As Crônicas de Arian 2 – Capítulo 20 – Isekais

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Capítulo 20 – Isekais

Jon acordou no susto, respirando de forma ofegante. Zek estava sentada a seu lado, e a sua frente Irene e Joanne dividiam o outro banco da carruagem.

— Tudo bem, Jon? — perguntou Zek. — Você estava tendo um pesadelo de novo, então te acordei.

— Está tudo bem, Zek, acho que vou acabar me acostumando se sonhar com a mesma coisa todo dia… — disse ele, tentando esconder seu nervosismo.

Era o mesmo pesadelo toda vez que fechava os olhos para dormir. A bruxa de Lain o dominando, e dessa vez conseguindo sugar sua alma por completo. Marko inclusive parou de brincar com o ocorrido quando notou que tinha afetado Jon dessa forma. Isso não o deixava feliz, no entanto, já que começou a se considerar ainda mais fraco do que já era. Não só no físico, como mentalmente também. Pensou que com o tempo aquilo iria passar, mas estava só piorando, pelo menos por enquanto. Como não tinha uma solução por enquanto, voltou a tentar ignorar seus pensamentos quanto ao ocorrido, esperando que em um futuro próximo aquilo parasse de atormentar seus sonhos.

Já era o terceiro dia de viagem do grupo desde Amit, e tudo estava calmo na estrada no momento. As montanhas ao longe haviam sumido faz algum tempo, dando lugar a uma floresta os cercando por ambos os lados.

O grupo de meio-elfas que estava os seguindo em outra carroça, já havia se separado, seguindo para Distany ao lado de um dos guardiões da cidade que veio acompanha-las. Era uma mulher, mas como estava coberta por uma capa parecida com a de Arian, não deu para ver sua aparência exata. Ela só falou algo para Arian, se alinhou ao lado da carroça das elfas, e seguiu por uma outra estrada. Isso aconteceu no começo da tarde, e agora já estava começando a escurecer.

E claro, quanto mais ao norte do continente, mais frio ia ficando, principalmente a noite. Dorian não parava de esfregar as mãos na tentativa de esquenta-las. 

— Marko, me passa uma dessas garrafas de vinho, deve servir para me esquentar. 

— Se já está esfriando assim por aqui, só imagino como deve ficar no Norte. Que tipo de louco gosta de viver em um lugar tão gelado? 

Enquanto dizia isso, Marko pegou uma garrafa na pequena bagagem que carregava em seu cavalo e jogou para Dorian.

— Quer uma também, Kadia? — perguntou ele para a demônio que seguia com seu cavalo negro mais a frente da carruagem, acompanhando o ritmo do cavalo branco de Arian.

— Não, obrigada, fico estranha quando bebo.

— Sério? Agora que eu queria mesmo que você bebesse…

— Bem, se eu acabar entrando no estado crítico do meu pagamento, vai ter seu desejo realizado. Mas não é nada bonito, acredite.

— Ei, Marko, me passa uma garrafa também — disse Lara, entediada na parte da frente da carruagem, com o guia a seu lado, guiando os cavalos. O homem quase não falou nada desde que saíram de Amit, apenas vez ou outra dizia algo baixinho para Lara, que não dava para escutar.

— Mas nem pensar! Você fica ainda mais nojenta do que já é bêbada! E com certeza não vai lutar tão bem. Se todo mundo começar a se embebedar vamos morrer no próximo ataque de mercenários, por mais fracos que sejam  — reclamou Irene, que depois se virou para Dorian e Marko. — Vocês não tem vergonha? Estão aqui a trabalho! 

— Não olhe para mim, já falei que luto melhor bêbado — disse Marko, mandando outra golada para dentro sem cerimônias.

— Olha quem fala, você estava se pegando com o Marko dentro da carruagem antes da gente chegar em Amit! — retrucou Dorian.

Irene não respondeu, apenas olhou feio para ele. Normalmente ela não se preocuparia muito com isso, mas graças aos estado atual de Joanne, ela teve que tentar assumir as rédeas do grupo por enquanto.

— O Maniaco das elfas não bebe? Não vi ele beber nada fora água até agora.

— Tudo fora água para ele tem gosto de vômito, e ele não tem reação alguma a álcool.

— Como assim? Ele não fica bêbado?

— Bem… Fica, mas tem que beber ácido puro para isso. Tinha que ver ele na época que estava depressivo, andava pelo acampamento militar com uma garrafa de ácido o dia todo. Ninguém do batalhão queria chegar perto dele com medo daquela porcaria quebrar e acabarem com algum membro derretido. 

Arian pareceu ter escutado, mas os ignorou e voltou a passar uma página do livro que estava segurando para <E> ler.

— Que coisa de louco… Quase sinto pena dele por não poder saborear uma das melhores coisas dessa vida… Mas só quase.

Na verdade Dorian parecia é feliz. Ele abriu a garrafa do vinho e bebeu um gole, fazendo uma cara de completa surpresa em seguida.

— Mas o quê?! 

— Bom, não é?

— Quanto custou isso? Nunca bebi nada parecido em toda minha vida. Deve ter mais de 200 anos… Como conseguiu pagar por tantas garrafas dele e ainda me deixou beber?!  

Dorian parecia incrédulo.

— Ah, eu não paguei nada por eles. Arx me deu de graça… Quer dizer, ele não estava mais lá para negar o pedido, então vou supor que sua alma disse que não tinha problema… 

Marko estava com um sorriso malandro de um lado a outro face.

— Você roubou a adega do Arx?!

Dorian estava se acabando de rir.

— Quando fez isso? — perguntou Irene.

— Pouco antes de sairmos de Amit, quando disse que ia comprar mantimentos. Passei no castelo para ver se achava algo valioso e me deparei com uma adega enorme no subterrâneo. Uma pena que o máximo que conseguir carregar foi quatro caixas.

Ele parecia honestamente triste, e Irene incrédula. Ela então pareceu ter se dado conta de outra coisa.

— Espera, então essas caixas que colocou no topo da carruagem não são comida?

— Claro que não, por que eu compraria algo que posso caçar na floresta?

— Eu não acredito, Marko!

Os olhos de Dorian brilharam ao saber que haviam mais vários daqueles vinhos dentro das caixas que Marko havia colocado em cima da carruagem.

— Tira o olho, você está limitado a uma por dia, Sr. Dorian.

— Tem mais de 100 garrafas ali em cima, homem, e vamos chegar em Sunkeep em no máximo mais 3 dias. Você não tem como beber tudo sozinho!

Marko deu uma risadinha.

— Desafio aceito!

Marko começou a beber o conteúdo da garrafa em sua mão ainda mais rápido.

— Joanne, faça alguma coisa! — reclamou Irene.

— Deixa eles… Não estão incomodando ninguém… E pararam os mercenários que nos atacaram recentemente sem problemas, bêbados ou não — disse a líder, com uma voz desanimada.

Jon estava observando Joanne silenciosamente, enquanto tentava não demonstrar a preocupação que estava sentindo. Ela estava observando a paisagem de dentro da carruagem, com um olhar distante. O ferimento do braço dela estava cicatrizado, e a quantidade de sangue no corpo estabilizado. Sem dúvida parecia mais saudável aos olhos, mas Jon acreditava que havia um ferimento interno muito pior que seu braço, e esse não estava cicatrizando. Não sabia o que ela estava pensando, mas a ouvir chorar baixinho toda noite desde que saíram de Amit estava o destruindo por dentro. 

“O peso de liderar essa missão, perder o braço, não ser tão útil em batalha como o resto do grupo, os contratempos…”, segundo Irene mesmo o disse, haviam várias coisas atormentando a mente dela no momento. Ainda dava as ordens, mas só quando estritamente necessário, o resto do tempo ficava olhando para o nada, e como agora, as vezes ela tentava levar a mão ao braço amputado. Quando notou novamente que não estava mais lá, uma lagrima caia pelo sua face. Zek ameaçou falar algo para ela, mas desistiu, aparentemente não sabendo bem o que dizer.

— Joanne, está tudo bem? — questionou Jon.

Ao ouvir a pergunta, ela notou que estava chorando, e rapidamente limpou o rosto.

— Sim, Jon. Eu… Só quero que isso acabe logo, essa missão… Estou cansada… Muito cansada.

Jon queria conforta-la, mas não fazia a menor ideia de como fazer. Ele já havia praticamente se confessado para ela em Amit, e não conseguia se ver tomando nenhuma atitude mais agressiva que aquela. “Joanne havia esquecido aquilo ou só estava ignorando para não atrapalhar na missão”, ele se perguntou. “Uma resposta seria bom… Mas que resposta? Eu não exatamente pedi algo a ela, só disse o que sentia…”, enquanto Jon pensava nisso, Kadia chamou a atenção do grupo. 

— Tem pessoas paradas na encruzilhada a frente — disse Kadia, dominando a mente de seu falcão para vistoriar o caminho a frente.

— Mercenários de novo?

Já haviam sido atacados três vezes desde que saíram de Amit. Curiosamente, os atacantes agora pareciam mais preocupados em danificar a carruagem e matar os cavalos que outra coisa, claramente tentando prejudicar o andamento da viagem, já que mata-los era pouco provável com um grupo daquele nível.

— Quantos?

— Três. Todos usam uma capa amarela e não parecem estar armados… Tem um simbolo na capa, mas não dá para ver direito… Parece um morcego com duas espadas cruzadas em cima… Nunca vi nada parecido.

— Droga. Não é um morcego, é um demônio com uma lança e uma espada cruzada em cima. 

Arian parecia bastante infeliz com a constatação que acabara de fazer.

— São perigosos? — questionou Kadia.

— São membros daquele maldito culto dos heróis, os Isekais. Jon, se abaixe ai — disse Marko.

— Qual o problema com eles? — perguntou Jon, sem entender a ordem.

Arian respondeu enquanto pensava em alguma coisa.

— Eles são… Idiotas fanáticos… E tem uma prática com demônios que… Depois eu explico… Kadia, ignore seja lá o que te disserem ou o que estiverem pensando de você… Tente não se surpreender e siga seja lá o que vou fazer ou te falar assim que chegarem perto da gente. Eles são muito insistentes, então a chance de passarmos sem nos pararem é quase zero.

Como ele previra, um homem do grupo de três se colocou na frente da carruagem com as mãos levantadas assim que eles chegaram a encruzilhada, e eles foram obrigados a parar.

O homem mais a frente do grupo vestia um manto simples e tinha uma longa barba preta mal cuidada. Se não tivesse o simbolo do culto, Jon pensaria que ele na verdade era um mendigo. Ele se aproximou de Arian vagarosamente, enquanto seus dois discípulos, com roupa similar, o seguiam.

— Eu vejo um brilho em você rapaz, era por ti que estávamos esperando, tu és o destinado, o herói invocado para nos salvar do senhor dos demônios… E até trouxe a oferenda junto… Só pode ser o destino! — disse o sujeito alegremente, enquanto olhava para Kadia cheio de satisfação.

Inicialmente, a demônio encarou o homem sem entender, até que os pensamentos dele entraram em sua mente. Ela arregalou os olhos e puxou sua espada.

— Kadia, não!

Arian avançou com o cavalo para frente do cavalo dela, a impedindo de avançar contra o homem.

— Eu disse para não ler a mente dele.

Kadia não respondeu, só o olhou furiosa. Arian então se virou para o velho e falou em tom de ameaça.

— Não estou interessado na oferta, só nos deixe passar ou vão ser atropelados.

O homem ficou pasmo com a ameaça.

— Meu jovem, não sei o que ouviu de nos, mas você foi enganado, nos somos o salvadores desse mundo, e estamos lhe dando a honra de se juntar a nós como um dos heróis destinados! Não pode recusar isso!

— Arian… Ele ainda está pensando em me levar, mesmo que não consiga te convencer!

— Essa coisa está lendo minha mente sem nem me tocar? — questionou o homem, assustado.

Kadia novamente tentou avançar contra ele, mas Arian a bloqueou com seu cavalo de novo. Os dois homens encapuzados atrás do líder começaram a recitar um encantamento, no que Arian os interrompeu gritando.

— Vocês ai! Parem essa magia ou vou arrancar suas cabeças, só vou avisar uma vez!

Ambos olharam para o mestre a sua frente em dúvida se obedeciam ou não, no que ele confirmou com a cabeça e eles pararam.

— Por que a protege, rapaz? Sabe o que ela é?

— Claro que sei.

— Melhor ainda, nos polpa o trabalho de achar uma oferenda para você. Já a usou para o pacto?

— Temos um pacto…

O homem parecia maravilhado. Ele então tirou um papel do bolso e ofereceu a Arian.

— Excelente, basta assinar com um pouco do seu sangue essa papel que lhe daremos um título de guerreiro de alto nível dos Isekais. Sua vida será cercada de glória e mais mulheres do que poderá contar daqui em diante.

— Acho que não entendeu a situação. Temos um pacto, mas eu sirvo ela, não o contrário.

O homem o olhou com descrença.

— Não pode estar falando sério…

— E não tenho interesse nas prostitutas que vocês pagam para bajular seus falsos heróis.

Arian então colou seu cavalo ao lado do de Kadia, segurou uma de suas mãos, abaixou a cabeça em sinal de reverencia, e a beijou. Kadia só ficou olhando pasma, sem entender nada.

— Minha rainha, apenas peça e eu arranco a cabeça desses homens. Como jurei quando fizemos o pacto, eu sou sua espada, para qualquer desejo que tenha.

O sacerdote do culto o olhou com nojo nos olhos.

Já Kadia estava tão pasma com a atuação de Arian que ficou sem reação inicialmente. Mas com a mão de Arian encostando na dela, era fácil ler sua mente e entender o que estava pensando. E também de ver a fantasma atrás dele com olhos de quem queria matá-la.

— Se eles não saírem da frente, mate-os — disse ela, com uma voz firme, tentando seguir o roteiro da mente dele.

— Como desejar… 

Arian desembainhou sua espada bastarda e olhou para os três com frieza.

— Pobre rapaz, dominado por essa abominação… É uma pena, mas sua alma já parece estar perdida para o senhor das trevas. Não cabe a nós salva-lo, mas torça para não encontrar com um de nossos heróis, senão será você a perder a cabeça.

Após dizer isso, o homem rapidamente recuou para a beira da estrada com seus dois seguidores e os deixou passar.

Kadia estava quase matando o homem com os olhos, tamanho o ódio que demonstrava neles.

Depois deles terem sumido de vista, Jon perguntou intrigado:

— Qual seu problema com eles, Kadia?

— Ele estava pensando em como me capturar… Não, era ainda pior…

Jon parecia confuso, então Marko completou, falando sério pela primeira vez naquele dia.

— Isekais capturam demônios e os obrigam a fazer pactos com os teleportados de forma a lhes dar poder para realizarem suas missões. Como você, a maioria dos teleportados não tem muita habilidade física, então precisam de uma forma de obtê-la. Para um demônio, pior que ser escravizado é ser capturado e obrigado a um pacto até a morte. Lembra como são feitos esses pactos, não?

Jon pareceu enojado, ainda por já ter passado por coisa similar. Tinha dúvidas, mas preferiu não perguntar mais nada, para o bem da saudê mental da Kadia.

— Devia te-lo matado em vez de só ameaçar, taradão das elfas — disse Dorian, que embora ainda meio debochado, parecia não gostar do culto também. 

— Fique a vontade para tentar. O culto vai te transformar em sua nova missão e mandar diversos teleportados atrás de você.

— Ficou covarde agora? É só mata-los!

— Se você matar o teleportado vai matar o demônio que foi obrigado a fazer o pacto junto!

— Não seria uma coisa ruim… — disse Kadia — Melhor isso que viver escravizado com um pacto que te obrigaram a fazer.

— Chega! Arian está certo. Mesmo que não mandem alguém forte já temos problemas o bastante, não vale a pena mais um incomodo como um culto fanático de heróis atrás de nós — disse Irene.

— Por que mandou o Jon se abaixar, Arian? — Era a primeira vez que Kadia fazia uma pergunta, notou Jon. Pouco a pouco devia acabar voltando a ficar mais a vontade com o grupo. 

— Não sei bem como, mas eles parecem ter uma grande sensibilidade para pessoas que vem de outro mundo. Quando acham um teleportado o convencem que foi mandado para cá para salvar o mundo de uma ameaça qualquer e o fazem fazer várias missões suicidas até acabar morto. Claro que essa não é a história que foi espalhada por ai, e sim o rumor de que os escolhidos tem uma vida de rei, com um harém gigante de mulheres ou homens a seu dispor, o que a pessoa preferir — disse Marko.

— O que os idiotas não sabem, ou talvez só não acreditem, é que todos a sua volta são pessoas pagas com dinheiro do culto para segui-los nas missões e bajula-los, e que ao primeiro sinal de perigo real vão abandona-lo para morrer e serem alocadas para outro escolhido. É um sistema nojento. — completou Arian.

Embora surpreso com o sistema, o que estava na mente de Jon no momento era outra coisa.

— Arian, ele te chamou de escolhido… Você não seria um teleportado também então?

— Não sei… Já cogitei a possibilidade, mas… Lara, pode me adiantar essa?

— Você não é um teleportado, nasceu nesse mundo. Eu conheci sua mãe, inclusive.

Arian a olhou com os olhos levemente fechados e um sorriso falso.

— Soltou a última parte de proposito, né? Que tal falar um pouco dela então? — disse Arian, curioso, mas já sabendo qual seria a resposta. 

— Nada disso, o acordo é no final da missão — disse Lara, com um sorriso sádico. O guia ao lado dela não falou nada, mas pareceu estar se divertindo com a conversa.

Arian fez uma cara de infelicidade. As respostas estavam todas ali dentro do cérebro daquela mulher, mas não podia te-las até sabe-se lá quando essa missão iria durar.

— Isso ainda não responde por que o homem disse que você era um dos escolhidos deles.

— Minha energia espiritual é bastante instável pelo que uma especialista já disse uma vez, por isso me confundem com um. Os sacerdotes do culto dos Isekais detectam teleportados ao notarem uma energia espiritual diferente da vista na maioria das pessoas nascidas nesse mundo, e como a minha é um pouco diferente, se encaixa. 

— E esse culto é um golpe ou algo assim? Ou o problema de vocês com eles é só escravizarem demônios e pagarem grupos para se prostituirem e seguirem os escolhidos? — questionou Jon.

— Não é um golpe, os malucos realmente acreditam nessa porcaria de heróis escolhidos, por pior que sejam os métodos que adotam. Inclusive gastam boa parte dos recursos das igrejas dos heróis apoiando seus heróis em missões e comprando demônios com potencial para pactos — disse Arian.

— Eu já tinha ouvido falar neles, mas não sábia o que faziam com demônios. Assim que essa viagem acabar a primeira coisa que vou fazer é caçar esses desgraçados.

Kadia estava furiosa.

— Não sei se é uma boa ideia… — disse Arian.

— Estão escravizando meu povo!

— Seu povo não te baniu para esse mundo, pelo que me disse no começo dessa viagem?

— Não vou culpar minha raça inteira pelo julgamento injusto de apenas algumas pessoas.

Arian pareceu admirado pela falta de rancor de Kadia.

— Você com certeza não parece um demônio… Ao menos não a fama que vendem deles nessas terras.

Depois disso, a viagem seguiu até que começou a anoitecer. Do nada, o guia parou os cavalos e pareceu estar tentando se concentrar em algo.

— O que houve? A próxima cidade é por aqui? — perguntou Irene.

— Não, só chegaremos nela amanhã. Mas não é com isso que deveria se preocupar — Ele então se virou para Lara. — Princesa,  temos que voltar, agora. 

— Princesa?

Ao notar o que disse, o homem pareceu decepcionado.

— Ah, droga, eu estava indo tão bem… 

Lara estava olhando para ele furiosa.

— O que está havendo aqui? — questionou Joanne.

— Depois eu explico, temos problemas maiores. Kadia, tem um grupo voltando a cavalo correndo pelo que posso escutar, nos faça o favor de ver o que estão pensando quando passarem.

Pouco depois Jon viu vários homens a cavalo voltando correndo pela estrada de terra e passando por eles a toda velocidade. Kadia se concentrou em um deles e falou em seguida.

— Pequenos portais estão abrindo e fechando sem parar mais a frente na estrada, ele estava indo para uma cidade naquela direção quando quase foram pegos por um deles, e então voltaram correndo.

— Uma tempestade de portais… — disse Arian.

Jon já ouvira falar nisso. Era comum de ocorrer perto da floresta dos amaldiçoados, vários portais ficavam se abrindo e fechando sem parar em alta velocidade, e sugando qualquer coisa que estivesse próxima.

— Tinha escutado boatos sobre isso, mas pensei que já teria passado. Essas tempestades de portais não costumam durar mais que alguns dias.

— Temos outra opção de caminho? — perguntou Jon.

— Voltar, ir na direção da cidade dos meio-elfos, atravessar pela beirada do Rio perto da cidade, pegar o caminho da floresta que dá na União central, e voltar de lá até a fronteira com o Sul.

— Quanto tempo a mais de viagem?

— Passaria de mais 3 dias para 30, no mínimo, a floresta é terrível de atravessar, e teríamos que passar pelo Norte para entrar em Sunkeep.

Joanne fez uma cara de completo terror com a possibilidade de estender aquela missão por mais tanto tempo. Ela então tomou uma decisão.

— Vamos acampar por aqui e ver se até amanha essa tempestade para. Se não ocorrer em no máximo um ou dois dias, decidimos por outra opção.

O guia concordou com a sugestão com a cabeça.

— Certo. Mas acho melhor voltarmos um pouco, a chance é baixa, mas essas tempestades as vezes aumentam em vez de diminuir, e podem nos pegar se acamparmos por aqui.

— Tudo bem, vamos voltar um pouco do caminho e acampar. Mas depois nos explique como conhece a Lara e por que não disse nada até agora.

O homem concordou e começou a virar os cavalos para voltarem.

— Espera! Temos outro problema —disse Kadia.

— O que foi agora? Mais mercenários? — questionou Joanne.

—  O tal do culto parece ter mandado algo atrás de nós, tem um grupo usando o manto deles correndo em nossa direção. E também tem mercenários vindo pela floresta atrás de nós. Não, espera… Mas o quê…?

Kadia parecia completamente horrorizada com algo que seu pássaro estava vendo.

— Eu não acredito…

Próximo: Capítulo 21 – A tempestade de portais

Comente o que achou do capítulo, o autor agradece.

PS: O capítulo ainda não passou pelo revisor, então pode conter alguns errinhos.

Nota do autor:

Esse capítulo demorou um pouco mais para sair devido a sucessão de eventos nele que tinham que parecer mais fluidos e conectados, além dos diálogos para dar entrosamento ao grupo que fui acrescentando a cada revisão.

Inicialmente tinha o dobro de eventos e acabava no que vai ser apenas o final do próximo capítulo, tendo apenas 2500 palavras. Depois de uma quantidade enorme de acréscimos, mudanças e revisões, eu dividi ao meio e essa primeira parte inchou para 4000 palavras. A próxima deve ficar por ai também. Sobre o título do capítulo. Eu tenho essa referência com Isekais cheia de reinterpretações da minha parte em mente a tempos, mas só agora pude apresentar. Inicialmente eu ia chamar de “Sekais”, mas depois resolvi ser mais direto mesmo.