Impressões: Death Parade #08 e #09 – Como quebrar um ser humano

Já me perguntaram mais de uma vez o que seria um episódio digno de nota máximo nas análises semanais. Bem, os dois últimos excelentes episódios de Death Parade com certeza são bons exemplos de como “fazer o que a obra se propõe” de forma memorável.

Death Parade vem ficando bem interessante em sua segunda metade. O que parecia um anime episódico com um ou dois episódios explicando seu mundo acaba revelando no episódio 7 ter um plot maior por trás de tudo. Todos os julgamentos até o presente momento servem a um proposito superior, que é descobrir se Decim, um arbitro com emoções humanas, pode ser uma melhor opção ou não que os outros. Alias, é um tanto quanto irônico que o arbitro mais frio até agora seja o que tem emoções – apesar dele já ter as demonstrado.

O último caso, dividido em 2 episódios, foi provavelmente o melhor da série até aqui, em todos sentidos: animação, storyboard, roteiro, OST e direção. Como você julga um assassino? Claro, casos como Dexter (seriado americano) aonde o assassino é gente boa e só mata pessoas ruins (bem, até certo momento) são fáceis de serem julgados pelo público, mas Death Parade não vai por essa vertente de fácil aceitação. Ao invés disso assistimos a dois seres humanos inicialmente bons serem degradados pelas experiencias que viveram ou por pessoas que conheceram.

As emoções foram várias nesses dois episódios: surpresa, raiva, compaixão, aflição, pena, asco, tinha de tudo. Quando eles revelam que assassinos vão ser julgados pensei inicialmente em pessoas ruins, como o cara que espancou e estuprou a garota. Qual minha surpresa quando os dois assassinos são pessoas querendo vingança por um ato vil que foi cometido contra eles e não necessariamente pessoas de má índole. Fui inicialmente complacente ao ato, como sou a pena de morte (se não demorassem 10 anos pra matar cada pessoa…….), mas o que começou como uma vingança para o detetive o modificou. Ele que não tinha mais propósito na vida depois de ter sua vingança decide que teria a de outras pessoas também. 

Não vou entrar no mérito de matar alguém que mata ser certo ou errado aqui, mas particularmente não me importo quando um criminoso é morto, pelo contrário. O detetive, no entanto, não queria ajudar os outros, ele queria apenas satisfazer seu desejo de matar mais pessoas que julgasse “ruins”, e pra isso valia tudo, até deixar uma garota ser espancada e estuprada na sua frente, para que tivesse algo palpável que justificasse, em sua avaliação, matar o individuo. Pegando a frase dele mesmo, “se você não pode mudar o mundo então tem que mudar a si mesmo”, ou seja, suas noções de certo e errado foram completamente refeitas e ele se tornou o que se tornou, um cara frio que acha justo deixar uma garota ser violentada para que ele pudesse ter o “direito” de matar o culpado depois. Graças a isso fica quase impossível para o público simpatizar com ele apartir da segunda metade do episódio. 

Notem a virada, você fica com pena do detetive e bravo – ou pelo menos frustrado – com o garoto por ter matado ele “sem querer”. Um tempo depois você está revoltado com o detetive e talvez até conformado pelo garoto te-lo matado. E enquanto a situação que o garoto se encontra é compreensível você torce para que ele não ceda a tentação no final, o que infelizmente não acontece. As viradas do enredo brincando com as emoções do público foram genias no roteiro desses últimos 2 episódios, e demonstram como um pequeno detalhe não revelado pode mudar todo o modo como você enxerga ou mesmo julga a situação.



Achei curioso também como esse episódio não dá respostas quanto ao julgamento, mesmo quando a mesma parecia ser o objetivo central (“como Decim irá julgar dois assassinos?”) – apesar de eu achar que foram os dois para o limbo. Como o próprio método de julgamento foi questionado eu imagino que não revelaram nada para deixar o público fazer seu próprio julgamento (ou tentar), e talvez voltem a questão no próximo episódio. Atiçar as emoções mais vis do ser humano revela quem ele realmente é? As pessoas fazem besteiras quando o sangue sobe a cabeça, mas isso significa que elas são ruins? Uma pessoa realmente boa não teria sido corrompida a matar, ou, mais precisamente, não teria “caído em tentação”? Creio que é isso que o episódio quis mostrar e questionar: como pessoas inicialmente boas podem ser quebradas por suas ações, emoções ou mesmo por outras pessoas; o que nos leva ao final, aonde o detetive, que já havia sido corrompido, instiga o outro garoto até que o mesmo quebre também, apesar dos esforços da garçonete para tentar salva-lo. Definitivamente dois episódios fascinantes para quem gosta de ficar remoendo o que assiste, dando muito no que pensar. 

E agora, o que vem por ai? Decim parece ter sentido alguma emoção muito forte nesse episódio quando questionado sobre seus métodos de julgamento. Agora falta julgar a garçonete, algo que deve acontecer até o fim do anime. 

Avaliação: ★    

PS: Comentei esses episódios porque me impressionaram muito positivamente, não devo fazer o mesmo com os outros, mas deve ter um review quando o anime acabar.


Extras:

Que final sensacional com o personagem quebrando internamente ao mesmo tempo que soltam a ED e mostram flashbacks dele com a irmã. 

O final do episódio 8 foi nota 10 também.