Wonder Egg Priority – O karma do final ruim… | Review

Nos últimos tempos ando meio desanimado com animes e, consequentemente, com reviews, mas depois de assistir ao “último episódio” de  Wonder Egg  me deu vontade de falar sobre a obra.

Não é como se eu fosse tentar defender, muito pelo contrário. Ele de fato é decepcionante, mas Wonder Egg foi um anime que me agradou bastante, e mesmo tendo esse problema, ainda acho que vale a pena discutir sobre os temas e ideias da obra.

Se não fim de tudo alguém achar que vale a pena assistir mesmo com o final aberto, ótimo, se não, bem… é compreensível.

Não vamos forçar ninguém a engolir esse final.

Para deixar tudo em panos limpos, vou começar dizendo que não foi só o final que teve seus problemas comigo.

Tiveram algumas cenas durante o anime que a transição parecia meio confusa para mim, e as coisas saltavam de um ponto ao outro sem muito ritmo.

Ao que tudo indica, parece que é meio que essa a pegada do diretor, e eu respeito, mas não me agradou muito em certas cenas.

Outra coisa que me deixou com aquele gostinho ruim na boca foram certas ideias mostradas no inicio do anime que depois foram sendo esquecidas.

De começo deram a entender que haviam efeitos colaterais das batalhas no mundo dos sonhos, mas depois de um tempo isso foi sendo deixado de lado.

As garotas se arrebentavam no mundo dos sonhos e na cena seguinte estavam saltitando como se nada tivesse acontecido, sendo que lá no começo a Ai foi parar no hospital por bem menos.

Talvez aqui venha o problema com o final, já que, como não tem muitas explicações aprofundadas sobre o mundo dos sonhos, não dá para dizer se essa ausência de efeitos colaterais foi proposital ou buraco no roteiro.

Falando no final…

Expectativas esmagadas desse jeito.

O grande problema do final é que ele não termina nada.  Você abre feliz pensando que serão 40 minutos de história e recebe um recap enorme que devia ter sido feito aparte.

Não o bastante, tudo termina literalmente com a protagonista dizendo que vai começar uma nova jornada, para aí sim ir atrás da verdadeira vilã e resolver os demais assuntos do enredo.

Para não dizer que não teve nenhuma resolução, o episódio mostra um pouco melhor como as garotas ficaram depois de passar por aquele terror psicológico, além de criar um plot twist em cima da verdadeira identidade da Neiru.

Como eu já tinha meio que pego essa suposição de que ela não seria uma garota normal, não ficou me parecendo algo tirado do nada, por mais que seria bom ter um pouco mais de detalhes dessa identidade secreta dela durante os últimos episódios.

No fim, a sensação que fica com esse “final” é que o décimo terceiro episódio não estava pronto e precisaram adiar, mas não tiveram aprovação para anunciar uma segunda temporada e tudo ficou assim.

A expectativa agora é que uma continuação seja anunciada no futuro, ou que pelo menos mais episódios especiais sejam lançados, porque chamar aquilo de final é impossível.

Justo quando o negócio tinha ficado pesado…

Deixando os problemas de lado, vamos ao que realmente importou para mim, que foi a experiência que o anime me proporcionou.

Essa é uma interpretação minha, mas acho legal começar pelo título da obra.

Ele tem um jogo de palavras interessante, onde o “egg” de Wonder Egg  tem uma pronuncia bem parecia com “ego” em japonês , dando para ler o título como Wonder Ego(Ego/Eu Maravilho), ou, em uma tradução mais autoral, “meu eu perfeito”.

É legal pensar nisso, porque  essa é basicamente a essência do anime. Todas as garotas tem uma construção voltada para confrontar seus egos, para ir atrás do Wonder Egg e mudar sua situação atual.

Seja Ai com a sua reclusão e falta de aceitação do relacionamento com o professor, ou a Rika, que é o exemplo mais claro de egocentrismo e  egoísmo, mesmo que no fundo seja um mecanismo de autodefesa dela, o anime gira muito em cima disso, de se entender, se aceitar e se reconhecer.

Detalhes pequenos que vão criando algo maior.

A relação com quebrar o ovo é muito boa por conta dessa questão. As protagonistas estão sempre tendo que fazer isso para entrar no mundo das outras garotas, o que normalmente leva a um entendimento dessas meninas, indiretamente dizendo que ao terem as cascas que protegiam seus egos quebradas (traumas), elas puderam se libertar.

Quando a Ai quebra o próprio ovo tudo isso fica mais claro, já que ela mostra para sua outra versão que existe uma “eu”  que conseguiu algo bom, além de também poder ver uma possível realidade para si, caso não tivesse encontra uma amiga.

Tem muito mais coisas do tipo no anime, como os animais que as garotas recebem poderem ser visto como as personas que assumimos para nos protegermos das possíveis críticas/perseguições sociais.

Eles entraram e saem de um ovo de acordo com a necessidade das garotas, servindo para lutar contra as criaturas menores, que podem não ser o verdadeiro problema, mas estão ali para dificultar ainda mais a superação do vilão (trauma).

Às vezes o maior problema é a repercussão de algo, do que a crise em si.

Além disso, outra coisa que achei muito boa no anime foram as discussões sobre temas complexos, não se limitando apenas ao suicídio que é o pilar de tudo.

Se já é muito bom ver esse tipo de relação sendo feita nas bases dos animes, acompanhar os desenvolvimento em si é muito melhor.

Para quem gosta de ver essas discussões, assim como eu, vale muito apena, porque o anime tem ótimos temas, como abuso sexo, exploração infantil, crítica a idolatração da imagem, fanatismo, bullying, identidade e gênero entre outras.

Por mais que tudo isso possa fazer parecer que a obra é um daqueles casos politicamente corretos, na verdade é muito pelo contrário. Tudo é muito bem discutido, sem cair em clichês ou uso exagerado dos dramas.

As personagens do mundo dos sonhos tem no máximo dois episódios em cena, mas elas conseguem ser  complexas, com bons dramas, ideias e diálogos que te prendem e fazem você se importar com o que aconteceu com elas.

Um dos que mais gostei foi o dilema da Momo, que traz um tema que é bem difícil de encontrar bons exemplos de uso, mas que se desenvolve de uma forma sutil, sem polemizar demais, mas também sem deixar de falar o que é necessário.

Um dos melhores episódios para mim.

Por fim… O anime é simplesmente lindo. Eu não tenho conhecimento o bastante para falar em detalhes sobre animação, mas todos os episódios, tirando esse último, são visualmente espetaculares.

É como se tivessem pegado um filme e dividido ele para virar uma temporada, porque os cenários, as roupas, detalhes, iluminações, cenas de batalha, tudo é sempre muito bem feito e constante, com alguns episódios até conseguindo superar o nível do anterior.

Lindo demais.

Em resumo, Wonder Egg foi um anime que entraria fácil para minha lista de favoritos se tivesse tido um final concreto.

Até que aconteça, se acontecer, claro, o máximo que posso fazer é dizer que a experiência foi muito boa até o momento, mas é complicado recomendar sabendo que algumas pessoas não gostam de desperdiçar tempo com obras incompletas.

Agora é torcer para que tenha algum anuncio de continuação, ou algo do gênero, porque não dá nem para dizer que foi um final ruim, já que ele nem existe de fato.

Extra

Eu só queria ressaltar uma última coisa, que é o fato da Ai usar uma capa de chuva (se proteger de algo), mas quando está passando por algum desenvolvimento ela está sem e, coincidentemente, acaba tomando chuva.

Uma saca simples, mas que mostra como o anime gosta de adicionar mais profundidade ao emocional das personagens através das cenas e visuais.

Ps: talvez não seja necessário explicar isso, mas por via das dúvidas… ir atrás do seu ego não significa se tornar egoísta ou egocêntrico, assim como confrontá-lo não quer dizer que as personagens eram egoístas ou egocêntricas.

Ego é uma forma de se referir a si mesmo e quebrá-lo significa mais trazer uma mudança do que consertar um problema.

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.