Review — Red Data Girl



Sinopse

Red Data Girl se trata de uma história baseada em volta do Red Data Book (RDB), um livro que determina as espécies de animais com risco de extinção e os com maior risco dessa ocorrência são impressos em páginas vermelhas, logo, Red Data Girl se trata de garotas com poderes misteriosos em risco de extinção.

Nossa protagonista é Suzuhara Izumiyo, herdeira do clã Suzuhara que mantém conexões com o mundo espiritual em forma de receptáculos de divindades, habilidade rara dentre humanos. A obra conta suas desenvolturas sobre como lidar com seu destino em ser uma pessoa especial ao lado de Sagara Miyuki, descendente do clã de monges exorcistas que servem a família Suzuhara. Ambos têm um mesmo objetivo: viver uma vida comum com a escolha de criar seus próprios caminhos ao invés de seguir o que lhes é imposto, porém de que forma isso é possível?

Review

Pois bem, Red Data Girl é um anime exótico porque ele não tem um objetivo claro, acaba se atropelando sobre seus arcos, porém não é um perdido da vida (olá Suzumiya Haruhi). Com um ritmo de oratória manso, você fica com muito tempo para apreciar os cenários maravilhosos que a P.A WORKS produz, mas isso sai pela culatra pelo vazio que ele deixa ao ser finalizado. Deixe-me ser mais específico.

Não fique com essa cara, Izumiyo. Não é sua culpa… dessa vez.
Primeiramente, os personagens não são fracos mas sofrem de um descaso inimaginável. Começando pela personagem principal, Suzuhara Izumiyo: descendente de um clã de oráculos e atual abrigo carnal de uma Deusa viva em sua família por duas gerações, por causa de seu poder espiritual alto, consegue enxergar que tipo de entidade se trata ao visualizá-las, interage misticamente com qualquer produto eletrônico como celulares, muitas vezes danificando-os acidentalmente e como é tratada com todo cuidado pelos empregados da família, cresce como uma garota tímida e se torna reclusa ao não conseguir decidir nada sobre sua vida.

Eles estão mais próximos do que você imagina!

Certo, a partir desse ponto começa o anime em si; o momento que Izumiyo decide mudar com um simples corte de cabelo é o instante que inicia sua romaria à liberdade, mas a cada medida preventiva sobre sua jornada ela cai em um pessimismo constante. Tudo bem até aí, mas esse aspecto é utilizado em toda parte que isso acontece, criando “loops de personalidade” como citei em minha Resenha de Black Bullet sobre ‘Satsumi Rentaro’ e como usam em qualquer situação que envolva a ‘Sadako’de Kimi ni Todoke”.

Aqui começam as minhas escolhas, a minha vida!
Pulando para o segundo protagonista dessa obra, Sagara Miyuki, filho do exorcista-modelo-médico-piloto-professor-guardacostas-tutor Sagara Yukimasa que é obrigado pelo pai – servo da família Suzuhara, diga-se de passagem – a ser uma espécie de “Trainee de Monge” ao mesmo tempo em que protege Izumiyo de males que podem ocorrer em seu dia-a-dia, começando a partir desse momento a conviver com ela. Sua personalidade é interessante, ele é extremamente agressivo porém sincero; direto porém respeitoso; arrogante porém justo.


Facilmente descrito como melhor personagem do enredo, rega Izumiyo com pressão sobre sua falta de atitude (estes trechos são bem fortes, mérito do dublador que transferiu bem a emoção pro personagem) mesmo sendo praticamente o ser mais fraco de todo o enredo, demonstrando que mesmo julgado como um inútil, é capaz de tentar qualquer coisa para cumprir seus deveres e fortalecer a si mesmo. Com o passar do tempo ele descobre que ela tem o mesmo objetivo que ele de ter uma vida pacífica, só que suas personalidades são totalmente opostas, então a comunicação entre os dois falha diversas vezes mas acabam se entendendo de acordo com o desenvolver de sua convivência.

Nada melhor que um garoto inútil para acompanhar uma deusa.
Então temos a parte boa de Red Data Girl: um romance agressivo. Em primeiro plano é facilmente julgado como algo “estranho” ou você olha para a pequena Izumiyo como uma “mulher de bandido”, contudo existe mais do que pobres olhos conseguem enxergar. Essa diferença enorme entre eles não se transforma em um caso de melação onde um lambe as feridas do outro como fazem no triste “Sukitte Ii na yo”, mas de aprendizagem e dependência mútua – o que particularmente acho muito mais bonito do que aquele sentimento direto de afeição.


O restante da gama de personagens é interessante porém com fraca presença, principalmente os trigêmeos Sonda que lembram facilmente vilões imortais como ‘Sigma’ da franquia de jogos “Megaman X”; em outras palavras, mesmo sendo claros coadjuvantes, se tornam o foco em diversos períodos do anime, além de que suas personalidades variam demais entre as divisões em cada período. Um belo exemplo é que ao conhecerem os trigêmeos, descobrem que um se tornou parte de uma entidade divina e por algum motivo manteu sua personalidade distinta; manteu-se como Masumi para logo no seu próximo arco se transformar nessa tal entidade e, mesmo depois de selado, retorna facilmente como Masumi sem ao menos uma explicação das que ocorrem durante outros fatos adentro o anime.

Assim fica clara a existência de buracos enormes no roteiro envolvendo os personagens, com exceção da entidade denominada Himegami que incorpora nas descendentes femininas da família Suzuhara. Sua adição ao enredo é um ponto positivo, pois traz um senso de direção aos infelizes personagens, mesmo que tardio.

Com esse olhar perspicaz, será a maior aliada ou inimiga da humanidade?
O universo em que se passa a trama é legal de observar também, pois ele não abusa de seus recursos, isto é, mantém o significado do termo “raridade”, não trazendo receptáculos espirituais dos sete mares ou concentrando entidades espirituais em um local só dentro do mundo inteiro. Não instiga aquela curiosidade que traz à tona seu Sherlock Holmes interior, mas não é raso o suficiente para ser denominado como fútil, apenas mal aproveitado.

Aspectos Técnicos


Arte

P.A. WORKS sempre tem seu trabalho nessa parte como nada menos que impecável. A cenografia é praticamente perfeita, não existe preguiça no traçado dos personagens, a anatomia dos mesmos é concisa e a coloração & sombreamento tem suas projeções exatamente onde deveriam estar e, como sempre, falta aquele toque de excelência para completar uma nota máxima.


Direção & Roteiro

Faltou esforço em manter o telespectador entretido, na direção principalmente. O tempo que se perde com cenas de transição ou com o dia-a-dia dos personagens é muito grande para o porte dos mistérios em volta do futuro desse mundo. O roteiro ficou abaixo da média pela inconsistência dentre as cenas calmas e suas partes lotadas de diálogos massivos com termos específicos. Os encantamentos eram legais pelo menos, fiéis à realidade. Em suma faz-se parecer que não houve comunicação entre o diretor e o roteirista durante sua produção.


Sonoplastia

Não há muito o que falar por aqui, não houve uma sincronia exata das letras da Abertura e Encerramento dos episódios mesmo que bem encaixadas para o clima do anime. O uso da artista “Annabel” na Abertura 「Small Worldrop foi uma boa escolha pelo lado Slice of Life + romance incluso e a canção Yokan」 de Masumi Itou” com letra totalmente referente aos sentimentos da Izumiyo com um tom folclórico (lembrando a Himegami) ficou bem interessante. As trilhas sonoras originais não têm um tom ativo, aumentando ainda mais o sentido de tentativa de vivências comuns do anime, o que acabou sendo o foco do mesmo como um todo.


Conclusão

Red Data Girlpoderia ser bem melhor, mas o material base escolhido pelo jeito não foi suficiente para criar uma obra que unisse um ‘estilo de vida pacífico’ com ‘perigo constante’ em perfeita harmonia. A questão técnica de criação está em ótima forma e mesmo com personagens abandonados, foi possível uma volta por cima com uma passagem coesa das emoções pelas falas dos mesmos, todavia o conteúdo foi ralo, não acompanhando a qualidade imposta desde o início, ou seja, o conjunto estava assíncrono demais.

Ao menos suas representações visuais são fascinantes.
Penso que a culpa cai mais na direção do anime pelo descaso sobre seu objetivo principal, mantendo um Slice of Life junto ao mundo onmyouji” ao invés de proferir seu inverso. No final das contas, mesmo com suas falhas claras, é uma boa experiência pelo romance agressivo que ocorre entre os dois personagens principais e já deixo aqui um presentinho para quem for se aventurar nos cenários magníficos: não há nenhum beijo no anime inteiro e mesmo assim você sente a aproximação entre os dois pelo expressionismo bem direcionado de ambos, o que é lindo de sua própria forma especial.

Arte — 8/10
Direção — 4/10
Roteiro — 3/10
Sonoplastia — 6/10
Entretenimento — 7/10
Nota Final — 6/10


Recomendado para pessoas que gostam de:

  • Cenários lindos
  • Drama mediano
  • Folclore japonês
  • Simples desconstruções de gêneros (romance)
  • Slice of Life
  • Temática espiritual


Comentário pessoal: Quando decidi ir assistindo continuamente, percebi que os episódios pareciam muito mais longos que 22 minutos, ou seja, a impressão de aproveitamento de cada episódio se mostrava boa. Ao terminá-lo refleti sobre isso e notei que se essa ilusão fosse utilizada corretamente, Red Data Girl poderia ser uma obra prima. Como isso infere uma alteração na “noção de tempo” do telespectador, não coloquei como um ponto fixo, mas gostaria de que se alguém o assistiu também, comentasse se aconteceu o mesmo consigo ou se sofreu outra forma de ilusão, etc.