Saga do Mago: Um épico com grandes batalhas e um título enganoso | Review

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Olá, me chamo Leonardo e tive a oportunidade de estar publicando está resenha dos livros da Saga do Mago, de Raymond E. Feist. O review não tem spoilers, ao menos nada que uma leitura atenta da sinopse original ou das contra capa dos livros não revelassem.

Há uma grande polarização de pessoas que gostam e não gostam desta Saga, muito porque ela faz marketing de algo um tanto quanto superficial na história, mas particularmente gosto da obra e penso que ler com algumas informações do que realmente esperar já em mente, pode ser menos frustrante para o futuro leitor.

Títulos:

Autor: Raymond E. Feist

Gênero: Fantasia

Média do número de paginas por volume: 425

Ano de publicação original / no Brasil: Livro #1 em 1982 / 2013

Editora: Arqueiro (volumes mais antigos: Saída de Emergência)

Informações da Obra: A Saga Mago é recomendada para qualquer apreciador de fantasia. Inicialmente aparenta ser dirigida ao público infanto-juvenil, mas no decorrer da história ganha um tom mais sério com confrontos, mortes e surpresas. Sendo dividida em uma média aproximada de 20 capítulos por livro, tendo 04 volumes, a obra foca em um contexto medieval com magia, onde são travadas batalhas por poder, honra, recursos e pela salvação do mundo.

Sinopse:

Na fronteira do Reino das Ilhas existe uma vila tranquila chamada Crydee. É lá que vive Pug, um órfão franzino que sonha ser um guerreiro destemido ao serviço do rei, mas acaba se tornando aprendiz do misterioso mago Kulgan. Nesse dia, o destino de dois mundos altera-se para sempre. Em um contexto medieval com lutas de poder e conquista de territórios, o reino de um mundo é invadido por uma sociedade imperial através de um portal interdimensional. Após muitos anos de lutas e mortes, o portal é fechado por magos e suas artes. Mas essa abertura entre dimensões permitiu a passagem de outro inimigo, agora comum aos dois mundos. Um antigo poder ancestral buscando reconquista a posição que outrora tinha no universo. Para impedi-lo, membros de ambas as sociedades devem cooperar para impedir que seus mundos possam perecer. Mago é uma aventura sem igual, uma viagem por reinos distantes e ilhas misteriosas, onde conhecemos culturas exóticas, aprendemos a amar e descobrimos o verdadeiro valor da amizade.

ANÁLISE

Em um mundo fantástico com elfos, anões, homens, goblins, trolls, dentre outras criaturas, a história da Saga Mago desdobra-se em meio a um universo com contexto medieval em que guerras entre exércitos são travadas na busca de territórios e poder. Nessa perspectiva, existe o elemento da magia, que não chega a ser uma força onipotente no mundo, pelo contrário, ela ainda é muito superficial, com poucos usuários de suas artes, e até vista com maus olhos ou como a “grande salvação”, dependendo do ponto de vista.

Influenciada por um jogo de RPG de seus amigos na adolescência, o autor apresenta uma grande riqueza de enredo com um bom detalhamento, desde as feições dos personagens, a cenário e batalhas. Direcionado aos personagens, estes estão em um amplo número da obra. Não se pode caracterizar apenas um como principal, pois a história é apresentada em vários pontos de vista, sem uma unilateralidade absoluta. Assim, no decorrer dos livros, o público acompanha várias perspectivas diferentes, evitando a monotonia de uma única lógica de ótica. Ademais, os personagens são bem desenvolvidos, fato que é contribuído pelo volume considerável da obra, mas falta-lhes um aprofundamento devido a algumas ações, a princípio, injustificáveis.

As informações são expostas de maneira harmônica, mas há algumas lacunas entre os capítulos que não justificam a personalidade e a atuação de determinados personagens. O que é compreensível por esta ser a primeira obra, pelo menos publicada, do autor, mas não deixa de ser uma característica negativa.

Com uma exposição gradual dos fatos pela narrativa em terceira pessoa, a trama consegue prender a atenção do público na expectativa do que acontecerá em seguida. Como são quatro livros, a Saga pode ser dividida em dois episódios de uma mesma história.

O primeiro refere-se aos Livros #1 e #2, onde se tem a apresentação do mundo e o desenvolvimento dos personagens. Nessa parte inicial, a primeira conjuntura de fatos remete a parte bélica principalmente. Acompanha-se a introdução de uma nova sociedade advinda de outro planeta através de um portal interdimensional feito com magia.

O autor busca unir vários elementos diferentes e criar uma nova civilização, derivada do mundo real. Sendo que até então, o contexto social era de uma monarquia com um reinado hereditário, expondo grandes semelhanças a cultura ocidental, este é “O Reino” – no mundo de Midkemia, um lugar onde todas as pessoas fazem aniversário no mesmo dia (na virada do ano).

Mapa de Midkemia – representando uma cultura e sociedade que, no mundo real, seria o lado esquerdo do Meridiano de Greenwich (este mapa vem junto ao Livro #1).

Já os invasores apresentam uma sociedade completamente distinta, um sistema de honra e obediência com a centralização do poder nas mãos do imperador, com grandes aspectos da cultura oriental (grande parte da chinesa e japonesa) – “O Império” no mundo de Kelewan.

Mapa de Kelewan – representando toda uma mistura de culturas do lado direito de Greenwich, em metáfora ao mundo real.

Essa separação, quase que antagônica, consegue demonstrar e representar a distinção entre Oriente e Ocidente, em comparação ao mundo real. A trama busca coagir um embate entre essas sociedade e fazer a cultura de uma incidir sobre a outra. Fato que tornando a Saga do Mago uma obra criativa e curiosa, pois na medida em que são apresentados esse elementos culturais, sobretudo do mundo de Kelewan, é instigante saber quais costumes, de que países e sociedades, foram sincretizados.

No segundo episódio da Saga, no que diz respeito aos Livros #3 e #4, a magia ganha um enfoque nas batalhas contra um inimigo, agora, comum aos dois mundos. Um antigo poder, que outrora ameaçou Kelewan, agora paira sobre Midkemia.

Os embates são uma grande ressalta. Na maioria envolvem lutas de espadas entre exércitos, o que pode parecer monótono, mas o autor consegue elaborar trechos tensos e bem construídos envolvendo conflitos diretos e cercos de castelos, onde a astúcia e inteligência dos personagens é posta a prova. A magia está presente em poucos combates, e em nenhum sozinha, ela é mais como um mecanismo mediador dos fatos.

Toda a trama proporciona um grande carisma pelos personagens. Alguns, os de maior foco, são acompanhados desde crianças, até se tornarem adultos, com algumas passagens de tempos um pouco longas (anos), fato que  prejudica a sincronia da história por ter um lapso temporal sem grandes explicações.

Além disso, o humor é uma marca registrada em cada livro. Existem cenas tensas e sérias, mas o aspecto cômico se faz pressente sempre que possível. E, pelo fato da história estar sempre em trânsito, novas relações e novos personagens tornam essa característica não repetitiva.

 

DA TRAMA

A primeira impressão da saga (Livro #1) pode ser um fator decepcionante, pois com o título principal dos livros – MAGO – o autor vende uma proposta que não se sustenta muito bem. Espera-se todo um contexto de magia, mana e feitiços, mas a ideia a ser passada é outra, este, talvez, é o principal motivo da grande polarização das avaliações destes livros: algumas extremamente baixas e outras extremamente altas.

A questão é que a magia existe, mas é muito simplista e com poucas informações sobre seus fundamentos: de onde vem?; o que ela é?; como funciona?; etc. Este é o maior ponto negativo da Saga, a carência de explicações e uma abordagem mais direcionada neste aspecto deveriam ter sido melhor trabalhadas em um tema que nada mais é que o título dos livros, por isso, pode ser muito frustrante para quem chega a ler sem isso em mente.

Mas cabe uma distinção, na tentativa de defender um pouco o autor. Título é diferente de tema, claro que são diretamente interligados, mas o primeiro não limita o segundo (o segundo deveria determinar o primeiro). Assim sendo, a Saga do Mago foca em mostrar um mundo mais complexo, com várias questões políticas e guerras por poder e recursos, sendo a magia presente, mas com poucas revelações significativas. Exceto no último livro que ela ganha mais enfoque.

DO CENÁRIO

Este é um dos maiores pontos positivo dos livros. O autor consegue suprir uma demanda de detalhes capaz de facilmente projetar imagens na mente como um filme cinematográfico. Isso vai desdás feições e aspectos físicos dos personagens (com destaque para alguns de levado capital estético) até os cenários geográficos do entorno (que são muitos no decorrer dos quatro volumes), sendo corroborados com os mapas de cada mundo que vem nas páginas iniciais de cada livro, permitindo uma localização no contexto espacial. Basicamente, os detalhes são muito bem colocados e instigam a imaginação e criatividade do leitor, o que é importante para uma obra de fantasia.

Além disso, muitos dos elementos desta história são semelhantes ao de O Senhor dos Anéis. Como o Mago é de 1982, talvez Feist tenha se inspirado em Tolkien de 1954. Mas mesmo com este “plágio”, representa apenas metade da abordagem de Feist, pois há o outro mundo com criaturas, geografia, cultura e sociedade diferente do primeiro.

DOS PERSONAGENS

São inúmeros personagens, e há um bom desenvolvimento para cada um. O destaque é para Pug, mas é difícil caracteriza-lo como “o personagem principal”. Isso é uma aposta do autor que pode ser boa ou ruim, depende do leitor. Cada capítulo é inesperado, pois são varias pessoas, em lugares diferentes e, às vezes, em mundos diferentes, que ele tentando abordar e se sai bem sucedido.

Vale destacar também que a grande maioria são carismáticos e bem humorados. Os livros estão repletos de cenas cômicas e em momentos estratégicos. Em especial para o início do Livro #3 e nas últimas linhas do Livro #4 para finalizar com um belo sorriso. Ele se baseia muito no sarcasmo, por isso é mais um ponto de vista que varia de leitor para leitor.

DOS CLICHÊS E LACUNAS

Uma das temáticas da Saga é o clássico dilema entre Ordem contra Caos, que ganha o real foco a parir do Livro #3 e é o desfecho da obra. Sem ser muito inovador, o autor fica previsível em alguns pontos, mas consegue trabalhar o contexto a ponto de apresentar algumas surpresas e reviravoltas interessantes. Cabe mencionar que quando a obra foi escrita (1982), talvez estes aspectos não fossem tão desgastados como hoje.

Além disso, algumas narrativas são rasas, especialmente no Livro #1, mas o autor melhora no decorrer da história. Ficam pontos sem muitos esclarecimentos, alguns são consertados nos livros subsequentes, outros não. Porém a história ainda consegue cativar e prender a atenção do leitor em sua trama com uma dose de suspense, surpresas e belas e bem descritas batalhas.

SINCRETISMO CULTURAL

O aspecto mais criativo da obra, que consegue sobrepor-se a algumas falhas. O autor busca misturar uma grande quantidade elementos, ideologias e filosofias distintas criando uma nova sociedade, bem estruturada e complexa: O Império de Tsurannuani. Colidindo os dois mundos (Midkemia e Kelewan), Feist propõem o choque de culturas e as influências gradativas de uma sobre a outra. Esta foi a sua joga mais perspicaz.

Basicamente, várias sociedades do mundo real são unificadas e incorporadas a história da Saga, sendo que o “Meridiano de Greenwich” dela é um portal interdimensional, ou seja, o que divide Kelewan (oriente) e Midkemia (ocidente) é a magia. Sendo que, ainda assim, dentro de cada mundo há mais um grupo de povos com costumes e governos diferentes.

DA LEITURA

O tom de leitura é, a grosso modo, simples. Inicia em infanto-juvenil (abordando uma parcela da azarada infância de Pug), com alguns saltos temporais, e acompanhando os personagens já adultos, maduros e com um caráter mais sério com responsabilidades. A história dos quatro livros dura 12 anos, tomando como perspectiva a idade de Pug: 15 aos 24 anos, até o Livro #2 (com uma guerra que perdura por 9 anos); e dos 24 aos 27 anos de idade até o final da trama.

DA EDIÇÃO

Como a estética também é um importante fator de marketing, as capas dos livros são chamativas. As edições têm alguns poucos erros ortográficos, mas foram bem adaptados para o português. Outro ponto bacana é que cada livro vem com um mapa preto e branco de contexto antes do sumário, exceto para o Livro #1 que vem com um mapa exclusivo, solto do livro e colorido. Isso na Saída de Emergência, uma prospera editora portuguesa que trouxe o livro para o Brasil, mas como pertencemos a um sistema capitalista que oprime quem quer abrir ou expandir a oferta de seu produto com uma proposta inovadora, não houve “saída de emergência” e a editora de origem portuguesa, foi incorporada a Editora Arqueiro, detentora agora dos direitos da obra no Brasil.

 

CONCLUSÕES

Como esses foram os primeiros livros estritos por Raymond E. Feist, ele começa com uma narrativa mais simplista que vai se aperfeiçoando com o tempo. Com algumas lacunas e carência de informações, mas um enredo muito rico, diversificado e com batalhas memoráveis, para quem é fã de fantasia, não conhecia a obra e a achou interessante, pode acompanhar a tetralogia e o desenvolvimento de vários personagens junto com a capacidade literária do autor.

AVALIAÇÕES:

Redator: 4/5
Média da avaliação dos 4 livros na Amazon: 4,42/5
Média da avaliação dos 4 livros no Skoob: 4,27/5

OUTRAS INFORMAÇÕES

O autor tem mais duas histórias que tratam deste mesmo mundo, não são necessariamente continuações e sim expansões, pois elas acontecem antes, durante e depois da Saga do Mago. Esses outros livros são: A Saga do Império, com três volumes explorando mais a fundo a sociedade do mundo de Kelewan; e a Saga Os Filhos de Krondor, com mais dois volumes aprofundando o Reino e o mundo de Midkemia (está última ainda não tem tradução para o português BR).

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