima de mim!

Marko se colocou na frente na garota com um olhar ameaçador. Ele e Arian ficaram se encarando por algum tempo, até que Kadia interviu.

— Esperam. Eu acho que tenho uma solução que vai agradar os dois.

Kadia se aproximou da garota e seus olhos ficaram dourados.

— Kadia, não! — gritou Marko, em desespero.

— Calma, não vou mata-la.

A demônio segurou a garota contra o chão e colocou a mão em sua testa. A menina acordou e começou a gritar desesperadamente, até que parou. Kadia se levantou e olhou para a criança, agora parecendo bastante confusa.

Ela então levantou, virou de costas, e saiu andando pela estrada. Arian ameaçou ir atrás dela, mas Kadia o parou.

— Não precisa.

— O que você fez?

— Apaguei a memória dela desde que se juntou com os irmãos ao grupo de mercenários. O pai e a mãe já morreram, então a mandei voltar a vila mais próxima e pedir abrigo em uma igreja dos celestiais. Ela não vai lembrar da gente também.

Arian pareceu chocado, a ponto de soltar sua espada e cair de joelhos, olhando os corpos a sua volta.

— Espera… Está dizendo que eu matei todos eles… por nada?

— Eu avisei, seu imbecil sem coração.

Marko não teve pena alguma, só encarou o amigo, cheio de ódio nos olhos. Jon, dentro da carruagem, estava com um olhar similar.

— Não, Arian, acho que entendeu errado. Manipular a mente gasta muita energia… Uma é o meu limite. Não poderia ter feito nada pelos outros.

Ao olhar para ela, deu para notar que era verdade. Pelo rosto vermelho e estar suando bastante, a demônio tinha claramente ficado sem energia e entrado em seu pagamento.

— Certo, isso é o bastante por hoje. Recolham os corpos e empilhem para Lara purificar, depois queimem e vamos dormir. Zek, posso pedir para cuidar dos corpos das crianças? Acho que os outros já sofreram o bastante tendo que mata-las.

Zek fez um sim com a cabeça, e então Marko, Dorian, Arian e ela fizeram o serviço. Já Kadia não parecia bem o bastante para tal. Elas estava encostada na carruagem, extremamente ofegante e com um olhar estranho.

— Kadia, você está legal mesmo, não quer que a gente te cure? — perguntou Irene.

— Estou ótima. Na verdade, nunca me senti melhor.

Ela então começou a caminhar lentamente, até chegar em Arian, agora encostado em uma arvore falando algo com sua fantasma. Meio tonta, ela parou na frente dele,  segurou seus ombros, e falou:

— Arian, faça aquilo de novo…

Ele olhou para ela confuso.

— Como é?

— Me chame de sua rainha.

— Você claramente não está legal, Kadia… 

Lara parecia incomodada, e começou a caminhar até eles.

— Qual o problema dessa louca? 

— Anda logo! Não é nada demais, só diz! — gritou ela.

“Fala logo. Estou ficando curioso onde isso vai dar…”

Arian, sem saber o que fazer, realizou o pedido.

— Kadia, minha… rainha…?

— Mais sentimento!

— Minha rainha! — gritou ele.

O rosto de Kadia ficou muito corado, mas ela parecia feliz. Ou tendo um orgasmo, Arian não tinha certeza e nem queria ter.

— De novo!

— Certo, ou vocês seguram ela, ou não me responsabilizo pelo que vou fazer— disse Lara, acumulando energia em suas mãos enquanto se aproximava dos dois.

— Anda, Arian! Não tem nada demais. Só diz! — gritou Kadia.

Ele então repetiu.

— Minha rainha!

Ao ouvir isso uma segunda vez, Kadia puxou Arian para junto dela e juntou seus lábios aos dele com tanta foça que a boca de Arian chegou a sangrar. Arian ficou sem reação, não só pela surpresa, mas devido aos braços de Kadia a volta dele. Estavam o apertando com tanta força que parecia que seus ossos iriam quebrar.

Em seguida, não entendendo bem o motivo, começou a gostar e corresponder ao beijo, como se estivesse hipnotizado. Ambos já estava com suas linguás se entrelaçando, quando foram arremessados a vários metros de distancia e saíram rolando.

Lara havia lançado energia celestial em cima deles.

— Mas o que deu em você, mulher?! Usar magia para fazer ele te beijar foi muito baixo! — gritou a sacerdotisa, furiosa.

— Estraga prazeres! Finalmente tive coragem para fazer isso e você estragou tudo! — A demônio estava tentando se levantar com dificuldades. Parecia muito tonta.

— Eu acho que ela está bêbada… — disse Marko.

— Mas ela não bebeu nada! —  argumentou Irene.

— É o pagamento, pelo jeito veio tão forte que acabou com toda a inibição e deixou só o desejo — disse Joanne. — Ou então é o pagamento misturado com o veneno da faca que ainda está no corpo dela, não tenho certeza…

Kadia finalmente conseguiu se levantar, meio tonta. Ela foi andando até Arian, que estava sentado na grama parecendo meio confuso. A demônio o encarou, como se fosse dizer alguma coisa. Arian pensou que fosse se desculpar por usar magia nele. Mas em vez disso, o empurrou contra o chão e caiu por cima dele o beijando de novo, para o horror de Lara, que correu até eles e arremessou ambos com magia novamente.

O guia só observava tudo.

— Tenho que admitir que arranjou um grupo simpático, Lara. Eles são sempre assim? — questionou o homem, olhando para Jon.

— Kadia está um pouco mais louca que o normal. Mas é por ai mesmo… A parte mais interessante é que mesmo perdendo parte das memórias ela acabou interessada no Arian, de novo. 

O guia então se atentou ao fato de Arian parecer estar discutindo algo com algo invisível, enquanto Kadia e Lara brigavam.

— Com quem ele está falando?

— Ah, é a fantasma que fica seguindo ele. Parece estar furiosa com o beijo.

— Fantasma? Você consegue vê-la? Isso é bem raro.

Jon pegou em uma mecha branca no meio do seu cabelo preto, e falou com uma voz cansada.

— Infelizmente, não foi algo que consegui de graça.

— Entendo… Pode descreve-la para mim.

— Parece ter perto de uns 10 anos, cabelos brancos bem longos e…

O guia o interrompeu nessa parte.

— Olhos vermelhos hipnotizantes… — Completou ele com um sorriso no rosto, como se estivesse lembrando de algo.

Jon se assustou com a precisão da descrição.

— Como sabe?

— Só um palpite de sorte… Pessoas novas com cabeço branco são raras, a maioria vampiros, e dai os olhos característicos.

Enquanto Jon voltava a se distrair com a briga de Lara e Kadia, o rosto do homem a seu lado mudou para uma expressão séria, enquanto ele murmurava baixinho para si mesmo.

— É mesmo ele…

O homem então olhou mais atentamente para a figura de manto verde tentando parar a briga entre Lara e Kadia.

— Chegou a hora, Marven… 

Próximo: Capítulo 22 – O Vampiro

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PS: O capítulo ainda não passou pelo revisor, então pode conter alguns errinhos.

Comentários do autor:

Esse capítulo foi um inferno para terminar e o que mais sofreu revisões (uma 10 desde o rascunho). Era para terminar no evento do capítulo que vem, mas quando passou de 8 mil palavras eu desisti e dividi.

Não que tenha melhorado tanto já que esse ficou com 6 mil palavras mesmo assim, o que sempre me leva a pergunta se teria valido a pena dividir ele ao meio (acho 3 a 4k palavras o ideal). Como vão notar tem uma sucessão de 3 eventos relevantes nesse capítulo, o que eu acho um pouco inchado, já que tenho para mim que 1 ou  no máximo 2 é o ideal por capítulo. Talvez eu mude a divisão na versão final que vou lançar na Amazon, mas por enquanto acho que está aceitável o bastante.

Dosar o timing das partes mais cômicas nos intervalos entre as partes que exigiam um clima mais sério para funcionar, foi um tanto quanto complicado também, mas espero que tenha ficado bom.