As Crônicas de Arian 2 – Capítulo 18 – O Garoto de outro mundo

Índice para todos os capítulos: aqui

O Livro 1 completo já está a venda na Amazon.

Ou você pode ler de graça se cadastrando nesse link.

Capítulo 18 – O garoto de outra dimensão

Desde que fez 14 anos Jon começou a ter dúvidas sobre o caminho que seguiria na vida. Seu avô insistia para que começasse a trabalhar na empresa da família, mas Jon sempre achou aquele trabalho entediante.

Com sua memória fotográfica tinha vantagens em qualquer coisa, tirando atividades físicas. Mas nada que tentava o trazia contentamento.

Dois anos mais tarde, e com a pressão sobre ele aumentando por parte da família, Jon estava andando na rua, triste e sem saber o que fazer com sua vida, quando aconteceu. Do nada o chão abaixo de seus pés mudou para um gramado alto e bastante úmido. 

A distancia pode ver uma torre branca, tão alta que era difícil ver o topo pouco depois das nuvens. “Onde estava?”, pensou.

Pouco tempo depois um grupo de pessoas apareceu e o cercou. Eles falavam uma linguá estranha que ele não entendia. Mas isso não chamou tanto a sua atenção quanto a loira em um manto azul que se aproximou lentamente dele e colocou a mão em seu ombro. Ela então apontou para si mesmo e disse:

“Joanne”

Isso Jon conseguia entender. Ele apontou para si mesmo e disse:

“Jon”

A mulher sorriu para ele, e esse visão foi a coisa mais bela que já tinha visto em toda sua vida. Quem era ela? Não importava. Ele finalmente tinha achado um propósito, um objetivo, algo pelo qual queria viver.

Foi então que tudo se apagou, e Jon acordou com uma voz familiar.

— Não devia contar a ele?

Era a voz de Zek. 

— Você gostaria que te contassem? Só vai deixa-lo infeliz, é melhor ele não saber. Já pedi aos outros para não dizerem nada sobre…

Joanne parou de falar ao notar que Jon estava abrindo os olhos. Provavelmente não sabia que ele tinha escutado parte da conversa antes disso, embora não a tivesse entendido.

Estava dentro da carruagem que os levou para a cidade. Pela janela podia ver os prédios escuros característicos de Amit, então ainda estavam dentro do local.

Controlando a diligencia estavam Lara e o guia que os trouce a cidade, ainda usando seu manto velho e com os longos cabelos pretos escorrendo pelo rosto pálido. “Por onde ele andou esse tempo todo?”, se perguntou Jon. Ambos ele e Lara pareciam estar cochichando algo, mas não dava para escutar o que. A sua frente estava Irene, dormindo, e ao lado dela, Zek, conversando com Joanne antes dele acordar. 

A formação da escolta montada era a de sempre, Marko e Dorian atrás da carruagem e Arian e Kadia na frente. <E> estava sentada na frente do cavalo de Arian, lendo um livro enquanto ele passava as páginas quando ela o cutucava.

Por último notou que estava deitado em cima de algo macio, mas não era um travesseiro.

— Tudo bem?

Era a voz de Joanne, ele estava deitado no colo dela. Assim que notou ele se forçou a levantar. Foi mais difícil do que pensava, todo seu corpo doía.

— Você…?

— Eu estou bem, Jon. Seu sangue era mesmo compatível. Devia se preocupar mais consigo mesmo.

— Por que eu desmaiei, afinal? Não estava ferido.

Joanne apontou para o cabelo de Jon. Ele então se virou para o espelho no teto da carruagem e entendeu. A mecha branca que surgiu em seu cabelo desde que quase foi morto pela Bruxa havia aumentado.

— Você repassar energia para mim não funcionou?

— Funcionou, mas você vai a perdendo com qualquer esforço que faça. Para uma pessoa normal não faz diferente, mas sua alma foi danificada, você quase não está renovando a energia espiritual do seu corpo. Zek teve que te passar um pouco da dela.

Jon lembrou do beijo com Joanne e imaginou que o mesmo tinha acontecido.

— Por que ficou vermelho? Ah… Ela te passou energia com toque, aquilo que fiz com você é só para emergências quando precisa passar energia rapidamente. Mas sorte a sua não ser desse mundo, parece que graças a isso você não tem um pagamento. Se tivesse teria entrado nele.

Jon entendia a teoria da coisa, mas ainda era muito estranho ter que beijar alguém para passar energia. Em tese, o que se descobriram a base da tentativa e erro ao longo de muitos anos, é que quanto mais interna for a parte do corpo em contato, mais rápida qualquer tipo de transferência. Cura, pactos, transferência de energia, maldições,  qualquer coisa funciona mais rápido com contato interno entre as duas partes.

Jon também não conseguia deixar de lembrar da outra possibilidade mais avançada fora o contato de lábios e linguá, que ele já havia experimentado contra a sua vontade. Foi quando um pensamento lhe veio a mente.

— Espera! Vou precisar de transferência para o resto da vida?

Zek queria dizer algo, mas se conteve.

— Ao menos até darmos um jeito de reparar sua alma. Energia celestial só cura a parte física, não tem nada que possa fazer quanto a danos na alma.

Jon parecia bastante infeliz com a resposta. Ficar dependente de reporem sua energia parecia degradante. E pior, nunca ouviu falar de curas para alma. Mas como não havia nada que pudesse fazer no momento, mudou de tópico.

— É impressão minha ou estamos sendo descaradamente seguidos por aquele pessoal ali atras.

Jon apontou para uma carroça simples de madeira, guiada por duas meio elfas. Dentro da carroça pareciam haver várias mulheres.

— Arian comprou todas as escravas meio-elfas dos lordes da cidade que foram mortos pelo cavaleiro da morte no dia seguinte que chegamos aqui. Elas vão nos seguir por alguns dias até o cruzamento que dá para Distany. Ele mandou um mensageiro para Distany chamar alguém para as guiar a partir dali.

— Ao menos vamos ter entretenimento a noite… — disse Dorian, com um olhar safado para a carroça atrás deles.

Arian olhou furioso para trás no mesmo instante.

— Toque em qualquer uma delas e eu arranco a sua cabeça — ameaçou.

— E se elas pedirem? — desafiou.

— Fique longe delas, Dorian, só vou avisar uma vez.

— Sabe que faziam isso com elas todo dia, né…? Mas entendo seu lado, quer uma carroça inteira de meio elfas só para você… Tem que fazer jus a fama de taradão das elfas… Lara, devia dar um jeito de deixar suas orelhas pontudas, conseguiria o que deseja mais rápido.

Marko não aguentou e caiu na gargalhada. Jon ficou em dúvida se achava aquilo legal da parte de Arian ou só dava risada do deboche de Dorian, que claramente só estava de provocação desde o começo. Ele então olhou para Zek e notou que ela estava com sua armadura e espada celestiais. Quando eles a resgataram ela só usava a roupa que tem por baixo da armadura.

— Como as conseguiu de volta? Foi pegar dentro do castelo congelado de Arx?

— Não, eu só invoquei — respondeu ela, sem entender a pergunta.

— Como é?

— As armaduras e armas celestiais tem uma ligação com o dono, como as armas espirituais que criamos nesse mundo. Basta Zek querer que ela se teleporta de onde estiver e se materializa no corpo dela. Tanto armadura quanto espada.

— Dessa eu não sabia… E a Irene? Está bem?

Joanne olhou para a amiga dormindo com a cabeça apoiada no colo de Zek.

— Kadia fez um corte profundo no peito dela. Se Lara não tivesse a curado rapidamente quando viu seu estado, estaria morta.

Jon não conseguia imaginar a cena de Lara ajudando alguém sem motivos sortidos por trás. Provavelmente estava querendo se mostrar para Arian de novo. Joanne continuou.

— Não dá para curar algo assim de uma vez só, então ela vai precisar de mais alguns dias de repouso e aplicação de energia espiritual na ferida para se recuperar. Nos a dopamos para conseguir dormir, já que estava sentindo muita dor por causa da ferida.

Jon então voltou a reparar em Joanne.  

— Ainda está bem pálida.

— Estou bem, nenhum ferimento interno grave, e o ferimento do braço logo vai estar totalmente curado comigo mantendo energia celestial no braço o dia todo. Meu problema era o estado crítico pela falta de sangue, e você já resolveu ele. 

Jon olhou para ela meio insatisfeito, e depois para seu braço, onde viu o curativo do local onde espetaram a agulha para retirar sangue.

— Transferiu o bastante? Ainda está muito branca, e eu me sinto bem, pode tirar mais.

Joanne riu com a insistência dele, o que o fez imaginar se ela lembrava que naquela manhã ele tinha basicamente se confessado para ela pensando que iria morrer. Foi então que Marko interferiu.

— Jon, quando disse que precisava de confiança na sua abordagem virar a mãe da Joanne não era bem a ideia… — disse seu mentor, de cima de seu cavalo, olhando pela janela da carruagem.

Joanne deu uma risada de leve.

— Estou bem, Jon, sério. A anemia vai passar em uns 2 dias, basta eu tomar bastante água e comer direito. Mas se precisar de mais sangue, eu te aviso e fazemos uma nova transfusão. Você precisa de um a dois dias para se recuperar da primeira antes.

— E o… seu braço…?

— Não tenho como regenerar um braço… Poderia colocar uma prótese, mas até se acostumar a mexer gastando pouca energia espiritual demora anos, e elas custam uma fortuna. Vou ter de aprender a viver com um só a partir de agora.

Jon olhou com tristeza para o braço de Joanne. Sabia que não havia opção, mas foi ele que a privou de um dos braços mesmo assim.

A atenção dele logo foi desviada por Dorian e Arian xingando um ao outro.

— Você é um idiota!

— Que está havendo? — perguntou Jon a Marko pela janela da carruagem.

— Arian estava querendo saber o que Dorian estava fazendo durante a queda da torre em vez de ajudar vocês. Encontramos ele são e salvo no hotel pouco depois de você e Joanne desmaiarem.

— Já disse, assim que a Lara congelou a torre escorreguei até o final dela e desci para a cidade.

Jon arregalou os olhos com a resposta e respondeu furioso.

— Você o que? Podia ter nos ajudado! Talvez não tivéssemos caído se estivesse lá!

— Desculpe, Jon, mas não vou dar de herói, estou fazendo só pelo dinheiro, e ele não é o bastante para eu arriscar me suicidar lutando em uma torre prestes a cair no mar. Diferente dessas abominações eu e você somos humanos e morremos fácil. Só estou vivo até hoje por ser precavido. Sem poder usar minha magia direito por causa da droga que Arx me aplicou, nem ajudar muito eu poderia de qualquer forma. 

Arian olhou para ele com reprovação.

— Fale o que quiser taradão das elfas, eu não tenho um espírito de mau humor no corpo para me proteger sempre que estou prestes a morrer.

Arian voltou a ficar possesso.

— Proteger? Sabe quantas pessoas inocentes já morreram por causa daquela coisa?

— Mas você está vivo, não está? Esse treco só dá azar para quem está em volta, não para você. Bem, a não ser que sejam aliados… E esse é mais um motivo para eu querer dar o fora da torre antes que você surtasse por lá.

Arian balançou a cabeça nervoso, e então voltou a se virar para frente. Os olhos de Jon então pousaram em Kadia, que estava com um olhar meio perdido.

— A Kadia está bem? — perguntou ele, falando com Joanne.

— Parece meio confusa, mas disse que vai ficar conosco e cumprir o acordo que fez comigo em Arcadia. Ela perdeu muita coisa da memória dela. Deixamos ela ler uma parte de nossa mente para ao menos ter ideia do que aconteceu desde que nos conheceu.

— Não parece ter ajudado muito.

Nesse momento, Kadia, que provavelmente estava escutando os pensamentos dele, se virou para Jon e disse.

— É melhor que nada… mas… você se ver fazendo e dizendo as coisas é diferente de lembrar de ter feito… é como ver outra pessoa igual a mim fazendo tudo…  Jon.

— Por que dá pausa? Não lembra o meu nome?

— Eu vi nas memórias, mas não me sinto a vontade falando. É a primeira vez que falo com você… digo, desde que perdi parte das minhas memórias.

Jon achou melhor não perguntar muito mais, em geral Kadia parecia bem pouco a vontade falando com ele no momento. Ele então se virou novamente para Joanne.

— Onde estamos?

— Saindo da cidade. Você desmaiou hoje de manhã, arrumamos as coisas e decidimos sair a tarde mesmo, continuar na cidade era muito arriscado. O povo todo estava nos olhando feio.

— Eles sabem o que aconteceu com Arx?

— Parece que não. Mas sabem o que fizemos com os guardas, o que foi o bastante para ficarem bastante hostis.

Jon então olhou para Zek, que o estava encarando sem dizer nada.

— Tudo bem, Zek?

— Tudo, mas ainda estou meio tonta com seja lá o que injetaram em mim. Desculpe de novo Joanne, fui apenas um estorvo.

— Não foi sua culpa mulher! Para de se desculpar — Joanne parecia irritada, o que levava Jon a crer que ela devia estar se desculpando repetidamente a algum tempo.

Jon começou a encarar o teto da carruagem pensativo.

— Só queria saber quem pegou Kadia e Zek no fim das contas…

— Arx — disse Marko.

— Ele entrou e as levou sem notarmos? — Jon parecia meio incrédulo com a possibilidade.

— A Kadia foi pega no meio do caminho para o hotel. Um humano normal não conseguiria, então deve ter sido ele ou muitos demônios. Pelo estrago da área em que encontrei a espada dela quebra, ter sido ele é mais provável — disse Arian, antes de ser cutucado por sua fantasma de estimação e passar mais uma página do livro que estava segurando.

— Foi ele sim… — confirmou Kadia.

— Recuperou suas memórias? — perguntou Jon, animado.

— Não, eu lembro de tudo desde que encontrei ele, só não lembro de muitas coisa antes disso. Mas preferia ter esquecido do encontro com ele também…

Kadia parecia nervosa, o que o levava a crer que estava lembrando da parte em que foi torturada por Arx e seu servo. Era uma boa hora para mudar de assunto, pensou ele. 

— E a Zek? — questionou Marko.

— Não tenho ideia. Do que se lembra Zekasta? — perguntou Jon.

— Eu estava bem. Do nada a porta do quarto começou a bater e eu desmaiei.

— Um demônio? — sugeriu Dorian. 

— Foram os donos do hotel. — disse Kadia.

— Como é? — Joanne pareceu meio incrédula.

— Eu li a mente deles, receberam ordens para drogar a comida dela. Em seguida os demônios de Arx levaram Zek. O que Zek viu provavelmente era uma alucinação derivada do veneno na comida.

— Desgraçados…  — Marko ameaçou virar a cavalo e voltar para o Hotel.

— Espera! Acho que entendeu errado, Marko. Lembra do diário? Não era só os donos do hotel, todos da cidade deviam estar contra nós. Todos são obrigados a obedecer qualquer ordem de Arx por causa do pacto de sangue que fizeram ao entrar na cidade. 

Ao escutar isso Marko rapidamente se acalmou e deu uma risada, provavelmente achando graça de si mesmo por não ter pensado nisso.

— Entendi, mistério resolvido então. Até que nos viramos bem, quer dizer, considerando as adversidades…

— Só sei que nunca mais quero voltar aqui. Foram os piores momentos da minha vida — reclamou Jon.

— Que nada, como eu falei, ainda vão invejar a forma que perdeu a virgindade quando contar a história.

Zek gelou quando escutou isso. Seu rosto inexpressivo foi substituído por um com dois olhos bastante arregalados.

— Como é? — Dorian pareceu muito curioso com o que Marko disse.

— Ele foi violentado por uma bruxa fundida com um demônio. Acredita nisso? 

— Que legal… Isso humilha completamente todas as histórias de primeiras vezes ruins que já ouvi até hoje — Dorian estava olhando para Jon como se estivesse com inveja, o que só o deixava mais perplexo com a cultura masculina bizarra daquele mundo.

— Foi o que eu disse, não tem como ganhar dele!

— Qual é o problema com vocês dois?! — gritou Kadia, virando a cabeça para trás e olhando para Marko e Dorian com desprezo.

— Sai fora Kadia, você não pode criticar a gente andando por ai quase pelada desse jeito — disse Dorian.

No mesmo momento, Kadia agarrou as pontas do manto negro que estava usando em cima do corpo e tentou fecha-lo. Seu colante de couro preto estava todo rasgado, revelando muito de seu corpo.

— Por que não pega uma das minhas roupas, Kadia? A coisa está muito feia com a sua, bem mais do que quando saímos de Arcadia.

— Não quero me desfazer dela, é algo importante pra mim, só mas não lembro o por que.

A garota voltou a se virar para frente e ficar pensativa. Jon então voltou a falar.

— Minha experiencia com a Bruxa de Lain foi horrível, mas não era disso que estava falando… A torre foi o pior… — Jon se virou para Arian e falou mais alto para ele poder escutar — O que faria Arian, se tivesse que escolher entre salvar Lara ou sua fantasma?

Arian olhou para ele e deu uma risada de deboche.

— Se quer tornar isso difícil é melhor tirar a <E> das escolhas…

Lara tocou os cavalos com mais força depois de ouvir essa, enquanto o guia ao lado dela segurou uma risada.

Outra reação curiosa foi a de <E>, que estava sentada na frente do cavalo de Arian, se virando para ele e dando um sorriso confiante. Em seguida mostrou a linguá para Jon.

— Sério?

— Esse maluco mataria todos nos por ela — disse Marko, encarando as costas de Arian, que seguia com seu cavalo mais a frente do grupo.

Jon pareceu incrédulo.

— Seria uma boa hora para negar, não? Prefere o espírito de alguém que já morreu a alguém vivo?

— Eu escolho quem é mais importante, Jon, não dou a mínima para a situação da pessoa. Como Marko falou, não foi uma boa pergunta.

— Você é inacreditável… — comentou Dorian, com desprezo.

Tentando parar a discussão, Marko interviu.

— Pare de pensar nisso, Jon. Fez um bom trabalho em uma situação muito difícil. E se não fosse por você Joanne teria virado um amaldiçoado.

Arian o olhou para trás parecendo um tanto quanto incomodado com o elogio de Marko, mas não disse nada. Jon então o questionou:

— Certo… Então, Arian, que você faria, Joanne ou Zek?

— De novo, não está me desafiando. Pegaria a Joanne e deixaria a Zek cair. Se decorou mesmo aquele livro da minha guild você sabe por que.

No fundo Jon realmente sabia, já havia pensado nisso várias vezes. Zek era uma Valkyrian, uma queda de 100 metros não iria mata-la, se muito talvez quebrasse um osso que iria se regenerar muito rápido. Joanne era humana, uma queda muito menor já a mataria. Era uma escolha obvia, mas que ele não pode fazer por falta de frieza.

— É difícil… Mesmo sabendo disso…

— Não, no seu caso só exigia mais coragem e sangue frio. O que você tinha era a opção de os três sobreviverem salvando a Joanne ou só a Zek sobreviver com você se recusando a soltar as duas. Não me parece difícil… Escolher entre uma mãe e uma filha é difícil, entre duas pessoas que você ama, entre irmãos, ou entre uma pessoa que você ama e milhares de inocentes.

Ao lembrar do caso do Arian matando milhares de pessoas na União Central, Jon decidiu parar com a discussão. A diferença entre aquelas escolhas e a dele era enorme. Mesmo tentando achar uma desculpa, era difícil negar para si mesmo que lhe faltou coragem para fazer o obvio. Marko, no entanto, não gostou a sinceridade do amigo.

— Arian, vai se ferrar! Você já fez muita merda quando era novato na sua guild.

— E me falaram exatamente a mesma coisa que disse a ele. Não estou o castigando, só fazendo com que ele pense melhor da próxima vez. Tratar ele como coitado não vai fazer ele melhorar em nada. Lembra do que meu outro eu te disse quando teve que arrancar a cabeça daquela mulher, Jon?

Jon fez um sim com a cabeça. “Quando a hora chegar, espero que tenha coragem de fazer o que tem que ser feito”. Ele não tinha como esquecer, principalmente porque Arian quase quebrou seu pescoço na ocasião.

— Sei que é uma escolha difícil, e você não tinha garantias concretas sobre a resistência de Zek fora o que leu em um livro, mas ainda assim, eram 2 vidas ou nenhuma. Se você prefere nenhuma por medo de peso na consciência depois, é mais covarde do que eu pensei.

O clima ficou meio fúnebre depois da sinceridade de Arian, e eles apenas seguiram viagem em silêncio.

— Jon, uma coisa ainda me intriga, como tinha certeza que seu sangue iria funcionar? — perguntou Joanne.

Lara se virou e olhou pelo vidro da carruagem, a resposta parecia interessar a ela também.

— Meu sangue funciona em qualquer pessoa.

— Sério? Já ouvi boatos de algumas pessoas que conseguem passar o sangue para qualquer um sendo mantidas como suporte de emergência para alguns lordes e reis, mas nunca cheguei a ter uma comprovação de que isso de fato existe.

— São raras, mas existem pessoas assim, vocês só não descobriram ainda um método para testar, infelizmente. 

— No seu mundo tinha?

— Era algo bem banal por lá… — Jon parecia desinteressado no assunto. Seu mundo não o interessava mais, embora entendesse a curiosidade de Joanne.

— Que interessante. Não pode replicar aqui? Ficaria rico.

— Talvez, mas não tenho os meios necessários, infelizmente.

— Como era esse seu mundo? Parece bem diferente do nosso.

— Não tanto assim, só avançamos muito mais em tecnologia e não tínhamos essa variedade tão grande de raças.

— Qual o nome dele? Talvez já tenha ouvido falar, li relatos sobre muitos mundos diferentes nos livros da Torre de Luz.

— Com mundo creio que se refere a minha dimensão, para a qual não sei se existe um nome. Mas o lugar onde eu vivia nos chamamos de… — Jon deu um breve pausa ao lembrar da ironia do nome, e depois completou — Terra…

Fim do arco 1 do Livro 2.

No próximo arco:

Depois de um ataque, Arian, Lara e Kadia são teleportados para o meio da floresta amaldiçoada, sem a menor noção de como sair de lá e sendo constantemente atacados por todo tipo de amaldiçoados. Enquanto isso, Victor parte em direção a cidade de Sunkeep para destruir a última Lamina do Sol conhecida, a única arma capaz de afetar a relíquia que contem sua alma.

Próximo: Capítulo 19 – Rumo ao Sul

Comente o que achou do capítulo, o autor agradece.

PS: O capítulo ainda não passou pelo revisor, então pode conter alguns errinhos.