.Hack//Sign e a representação da genialidade de Yuki Kajiura.

“Você pode ouvir a uma das músicas dela pensando que é uma boa e aconchegante canção, então de repente a escuridão toma conta de você. O trabalho de Kajiura é quase venenoso, em um bom sentido, é claro.” – Mashiro Koichi, diretor de .Hack//Sign.

Hora de comentar de um dos elementos que mais aprecio em um anime: a sua OST. Falarei mais precisamente no que afirmo estar entre as mais sublimes obras de Yuki Kajiura, está considerada para mim uma das melhores compositoras que produzem atualmente no Japão ao lado de Iwasaki Taku (pretendo falar dele no futuro), a lendária Kanno Yoko e uma das grandes revelações atuais o Sawano Hiroyuki (outro que pretendo comentar).

O trabalho dela está atualmente em tamanha ascensão no Japão que para se ter uma ideia os últimos grandes hits (sejam de vendas, popularidade ou critica) foram de sua autoria, falo respectivamente de Mahou Shoujo Madoka Magica, Fate/Zero e Sword Art Online. E mesmo tendo seus atuais trabalhos aclamados (apesar de sofrer algumas criticas por estar sendo repetitiva de mais), é na OST de .Hack//Sign que realmente podemos ver a sua essência e estilo na forma mais pura, em uma fase que Yuki revelou definitivamente para todos o seu talento, algo que já chamava a atenção desde Noir.

.Hack//Sign é o quinto trabalho da compositora em animes, ao lado do estúdio Bee Train  em parceria com o diretor Mashiro Koichi com o qual trabalhou mais seis vezes e que foi um dos grandes responsáveis para que ela conseguisse extrair o máximo de seu talento sempre lhe dando uma liberdade artística para que pudesse compor da forma que desejasse.

Durante a produção do anime, Yuki impressionou-se com a voz de uma mulher chamada Emily Bindiger que já havia feito uma parceria anos antes com a Kanno Yoko em uma música para Cowboy Bebop. Emily tem um timbre de voz suave, mas que consegue atingir notas altas resultando em uma melodia que se assemelha aos de corais o que a faz se encaixar perfeitamente nas influencias célticas e europeias que Yuki utilizou na construção de suas soundtracks no anime.

Em “Key of the Twilight” cantada na língua inglesa (assim como a maioria das músicas com vocal dessa OST) embalada por um mix de guitarra, um leve acompanhar da bateria e uma forte presença do violino, Yuki consegue mesclar todas as características célticas e instrumentos modernos (esse tipo de mistura é uma das características dela) presentes em suas músicas com a belíssima voz de Emily.

Mas é em “A Stray Child” que Yuki realmente extrai o máximo da voz de Emily, com um ritmo lento quase como um hino acompanhado por um teclado e um triângulo ao fundo chegando ao ponto onde a bateria surge para levar ao ápice da música com novamente o tão característico coral. Você chega a sentir a melancolia invadir o seu interior.

E para encerrar, vou deixar o que para mim é segunda melhor ED composta por Yuki perdendo somente para “Magia” de Mahou Shoujo Madoka Magica, “Yasashii Yoake” é cantada pela banda See-Saw composta atualmente pela Chiaki Ishikawa(voz) e Yuki Kajiura ( a banda não produz nada novo desde 2005). O violino, a flauta ao fundo com direito a um solo mais ao final e até mesmo a presença de um Irish bouzoki (um instrumento irlandês parecido com um violão muito presente em músicas celtas) representam perfeitamente o talento e a alma da compositora. 

Curiosidade: Mashiro Koichi confessou ao falar sobre o trabalho dela na NewType que elevou o volume da música de fundo de propósito para a série porque dava um ajuste perfeito às situações o que apesar de destacar ainda mais a qualidade da OST, não foi do agrado de alguns críticos que disseram que esse volume “exagerado” atrapalhava os diálogos dos personagens.

4 Resultados

  1. Tanaka disse:

    Se há algo que faz .Hack//Sign bem mais assistível, esse algo é a música, que se faz presente durante praticamente TODO o episódio. Sério, a qualquer momento começava a tocar “shine, bright morning light, now in the air the spring is coming”. A execução seria insuportável sem ela (embora eu não tenha tido tantos problemas assim com a mesma, admito que é morosamente desgastante). A Kajiura estava afiada na composição, muita boa mesmo. As interações entre os personagens e a trilha sonora se intercalavam de uma forma simbólica. Em “key of the twilight” por exemplo, temos a menção de uma porta para a “terra do crepúsculo”, ou seja, o mundo real, que era o lugar para o qual Tsukasa não desejava retornar e só poderia faze-lo encontrando a key of the twilight, um símbolo de libertação, aceitação e abertura às mais amplas possibilidades. A mensagem e a reflexão ressoaram tanto em mim, principalmente a forma como o personagem de Tsukasa foi construído, retraído, debochado e egoísta, contrastando com as características de um personagem típico e esboçando um traço mais fiel à realidade. A impressão que me dá é que .Hack//Sign poderia inspirar uma tese de mestrado, tem muita coisa a ser dissertada ali, é a essência do escapismo em 26 episódios. .Hack//Sign é a psicologia/sociologia feitas de maneira correta sem cair nos clichês e exageros comuns da pseudo-psicologia de anime, e eu o respeito muito por isso.

    • Adramalesh disse:

      Você como sempre fazendo uma bela analise do anime, não é atoa que seja o Tanaka-senpai XD.

      Interessante relação entre a musica e o Tsukasa. Se formos avaliar bem, a OSt em si da boas dicas de como interpretar a obra e entender mais os personagens.

      Sim, uma tese de mestrado poderia facilmente pegar material desse anime. A serie apresenta varios motivos de escapismos diferentes (um garota que queria se sentir viva, um homem que se afastava dos problemas familiares, o rapaz que queria apenas se divertir) e ainda traz uma mensagem de que não há nada de errado em se afastar um pouco dos problemas, mas uma hora você deve encara-los ou eles irão lhes encarar.

  2. Kajiura combina mesmo com escuridão, com tramas de personagens introspectivos e dualistas. Não cheguei a assistir .Hack//Sign, mas a OST parece e adequar bastante à proposta; aquela coisa de aventura épica. Me lembrou um pouco de Madoka Mágica, não só por Kajiura seguir o mesmo estilo sonoro sempre, mas as melodias parecem ter sido compostas com um fio condutor idêntico. LOL

    Em termos de diversidade, ainda prefiro o trabalho dela em Tsubasa Chronicles.

    • Adramalesh disse:

      Realmente as duas OST tem uma composição parecida, até porque ambos animes apresentam profundas questões psicológicas de seus personagens e ela costuma conhecer bem eles antes de compor, tanto que depois que assistiu .Hack//Sign se arrependeu de não ter feito uma soundtrack para uma das personagens.

      Engraçado você falar isso sobre a OST de Tsubasa, porque até o momento estou achando a mais fraca que ela já vez. O.k, não tanto quanto a de SAO que foi bem no automático. Talvez seja a historia que ainda não tenha me cativado (estou vendo o anime atualmente).

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