As Crônicas de Arian 2 – Capítulo 9 – 60 metros

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Capítulo 9 – 60 Metros

Como de costume naquela cidade, o céu estava encoberto por nuvens escuras. A noite estava caindo rapidamente, mas ainda era possível ver a rua com clareza do segundo andar daquela construção, principalmente levando em conta o fato de que não haviam mais paredes no quarto da bruxa. O andar estava sendo sustentado puramente pelas vigas principais da construção.

Irene estava observando a rua enquanto Joanne tentava passar mais um pouco de energia para Jon, que estava com dificuldade para se levantar. Do outro lado da rua, vários olhares curiosos estavam fitando-os das janelas de construções próximas.

— Tem um soldado da ronda vindo para cá. — alertou Irene, retirando seu arco das costas e preparando uma flecha.

Jon, ainda meio zonzo e com um pouco de dificuldade para respirar, olhou para a rua como se estivesse pensando em algo.

— Precisamos de um deles para descobrir onde estão o Marko e o Arian.

— Logo vão vir bem mais com a bagunça que a Lara fez aqui. Vocês duas, desçam lá e imobilizem ele. Depois tentem tirar alguma informação sobre onde prenderam Marko e Arian exatamente.

Na frente da biblioteca, o guarda estava observando pasmo o fato de não haver mais paredes na parte frontal do segundo andar. Parecia em dúvida se ficava, ou voltava e reportava para a central da guarda o ocorrido. Irene se aproximou da beirada do quarto e apontou uma flecha para o homem:

— Não se mexa!

A reação não foi a esperada.

— Ele vai fugir — disse Lara baixinho, pensando no que fazer.

Em vez de se render, o homem, bastante assustado, ignorou o aviso, virou o cavalo e se preparou para fugir. Mas antes que tocasse o cavalo, escutou um grito que o fez se virar para a biblioteca novamente:

— Socorro, elas querem me matar! — gritou Lara com uma voz chorosa enquanto pulava para cima do cavalo do guarda. Como ela esperava, o homem instintivamente a segurou nos braços.

— Você está bem? O que aconteceu aqui?!

A garota deu um sorrido cínico e respondeu:

— Resumidamente? Uma bruxa acabou de levar uma surra de mim.

— O quê…

— Parado, ou você morre — anunciou Irene do segundo andar mirando com o arco e flecha na cabeça do homem.

Ele ainda parecia indeciso no que fazer, então Lara colocou a mão para cima, puxando sua espada, que veio voando do segundo andar até ela, e a apontou para o pescoço do homem.

— Talvez isso te ajude a se resolver…

O homem fez uma cara de quem não estava entendo nada e soltou Lara, colocando as mãos para o alto. Eles desceram do cavalo e ela o levou para dentro da biblioteca no primeiro andar.

— Irene, vá ajudar ela. Ou mais precisamente, não deixe ela matar o coitado.

Irene fez um afirmativo com a cabeça e correu para as escadas.

— Jon, consegue se levantar? — perguntou Joanne.

O garoto não respondeu, estava hipnotizado por alguma coisa na sua frente. Joanne olhou na mesma direção, mas não viu nada.

— O que foi?

— Está vendo uma garotinha em um vestido preto?

— Não.

— Acho que estou com alucinações…

— Não é incomum levando em conta o que você passou.

Jon fechou os olhos e respirou fundo, na esperança de que a visão sumisse, mas quando os abriu, a garotinha ainda estava lá, com seus olhos verdes e um cabelo preto muito liso, que descia até a cintura. A volta dela, várias mulheres com cabelo curto agora estavam no quarto destruído, todas apontando para uma prateleira caída no fundo do quarto.

— Está piorando…

— Jon, acho que você pode estar vendo fantasmas…

— Com todo respeito, Joanne, acho que saberia se tivesse essa habilidade.

— Você quase morreu e sua alma foi gravemente danificada, estranho seria se não ocorresse.

Ela tinha razão. Já havia lido sobre isso, mas estava atordoado demais para ligar as coisas. Passando por experiências assim que pessoas normais começam a ver fantasmas. Experiências de quase morte, ou que danifiquem gravemente sua alma lhe dão uma ligação com o plano espiritual, caso você saia vivo, o que raramente acontece.

— É… Faz sentido — Jon então encarou a garota de vestido preto olhando fixamente para ele — Pode me ouvir?

Não obteve resposta.

— É, se fosse tão fácil Arian já teria resolvido.

Jon fez um esforço e conseguiu ficar de pé, mas estava sem fôlego para ir até onde queria.

— Quer ajuda?

— Pode pegar aqueles…

Antes de completar a frase escutou um forte grito vindo do andar de baixo.

— Aquela idiota…

Joanne foi correndo ver o que tinha acontecido enquanto Jon foi mancando até a prateleira com livros caídos que todos os fantasmas estavam apontando. Foi dali que a bruxa tirou o livro que deu para Jon dar uma olhada antes, então podia ter mais alguma coisa útil. Começou a folhear rapidamente vários livros em busca de algum útil. Já havia separado 3 livros quando Lara e Joanne subiram.

— Eles estão nas masmorras da guarda da cidade, vão ser levados para a execução na praça central mais à noite — disse Joanne.

— Sério? Arian e Marko estão para serem executados e tudo que você consegue pensar são mais livros? —  reclamou Lara.

— Esses livros têm as respostas que estamos buscando a dias, só tenho que descobrir o código…

— Código? — Joanne e Lara se aproximaram para ver os livros que Jon separou mais de perto. Joanne pegou um deles e entendeu o que Jon quis dizer ao abrir a primeira página.

— Foram escritos com letras embaralhadas. ‘A’ pode significar ‘X’, ‘C’ pode ser ‘A’, e assim por diante, geralmente você precisa do código para rescrever de forma legível.

— E como encontramos o código? — questionou Lara, folheando um dos livros.

— Seja lá onde estiver, não temos tempo para encontrar. Não preciso dele, só de mais livros escritos pelo mesmo autor. Se eu pegar os padrões de escrita dela decifro algumas palavras, e com elas vou descobrindo qual letra ela trocou por qual — Jon continuava a pegar de livro em livro jogado no chão, folheava e jogava para longe ou juntava em uma pilha.

— Rápido, temos que sair daqui, o resto da guarda não vai demorar a aparecer. — Joanne foi até a beirada do segundo andar observar a rua. Estava vazia, mas os olhares curiosos nas janelas do outro lado da rua continuam lá.

— Achei, esses são os planos da torre que ela me deixou ler. É basicamente um projeto de arquitetura, mas ela escreveu tudo então se eu me basear em como ela escreve e juntar com…

Jon estava falando consigo mesmo, enquanto comparava o livro que estava olhando com um outro da pilha de livros em código.

— Sabia! É a Torre! Estão na torre principal do castelo.

— Certo, vamos embora então. — disse Joanne, tentando levantar Jon.

— Não, a torre era a parte mais óbvia, o problema é como entrar lá, tenho que conseguir muito mais informação que isso — Jon estava tentando se desvencilhar das mãos de Joanne e voltar para os livros.

— Não temos tempo! Eles vão chegar a qualquer instante!

Irene subiu correndo as escadas.

— O que estão esperando? Não ouviram os cavalos correndo para cá?

— Jon, não dá para esperar!

— Certo, peguem esses 4 livros empilhados e me ajudem a chegar até o cavalo — Jon estava tentando se levantar enquanto mantinha-se concentrado no livro que a bruxa lhe mostrou antes. Na outra mão estava um dos livros em código.

Todos desceram para o primeiro andar, onde Jon entendeu o grito de dor que escutou. O braço do soldado que eles capturaram jazia no chão, congelado, enquanto ele chorava de dor. Jon só pode observar com pena, desejando nunca ser interrogado por Lara na vida.

— Vamos levar ele, ainda pode ser útil — disse Joanne.

Lara na mesma hora foi até ele e o puxou, mas o homem estava tentando se desvencilhar dela.

— Você perdeu um braço, mas ainda tem o outro e duas pernas, quer mesmo perdê-los também — disse a garota com frieza.

Ao escutar isso o homem parou de resistir e decidiu acompanhá-la. Quando chegaram a saída o céu já estava completamente escuro, e como era de costume naquela cidade, mal dava para ver a lua devido ao céu nublado. A frente deles devia estar um breu, mas ao invés disso estava bem iluminado pelas tochas de 8 guardas que haviam chegado ao local.

— Larguem as armas e se entreguem — falou o comandante da guarda, aparentando estar com raiva pelo estado de um de seus homens que estava ao lado de Lara.

— Demoramos demais… — disse Joanne, aflita, enquanto tirava sua espada da cintura e partia para a única solução possível agora. — Que Alizen nos ajude…

**************

No outro lado da cidade, em uma cela com paredes de pedra e uma porta grossa de metal, embaixo da central da guarda, dois homens estavam acorrentados a uma placa de metal presa ao chão. Um estava sentado no chão de pedra desanimado, e o outro, com o corpo bastante peludo, medindo mais de 2 metros de altura, tentava forçar as correntes para se soltar. Depois de um tempo ele desistiu e se sentou, ofegante, enquanto os pelos negros do corpo sumiam e os olhos voltavam a cor natural.

— Você é um idiota! — reclamou o homem negro.

— Eu não tinha como saber que eles tinham correntes de zodium puro aqui, Marko… — argumentou Arian, enquanto pensava em uma saída daquela situação.

— Não consigo arrebentar isso nem transformado, então é bom bolar um novo plano rápido, ou vamos mesmo morrer.

Arian deu uma risada debochada com o comentário.

— Sabe que isso é impossível…

— Acho que esqueceu, mas aquele demônio que atacou nosso grupo quase te matou depois que nos afastamos do hotel, e nada da energia azul aparecer para salvar sua pele como de costume… Aquele ritual da Lara deve estar bloqueando. Então sim, podem te matar agora.

Arian ficou um tempo pensativo depois disso. Não havia cogitado essa possibilidade, embora tenha achado estranho nada ter ocorrido quando o demônio estava para arrancar a sua cabeça. Marko conseguiu impedi-lo pouco antes, e logo depois a criatura fugiu e não conseguiram mais encontrá-la. Era uma espécie de demônio das correntes, eles podiam escravizar demônios mais fracos com a mente, tinham força e velocidade absurdos e magias que podiam causar destruição em larga escala. Estranhamente, aquele não usou nenhuma das magias que tinha a disposição, se limitando apenas ao combate físico com eles.

— <E>, para de me olhar feio, isso foi ideia do outro Arian! Olha o que você fez Marko, agora ela está preocupada também.

— E deveria mesmo — Marko parecia estar de extremo mal humor.

A outra personalidade de Arian sugeriu que tentassem tirar informações dos habitantes a força, e se não desse em nada, fossem capturados propositalmente, se soltassem e torturassem o comandante dos guardas da cidade até revelar alguma informação. Foi o que fizeram, mas acabaram presos de uma forma que não podia se soltar para executar o resto do plano.

— E então, o que vamos fazer?

— Tenta a transformação de Lobisomem.

— Caso não tenha notado, sem eu ver a lua não funciona. E não tenho o controle sem a Kadia por perto, então mesmo que conseguisse me soltar naquela forma, te mataria logo depois, já que você não tem mais a energia azul te protegendo, como ocorria quando eu me transformava perto de você antigamente.

— Bem, na pior das hipóteses você vai ter que usar isso se não conseguirmos nos soltar antes de nos executarem mais tarde.

— Temos que achar uma saída antes disso… — Marko parecia angustiado — Não vou matar só você no processo, mas todo mundo que estiver no local. Não quero mais crianças mortas na minha consciência.

— Eu posso tentar subornar um dos guardas quando vier aqui…

— Você parece um mendigo, não vão acreditar que…

Marko foi interrompido pelo barulho da porta da cela ao lado se abrindo. O rangido da pesada porta de metal era inconfundível.

— É a cela errada! Ele mentiu para a gente! — a voz atrás da parede parecia da Lara.

— Não, por favor! Pare! Tirem essa louca de perto de mim!

Pelos gritos ela parecia estar torturando o homem.

— Lara, é impressão minha ou está se divertindo com isso? — a voz parecia a de Joanne.

— Só existem duas celas para não humanos… Se não estão nessa estão na daquele lado — disse um homem.

Logo depois a porta da cela deles abriu. Lara foi a primeira a entrar.

— Estão aqui! — gritou a garotinha loira de 13 anos em um vestido branco, correndo até Arian.

O guardião deu uma risada ao notar que estava tão acostumado a fazer tudo sozinho nos últimos anos, que não havia pensado na possibilidade do seu grupo o ajudar. Era realmente como se tivesse voltado aos tempos de guild.

— Como invadiram isso aqui tão fácil? — perguntou Marko.

— Lara congelou os guardas que foram atrás de nós na biblioteca, só precisamos cuidar dos 5 que ficaram aqui protegendo a base.

— Quantos eram?

— Tinham 13, mas foi meio patético… Só o comandante sabia lutar direito, os outros nem sequer tiveram o bom senso de desviar quando eu lançava magia com a espada, congelei uma linha com 5 de uma só vez e os outros 7 fugiram apavorados, não devem ganhar muito bem… Depois derrubamos o comandante e viemos para cá.

— Porque se deixaram ser capturados, afinal? — perguntou Joanne.

— Arian achava que podíamos pegar informação mais fácil se fossemos levados para a base, mas o plano falhou miseravelmente. Tiveram mais sorte?

— Sim, bem mais.

Depois de soltar dos dois, eles deixaram o guarda que os guiou até ali preso na cela e subiram para o escritório principal da guarda no primeiro andar. Jon estava lá devorando um livro e comparando com outros ao lado dele.

— Jon, você parece um defunto ambulante, está tudo bem? — perguntou Marko.

— Não, ele perdeu parte da alma, devia estar descansando.

— Ele o quê? Como? — perguntou Arian assustado.

Jon respondeu sem tirar os olhos do livro:

— Não temos tempo, se essa garotinha que ficava sussurrando para mim estiver correta, Zek não dura mais que essa noite.

— Ela fala com você?

— Às vezes. Com você não?

— Ela tentou se aproximar quando chegamos a cidade, mas alguém a espantou… — Arian estava olhando descontente para o lado. — Desde então ela se manteve distante.

Jon tirou os olhos do livro por um momento e ficou pasmo com o que viu ao lado de Arian.

— Caramba, tirando o cabelo e os olhos ela é muito parecida com a Lara. Espero que seja mais simpática, se não tenho pena de você…

Foi então que Arian percebeu o que já devia ter notado desde que ele falou da garotinha de preto.

— Espera, pode ver fantasmas também? Por que não me contou?

— Não podia… Quero dizer, agora sim, mas antes não. Aconteceu quando a bruxa de Lein tentou drenar minha alma.

— Ela o quê? Aquela bruxa de Lein? Como ela está viva?

— Depois, agora temos que salvar Kadia e Zek…. — Jon respirou fundo antes de completar a frase — Se ainda estiverem vivas…

— Sabe onde estão?

— Na torre mais alta do castelo.

Arian pareceu desanimado com a notícia.

— Já tentamos entrar no castelo, a entrada pela ponte é cheia de maldições, você começa a agonizar envolto por suas lembranças mais horríveis depois de poucos metros. Uma das coisas que queria arrancar dos guardas era uma informação de como entrar lá.

— Sim, o problema não é a localização, é como chegar lá. Não consigo ler tudo perfeitamente ainda, mas de acordo com os planos de construção as celas são no penúltimo andar. Então estão no último andar daquela torre, e não podemos usar a ponte, como vocês já constataram. De acordo com as anotações da Bruxa as maldições psicológicas são só o começo, tem outras bem piores se você conseguir avançar mais pela ponte.

—  Então o que fazemos?

— Acho que tem uma forma, mas… O quão longe vocês conseguem saltar?

Existiam muitas lendas sobre o Mar que cercava as terras que formavam aquele continente. As duas mais comentadas eram sobre deuses em guerra criaram tempestades que mantinham o Mar revolto e impossível de navegar, e outra de que não existia nada fora daquelas terras, e o Mar furioso era um sinal para não saírem de lá. Se a história de que os elfos vieram de uma terra além do Mar fosse verdade, no entanto, a segunda lenda estaria anulada. A primeira, todavia, parecia muito idiota para Jon acreditar.

A questão é que você não entra nas águas do Mar a não ser que queira morrer. Ele está quase sempre revolto, tinha uma quantidade enorme de criaturas muito perigosas, e para piorar haviam ondas gigantes intermitentes. Existem alguns poucos locais cercados o bastante por montanhas para manter as águas um pouco mais calmas, e eles não estavam em um deles. Ondas de mais de 30 metros se chocavam contra as rochas, em que o castelo do lorde Arx fora construído, a todo momento.

A única ligação da cidade com o castelo era uma ponte enorme, mas ela ficava levantada a maior parte do dia, e quando não estava levantada, devido ao Lorde sair para seu passeio matinal, não dava para entrar também devido a diversas maldições que matavam qualquer um que chegasse perto. O rei foi bondoso o bastante para pedir maldições mais leves no começo da ponte, de forma a desencorajar qualquer um a avançar sem matá-los, no entanto.

A distância do abismo entre a cidade e o castelo era de aproximadamente 100 metros. Praticamente nenhuma criatura saltava tão longe, então a não ser que a pessoa tivesse asas, era impossível atravessar. Mas em uma área específica, que dava para a lateral do castelo, havia um rochedo mais próximo, que deixava a distância em aproximadamente 60 metros. Todos eles se dirigiram para lá. O local não tinha uma alma sequer perto, já que haviam várias árvores venenosas ali, e uma mata espessa.

— Como descobriu esse local? — questionou Irene.

— Tem nas anotações da bruxa a descrição de uma área que ela achou perto demais do castelo e que poderia ser usada para uma tentativa de invadir. Mas como o lorde achou pouco provável alguém saltar 50 metros, e ainda passar pelo que tem dentro do castelo, deixaram para lá. — Jon olhou mais uma vez para o livro com as anotações de Marin, que ele ainda estava lendo — Parece que ela também fez planos para usar essa parte como área de fuga do castelo, mas não especificou como faria isso, já que duvido muito que ela possa saltar essa distância, mesmo não sendo humana.

— Acha que conseguem saltar? — perguntou Jon, olhando para a montanha de pedra onde o castelo fora construído.

— Não, é muito longe. — respondeu Arian.

— Eu acho que consigo — afirmou Marko.

— Tem como saltar com mais pessoas?

— Está pedindo um pouco demais, Jon. Mas acho que dois, talvez…

— Leve a mim e o Arian então.

— Ficou maluco? Ainda está muito fraco.

— Não tenho como te passar todas as informações que consegui no livro, Joanne, e eles vão precisar de mim para chegar ao topo da torre.

Joanne não teve uma boa resposta para aquele argumento, então acabou concordando, mesmo que bastante angustiada.

— Bem, vamos lá então. — afirmou Marko, conforme aumentava de altura e seu corpo ficava peludo.

— Espera, eu valho por meia pessoa nessa forma. Me levem junto também — pediu Lara.

— Três é demais, com dois já tem chances enormes de dar errado…

— Arian, abraça ela que acho que dá.

— Você é um idiota, e vai matar todos nós — resmungou Arian, desaprovando a ideia.

— Agora está preocupado em morrer? Jon que devia se preocupar, vai morrer virgem — disse Marko, enquanto segurava Jon como se não pesasse nada e o colocava em baixo do braço esquerdo.

Ele sabia que responder era meio infantil, mas Jon não aguentou:

— Quanto a isso, Marko… Não é bem assim…

— Espera, você me disse que não tinha experiencia alguma dias trás.

— É, isso acabou de mudar… — embora estivesse tentando se gabar de não ser mais virgem, a voz de Jon passava um ar de pura decepção e tristeza, que deixou Marko confuso.

— Foi tão ruim assim?

— O que acha? Foi uma bruxa, e ela estava tentando me matar!

— E dai? Ao menos é uma experiência diferente.

— Era um meio demônio com escamas e uma língua enorme.

— Deixa eu ver se entendi: bruxa, sugou sua alma usando sexo e era um demônio… É, você já pode morrer, teve a primeira vez mais diferente que um homem poderia desejar. Nunca alguém vai ter uma história mais legal que a sua para contar sobre como foi a primeira vez.

Jon deixou de tentar entender como a mente de Marko funcionava a esse ponto. Até mesmo Arian e Lara pareciam espantados com as ideias do Marko.

— Tem certeza disso? — questionou Arian, olhando para Lara sem muita confiança no que iriam fazer.

— Absoluta!

A contragosto, Arian abraçou Lara. Marko então o agarrou e segurou debaixo dos braços, assim como fez com Jon.

— Mais alguma coisa que devamos saber antes de tentarmos nos matar? — perguntou Arian.

— Marin fez todo sistema de segurança do castelo e o projeto relativo a magia usada na torre. As especialidades dela são manipulação da energia corporal, criação de portais dimensionais de transporte a curta distância e maldições que afetam o psicológico ou drenam energia. Então podem esperar ver tudo isso lá dentro.

— Jon, devia ter guardado isso para depois de pular, é a hora de fazer parecer fácil, não o contrário. Se segurem. Arian, eu vou ter que te soltar assim que nos aproximarmos para me agarrar em algo, se prepare para se segurar em algo quando eu o fizer.

— E nós? — questionou Joanne.

— Esperem aqui, a área é isolada, então deve ser pouco provável do que restou dos guardas encontrarem vocês. — Foi então que Jon olhou para baixo e viu algo que chamou sua atenção. — Parece ter uma pequena caverna um pouco abaixo dessas rochas, tentam chegar lá, deve ser mais seguro ainda.

— Vamos logo, quanto mais demorarmos menor a chance de encontrarmos alguém vivo. — disse Arian.

— Certo, se segurem!

Dizendo isso, Marko pegou o máximo de distância que pode da beirada da rocha, correu a toda velocidade e saltou. O cálculo dele de que conseguiria foi um pouco precipitado, já que eles foram perdendo altitude rapidamente e caíram em uma parte do penhasco que as ondas do mar conseguiam chegar quando batiam furiosas na rocha.

Joanne parou de respirar por um breve momento quando Jon, Marko, Arian e Lara foram engolidos pela água de uma das ondas que bateu no rochedo. Quando a água baixou, felizmente, eles ainda estavam lá, tentando subir o mais rápido possível para evitar mais ondas. Marko subia rápido dando grandes saltos de um ponto a outro, mas Arian, embora também pudesse fazer o mesmo, não conseguia saltar mais do que 5 metros por vez com Lara em suas costas.

— Não devia ter contado a ele? — Irene estava olhando apreensiva para Marko e Jon.

— Do que adiantaria? É melhor ele não saber.

— Não acho muito justo, mas faça como quiser. Vamos logo até a caverna, parece haver um caminho rente a montanha.

— Não te incomoda ser deixada para trás?

— Claro que sim, mas não me sinto culpada por isso como você.

— É porque você não é a líder do grupo onde o líder não é um dos membros mais inúteis… — Joanne parecia realmente decepcionada consigo mesma.

— Sabe, eu sou uma excelente arqueira e me mesmo que não me gabe toda hora, me orgulho bastante disso.

— Do que está falando? Você se gaba disso o tempo todo para mim…

— Irrelevante… O que estou querendo dizer, é que mesmo eu sendo acima do normal em algo, nesse grupo minha utilidade é quase nula. Ao menos você está sendo uma boa líder, seu trabalho era juntar um grupo capaz de completar a missão, e honestamente, ganhamos um bando de loucos, mas eles valem muito mais do que pagamos por eles. Então, sorte ou não, você ao menos está cumprindo seu trabalho de criar um grupo que cumpra o serviço com a baixa verba que temos.

As duas continuaram conversando enquanto desciam para a caverna através do caminho pouco amistoso no penhasco. Quando chegaram na metade, Marko e os outros já haviam sumido da parede de pedra que levava ao castelo. Quando finalmente chegaram a caverna, só puderam ficar incrédulas com o que encontraram lá.

— Só pode ser brincadeira… Eles fizeram tudo aquilo por nada — sussurrou Irene para si mesma, incrédula com o que estava vendo.

Próximo: Capítulo 10 – O diário de Arx

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