As Crônicas de Arian – Capítulo 1 – Uma noite ruim

Capítulo 1 — Uma noite ruim

— Tem certeza? Precisamos de pessoas como você! Se não fizermos nada, aqueles malditos do norte vão acabar com nossa fonte de água, e o Sul inteiro irá perecer. Você pode fazer a diferença…

O oficial estava o amolando na porta do bar há mais tempo do que conseguia lembrar. Robert não queria desrespeitá-lo, mas começou a, educadamente, ignorar o discurso de recrutamento, e voltando sua atenção para o que ocorria dentro do Bar, afinal, esse era seu trabalho.

A conversa na mesa próxima a ele parecia muito mais interessante do que a ladainha daquele oficial.

— Dois moradores da cidade viram um vulto circulando pela floresta, parecia vestir um manto negro todo rasgado. Três dias depois, todos os mercenários da redondeza desapareceram. Estão o chamando de cavaleiro da morte… — disse um dos militares mais jovens da mesa, tentando fazer uma voz fantasmagórica.

— Acredita mesmo nessas bobagens? São só histórias que o povo anda inventando para afastar os bandidos — falou um outro militar, bem gordo e com aparência mais velha, à frente dele.

— Eu até pensei isso, mas a cada dia, mais cidades do sul dizem tê-lo visto — argumentou o jovem.

— Na vila anterior que acampamos, dizem que ajudou um casal sendo atacado pela milícia. Na manhã seguinte, todos do quartel da milícia que haviam tomado a pequena cidade há 1 ano, estavam mortos, empilhados sem cabeça na frente do quartel — falou outro dos oficiais na mesa.

— Dizem que há alguns meses apareceu um cavaleiro com mais de 2 metros, usando uma armadura negra e que está servindo de guardião na vila de Alivis, que fica a pouco tempo daqui. Será que é ele? — voltou a comentar o jovem.

— Acredito mais nisso do que na versão de cavaleiro da morte que veio pegar a alma de bandidos… Seja lá quem for que inventou isso, é um gênio. A atividade dos mercenários e bandidos nessa região reduziu bastante recentemente, muito graças a esses rumores. — disse o oficial mais velho.

Robert já tinha ouvido falar do tal vulto de capa negra rasgada. Era um maluco vestido de preto, ou uma assombração de verdade? Tinha ficado curioso com esse cavaleiro negro em Alivis, talvez valesse a pena dar uma passada na cidade durante sua próxima folga.

O bar estava mais cheio que o normal, graças a uma guarnição militar voltando da fronteira do Sul com o Norte, a maioria deles ficaram de prontidão no acampamento que fizeram perto da cidade, só os de maior patente estavam ali. Se o bar estava cheio só com os oficiais, Robert imaginava em quantos eles deveriam estar, contando com os soldados.

Era tanta gente que eles precisaram colocar mesas extras do lado de fora, algo bem raro. Em dias normais era difícil juntar mais de 50 pessoas ali dentro, o que era o limite para aquele modesto bar. Por sorte, Jeff, o dono do local, também possuía o único mercado da vila, que ficava a alguns metros dali. Com isso, suprir a demanda acentuada de clientes daquele dia não era um problema.

O clima do lado de fora estava muito melhor. O vento vindo do lago que ficava a alguns metros do bar, era extremamente refrescante naquele calor. E a floresta de árvores gigantes em torno do local, junto a lua cheia, gerava um belo cenário. O dono do local o disse uma vez que foi por isso que construiu o bar aqui, ao invés de dentro do vilarejo, como seria mais natural. “Devia ter feito da área externa a principal então…”, pensou Robert, suando sem parar, enquanto invejava os clientes sentados a poucos metros do lago. Dentro do bar, estava um inferno de quente, ainda mais com toda aquela gente.

“Que droga Jeff, pare de usar tantas velas…”, pensou o homem. Jeff fazia questão de acender todas as velas dos quatro candelabros presos ao teto. Isso podia deixar o ambiente bem claro, mas também ajudava a esquentar muito mais o local. A madeira ali dentro era clara e o ambiente mais limpo que a maioria dos bares da região, então nunca viu necessidade do excesso de iluminação.

Mapa da região

 

Robert trabalhava ali há 1 ano como segurança. Não era um serviço ruim, na maioria do tempo nada acontecia, só precisava ficar na porta fazendo cara de poucos amigos. Os seus 2 metros de altura e físico avantajado, devido aos anos trabalhando no campo, faziam o resto. E claro, sua cara feia unida a um cabelo preto, curto e bagunçado.

Quando era mais novo, trabalhava na fazenda dos pais, mas depois que morreram e uma praga tomou conta do campo, ele teve que vender a fazenda. Não sabia o que fazer depois disso. Tentou trabalhar em outras fazendas, mas todos pareciam ter medo dele. Quando o dono do bar o viu na rua e lhe ofereceu o emprego, não conseguia acreditar em sua sorte.

Achava engraçado como ser feio tinha o ajudado a conseguir o emprego. “Quanto mais assustador melhor”, disse o dono do bar, Jeff, enquanto ria.

Nada a reclamar. Pagava bem, e a maioria do tempo era um serviço tranquilo. De vez em quando, infelizmente, haviam noites mais turbulentas, como aquela.

Vozes altas, e alguns oficiais já bêbados, começaram a falar bobagem para as duas garçonetes, que mal estavam dando conta do serviço, com tanta gente a mais que o normal. “Vamos lá, só bebam até cair e vão embora, não quero problemas com o exército”, pensava o segurança repetidamente. O suor do calor e nervosismo já começava a aparecer em sua camisa branca com a gola desabotoada.

Na beira do bar, clientes comuns do vilarejo batiam papo. Quer dizer, menos um homem, coberto em um manto verde desgastado.

A cabeça, como sempre, estava coberta pelo capuz que fazia parte da capa. Ele ia lá toda noite. O homem era bem tranquilo. A idade era difícil dizer pelo capuz e  pela barba cobrindo o rosto, mas parecia ser novo, algo entre 20 e 30 anos, principalmente pela voz.

Tinha o estranho hábito de falar sozinho olhando para o lado, e de vez em quando começava a rir do nada. Inicialmente, Robert achava que ele era maluco, mas, como todo resto do comportamento era normal, não tinha certeza. A espada enferrujada que carregava na cintura era outra coisa peculiar, ele tinha algum apego a arma ou era só um mercenário sem dinheiro para comprar uma melhor.

Não parecia fraco, mas o físico não era muito proeminente, nem a altura, perto de 1 metro e 80 centímetros. Se chamava Arian, um nome que estava ficando muito popular ultimamente e trazia sentimentos mistos a qualquer morador do Sul.

Robert ficou surpreso quando o homem foi contratado há 2 meses como guardião do vilarejo. Desde então, visitava o bar toda noite para comer algo

Sempre desejou aquele ofício. Guerreiros solitários que protegiam as pessoas, era o que imaginava quando ouviu falar neles pelo seu pai: “Guardiões são mercenários contratados que valem por vários homens juntos. Eles sozinhos conseguem manter toda uma pequena cidade segura!”.

A verdade, no entanto, não era tão bonita. Eles em sua maioria não eram tão fortes e morriam com frequência, como ocorreu com o guardião anterior que Arian substituiu. Os que andavam sozinhos por aí eram raros, e a maioria trabalhava em grupos de 2 a 5. Também era comum os casos em que exploravam a cidade que deveriam proteger, tornando-se praticamente os donos do lugar.

As cidades grandes tinham soldados para sua proteção, e as de médio porte tinham guardas improvisadas, mas vilarejos muito pequenos não recebiam auxílio militar do governo, parece que os impostos não eram o bastante. Podiam pedir ajuda em emergências, mas até os soldados chegarem, a cidade já teria sido saqueada.

A maioria dos moradores evitava o guardião, mas um deles foi falar com ele. Estava sorrindo. Talvez estivesse agradecendo, já que desde que aquele homem chegou à cidade, as tentativas de roubo e invasões de fazendas à volta do local estavam cada vez menores, assim como os saques no pequeno centro comercial. Nunca o vira em ação, no entanto, imaginava se não seria o rumor sobre o cavaleiro da morte que estava espantando os saqueadores da vila e Arian era apenas sortudo.

No momento, Robert pensava nele como seu melhor amigo, já que, se houvesse uma confusão muito grande ali, era o único com experiência em combate a quem poderia pedir ajuda. E lá estava o maluco falando sozinho de novo…

Sua atenção saiu do Guardião, se voltando para uma pessoa saindo da cozinha.

— Mas que droga… Jeff, seu velho burro — falou ele baixinho, para si mesmo.

“Brilhante, coloque a garçonete mais desajeitada e atraente para servir um bando de militares bêbados…”, pensou.

Jeff, o dono do bar, era uma boa pessoa, mas bom senso não era seu forte. Não demorou nada para os temores do segurança virarem realidade.

— Uma meio-elfa? É sério? Ei, quanto você cobra? — perguntou um oficial, agarrando a mão da garota de vestido branco e avental verde, que acabara de lhe servir uma bebida. A garota, loira, com olhos verdes, e orelhas levemente pontiagudas, corou um pouco.

Sara era uma meio-elfa, comum no sul. Os elfos puros os desprezavam, e a maioria dos humanos, com más relações com os elfos há anos, também não gostavam deles. Sem apoio de nenhuma das raças, as mulheres eram frequentemente capturadas e escravizadas. O pior acontecia com os homens, que eram mortos. São mais fracos que um humano normal, então não tem grande utilidade como trabalhadores.

Aqueles olhares de desprezo direcionados a ela… era como se Robert visse a si mesmo quando criança.

A garota era a filha adotiva de Jeff, que começou a cuidar dela depois da morte do pai por uma doença há 10 anos. A mãe havia sido sequestrada por bandidos e morta, pouco antes do pai morrer. Preferiu não ter muitos detalhes fora isso.

— Desculpe senhor, não sou uma… não faço esse tipo de serviço — disse a garota, tentando parecer o mais composta que podia.

— Ah, desculpe — O militar soltou seu braço, envergonhado.

Robert respirou aliviado, não esperava por essa. Não era incomum as garçonetes se prostituírem naquelas regiões isoladas, então o homem aparentemente não estava tentando ofendê-la.

— Ei, elfa, encha o copo dos meus homens — gritou um dos oficiais no outro canto do bar.

A garota atendeu prontamente. Mas ao terminar de servi-los, e se virar para ir embora, o homem agarrou sua coxa. A força com que ele fez isso foi tanta, que ela deu um grito abafado.

— Nossa… Tem um bocado de carne ai em baixo para uma elfa. Vamos lá, te pagamos dez vezes o que vai ganhar em 1 estação inteira nesse fim de mundo — falou o homem, agora de pé e agarrando os braços da garota.

Aquele não parecia ser tão gente boa quanto o anterior… Robert começou a se mover em direção ao homem, enquanto examinava melhor sua aparência. Ele tinha, cabelo preto, rosto fino e nariz comprido, vestia uma camisa creme e calça preta, igual a todos os militares do bar. Parecia a roupa mais à vontade deles.

— Por favor, me solte, já disse que não faço esse tipo de coisa — reagiu a garota, agora já nervosa, usando o que tinha de coragem para manter a voz firme.

— Irmão, deixe a garota — falou um dos homens sentados em sua mesa.

— Sempre um covarde. Você com certeza puxou ao idiota do nosso pai — respondeu, com desgosto. — Depois não diga que eu não tentei negociar pacificamente — O homem prensou a garota na parede, virada de costas, e meteu a mão entre suas pernas, por baixo do vestido.

A garota estava paralisada e suando frio. Mas antes que pudesse ir mais longe, o homem foi puxado para trás com tanta força que foi parar a alguns metros dali, batendo em uma mesa cheia de militares. Muitos riram dele, mas seus amigos, que estavam na mesma mesa, levantaram furiosos. Um total de seis.

Arian estava de costas para eles, falando calmamente com a elfa, que estava com uma cara meio assustada. Ela já havia se acostumado a aguentar alguns assédios, mas nada tão invasivo.

Robert estava a uns 15 passos da garota. Ele planejava apenas falar com o militar e acabar com tudo pacificamente, mas o guardião, Arian, não parecia tão sensato, pela forma que separou o militar da garota.

Todos do local encaravam a cena com curiosidade, provavelmente esperando ver uma briga para se entreter e fazer apostas.

— Se acalmem, o homem claramente bebeu demais, e meu amigo exagerou também — falou Robert, tentando acalmar a situação e se aproximando de Arian enquanto fazia sinal com os olhos para ele dar o fora dali.

Infelizmente, a tentativa de acalmar os ânimos de Robert falhou. Dois amigos do militar que Arian puxou, o empurraram, sem falar nada. Ele então se virou.

— Precisam de alguma coisa? — disse ele com um sorriso muito do falso no rosto.

“Ele só pode estar de brincadeira”, pensou Robert. Os dois ficaram encarando Arian, parecendo em dúvida se o atacavam ou só intimidavam.

— Olha, desculpe pelo seu amigo, mas ele exagerou, eu não quero pro…

Antes que terminasse a frase, o homem que ele arremessou, voltou correndo com um soco de direita. Arian recebeu o soco sem reagir.

— Merda… — falou Robert, baixinho, enquanto tentava bolar um plano para conter a briga, ou ao menos se preparar para caso ela aumentasse de tamanho. Primeiro olhou nos punhos dos homens cercando Arian, procurando algo. “Ok, nenhum deles tem braceletes de contenção. Se não tem magos, ao menos o Bar não vai acabar todo destruído”, pensou.

— Feliz? Provavelmente vou perder um dente… Vai se responsabilizar se eu ficar ainda mais feio e nunca conseguir uma esposa? — disse o guardião, colocando a mão na boca. Ele parecia estar quase caçoando do homem, já que não tinha sido muito afetado pelo soco e seu lábio sangrava levemente. Do nada, ele desviou os olhos para o lado — Eu estou bem… Não, isso é uma péssima ideia.

— Com quem diabos está falando? Está debochando de mim?

O militar, furioso, tentou acertar outro soco na cabeça de Arian. Mas dessa vez, Arian não estava disposto a receber.

— Lamento, Robert, aguentei esse imbecil o máximo que pude.

O olhar calmo de Arian mudou para algo completamente diferente e ameaçador. Ele desviou levemente com a cabeça e segurou o braço do homem com a mão direita, depois o torceu e usou o outro punho para aplicar um soco em cheio no cotovelo do sujeito. Deu para escutar o som dos ossos quebrando em todos os cantos do bar. O militar gritou desesperado, vendo os ossos do braço saírem rasgando a pele.

— Philip! Ajudem ele, rápido! — falou seu irmão, que era muito parecido com o tal Philip.

— Você vai morrer por isso! — gritou Philip, agora com o branco dos olhos vermelhos, provavelmente devido a dor que estava sentindo. Mais homens se levantaram, alguns para socorrer o colega e outros para cercar o agressor.

— Não matem ele, quero que veja o que vou fazer com ela — gritou o homem, tentando manter a voz firme, enquanto segurava o braço quebrado junto ao corpo.

Todos estavam preparados para sacar suas espadas. Arian observava, sem se mexer, parecia preocupado com a elfa atrás dele.

— Arian, não vale a pena. O bar vai acabar destruído e você morto. Tente fugir e eu me entrego a… — Sara não conseguiu terminar a frase. Só de pensar no que iriam fazer com ela, suas pernas começaram a tremer e lágrimas correram por sua face.

— Fica quieta, Sara, mesmo que eu fizesse isso, o Robert iria acabar morto tentando impedir que fizessem algo com você. Ele parece durão, mas te adora.

A garota olhou para Robert, surpresa com a afirmação de Arian. O segurança, por sua vez, achou que Arian o estava superestimando. Caso fosse levada, teria mesmo a coragem de enfrentar tantos homens por ela? Seria um completo suicídio, e ele mais do que tudo, era uma pessoa realista e lógica.

—  O que estão esperando? Matem logo ele! —   gritou Philip.

— Ei, isso é covardia gente… Que tal vir um de cada vez? Ganhar de mim com dez contra um não vai ter graça alguma… — disse Arian, enquanto empurrava a meio-elfa para o mais junto da parede atrás dela que podia, na tentativa de evitar que fosse acertada quando o confronto começasse.

— Cala a boca, seu desgraçado! Devia ter pensado nisso antes de me… — Antes que pudesse terminar a frase, um dos colegas do militar apertou o torniquete no braço dele e um dos ossos saiu ainda mais para fora, rasgando a pele. O homem quase desmaiou de dor, Arian tentou segurar uma leve risada.

Robert estava respirando fundo, enquanto buscava em sua mente uma forma de acabar com aquilo pacificamente, sem muito sucesso. Foi quando o guardião voltou a falar sozinho.

— Que tipo de plano é esse?! Que tal uma ideia onde quem estou tentando ajudar não acabe morta? — disse ele. — Não, sua falta de compaixão com os outros não é engraçada… Por que acha que eu vim para essa vila? Não vou jogar tudo fora agora… Já disse que não, vai sujar o bar todo e a Sara que vai ter que limpar depois… — murmurou Arian, olhando para o lado e apontando para a meio-elfa atrás dele.

“Esse cara é louco! Isso é uma técnica de distração ou o que?”, pensou Robert, ainda na dúvida sobre a melhor estratégia para sair vivo e acabar com o problema ao mesmo tempo.

Arian podia tentar abrir caminho, mas Sara acabaria morta ou machucada no processo. Era por isso que não estava se mexendo? Ele estava com uma armadura suja nas pernas e braços, mas o peito estava desprotegido, só com a camisa preta. Se não tomasse cuidado, acabaria morto.

O guardião novamente perdeu sua cara amigável e olhou sério para os homens a sua frente.

— Querem mesmo fazer isso? Estão bêbados e com reflexos falhos, talvez consigam me machucar, mas não vão acabar ilesos… Seu colega tentou violentar essa garota e ainda está vivo, o que já é mais do que ele merece. Saiam daqui enquanto estão em vantagem, é meu último aviso.

O guardião preparou para pegar sua espada na cintura. Robert engoliu a seco, “Espero que esses bêbados sejam péssimos espadachins”, pensou enquanto cerrava os punhos, se preparando para ajudar.

Mas assim que Arian abriu a capa para pegar a espada, um dos homens sentado em uma mesa próxima se levantou e gritou:

— Já chega! O homem estava só defendendo a pobre garota, e ainda levou um soco de graça como pedido de desculpas por agredir esse idiota — falou um militar de idade mais avançada, se aproximando.

— Senhor… ele quebrou… meu braço… ele precisa ser punido! — reclamou Philip.

— O homem tem direito de se defender. E Sargento, continue me retrucando e eu quebro seu outro braço também. Acha que não ouvi o que queria fazer com a garota? Seu pai não vai te salvar se eu escutar algo parecido vindo da sua boca de novo — O velho falou em um tom rígido.

Depois disso, Philip virou de costas, com os dentes rangendo, passou do lado de Arian, falou algo em seu ouvido e foi embora.

— Obrigado — falou o guardião, enquanto abaixava a cabeça para cumprimentar o oficial de mais idade que parou a briga.

— Ele que devia agradecer, acabei de salvar sua vida. Se quer esconder sua identidade não está fazendo bom trabalho, Arian, reconheço essa espada enferrujada em qualquer lugar. Não sei como sobreviveu naquelas missões suicidas, com esse pedaço de ferro caindo aos pedaços — disse o homem, soltando uma sonora risada.

Arian sorriu e balançou a cabeça, parecendo meio desconfortável.

— O que? Não lembra de mim?

— Claro que lembro, comandante. Sempre alegre, não importa a desgraça à sua volta… Bem, obrigado de qualquer forma — Arian parecia meio sarcástico.

— Por que está servindo como mercenário nesse fim de mundo?

— Perdi meu status quando saí do exército, senhor. E, bem, preciso me alimentar igual a todo mundo.

— Pare de me chamar de senhor, Arian, ou sou eu que vou tentar chutar a sua bunda. — reclamou o oficial, de mal humor. — E tente ser mais convincente quando mentir. Você ficou bem conhecido depois que virou o guardião daquela cidade, embora eu duvide que alguém aqui vá acreditar que você é aquele Arian.

O guardião riu.

— Desculpe, General Ford, então tenha uma boa noite.

Arian se virou e foi para a saída logo depois. Robert, que estava distraído com a conversa dos dois, foi até a elfa, ainda estática atrás de Arian, e a levou para a cozinha. Não deveria haver mais problemas com o velho general no local, pensou ele.

Quando voltou, viu Arian, na porta do bar. E pelo seu olhar, estava esperando por ele.

— Algum problema? — perguntou Robert, se aproximando.

— Ela está bem?

— Vai ficar, foi só um susto.

— Robert, fique de olho neles essa noite, estou com um mau pressentimento. — disse o guardião, enquanto virava de costas para ir embora.

— Espera, o que o tal Philip te disse antes de sair?

Arian, já de costas para Robert, virou a cabeça levemente para o lado, e falou em um tom de deboche.

— Segundo as previsões dele, vou morrer essa noite… E o que ele falou que vai fazer com a Sara… Bem… Acho que você vai preferir não escutar.

Robert pensou em oferecer ajuda, mas rapidamente desistiu da ideia. Primeiro, porque não era pago para isso, e segundo, entre ajudar Arian e manter Jeff e Sara em segurança, ficava com a segunda opção.

— Acha que eles vão arriscar desobedecer aquele oficial?

— Ele fala muito, e gosta de se impor na frente dos outros, mas nunca age ou se importa de fato se suas ordens são seguidas. O motivo dele estar sempre calmo é porque não se importa com nada, fora seu próprio bem estar.

— Então eles…

— Fique de olho no seu chefe e Sara por precaução. — Dizendo isso, Arian saiu pelo breu da noite, enquanto sussurrava: — É, eu sei que gostou daqui, mas meu tempo acabou, ou improviso agora, ou os 2 meses que passei aqui foram em vão.

Robert respirou fundo olhando para dentro do bar. Pelo jeito, seria uma longa noite, e ele tinha um mau pressentimento sobre como ela iria terminar.

Próximo: Capítulo 2 – A elfa idiota

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