As Crônicas de Arian – Capítulo 37 – Goblins

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Capítulo 37 – Goblins

— Johan, não se mexa, não podemos atacar agora — Arian estava segurando o ombro do garoto.

Ele não respondeu. Continuava estático, olhando para o grupo de mulheres, que havia parado no meio do acampamento. Os goblins sinalizaram para elas se sentarem, e as garotas obedeceram.

— O que eles estão fazendo? — perguntou Lara, intrigada, afastando um pouco a folhagem que estava bloqueando a sua visão.

— Elas estão molhadas, vão deixá-las ali secando. Se colocá-las dentro da caverna logo depois de se lavarem, iriam ficar doentes e morrer. Os goblins não as tratam bem, mas não querem nenhuma morta.

— São mais espertos do que pensei…

— Não, só aprenderam com tentativa e erro. Muitas devem ter morrido antes de aprenderem que não podiam levá-las molhadas para dentro das cavernas.

Estavam todas sentadas na grama, quase estáticas, era como ver bonecas sem expressão e mal cuidadas. Os quatro goblins tomando conta das garotas começaram a apalpar o peito de algumas delas, incluindo a mãe de Johan. O garoto tentou se levantar, mas Arian o puxou para trás.

— Maldição! Não se mexa, Johan! Eles já fizeram isso com ela milhares de vezes, uma a mais não vai fazer diferença. 

— Como pode ser tão… — O garoto estava olhando furioso para ele.

— Se chama lógica, o que gostaria que meu outro eu tivesse em mais quantidade… Não seja estúpido e emocional como ele. Se seguir meu plano talvez consigamos resgatar sua mãe. Se sair correndo agora, só vai conseguir morrer e matar aquelas garotas no processo.

Arian começou a observar melhor o acampamento, enquanto Johan estava ofegante e com os dentes trincando de raiva a seu lado, vendo os goblins molestando as mulheres.

O local consistia de um círculo enorme no meio da mata, com pouca vegetação, somente grama, terra, e algumas árvores, aqui e ali. No meio tinha uma rocha enorme, com um buraco, onde umas cinco a sete pessoas, no máximo, poderiam entrar ao mesmo tempo. A caverna devia ser bem grande em seu interior, para os goblins estarem a usando como ninho.

A parte estranha é que haviam várias tendas militares espalhadas pelo local, mas não estavam sendo usadas. Os goblins deviam dormir todos dentro da caverna.

Aproximadamente 50 metros à esquerda da caverna, estavam as mulheres, pegando sol, e à direita, a uma distância similar, tinha uma jaula enorme, feita de madeira.   

— Goblins não fazem acampamentos com tendas desse jeito. Os homens dentro da jaula são os mercenários desse acampamento, os goblins devem tê-los pego desprevenidos e tomado o local. Parece ser um ninho recém-criado. A jaula onde colocaram os prisioneiros têm uma divisão, amaldiçoados de um lado e não amaldiçoados de outro — explicou Arian, tentando pensar em um plano.

O lado dos amaldiçoados da jaula tinha mais de 40 pessoas com o corpo todo negro e olhos esverdeados, gritando sem parar, batendo com o próprio corpo, ou mordendo a grade da jaula. Um deles estava se espremendo por entre as grades, até que finalmente conseguiu sair e correu para a mata.

— Agora sabemos de onde estão vindo os amaldiçoados que encontramos na floresta… Eles estão tão magros, que os que ficam tentando se espremer pelas grades acabam conseguindo sair.  Ainda bem que eles não pensam, caso contrário, todos já teriam fugido. E ao que parece, se os que fogem correm para o lado dos goblins, eles os matam, se correm para a floresta, eles ignoram…  

— Por que estão prendendo eles? Não faz sentido — Lara estava observando a prisão, com um olhar intrigado.

— Goblins são sádicos e vingativos. Humanos caçam e matam sua raça a todo momento, e eles os fazem sofrer para se vingar. Aqueles da jaula, que já viraram amaldiçoados, devem ter morrido de fome, por isso são tão magros. Se vivem tempo o bastante, viram comida de goblins, e se morrem de fome, são jogados na jaula dos amaldiçoados. Bem capaz dos que ainda estão vivos matarem uns aos outros para sobreviver também, mas nem todos têm coragem de comer carne humana.

— Foi isso que eu disse que não faz sentido. Os mercenários vivos, tudo bem, mas para que estão juntando amaldiçoados?

— Defesa, talvez…? Nunca vi nada parecido. Mas se forem emboscados por um grupo de aventureiros, faria sentido soltar os amaldiçoados como distração… Mas… Não pensariam nisso sozinhos… Deve ter um goblin alterado comandando eles.

— Explica isso direito! — A garota elevou bastante a voz, mesmo que não estivesse gritando.

— Fala baixo Lara… — sussurrou Arian, enquanto pensava em como resumir rapidamente o que diria a seguir. — Alguns goblins nascem diferentes, eles ficam muito maiores e são mais inteligentes. Tem chance de ocorrer quando procriam com raças diferentes e as crias absorvem características da mãe. Pior ainda, essas crias modificadas geram descendentes que podem evoluir ainda mais.

— Entendi… O que fazemos então? — Lara parecia estranhamente motivada. Arian estava se forçando a ignorar as mulheres, mas ela não parecia realmente dar a mínima, estava ali só pela aventura e um desejo compreensível de matar aquelas criaturas horríveis.

— Esperamos o entardecer, quando a maioria dos goblins vão entrar na caverna, aí matamos os do lado de fora em silêncio, e atraímos os outros de dentro lentamente, até matarmos todos. É a forma mais…

— Mãe! — gritou Johan, como se estivesse sentindo dor.

Arian olhou de novo para o grupo de mulheres. O goblin não estava mais acariciando os peitos da mãe de Johan, mas sim tirando os panos que ela tinha na parte de baixo do corpo e abrindo suas pernas.

— Não! — gritou ele, tentando levantar, enquanto Arian o segurava pelo ombro.

— Só feche seus malditos olhos e pare de gritar, se nos descobrirem perdemos…

— Me solta! — gritou Johan, balançou sua espada na direção da cabeça de Arian, que desviou, mas acabou soltando o garoto no processo.

Alguns goblins pareciam ter ouvido o grito e começaram a se mexer no acampamento. Mas não eram eles que chamaram atenção, e sim um outro grupo de cinco pessoas vindo da floresta, do outro lado da base dos goblins. Estavam gritando sem parar conforme avançavam.

Johan se aproveitou da distração e atacou um dos goblins, que estava mais próximo, pelas costas. A espada do garoto atravessou as costas da criatura de um lado ao outro, e ela caiu no chão sem vida. Depois ele seguiu no sentido das mulheres capturadas. 

— Garoto imbecil! — Arian estava olhando de um lado para o outro, tentando decidir o que fazer.

— Lara, eu cuido dos goblins, você vai na direção daquele criadouro de amaldiçoados e jogue energia da dimensão celestial lá dentro até matar todos. Os goblins vão tentar soltá-los em cima de nós, quando se sentirem acuados. Não tem muitos goblins daquele lado, mas fique de olho nas suas costas.

— E os mercenários vivos?

— Interrogue um deles sobre o que aconteceu prometendo que vai soltá-lo, e depois mate todos. O importante é se livrar dos amaldiçoados. Esqueça a espada de prata agora, sua espada espiritual vai fazer muito mais efeito nos goblins.

— Isso vai ser divertido — disse ela, tirando sua espada e correndo para a prisão de madeira.

Arian tirou suas duas espadas das costas e correu ao encontro dos goblins, que estavam cercando Johan. O guardião rapidamente cortou a cabeça dos três, e avançou, matando os que corriam na direção dele.

Foi quando ouviu um grito. O grupo de aventureiros, que estava atacando o ninho pelo outro lado, já estava em quatro pessoas. Um acabara de ser morto, e a arqueira deles tinha sido capturada por um dos goblins. Estavam usando-a para obrigar o grupo a soltar as armas.

— Não soltem as armas! Eles vão matar vocês assim que fizerem! Ataquem! — gritou Arian, o mais alto que pôde para o grupo.

Eles devem ter escutado, porque um deles decidiu avançar para cima do goblin que estava segurando a garota.

“Bondade a sua”.

“Eles estão distraindo metade dessas pragas. Eu seria burro se deixasse eles morrerem”.

Arian voltou a se atentar a seu lado do acampamento. Os quatro goblins, que estavam com as mulheres capturadas, tentavam fazê-las levantar, para levá-las para dentro da caverna. Mas as prisioneiras não estavam obedecendo. Não atacavam eles, mas algumas estavam se recusando a ficar de pé.

Arian foi na direção delas, com Johan correndo atrás. Mas bem antes de chegarem perto, uma saraivada de flechas começaram a voar do centro do local. Cinco goblins, usando arcos pequenos, estavam atirando neles de dentro da caverna. Ao mesmo tempo, um bando de goblins começaram a sair de dentro do esconderijo deles, com armas de diferentes tipos.

— Que droga! Johan, corte a cabeça, ou eles voltam para te pegar pelas costas! Eles se fingem de morto assim que você os ferir mais gravemente. E fique atrás de mim, a não ser que saiba desviar de flechas.

Arian desviava das flechas e bloqueava outras usando a espada, estava dividindo sua atenção com o que saía de dentro da caverna, e os goblins vindo correndo pelas suas laterais. Tinham poucos vindo pelas costas. Johan parecia saber o básico de combate, e estava conseguindo lidar com eles.

Do outro lado da base, o grupo de aventureiros tinha conseguido resgatar a arqueira, mas outro membro tinha morrido. Estavam em três agora, dois cavaleiros de armadura, espada e escudo, na frente, e a arqueira resgatada, atrás deles. A garota estava pedindo para eles recuarem, mas os dois guerreiros queriam vingar os amigos mortos, e continuavam tentando avançar. Devia ter uma outra saída da caverna, só isso explicaria tantos goblins surgindo em cima do grupo deles e do de Arian, ao mesmo tempo.

Do nada, todos se viraram para as jaulas de madeira, de onde veio uma gritaria ensurdecedora. Era Lara matando os amaldiçoados. Arian se aproveitou da distração para matar as criaturas que estavam no caminho e chegar até a entrada da caverna. Já tinha perdido a conta de quantos goblins tinha matado.

Os arqueiros continuavam atirando, e a aquela distância estava ficando difícil bloquear. O buraco da entrada era maior do que parecia de longe, e um cheiro horrível vinha lá de dentro, uma mistura de podridão com fezes. Vários goblins continuavam saindo, pareciam formigas. Mas não eram só eles, algumas mulheres, todas com uma aparência suja, roupa rasgada e parecendo mais mortas que vivas, saíram da caverna e estavam caminhando na direção deles, enquanto os goblins apontavam espadas nas costas das garotas.

Arian avançou para cima deles ignorando as reféns. Duas delas morreram, com os goblins atravessando facas pelas costas das mesmas. As outras três, agora livres, começaram a andar como zumbis, na direção do grupo de 13 mulheres. Uma delas estava toda machucada. Um goblin estava abrindo cortes em sua pele, na tentativa de fazê-la obedecer.

“Ameaça inútil, morrer é o que elas mais desejam depois de tudo que passaram”.

Se houvessem vários goblins, elas teriam sido arrastadas à força para onde eles quisessem. Mas como a maioria estava ocupado com a ameaça ao acampamento, tinham apenas sete com elas.

Mais uma mulher veio de dentro da caverna, sendo usada como refém. Arian a ignorou e matou o goblin atrás, ferindo o braço da garota no processo.

“Cuidado!”

“Ela está viva, se está achando ruim pode trocar comigo”.

— O que está fazendo? — perguntou Johan, enquanto tentava matar um goblin que veio por trás deles.

— Se cair na ameaça deles você morre! Ignore as reféns, e tente matar os goblins atrás. Eles não esperam por essa reação. Essas mulheres estão quase mortas mentalmente, nem pense em se sentir culpado por matar uma delas enquanto tenta se defender. Olha o que aconteceu com o outro grupo.

Johan olhou para eles, só um cavaleiro e a arqueira ainda estavam vivos. Não sabiam o que fazer contra os goblins usando garotas como reféns.

— Ataquem seus idiotas, ou vocês vão morrer! — gritou Arian.

O cavaleiro, em um movimento estranho, tentou acertar o goblin que segurava a garota, mas errou e acertou um pedaço do pescoço dela, que caiu no chão agonizando. A arqueira se desesperou e foi até a mulher, mas acabou pega por um dos goblins antes disso. Agora a criatura estava ameaçando matar a garota, se o cavaleiro não soltasse a arma. O cavaleiro recuou. Mas a garota, em um movimento inesperado, tirou uma faca da cintura e cravou na garganta da criatura. O cavaleiro a ajudou a levantar, e eles voltaram a avançar.

Arian continuava a girar de um lado para o outro com suas duas espadas, enquanto arrancava a cabeça dos goblins com golpes secos. Sua espada de prata quebrou, mas ele tinha duas reservas na cintura.

Já estavam perto do grupo de mulheres com a mãe de Johan, várias machucadas, graças a não estarem obedecendo aos goblins.

De repente, as flechas de dentro da caverna pararam de vir, e um humanoide verde de três metros de altura saiu de dentro do local. Sua pele lembrava a dos goblins, escamosa e enrugada, mas seu rosto tinha traços mais brutos, provavelmente a cria de um gigante da floresta com um goblin. Seu corpo era todo musculoso, e seus dentes pontiagudos. Seus olhos verdes e cabelo preto caindo para trás da cabeça, davam uma aparência quase humana.

Os goblins pararam de vir, apenas observavam a situação, aguardando o comando do líder.

— O que é isso?! — Johan recuou um pouco, assustado com a criatura.

— É o líder! Deixe-o comigo, mas continue vigiando minhas costas.

Nesse momento, a mãe de Johan e mais duas, começaram a ser arrastadas no chão pelos goblins. Queriam levá-las para dentro da caverna a todo custo. 

— Eu tenho que ajudar minha mãe — disse Johan, em desespero, correndo até as prisioneiras.

— Não! Espera…

O garoto não ouviu, e se dirigiu correndo ao grupo de mulheres, que ainda estava a vários metros de distância. Assim que viram Johan, dois arqueiros, perto da entrada da caverna, atiraram. Arian pulou para o lado e bloqueou uma das flechas, mas a outra o acertou raspando na perna. Ele caiu, assustado, mas se levantou e voltou a correr. As flechas pararam, eles deviam estar com medo de acertarem as mulheres, devido a proximidade. No momento tinham dez goblins tentando arrastá-las, enquanto elas resistiam.

Arian voltou sua atenção para o líder dos goblins, que avançou sobre ele. O guardião desviou por pouco do machado enorme do goblin alterado, e tentou vislumbrar o que tinha ocorrido com Johan.

O garoto estava cercado. As mulheres tentavam atrapalhar os goblins à volta dele, se jogando sobre suas costas e agarrando suas pernas. Johan tinha matado apenas dois, de sete. Um deles abriu um corte na perna direita do garoto, que caiu.

O líder deles gritou alguma coisa, e vários goblins correram até Arian, com armas em punho.

— Maldição! — gritou Arian, sendo atacado por todos os lados e ainda tendo que se preocupar com o líder, que vinha novamente com seu machado até ele.

Pulou para o lado, arrancou a cabeça de dois goblins e desviou de outro golpe do goblin gigante. Logo após, arremessou as duas espadas em sua mão contra alguns goblins que estavam cercando Johan, matando dois deles, e deixando os outros confusos o bastante com o que ocorreu para dar uma chance de Johan matá-los. Depois, pulou para trás do gigante, que avançava novamente contra ele. Tirou sua espada bastarda e cortou o tornozelo da criatura, que caiu de joelhos. Arian se jogou para trás, desviando dos braços do monstro, que tentou agarrá-lo. Em seguida, o guardião girou rapidamente com a espada, cortando ao meio quatro goblins que estavam tentando pegá-lo pelas costas.

Quando se virou para o goblin alterado novamente, já era tarde para desviar, só teve tempo de colocar seus braceletes cruzados à frente do corpo, para evitar que o machado o partisse ao meio. O choque da arma com o metal da armadura de Arian produziu um barulho muito alto. A lâmina do machado da criatura foi estilhaçada com o impacto, e Arian jogado vários metros para trás.

Ele rapidamente recuperou sua postura, mas se fosse um humano normal teria quebrado os dois braços. Seus braceletes estavam intactos, provando que o machado do gigante era menos letal que as lâminas de ar de Malak, que os tinham quebrado dias atrás. Eles já estavam como novos, tirando o fato de terem afinado, já que usam o metal das partes inteiras do bracelete para refazer as quebradas.

Se aproveitando da distração do inimigo, com o fato da lâmina de sua arma ter quebrado, e Arian estar vivo, o guardião correu e deu um salto na direção do monstro, mirando a espada na cabeça.

A criatura colocou os braços na frente, desviando a trajetória da espada, que cortou apenas uma parte do seu ombro, ao invés da cabeça. O gigante gritou de dor, quando Arian retirou a espada e se jogou para trás. O goblin alterado avançou contra ele, com um grito de fúria.

— Gritar não te deixa mais forte, seu idiota, só mais burro!

Arian correu na direção do inimigo. Quando se aproximaram, desviou do que restava de sua arma e cortou o braço da criatura. Depois desviou do outro braço, que tentou acertá-lo com um soco, e o cortou também. Por fim, deu um salto e arrancou a cabeça do monstro, que caiu com um estrondo no chão.

Vendo o líder morto, os goblins restantes do local pararam o que estavam fazendo, e começaram a recuar, desesperados, para a floresta.

Do grupo de aventureiros, apenas um cavaleiro e a arqueira sobreviveram. Eles estavam correndo até Arian.

Johan ainda lutava contra dois goblins restantes, que não pareciam dispostos a fugir sem as mulheres.

— Morre seu desgraçado! — disse o garoto, arrancando a cabeça de um deles. Lara apareceu correndo e matou o outro, logo depois. Já devia ter acabado com os amaldiçoados e mercenários.

Mesmo machucado, e aparentemente exausto, Johan foi correndo soltar as cordas que prendiam os braços de sua mãe, que estava meio hipnotizada olhando para ele. Lara cortou as cordas das outras garotas rapidamente com sua espada espiritual.

“Pare-a!”

— Lara não! — gritou Arian, correndo até eles.

Assim que ela cortou a corda, a elfa grávida pegou a faca de um dos goblins mortos e começou a golpear a própria barriga, de forma desesperada. Arian chegou correndo e a parou acertando um soco em seu rosto, que a fez desmaiar no mesmo instante. Mas ela já estava cheia de ferimentos na barriga.

— O que ela…? — Lara parecia horrorizada.

— Estava tentando matar a coisa dentro dela… Como iria se sentir se tivesse um deles crescendo dentro de você? — Ele apontou para os goblins mortos à volta deles. — Quase todas as grávidas que vocês soltarem vão fazer isso. E algumas que não estão grávidas vão tentar se matar também, então não as soltem.

Arian rasgou um pedaço de sua capa e tentou parar o sangramento da barriga da elfa. As outras mulheres se aproximaram, tentando ajudar a garota, ainda desmaiada.

O cavaleiro e a arqueira chegaram até eles logo depois.

— Podemos nos juntar a vocês? Acabamos de perder mais da metade do nosso grupo — disse o cavaleiro, parecendo exausto. A arqueira que estava atrás dele tentava segurar as lágrimas, devido a perda dos aliados.

— Eu vi… Eu não quero a recompensa, é tudo de vocês, só me ajudem a salvar essa meio-elfa.

O sangue não parava de escorrer da barriga da garota.

“Peça ajuda a Lara!”

“Se ela usar energia demais nisso e não tiver para si mesma caso acabe ferida gravemente, você se responsabiliza pela morte dela?”

“Não… Eu…”

— Lara, pode tentar parar o sangramento da barriga dela, sem gastar muito da sua energia?

— Talvez. 

Lara foi para o lado dele e colocou a mão sobre a barriga da elfa. Uma luz dourada começou a emanar de sua mão.

— Arian… — Johan estava observando alguns goblins tentando carregar mulheres com barrigas enormes saindo da caverna.

Arian se preparou para correr até elas, mas um som chamou sua atenção.

De repente, muitos gritos começaram a vir da floresta, eram de goblins. Estavam voltando.

— Essa não… — Arian parecia meio perdido quanto ao que fazer.

— O que foi? — perguntou Lara, que ainda estava tentando parar o sangramento na barriga da meio-elfa com magia.

— Reforços. Assim que atacamos, alguns deles devem ter corrido para chamar ajuda no ninho mais próximo, e ele deve ser dos grandes…

Vários goblins começaram a aparecer de todos os cantos da floresta. Estavam gritando algo. Deviam ter mais de 1000 os cercando.

— E agora? — perguntou o cavaleiro.

— Eu não sei… Nunca enfrentei algo assim… — Arian olhava de um lado para o outro, tentando achar uma saída para a situação deles. 

— Vou me lembrar de nunca mais te fazer pedidos para aventuras… — disse Lara, que tinha finalmente conseguido estancar o sangue escorrendo da barriga da meio-elfa.

<E>, que estava empolgada com a batalha de antes, no momento, parecia preocupada.

— Agrupe as mulheres, Johan. Lara, não economize energia da espada, vamos com tudo e talvez eles se assustem. A arqueira fica no meio, nós três ficamos em volta das mulheres, formando um círculo. Se ficarmos próximos a elas, eles não vão usar flechas, com medo de matá-las.

Lara se levantou e foi para perto de Arian. Ela parecia ter levado a sério a parte de não economizar energia da arma, porque sua espada estava liberando mais ar gélido que o normal. Os outros se posicionaram como Arian instruiu.

Haviam três líderes, bem maiores que os outros goblins. Com um grito de um deles, os goblins avançaram de todas as direções. Quando chegaram neles,  Arian e Lara começaram a girar suas espadas ferozmente no ar, matando vários a cada golpe.

Lara deu um grito, e uma luz branca saiu de sua espada, congelando mais de 20 goblins em linha, de uma vez só. Sempre que ela movia a espada, uma linha de ar gelado matava várias das criaturas em uma área pequena a sua frente, mas elas continuavam vindo, parecendo não ter fim.

O cavaleiro do outro grupo, que estava perto de Lara, caiu no chão, e vários goblins pularam sobre a sua cabeça. Mas nenhuma das lâminas o acertou, graças a armadura o protegendo. Logo depois, no entanto, os goblins miraram nas partes sem armadura. Mas antes que conseguissem acertá-lo, a arqueira correu e usou o próprio corpo para empurrar todos os goblins que pularam sobre ele. Ela o salvou, mas acabou esfaqueada ao deixar suas costas expostas. A garota caiu agonizando sobre o corpo do cavaleiro, e logo depois começou a ser puxada pelos goblins.  Vendo isso, ele se levantou, em fúria, indo para cima das criaturas.

— Soltem-na! — gritou de forma estridente, enquanto matava um deles, e depois outros, e outro. Seus olhos eram de puro ódio e desejo de vingança. Com um urro ele avançou mais um metro e chegou na arqueira. Mas assim que encostou nela, três goblins o pegaram pelas costas, dando várias facadas nas partes onde a armadura não protegia. Depois mais três vieram pela frente e cravaram suas espadas em seu pescoço. Sangue escorria por várias partes de seu corpo, enquanto o guerreiro caía no chão, já morto, levando consigo a última imagem que viu: sua namorada morta, sendo arrastada e despida por um bando de criaturas horrendas.

Uma pilha de corpos estava se formando à volta deles, ficando cada vez mais difícil de se mexerem. Arian e Lara tinham se afastado um pouco do grupo de mulheres, que agora, sem o cavaleiro para bloqueá-los, estavam sendo arrastadas por vários goblins. Quando pegaram sua mãe, Johan se desesperou, abandonou sua posição, e tentou avançar no meio dos goblins. Ele matou dois deles.

— Morram seus desgraçados! — gritou, furioso. Mas parou de falar quando seu peito foi perfurado por duas espadas curtas. O garoto caiu de joelhos. — Não! Não…! Alizen, por favor, nos ajude! Arthurian! Julius! — gritou ele, o nome dos deuses que lembrava, desesperado, vendo sua mãe ser levada pelas criaturas, sem poder fazer nada.

“Ajude-o!”

Arian tentou ir até Johan, mas não conseguia se mover direito em meio às pilhas de corpos.

— Malacastor… Lan-cast… Lunar… Alguém! — implorou o garoto, pela última vez, enquanto um dos goblins cortava seu pescoço.

Arian virou os olhos, tentando ignorar a raiva que estava sentindo, e se concentrar em permanecer vivo. Ainda podia aguentar mais um tempo, mas Lara estava ficando sem fôlego.  

— Lara, se meus olhos ficarem azuis, corra até os cavalos e saia daqui o mais rápido que puder. Apenas siga em direção ao sol que você voltará ao vilarejo, mesmo com o tempo nublado, você pode ver ele através das nuvens.

— Não vou te deixar aqui! Eu sacrifiquei tudo por isso! — disse ela, usando sua espada para matar mais um punhado de criaturas em linha, que foram congeladas e estilhaçadas em pedaços logo depois.

“O que ela quis dizer?”.

“Não tenho a mínima ideia, mas não é um bom momento para perguntar”.

— Arian, pule quando eu mandar!

Lara levantou sua espada e gritou o nome do dragão cuja alma a habitava. 

— Arcadian! — Os olhos dela mudaram de cor para um azul claro brilhante e um rosnado aterrador de um dragão pôde ser ouvido, vindo de sua espada. A arma começou a emitir uma luz azul, e um vento absurdamente gélido estava saindo dela.

Os goblins pararam com medo. Os líderes, mais atrás, recuaram um pouco e ficaram observando a espada de Lara.

— O que vai fazer?

— Vou cravar a espada no chão e congelar o acampamento inteiro. Não vou poder usar a magia da espada por alguns dias depois disso, mas talvez eles fiquem com medo e desistam. Se você pular no mesmo momento que eu liberar a energia da espada no chão, vai ficar bem.

“A meio-elfa vai ser congelada junto, pare-a!”

“Cale a boca! Lara vai acabar morta, porque você está obcecado com a elfa”.

Um brilho azul forte surgiu da espada de Lara, junto ao berro sonoro de um dragão, sinalizando que a arma tinha reunido energia o bastante para o que Lara iria fazer. Os líderes dos goblins gritaram algo, e os subordinados voltaram a avançar contra eles, no mesmo instante em que Lara estava para cravar sua espada no chão. Nesse momento, o chão começou a tremer abaixo deles.

— Gigantes? — perguntou ela, parando seu movimento, pouco antes da ponta da espada encostar no chão.

— Não…

A terra começou a explodir conforme raízes saíam do chão e começaram a prender todos os goblins, perfurando seus corpos no processo. Em pouquíssimo tempo, todos os goblins do local estavam imobilizados. Só Arian, Lara, o corpo de Johan, das mulheres, e dos outros aventureiros, não tinham sido afetados.

— Criaturas nojentas, parem de poluir a minha floresta! — gritou uma mulher caminhando lentamente por entre as árvores, até Arian e Lara.

As raízes começaram a entrar de volta na terra, puxando as criaturas que prenderam junto. Em um piscar de olhos, o local estava deserto.

Cabelos pretos, lisos e absurdamente longos, olhos verdes brilhantes, e usando um vestido bem colado ao corpo, que misturava preto e verde. Arian lembrava de uma descrição idêntica, só não acreditava que aquele ser existia.

“Um dos heróis lendários…?”

— Lunar… — disse ele, incrédulo.

Próximo: Capítulo 38 – A bruxa

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