Sangatsu no Lion – Um drama estrategicamente jogado | Review

À medida em que ia assistindo Sangatsu no Lion, eu me sentia em um tabuleiro de xadrez (ou shogi, se preferir), não por conta da temática do anime que remete essa ideia, mas sim por realmente me sentir em meio a um cenário estratégico, onde podia observar cada peça se mover de forma a gerar um resultado: criar um nível de drama na vida dos personagens, de maneira que me fizesse ficar preso àquilo por vinte minutos.

Talvez tenha sido mérito da direção, trilha sonora, ou carisma dos personagens, mas essa sensação foi crescendo com o tempo, e ao terminar essas duas temporadas (quatro, se contar cada cour), foi como apreciar uma bela partida, onde observar o movimento de cada personagem, cada passo que eles deram na vida, acaba sendo bem gratificante, e trazendo uma experiência bem particular ao fazer isso.

Um pouco de drama na vida.

Tendo sua segunda season encerrada nessa temporada, Sangatsu no Lion conseguiu fechar bem uma bela história de drama. A primeira temporada já tinha sido bem agradável, apresentando bem os personagens e nos levando a entender um pouco melhor os dilemas da vida do Kiriyama, e de como ele lutava para tentar encontrar um lugar onde pudesse se encaixar.

Essa primeira fase da história conseguiu cumprir bem com seus objetivos, podendo facilmente te ganhar em alguns poucos episódios, como foi meu caso. Acompanhar esse drama sobre aceitação, ou a falta dela, por parte do protagonista é algo que conseguiu ser bem cativante para mim, e rapidamente se transformou em um ponto de interesse dentro da narrativa.

Ver essa construção da amizade entre o Kiriyama e as três irmãs, e a forma como ele lida com a vida profissional de jogar de shogi, assim como o seu passado, e as relações que carrega com a sua família adotiva, foram coisas que me envolveram pouco a pouco, trazendo uma aprendizado sobre questões simples da vida.

E ainda de quebra você aprende um pouco mais sobre esse xadrez diferente.

Enquanto a primeira temporada tem um lado mais voltado para o crescimento e aprendizagem, a segunda toma um ar de amadurecimento, tanto que um dos grandes focos dessa segunda season acaba sendo a Hina e a sua transição para maturidade.

O arco focado no bullying sofrido por ela foi muito bem executado, trabalhando essa questão de abuso de uma forma bem mais ampla, do que apenas mostrar a vitima sofrendo com aquilo. A maneira como fizeram ela protagonizar todos os eventos, e não se deixar abater, mesmo estando para baixo, foi algo que conseguiu ser bem interessante, assim como a intervenção do professor, e toda a resolução do problema com a garota.

É difícil encontrar obras que conseguiam trabalhar isso de maneira simples e direta, sem focar muito em como a vítima é a que mais sofre ali. Sangatsu elabora essa questão em meio a vários outros pontos, mostrando diferentes perspectivas do problema, incluindo a dos professores que precisam se envolver com os alunos, e do próprio agressor.

Acho que foi um dos melhores arcos da série.

O Kiriyami também conseguiu mostrar uma boa evolução nesse aspecto, aceitando a rivalidade com Nikaidou e passando a perceber melhor os círculos de amizade que construiu nesse tempo. A aproximação com o Souya também colabora bastante para dar um contraste entre a vida de ambos, além de revelar uma situação bem complexa de um dos personagens misteriosos que vinha chamando a atenção desde a primeira season.

Em resumo, o que já era bom na primeira temporada conseguiu ficar ainda melhor nessa, com aquele toque particular que a Shaft consegue dar aos seus animes, criando todo aquele simbolismo e instrospectividade em cenas chaves, que ajudam a ter uma sensação ainda mais apurada do que está acontecendo ali.

A construção de alguns personagens secundários também é algo elogiável, sempre trazendo algum aprendizado, ou mensagem nos arcos em que eles recebem foco. Claro, nem sempre o anime consegue fazer isso de forma plena, às vezes se tornando um pouco “parado” demais por contan do foco nos jogos de Shogi, mas no geral, é sempre uma experiência agradável ver um pouco mais do elenco que cerca o Kiriyami.

Além disso, vale ressaltar que Sangatsu no Lion não é um drama “dramático”. Você não vai ter muitas cenas explosivas onde o objetivo é arrancar lágrimas do espectador. No geral, as coisas se desenvolvem em um tom de slice of life, onde, à medida em que você vai conhecendo os personagens, essa carga emocional vai sendo construída junto.

Seja como for, para quem procura um bom drama, Sangatsu certamente vai cumprir esses requisitos com louvor, trazendo como acompanhamento momentos cômicos, reflexivos e bem carismáticos, compactando tudo em uma obra que merece a chance de ser assistido.

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E você, que nota daria ao anime?

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Extra

Um dos episódios que mais marcou, junto do “passado” do Souya.

Entender como o mundo funciona para o Souya foi bem interessante, mas o episódio focado no Kishou foi de uma profundidade que me deixou impressionado. A maneira como transformaram o peso da experiência de vida que ele carregava nessas faixas que cobrem o seu corpo foi algo bem interessante.

Nem preciso falar muito sobre o último episódio, e aquela narração da mãe adotiva do Kiriyama.

Best girl.

Nunca ri tanto, igual foi nessa cena.

Mas o resultado final não ficou ruim.

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.