Impressões semanais: Orange #08

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Apesar de todo anime ser inerentemente dependente de seus personagens para se sustentar, aqueles que são estudo de personagens, sofrem mais com a responsabilidade de contar uma história enquanto as figuras de seu universo evoluem progressivamente. Felizmente, Orange tem tido êxito na tarefa.

Logo no início, quando o grupo brinca sobre Kakeru e Naho serem namorados, a garota, ao contrário do que seria natural, não enrubesceu no momento. Creio que seja para ressaltar seu amadurecimento  e mudança de postura, e não um erro bizarro de animação.

Ela segue com sérias restrições emocionais (assim como seu alvo romântico), recebendo uma “ajudinha” do roteiro para avançar modicamente, no clássico tropeço aos braços do garanhão, a versão Shoujo do homem que cai sobre os peitos da donzela, em Ecchis. Porém, se compararmos com o que se via no capítulo um, é outra pessoa.

O amadurecimento não para por aí, pois finalmente ela e Suwa negligenciaram – deliberadamente – o conteúdo da carta para fazerem o que acham melhor para a saúde de Kakeru. Este é o grande objetivo da obra, afinal; contar uma história sobre perseverança e crescimento, todos ligados pelo fator comum da amizade, este já um pilar consolidado em Orange. Naho deve recorrer Kakeru sendo ela mesmo, e depender de si, no futuro – é um paradoxo comentar isso coerentemente – seria relegar a tarefa.

É inegável que a devoção, dedicação descomunal em agradar, doar-se ao garoto, podem parecer artificiais ou exacerbadas, como se o menino fosse uma criança irresponsável e incapaz de lidar com os problemas da vida. Não cobro de ninguém que aceite a personalidade do jovem,  isso é muito da experiência e caráter de cada um. Contudo, ao prestar atenção em pequenos quadros e com uma dose de boa vontade aliada à sensibilidade, é possível percebermos como Kakeru está psicologicamente em frangalhos e urgindo auxílio. Isso se dá não apenas no alívio e disposição com que aceita que seus camaradas corram consigo, como na gota de suor que brota em sua testa, assim como o olhar perturbado, ao ouvir do treinador que seria o encarregado de ser o âncora da corrida.

Revelar o design de produção no quarto de Suwa foi uma boa sacada e condizendo com a personalidade do mesmo.

              Revelar o design de produção no quarto de Suwa foi uma boa sacada e condizente com a personalidade do mesmo.

E se Kakeru requere suporte, seus parceiros certamente estão obstinados em apoiá-lo. Ver o esforço de Hagita, um nerd literário por paixão, esfolar-se na tentativa de melhorar seu tempo com as pernas, rende momentos divertidos e serve de alívio cômico, é claro, mas o cerne das cenas deixa claro a força de seu sentimento.

Os traços seguem, ocasionalmente, capengas, mas são compensados por uma linda trilha sonora simples e minimalista, que, como já disse, intensifica a emoção e significação das passagens em que são inseridas sem sobrepujar o acontecimento em si. Especialmente belo é o instrumental da faixa ‘Me to You, You to Me’, do filme “The Classic”, que entoa entre 13:34 – 14:34. Sugiro procurarem a canção no Youtube, pois é lindíssima.

Voltando ao tema da amizade, o fato do resto da turminha possuir cartas é – ao menos pra mim, enquanto lia o mangá – previsível, ainda mais após Suwa ter revelado a sua, e explica muito da comoção que fizeram para atingir o “coração” de Kakeru”.

Talvez Orange ainda não seja a torrente de lágrimas que muitos esperam, mas não pode-se negar o mérito compassado e harmônico no andamento de sua trama, que lhe permite explorar e aprofundar as nuances de seus principais personagens.

E você, que nota daria ao episódio?

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Carlos Dalla Corte

Curto 6 coisas: animes, cinema, escrever, k-pop, ler e reclamar. Juntei todas e criei um blog.