Bubble – O sonho de um anime incrível… | Review

Recentemente eu tive a oportunidade de jogar meu tempo fora assistindo Bubble e, bem… Não foi tão ruim quando a review pode fazer parecer ser, mas ainda faltou bastante para ser algo memorável, principalmente quando você coloca o peso que a staff tinha no projeto.

Urobochi é um autor que gosto bastante do trabalho, mas eu não consegui sentir que era ele escrevendo ali. O roteiro oscila em vários momentos, indo de algo que tenta (ênfase no tenta) ser original para algo preguiçoso e desinteressante, chegando ao ponto de criar exposições absurdas e conflitos sem sentido.

Para um autor que escreveu obras como Madoka e Fate/Stay Zero, essa tentativa de reimaginar o conto da Pequena Sereia – que nem é assim tão reimaginado –, é algo bem abaixo do esperado e decepcionante.

Não foi dessa vez…

Tentando explicar melhor, o principal problema que senti no filme é a falta de um objetivo. Ele tenta “abraçar o mundo com os braços e com as pernas”, como dizem aqui para os lados onde moro, mas não consegue chegar em lugar algum.

Você tem as competições de parkour, que supostamente são um mecanismo importante para o funcionamento daquela versão de Tóquio, porém, isso não faz a mínima diferença na história e elas são só uma desculpa para ter ação na tela.

Não existe um senso de urgência ali. Mesmo que digam que as disputas aconteçam por suprimentos e recursos de sobrevivência, ganhar ou perder não tem impacto em nada.

O time de “vilões” parece uma daquelas inúmeras tentativa de criticar o apelo por curtidas/visualizações, mas feito tão de qualquer jeito que nem faz diferença, e o único propósito da existência deles é gerar uma competição absurda valendo a cientista, onde nem mesmo o amigo dela parece ligar para o fato dela ter sido feita de refém.

Visualmente bonito é, mas se faz diferença para história…

Na mesma linha, a importância das bolhas e da destruição em Tóquio é feita de forma tão superficial que não dá para se importar com o que é mostrado.

O problema de saúde do protagonista é jogado no meio da história e resolvido de qualquer jeito sem criar tensão ou desenvolvimento para o personagem.

As bolhas são explicadas como um evento extraterrestre natural (pelo menos foi como entendi), mas não contribuem muito para pontuar o que foi mostrado até ali, servindo mais como desculpa para ter o conflito final ao invés de ser algo maior dentro do enredo.

O cenário pós-apocalíptico é basicamente para ter paisagens bonitas, porque também não faz muita diferença. Todos levam uma vida boa e tranquila, o que até combina com a ideia de “viver em uma bolha” que o filme tanta vender, mas falta algo para juntar tudo isso.

Ninguém tem uma passado interessante para justificar a escolha de viver em um lugar que foi abandonado pelo mundo, então você não sente que houveram perdas com o incidente causado pelas bolhas.

Se você trocar esse evento cataclísmico pela construção de uma cabaninha de cobertas vai ter um resultado parecido e talvez até melhor, já que a cabaninha de cobertas passa melhor essa sensação de segurança, conforto e isolamento que o filme quer mostrar.

Trocasse as competições pelo passado dos personagens e negócio podia ser diferente.

Por fim, o romance talvez seja o que se sai melhor, mas apenas por justamente ser um romance.

Não precisa de muito para ativar o nosso modo shippador, então uma troca de olhares bem feita pode ser o bastante para te fazer torcer pelo casal.

Porém, olhando de um ponto de vista crítico, o romance aqui também é fraco, sendo que se sustenta unicamente em cima do destino.

A forma como a garota é adicionado para o grupo é tão artificial que não me chamou atenção, além de que a intimidade entre  os dois vai escalando de uma forma tão rápida que não me fez sentir que a restrição de não poderem se tocar fazia diferença.

Isso, que por sinal, poderia ter sido o ponto chave da história, já que é uma condição interessante em que a garota foi colocada, mas esse dilema vai meio que sendo levado e você já sabe o que vai acontecer quando mostram a versão original do conto da Pequena Sereia.

O que salva o romance é que não arrumaram uma solução milagrosa para o problema da garota, então essa frustração você não carrega para o final. Na verdade, se você for emotivo pode até gostar do toque dramático  que tem (não foi meu caso, no entanto).

É… Shippei, mas não me impressionou tanto.

Para completar, o que ajuda o filme a não ser um completo desastre é a parte técnica do estúdio WIT.

Se isso tivesse sido feito com uma qualidade meia boca era bem capaz de ter largado na metade, porque o visual do filme consegue te prender como um bom entretenimento visual.

As cenas de parkour ficaram muito boas, além de todos os cenários serem lindos. A direção usou bastante daqueles closes de Vivy, com ilustrações super detalhas e bem feitas, o que te fazem gastar alguns segundos admirando o trabalho que tiveram ali.

A trilha sonora não ficou ruim, mas, considerando que estamos falando do Sawano, ela não chega a ser muito expressiva, meio que ficando no básico do compositor.

Ponto para WIT.

Resumindo, Bubble é uma daquelas obras que tenta ser tudo, mas não é nada. Potencial para algo grande o enredo até tinha, porém, acaba ficando preso no mínimo e entregando uma história que não surpreende e nem impressiona muito.

A parte técnica é de longe o ponto alto da obra, o que consegue te prender e até tornar a experiência agradável, já que o visual sustenta o lado do entretenimento.

Não sei se foi por conta da situação financeira da Netflix, e o que era para ser uma série virou um filme, mas, infelizmente, o resultado está aí, uma obra que poderia ser boa se tivesse o tempo certo para existir.

 Extra

Só queria dizer que a melhor coisa do filme para mim foi essa mulher e eu nem sei porquê.

 

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.