Kimetsu no Yaiba #03 – Uma pedra no caminho |Impressões semanais

Episódios ou arcos de treinamento, são um dos clichês mais típicos do Battle shounen, a maioria me faz apenas passar batido, alguns não duram quase nada e outros como de Kimetsu no Yaiba me fazem pocar de rir.

E sinceramente, os animadores e roteirista desse episódio estão de parabéns, é tudo no momento certo, as piadas são inseridas quando devem ser inseridas, possuindo um bom time cômico e exercem o famoso impacto visual.

Se vocês perceberem a maior parte da comicidade desse episódio esta nas caras e bocas do protagonista. Basicamente ele foi extremamente expressivo.

Mas isto é tudo produto de um storyboard bem feito e animado. Nas partes dedicadas ao humor
as expressões são exageradas e deformadas.

Mas isto é feito propositalmente, na verdade, todos os movimentos do protagonista são exagerados, bobos, pra tu rir mesmo.

Se fosse apenas uma narração crua e bem direta do Tanjirou, tudo seria extremamente chato, mas este ato acaba sendo bastante divertido por causa das situações engraçadas inseridas no meio.

Inclusive a narração do protagonista é vivida, invés de narrar de forma curta e direta, ele dar personalidade ao que esta contando, insere seu sentimentos e impressões aos eventos, sendo fiel ao conceito de diário que é uma narração cronológica, mas conotada de emoções.

O que você nota facilmente quando ele fala que o mestre estava dando uma surra nele, que quanto mais o treino avançava, o velho estava louquinho para matá-lo.

Estas pequenas exposições que são as impressões do Tanjirou de seu treinamento que dão um diferencial, dar subjetividade a coisa toda.

E nesses momento você ver o trabalho cuidadoso que foi realizado, desde as cenas quadro a quadro, até o que esta sendo dito e contado, tudo bem feito, composto e pensado para que a narrativa flua de forma orgânica.

Mas a parte que eu mais gostei do anime é a da rocha que o Tanjirou deveria cortar. Eu não vou discutir o realismo disso, porque é impossível você cortar uma rocha daquele tamanho com uma katana, ela vai quebrar.

É possivel você cortar uma rocha com uma espada, mas menor e obvio que exige você saber onde aplicar a força e a quantidade de força que você vai usar para acertar o ponto de quebra, preferencialmente, não com uma Katana.

Inclusive achei interessante que o anime passa esta informação para o leitor, a Katana é uma espada arquitetada para ser mai leve e feita especialmente para o corte, em suma, ela não é resistente.

Tanto que o estilo de esgrima japonês prioriza saques ligeiros e a agilidade pra você cortar ou perfurar os pontos vulneráveis da armadura do inimigo o mais rápido possivel. Se você ficar batendo muito com a katana, ela vai se fragmentar.

Mas a beleza não esta no realismo que a cena poderia ter, mas na poética por traz do desenvolvimento da quebra da rocha. Valendo um velho poema de Drumond:

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Assim como a pedra neste poema, a rocha que o Tanjirou tinha que cortar representa um obstáculo que ele encontrou em seu percurso. Essas pedras podem impedir a pessoa de seguir o seu caminho, ou seja, os problemas podem impedir do caminhante em avançar na vida ou em seus objetivos.

Esses problemas representados na figura da pedra podem ser pessoais, psicológicos, não apenas outras pessoas ou obstáculos materiais.

O maior desafio de Tanjirou , Sabito, não era seu verdadeiro obstaculo, ele mesmo que se impedia de cortar a pedra , ele mesmo que se impedia de alcançar Sabito.

Quando ele superou todas as suas limitações, se esforçou para contornar ou concertar as suas falhas e descartou seus impedimentos psicológicos, ele alcançou Sabito, cortou a pedra em seu caminho.

Sabito e Makomo foi a pedra essencial para que Tanjirou amadurecesse pelo menos um pouco e acabasse com o seu coitadismo pessoal por causa de uma situação problema e seguisse aperfeiçoando os ensinamentos de seu mestre.

Em relação as duas figuras misteriosas, elas são reais ou coisa da cabeça do protagonista? Se vocês repararem na rocha, aquela corta com fitas ao redor dela simboliza ambiente sagrado, um objeto ou lugar no qual habita um kodama, um espirito ou espíritos guardiões.

No caso do anime chuto que aquela pedra é um local onde os aprendizes encontram com espíritos de caçadores e aprendizes anteriores e cortar a pedra é superar suas fraquezas, alcançar a determinação destes espíritos e prosseguir.

E novamente, a direção desse anime esta conseguindo extrair bastante o talento de sua staff, que se continuar com esta qualidade vai produzir um anime que será um exemplo de bom uso de diversas técnicas de animação como o slow motion aplicado na luta do Tanjirou com o Sabito

Portanto, Yaiba esta sendo uma experiencia que esta me agradando de forma considerável principalmente na parte mais técnica da animação. Faz tempo que não via um anime utilizar tantas jogadas de câmera.

A uma exploração nítida de diversos ângulos e composição dos quadros no storyboard, neste aspecto, o anime esta impecavel.

Em relação ao roteiro, gostei bastante do storyline deste episódio, teve bastante exposição de informação por instruções dos mestres do Tanjirou, mas ele conseguiu ser dinâmico e bem movimentado ao ponto dessas informações não incomodarem tanto.

Além disso, sentir que este episódio estava em uma formula de mais mostrar do que descrever, a exemplo, muitas coisas ficaram ou para serem explicadas no próximo, como o porquê da Nezuko esta em um estado de hibernação, até porque eles mesmos não sabem o motivo dela não acordar.

Ou ficaram implícitas como do Sabito e Makomo serem espíritos. Mas infelizmente nada é perfeito e algumas coisas me incomodaram, a exemplo, a risada insana do Sabito, aquilo foi exagerado para caramba, mesmo que entenda que o proposito era mostrar que ele era superior ao protagonista.

Não precisava soar como um lunático, era só dizer que agradeço a preocupação, atacar e dizer, mas sou mais forte que você como se seguiu sem parecer um personagem de historia de terror trash.

Quando o personagem é doentio ou esta histérico a gente até entende uma risada daquelas, mas naquela situação só por achar graça da preocupação do protagonista, eu achei meio deslocada e escrachada demais.

Outra coisa que me incomodou é a ciência “sobrenatural” que não tenta ser sobrenatural, o anime explica respiração como o mecanismo dos caçadores de se igualarem aos onis, mas é feito de uma forma que parece ser um aprimoramento biológico momentâneo, e não algo advindo de um chi ou algo parecido.

Entendam que no oriente muitas coisas da ciência como anatomia é misturada com filosofia e mitica, a exemplo a acupuntura que se utiliza dos ditos pontos de energia do corpo humano, mas no anime poderiam deixar este sobrenatural ou filosófico mais evidente pra não gerir estranheza.

Por ultimo, a que mais me incomodou de fato, a cabeça do Tanjirou, ela pode ser tão dura como uma pedra , mas não é uma pedra.

Ele ficar batendo com ela na rocha sem fazer um talo monstruoso me deixou meio indignada, sei que a historia é fantasiosa, mas não tem explicação para aquilo por mais dura que a cabeça dele seja.

O garoto parece ser um humano razoavelmente normal, mesmo com o olfato mais apurado, então é meio estranho com a força que ele se batia não se ferir e sua testa ser mais resistente que uma pedra.

No demais, o anime esta conseguindo me entreter e sendo uma experiencia boa de como se produzir um Battle shounen, que possui uma arquitetura de narrativa mais simples por ser acelerado, que entretêm bem o seu publico, entregando momentos de tensão bem feitos e sendo divertido quando lhe convém.

Nota: 4.5/5

Sirlene Moraes

Apenas uma amante da cultura japonesa e apreciadora de uma boa xícara de café e livros.