As Crônicas de Arian – Capítulo 10 – 100 entram, só 8 saem

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Capítulo 10 – 100 entram, só 8 saem.

O primeiro combate eliminatório era bem injusto. Determinadas armas davam vantagem, e todos sabiam disso. Mas regularizar o armamento fez os combates perderem público no passado. Então agora valia tudo, tirando armamentos explosivos ou de longa distância.

Dentro da Arena, mais ou menos 100 pessoas estavam recebendo instruções.

Tiveram mais de 2000 inscritos, mas só selecionavam os 100 com melhor histórico. A pessoa podia oferecer uma lista com seus feitos no exército, rank em guilds conhecidas, dar apenas o nome caso fosse muito conhecida, ou até seu histórico de lutas dentro da própria Arena. No caso de Arian e Marko, bastou mostrarem alguns distintivos militares, dados a combatentes de alto nível, que já entravam fácil dentro da lista dos 100 escolhidos.

Ainda era cedo, mas no centro da Arena já estava bem quente, provavelmente devido à multidão nas arquibancadas gritando. Era um número absurdo de pessoas no mesmo espaço. Arian estava ficando incomodado com a areia, que estava esquentando suas botas.

Ele estava no centro do lugar com os outros participantes, todos à vista do público, recebendo instruções de um homem moreno. A roupa do homem era muito estranha, uma mistura de preto, amarelo e vermelho. Arian estava supondo que a ideia era chamar atenção mesmo. Os cabelos longos, entrelaçados, e a magreza, davam um aspecto ainda mais exótico.  

— Este ano, estamos usando colares em vez de braceletes, mas o funcionamento é o mesmo. Se tirarem o colar de medição, serão desqualificados. Fiquem com ele enquanto estiverem na competição.

— O Cristal azul no colar apaga assim que você ficar abaixo de 70% de energia espiritual. Ninguém usa mais que 30%, mesmo em reações involuntárias, então, creio que seja obvio, não usem magia… — O homem moreno continuou a dar instruções de forma bem tediosa. Devia estar cansado de repetir sempre o mesmo discurso, pensou Arian.

— Arian, se afaste de mim, não quero chutar sua bunda tão cedo, não iria ter graça. E não esqueça do trato que fizemos — disse Marko, assim que o homem à frente deles terminou as instruções.

Arian obedeceu o amigo e foi para outra ponta do aglutinado de pessoas. Minutos depois, entendeu o porquê do pedido.

Dividiram as 100 pessoas em oito grupos, cada um deles ocupando uma plataforma de madeira diferente, e todas distribuídas a uma distância semelhante uma da outra. Elas formavam duas linhas, cada uma com quatro plataformas uma atrás da outra e uma distância de 10 metros as separando. Isso ocupou quase todo o espaço do meio da Arena.

As plataformas se assemelhavam a palcos quadrados, a cerca de 1 metro do chão cada um. Assim que subiu nelas, Arian notou que eram muito pequenas para tantas pessoas, variando de 10 a 13 participantes por plataforma. Cada um deles estava a poucos metros um do outro.  

Não houve sorteio, simplesmente pegaram as pessoas mais próximas para colocar em cada uma delas. Se tivesse ficado próximo a Marko, ambos acabariam na mesma plataforma.

— E neste belo dia, começamos mais um torneio na gloriosa Arcadia! Estão prontos? – Falava o homem moreno no centro da Arena, se dirigindo ao público. Ele parecia bem mais alegre agora.

Uma gritaria intensa começou nas arquibancadas.

— Temos campeões demais aqui. Precisamos de uma eliminação. Portanto, só os sobreviventes de cada plataforma permanecerão no torneio.

A plateia voltou a gritar.

— <E>, de onde tirou isso? — perguntou Arian, observando o que a garota estava vestindo. 

<E> apontou para uma mulher de armadura de aço, cobrindo o corpo todo, a esquerda deles. <E> estava saltitando de empolgação, vestida a caráter com a armadura copiada da mulher.

Ao observar melhor, entendeu porque achou a armadura familiar. Os símbolos em vermelho e design elegante eram difíceis de confundir. A vestimenta pertencia aos guardas de elite de Arcadia. Mas o que um deles estava fazendo ali? Eles ganhavam por mês quase o valor do prêmio do torneio. De qualquer forma, com aquela armadura reluzente e cheia de adereços em vermelho, ela seria o alvo mais chamativo da plataforma.

— As regras são simples. Quem cair para fora da plataforma, ou morrer, está eliminado. Os que quiserem desistir pulem para fora. Campeões, que o melhor vença! — disse o comentarista.

Arian estava prestando atenção nas instruções quando foi pego de surpresa.

— Ai! — Levou um soco na cabeça que o jogou no chão e deixou completamente zonzo. Pensou que haveria um aviso ou preparação, mas aparentemente não.

Parece que haviam esquecido dele depois que caiu. Olhou para o lado, e viu o caos nas outras plataformas. A maioria se atacando aleatoriamente, outros fazendo grupos para eliminar os adversários mais ameaçadores primeiro. Alguns usando armas enormes, muitas espadas, facas, poucos desarmados. Toda vez que alguém morria, ou era jogado para fora, a plateia vibrava.

Ele não chamava atenção o bastante para ser uma preocupação em sua plataforma. Não sabia se ficava feliz com a sorte, ou infeliz pelo orgulho ferido.

— O que está fazendo, seu idiota? Levante e jogue essa gente pra fora! — gritou Marko, na plataforma ao lado. Parecia estar dominando seus adversários sem problema algum. Metade dos participantes de sua plataforma já estavam fora, e a outra aparentava estar aterrorizada demais para atacá-lo. Ele estava segurando um homem no ar, pela cabeça, enquanto falava com Arian.

<E> estava tentando levantar Arian, puxando seu braço.

Arian deu uma risada leve, mas logo se assustou ao notar que um dos homens da plataforma estava o empurrando para fora com o pé.

“Já é hora de levar isso a sério”, pensou. Ele então se levantou, agarrou o braço do homem que o estava empurrando, e o jogou para fora.

Mais dois homens voaram da plataforma, um seguido do outro. Arian estava lutando sem as espadas, só derrubando os adversários com as mãos nuas e os jogando para fora. Matar era desnecessário, e causava mais problemas que vantagens na maioria daqueles torneios. Se você matar um nobre pode acabar com um bando de assassinos contratados pela família atrás de você pelo o resto da vida.

Agora parecia ter chamado atenção. Uma mulher, usando uma armadura leve de couro, se posicionou atrás dele, e um homem com um machado enorme, vinha em sua direção pelo lado contrário. Arian desviou do golpe do machado, que acertou parte do rosto da garota atrás dele.

— Martan… Desculpe… — disse o homem, enquanto a mulher colocava a mão no rosto.

Mesmo parecendo apenas um corte superficial, ele ficou horrorizado com o que fez. Eram um casal? Arian deu uma risada e acertou um chute nas costas do homem, seguindo com um soco no meio do peito da mulher. Ambos voaram para fora da plataforma.

Esqueceu de se controlar. Um humano normal não teria força para chutar uma pessoa tão longe. Por sorte, tinham coisas demais acontecendo, e outros mais fortes que o normal ali no meio, chamando mais atenção que ele.

Duas pessoas pareciam gravemente feridas no chão, ele e mais 3 restavam em pé. Agora duas. A mulher de armadura militar, espada e escudo que <E> copiou, acabara de atravessar sua espada pelo peito do homem com o qual estava lutando.

Os três restantes se olharam, e depois observaram rapidamente dois participantes no chão, agonizando.

A mulher do escudo fez um sinal de trégua. Arian e o outro, que parecia um camponês inofensivo vestido em trapos, balançaram a cabeça concordando.

A mulher puxou os dois feridos para fora, de forma a poderem receber cuidados antes que morressem. Arian achou aquilo irônico, depois de tê-la visto matar um homem sem nem piscar.

Podia parecer misericórdia, mas provavelmente, seu interesse era que os corpos não atrapalhassem a movimentação dos que ainda estavam de pé. 

Assim que a mulher terminou de colocar os dois feridos para fora, o homem vestido em trapos veio correndo em direção a Arian.

O guardião tentou agarrar seu braço e jogá-lo para fora, como fez com os outros, mas foi inútil. O camponês não se moveu quando ele o puxou, tinha uma força estúpida nas pernas, e era mais pesado do que parecia. Em vez disso, Arian que acabou arremessado para a beirada da plataforma.

Estava por pouco de cair, não esperava que o homem tivesse tanta força. O homem veio com um soco mirando seu rosto.

Arian parou o soco com uma mão. O chão abaixo dele, feito de madeira, trincou com a pressão da tentativa de segurar o golpe e se manter na beirada da plataforma.

— Como você…? — Tendo perfeita noção de sua força, pelo menos três vezes acima de um humano normal, o homem parecia incrédulo em como Arian segurou o soco.

O guardião estava na vantagem, mas antes que pudesse contra-atacar usando a surpresa do adversário, o homem recuou para direita, e Arian não esperava o que veio a seguir.

Assim que a figura do camponês sumiu de sua vista, surgiu a mulher de espada e escudo, que estava atrás do homem, esperando uma oportunidade para atacar. A espada dela veio a toda velocidade na direção do pescoço do guardião.

Arian subestimou seu primeiro adversário, e ignorou a oficial, e iria pagar o preço por isso.

Próximo: Capítulo 11 – Os 8 campeões

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