O Castelo de Cagliostro – Roubo, perseguição e muita diversão |Review

Em razão do falecimento de Kazuhiko Kato, mais conhecido como Monkey Punch, criador de Lupin III, decidi homenageá-lo trazendo a review do meu filme predito da franquia: O Castelo de Cagliostro de 1970. Através desse filme dirigido por Hayao Miyazaki, um dos diretores e cineastas japoneses por qual eu tenho um imenso carinho, já que seus filmes fizeram parte da minha infância, que eu conheci o universo de Lupin.

Lupin é aquela série criada especialmente para crianças e adolescentes que acaba extrapolando o público alvo, principalmente no Japão onde você nasce e cresce praticamente vendo Detective Conan e Lupin III, então você tem gerações e mais gerações de pessoas que passaram a infância com estes personagens.

A obra é importante para a época porque ela, junto com outros clássicos, começaram a desenvolver a indústria que conhecemos hoje em dia, e criar os alicerces para as narrativas dos animes e mangás contemporâneos.

A franquia possui inspirações de Arsène Lupin, o ladrão de casaca de Maurice Leblanc, sendo uma das primeiras obras japonesas a fazer uma releitura moderna, divertida e criativa da temática do ladrão cavalheiro criada pelo francês, que acabou inspirando outros ladrões como o próprio Kaito Kid de Magic Kaito.

A narrativa se caracteriza pela adoção de objetos futuristas, que é bastante presente em diversas produções do século 20, como lasers e robôs, além do uso de diversas bugigangas ou apetrechos pelo protagonista em seus roubos (HQ’s americanas influenciaram estes aspectos de Conan, Kaito e Lupin).

O tom da historia também tem uma coisa bem comic, e traz uma abordagem de aventura que mescla o bom humor com conteúdos um pouco mais sérios e adultos. Sendo algo bem comédia pastelão e exagerada mesmo (outra característica dessa época), então pode acabar desagradando naturalmente algumas pessoas.

Hayao Miyazaki e Isao Takahata participaram da produção de vários episódios para a adaptação em TV, então quando ele pegou a produção desse filme já era bem familiarizado com os personagens. E foi o primeiro filme que ele realmente dirigiu, então é aquela obra que deu pontapé na carreira dele.

O Castelo de Cagliostro é uma aventura que mistura muitos elementos naturais da própria obra e universo de Munkey Punch, como a sexualidade, as aventuras cheias de movimento, perseguições e explosões, junto com características da direção de Myizaki, como a critica a alguma problemática da sociedade, ou de determinadas organizações, a paixão por ambientes naturais, objetos mecânicos e castelos.

A cena do confronto do duque com o Lupin no final, que é um dos trechos mais marcantes do filme para mim, evidencia bastante isto do Myizaki , temos as engrenagens junto com a arquitetura deslumbrantes do próprio castelo, ou melhor, da torre do relógio.

O castelo também é um objeto de personalidade dentro da animação, cheio de passagens secretas e engenhocas que o tornam um lugar deslumbrante, mas bem hostil também.

O desfecho do vilão é impactante, mas bem sutil, sendo um final bem criativo, mas particularmente cruel ( e em como todas as obras desse diretor, tudo é consequência das próprias ações e escolhas dos personagens).

A historia em si é a personificação da diversão, afinal o próprio Lupin é um personagem iconizado como um vigarista elegante, brincalhão e muito, muito mulherengo, ao ponto de se meter em encrencas apenas por um rabo de saia.

Contudo, o humor e a ação não são os elementos únicos do enredo, que também mescla momentos mais tensos e bem trabalhados que expressam aspectos e problemática dos personagens de forma implícita.

Implícito é a palavra chave desse filme, apesar de ser uma aventura bastante escrachada, dinâmica e, de certa forma, alegre, o filme não te entrega aqueles diálogos altamente expositivos, sua fórmula é mostrar, e não descrever. Você precisa realmente interpretar os personagens e seus sentimentos.

Apesar de ter uma proposta que pode ser considerada clichê do mocinho (não tão mocinho assim, afinal é um ladrão) ajudar uma garota em apuros, o filme vai se focar bastante na relação de camaradagem e empatia que vai sendo tecida, e formada entre o ladrão e a Cagliostro.

Além de certas ações do Lupin ter um ar bastante romântico, e não digo romântico no aspecto de de se formar um casal, mas aquela melancolia, aquela desenvoltura galante, aquela dramaticidade e a temática de amor eterno, mas que não é alcançado na materialidade de obras dessa vanguarda.

E o grande roubo deste filme acaba sendo uma pessoa. Basicamente a historia narra isto, como um vigarista extremamente mulherengo vai ajudando a heroína a conseguir o que tanto queria, que era a sua liberdade.

Agora, falando um pouco da parte mais técnica, o filme é realmente uma animação magnifica, sendo bastante fluido e possui um design de cenários e movimentos bem detalhados (para a época).

A arte e o design de Lupin também é bastante expressiva e chamativa, estilizada e cartunizada, o que casa bem com o tom que a série tem, já que ela tem uma pegada bem cômica e que, como já deixei claro, o show é naturalmente escrachado e exagerado, mas isto não é um defeito, mas é algo inerente da própria obra.

Outro mangaká com uma arte parecida e bem característica é Gosho Aoyama, criador de Detective Conan.

A trilha sonora do anime também é bem composta e aplicada, com as músicas de abertura e encerramento em consoante com os sentimentos dos personagens, e com o que é desenvolvido dentro da trama.

Portanto, através de clichês bem administrados, e um boa doce de humor das décadas de 70 e 80, com uma direção criativa e realmente competente, O Castelo de Cagliostro é um longa divertido e bem construído, com personagens carismáticos e cativantes que definitivamente deve ser reconhecida como uma das obras primas da animação japonesa.

Castelo Cagliostro está disponível na Netflix. A temporada recente da série Lupin III: Parte V também esta disponível pela Crunchyroll

Nota do autor

Roteiro – 9/10

Direção – 9/10

Animação – 9/10

Trilha sonora – 9/10

Entretenimento – 8/10

Nota Final: 8.8/10

# Extras

Sirlene Moraes

Apenas uma amante da cultura japonesa e apreciadora de uma boa xícara de café e livros.