As Crônicas de Arian – A Lâmina do Sol | Prólogo – 7 Vidas

E com esse post começa o projeto do livro que eu escrevia por hobby a alguns anos vindo a público. Me sinto um autor de webnovel….. Apesar de que, vale dizer, o que estou fazendo é no modelo de um livro, não se assemelha muito com novels japonesas.

Apresentação:

Esse projeto nunca foi pensado para vir a público, era apenas por diversão. Quando pediram para ou publicar no site, provavelmente querendo ver o quão mal eu escrevia, pensei por um tempo e achei que se revisado poderia ser uma história interessante de ser mostrada. Perfeita é um sonho impossível, até grandes autores metem o malho em si mesmos, principalmente nas suas primeiras histórias…

A história foi planejada para 5 livros (e alguns spin-offs que expandem o mundo, além de explicar em detalhes sobre o passado do protagonista). Tenho o esboço dos 5, mas escrito em forma de rascunho apenas até o começo do livro 3. Revisado de forma apresentável só o livro 1. Se o projeto vingar e as pessoas gostarem vou manter posts semanais no site com os capítulos do livro. É como acompanhar um mangá semanal, só que no caso vai ser um livro.

Tentei evitar clichês ao máximo nessa história, principalmente os que mais abomino. Clichês, no entanto, existem porque a maioria gosta deles e funcionam, então não dá pra evitar todos. Mas vão poder notar que sempre que acontece algo esperado tento entregar algo inesperado pouco depois, de forma a não deixar a história muito previsível. O próprio começo não é dos mais comuns, usando de um ponto de vista alternativo ao do protagonista. O que me preocupa mais, porém, é que a história seja interessante, e você queira saber o que vai acontecer a seguir.

Ela começa com um prólogo apresentando 7 personagens. Um deles é o protagonista, os outros personagens são tão importantes quanto,vão dividir tempo de “tela” com ele. A brincadeira que fiz aqui é que você vá tentando descobrir a qual dos personagens pertence que passado. Tirando o primeiro, não revelei o gênero deles, propositalmente. E sim, algumas histórias do prólogo são bem mais completas que outras, e algumas só confusas mesmo. Mais a frente vocês vão voltar nessa parte e notar: “agora tudo faz sentido!”.

Não espero que ninguém ache algo fantástico de cara, seria querer demais. Histórias, ainda mais longas, são avaliadas a partir de certo ponto, se fosse contar os começos nunca teria terminado muitos livros clássicos, que tem começos bem banais, alguns até chatos, mas pegam com o tempo, e conseguem apresentar uma história digna de ser elogiada quando você termina e olha para trás.

O propósito do meu começo é simples: ter alguns diferencias e ao mesmo tempo ser interessante o bastante para a pessoa não querer dropar. O aumento do interesse do leitor, construção de uma história que possa ser analisada, personagens, e partes, espero, memoráveis de imaginar, devem vir conforme o enredo progrede. Ou foi ao menos assim que funcionou para tudo que li até hoje. Veremos se consigo o mesmo efeito.

PS: Grato pela preocupação de alguns comentaristas quanto a questão (e o Rúben Salomão pelas dicas sobre publicação). Já registrei os direitos autorais faz algum tempo. Não acho que alguém vai querer plagiar um autor amador de qualquer forma, mas não custa prevenir. 

Dito isso, vamos lá:

Arian, protagonista da obra (ilustração por Pedro Mauricio Jr)

Sinopse (ignore se não quiser alguns poucos spoilers do enredo):

Um grupo de sacerdotisas, um guardião sem memórias e obcecado por elfas, um ex-militar alcoólatra, uma demônio amaldiçoada, e um guerreiro de personalidade difícil, acabam juntos por um contrato, em uma jornada em busca de uma espada especial capaz de destruir uma relíquia antiga, que pode virar a guerra entre o País do Sul e do Norte, acabando de uma vez por todas com um ser mitológico que aterroriza o Sul há anos. Embora perigosa, parecia uma missão simples no começo, mas as individualidades e mistérios carregados por alguns deles podem mudar tudo, para o bem e para o mal. O que parecia o fim, era só o começo.

Índice com todos os capítulos lançados: aqui

PRÓLOGO — 7 Vidas

Aviso: Esse prólogo é uma tentativa de um início diferente do padrão. Mas não é obrigatória a leitura dele, quem quiser algo mais normal, com as devidas descrições e linear, pode começar direto do capítulo 1. O prólogo é mais para quem quiser entrar na brincadeira de tentar desvendar a que personagem da história pertence cada um dos passados abaixo.

O Homem Sem Passado

Sua cabeça doía, a visão estava embaçada e a garganta seca. Era noite, e o vento fresco em seu rosto, o fazia pensar que estava na primavera. Alguém estava falando com ele, talvez mais de uma pessoa, mas não sabia quem era ou sequer conseguia entender.

Tentou levantar, mas as pernas não obedeciam. Conseguia notar que estava em movimento em cima de algo, provavelmente uma carroça. O que estava fazendo ali? Quem era a pessoa tentando falar com ele? Antes que conseguisse pensar mais a respeito, tudo se apagou.

Acordou novamente, já era manhã. Ainda estava em movimento. Havia uma garota loira sentada a seu lado e outra de menor estatura, uma criança com um incomum cabelo prateado, olhando pra ele com ar de preocupação.Ao notar que ele tinha acordado, perguntou:

—Pode me ouvir? Consegue entender o que digo? —perguntou a elfa, com um aspecto simples, olhos azuis e um cabelo loiro maltratado preso em um rabo de cavalo.

—Sim — respondeu ele, dessa vez capaz de escutá-la com mais clareza.

—Encontramos você na estrada 3 dias atrás. Pensávamos que tinha morrido. Estava com um braço e uma perna quebrados e um enorme ferimento na cabeça, sangrava muito — A garota falava devagar, provavelmente com medo que ele não a entendesse.

—Tentei parar o sangramento, mas foi tudo que consegui fazer. Você começou a se curar rapidamente depois disso. O ferimento na cabeça mal aparece. Mas seu braço e perna ainda parecem ruins.

— Ah… — Ele ainda estava atordoado demais para responder, mas tentou olhar para a perna e o braço que estavam doendo. Conseguia mexê-los, mas a dor era enorme quando o fazia. A garota de cabelos prateados parecia aflita vendo sua cara de dor ao tentar se mexer, então ele decidiu parar.

— Você parece um humano, mas eles não se curam tão rápido… — falou a garota.

— Eu…  — Ela estava indiretamente perguntando o que ele era, mas nada lhe vinha a mente a respeito de si mesmo. Sabia que a garota a sua frente era uma meio-elfa devido à mistura de traços humanos com as orelhas pontudas e olhos claros. Seu pai dirigindo a carroça parecia um elfo puro. A garota mais jovem a seu lado parecia uma humana, mas seu cabelo e olhos de cor incomum não era característico deles. O conceito de raças lhe era perfeitamente comum, porque não conseguia lembrar qual era a dele?

—De onde você veio? Por que estava no meio da estrada nesse estado? — A garota continuava a perguntar com calma.

—Eu… não me lembro — começou a respirar ofegante depois disso. Era algo que ele deveria saber.

—Sabe me dizer o seu nome pelo menos? — indagou a elfa, com um tom de preocupação.

A pergunta foi chocante. Não era apenas seu nome, não conseguia lembrar de absolutamente nada, sua mente estava em branco.

Em desespero, lágrimas correram de seu olhos, o garoto se sentiu uma concha vazia, e isso doeu mais que seus ferimentos ainda abertos.

Renascimento

Dois homens seguraram seus braços. Sua respiração estava ofegante, não tinha mais forças para lutar, a dor em suas costas era insuportável, e a lembrança do que ocorrera naquele dia, ainda pior. Agora, já com tudo perdido, estava apenas esperando seu fim, o mais rápido possível.

O grande abismo, por tanto tempo escutou histórias sobre aquele buraco gigantesco que não parecia ter fundo, e que ninguém que tentou explorá-lo teria voltado. Quem diria que terminaria ali.

Os guardas soltaram seus braços e empurraram levemente. Só estavam cumprindo ordens, e não pareciam muito felizes com elas. Os conhecia, mas preferia não olhar em seus olhos. Tinha medo de saber se estavam lhe julgando ou com pena. Qualquer das opções iria doer.

Enquanto caía, muitas coisas passaram pela cabeça. Seus pais chorando, o julgamento no qual não podia se defender, as acusações ridículas, tudo por algo que estava ali desde que nasceu e não tinha controle. Já esperava que descobrissem faz alguns anos, e havia se preparado para o que viria quando ocorresse. No entanto, por que punir seus pais também? Seus outros filhos eram normais. Ao pensar nisso pôde sentir as lágrimas surgindo em seus olhos semi-fechados, e esperou o fim de toda aquela dor.

Só que o fim não veio. Estava frio, seus olhos se abriram devagar, o vento os machucava. Suas costas ardiam, mas a dor estava mais suportável graças ao vento gelado.

Começou a prestar atenção a sua volta. O que era aquela coisa branca no chão? Onde diabos estava? Era isso que tinha no fundo do abismo? Nada estava fazendo sentido.

Seu instinto de sobrevivência falou mais forte e começou a procurar desesperadamente um local para se abrigar. Já não sabia há quanto tempo estava andando, um dia, horas, minutos, sua mente não funcionava direito. E então viu uma construção. Ao menos aquilo reconhecia, mesmo que em um formato e material que nunca tinha visto.

Entrou procurando algo para se aquecer, o local estava praticamente vazio. Se enrolou nos panos e palha que encontrou e dormiu antes que pudesse pensar em qualquer outra coisa.
Algum tempo depois acordou por causa da dor. Não estava mais congelando, mas suas costas voltaram a doer de forma insuportável. Analisando o estado não parecia haver uma solução, estava tudo queimado de uma ponta a outra. Chorou sabendo o que teria que fazer, mas falta de coragem nunca fora seu problema.

Naquele dia, os moradores da vila de Norei, uma pequena cidade nas montanhas do nordeste do continente, escutaram o grito de dor de uma criatura que ecoou por toda montanha. Dias depois, mal notaram eles que a tal criatura estava vivendo entre os habitantes como novo morador da vila. Obviamente, sem aquilo do qual teve que se livrar na cabana no topo da montanha. Sua história no mundo anterior terminara, era hora de refazer sua vida, do zero.

O Pedido

Por que os bonzinhos sempre acabam felizes nas histórias do seu povo? Nunca viu isso acontecer na vida real. Mesmo seu pai, que era considerado por muitos uma pessoa honrada, tinha muitos podres.

Era algo necessário, o modo mais simples de se conseguir as coisas era por meios… errados? Por que são errados? Pessoas são egoístas, faz parte delas. Seu pai era egoísta também. Se não foi por satisfação própria, por que enfiaria alguém que afirmava amar em um lugar como aquele?

Era horrível, frio, as pessoas lhe julgavam antes de conhecer direito, e pior, tinha que fingir ser algo que não era para manter o nome da família intacto.

Fazia 2 dias que estava ali e já queria desesperadamente fugir.

Foi então que lembrou de sua parada de 3 meses antes de ir para aquele inferno.

Seus primeiros dois meses naquele lugar foram os mais felizes que teve em tempos. Mas o último foi horrível.

“Por que ela?” pensava. A maior parte do tempo era inofensiva e calada, uma linda estátua que servia para desabafar nos momentos de tédio. Sempre foi assim, duas figuras semelhantes, mas uma atraía atenção, a outra só se isolava. Gostava disso, estava tudo perfeito.

Sua vida era previsível e prazerosa a maior parte do tempo. Fazia e tinha o que queria. Por que não podia continuar assim?

Aí veio aquele padre idiota e convenceu seu pai. E como se não fosse o bastante, aquilo. Nunca sentiu tanta inveja antes. Sabia que era errado, mas o que podia fazer?

Ah, aquela dor de novo… Fechou os olhos, tentando não chorar, e pediu desesperadamente por uma intervenção do destino.

Para sua surpresa, a intervenção veio, antes do que poderia imaginar, e de uma forma totalmente diferente.

O Pacto

Não conseguiu acalmar sua respiração, ou sequer focar seus pensamentos. O que diabos era isso?

Olhou fixamente pela janela da carruagem, contemplando a paisagem montanhosa… não, a quem estava enganando? Só estava na esperança de ver sua silhueta ao longe.

Nunca sentiu aquilo por ninguém. Não era só atração. Muito mais que isso, uma ligação tão forte que doeu quando se separaram.

Para quem pensava nunca poder estar ao lado de uma pessoa sem ter medo de perdê-la para sua maldição, aquela foi a experiência mais feliz de toda sua vida. A primeira vez que conseguiu sorrir depois da morte de sua mãe.

Eles se encontrariam de novo em alguns anos, sabia disso, mas só isso não consolava, queria estar a seu lado para sempre. E embora fosse uma alegria estranha, se sentia feliz ao notar que seu par também estava abalado com a separação.
Mas estava tudo bem, mesmo desobedecendo seu pai e com o corpo debilitado, valeu a pena.

— Até que nos encontremos novamente… — falou sorrindo, e então lembrou de uma frase de seu livro favorito.

— Como a frase continuava? — “Não importa o que aconteça, eu sempre vou te encontrar. E até lá um…”

Lembrou do complemento da frase e sorriu. Era perfeita para sua situação peculiar.

— Primeiro, vamos aprender a controlar isso — Seus olhos brilharam, não tinha mais medo de sua maldição. Agora, tinha que aprender a usa-la a seu favor.

Chega de se esconder. Chega de chorar e se lamentar. Era hora de lutar pela sua felicidade, que pela primeira vez acreditou ser possível.

Com um sorriso confiante, sua vida, parada no tempo, começou a andar novamente aquele dia.

O Lobo Solitário

Não sabia como estava vivo. Fazia 3 dias que seu corpo vagava pela água suja de um pântano. Sentiu muita dor no começo com a água fétida queimando seu corpo cheio de feridas abertas e carne mutilada. Mas o tormento parou no 2º dia, não sentia mais nada, não escutava mais nada.

A morte era assim? Provavelmente não. A dor daqueles ferimentos já não lhe alcançava, mas a culpa o mantinha vivo, pois é a cicatriz  que o condenava, como ainda permanecia ali, se já estava em seu inferno.

Seus pais, irmãos, toda uma vida de paz destruída porque queria se divertir, conhecer o mundo, e mais do que tudo, provar para si mesmo, mostrar do que era capaz.

Tivesse obedecido seus pais nada daquilo teria acontecido, era só o que conseguia pensar no momento, e claro, a raiva dos que fizeram aquilo.

Seu corpo estava todo quebrado, seu rosto provavelmente irreconhecível de tanto que apanhou. Sua perna estava desfigurada a ponto de não conseguir se levantar.

Teve sorte, nenhum animal o encontrou, e 2 dias depois conseguiu se arrastar para fora dali.

Semanas depois, chegara a hora da retribuição, do modo mais cruel que pode imaginar… e que o assombraria pelo resto de sua vida.

A Promessa

A chuva caía com força aquela manhã.

Uma pessoa chorava na frente de um túmulo. Fazia horas que estava ali. Não conseguia aceitar a realidade. Não queria aceitar… Seus planos, todos arruinados… Não tinha mais nada… O que faria da vida agora?

Não sabia o que tinha feito aquilo, só ouvira rumores, e cada um deles parecia mais inacreditável que o outro. Mas não importava, descobriria por si mesmo.

— Eu juro, seja lá o que fez isso com você, eu vou achar, e fazer sentir tudo que estou passando agora. Eu juro pra vocês — dizia enquanto lágrimas corriam pelo seu rosto, disfarçadas pela chuva.

A lembrança do rosto novamente passou pela sua mente. Doía, e não sabia como fazer parar.

Abafado pelo barulho de um trovão, gritara com toda força, tentando colocar aquela dor pra fora, inutilmente.

Novo Mundo

Aonde estava? Ou melhor, como fora parar ali? Já lera sobre aquilo, mas nunca acreditou que seria possível. Estava quente, e úmido, o mato a seus pés estava cedendo. Algo viscoso estava encostando em sua pele, enquanto seu pé afundava lentamente. Estava em um pântano?

Uma torre branca estava a sua frente. Era magnífica. Mas tinha outras preocupações no momento. Dez figuras em mantos brancos o estavam cercando no meio de uma clareira na mata.

Engoliu a seco. Levantou as mãos esperando que entendessem o gesto.

Um deles falou alguma coisa, mas ele não entendia. Que idioma era aquele?

Fora levado para a torre por uma mulher de branco. Era linda, com um ar rígido, mas uma face tão bela que não notou quanto tempo se passou de onde estava até a torre.

Eram boas pessoas, o alimentaram e deram um quarto. Descobriu depois que existiam mais casos como o dele e já estavam acostumados a tratar isso.

Aprendeu a língua rapidamente com livros dos que vieram antes. Sempre fora bom nos estudos, e tinha certas vantagens sobre pessoas normais. Um ano depois estabeleceu um recorde, passando com louvor em diversas provas e se tornando um membro oficial do lugar. Conseguiu inclusive a posição que buscava, aonde poderia ficar ao lado daquela pessoa.

Não sabia quanto tempo levaria até conseguir dizer o que sente, ou como ela responderia, mas estar a seu lado era o bastante por enquanto. O que deixara para trás? Uma vida chata, algo muito mais interessante o esperava nesse mundo. Ou foi o que pensava… poucos meses depois, só desejava que tudo aquilo fosse um sonho ruim, do qual queria desesperadamente acordar.

Próximo: Capítulo 1 – Uma Noite Ruim

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