Kino no Tabi #01 a #03 – Impressões Semanais

Quando comecei a sentir interesse por obras mais introspectivas, Kino no Tabi acabou surgindo no meio das possíveis sugestões que me apareciam. Eu sempre tive vontade de assistir, mas sempre ia adiando isso, em grande parte, por conta da animação antiga que não me era muito atraente.

Sendo assim, acho valido dizer que não posso dar uma visão comparativa entre as duas versões do anime. Essas Impressões Semanais serão focadas em uma primeira experiência com o anime, e não um comparativo com a versão anterior.

Eu até cheguei a ler um post que o Marco me passou, onde dois comentarista discutiam as mudanças que houveram (vou deixar o link no final, para quem quiser). Ele me ajudou a entender alguns pontos que pareciam estranhos, principalmente sobre o segundo episódio, além de contribuir para entender melhor quais eram as visões do primeiro anime, e como elas tem sido utilizadas nesse.

Agora, deixando de lado essa introdução, que poderia ser resumida em um parágrafo, vamos ao que realmente interessa, uma bela viagem por um mundo repleto de ideias.

Porque não há nada mais divertido do que entender coisas.

O primeiro episódio de Kino conseguiu me entregar exatamente aquilo que eu buscava. Ele desenvolve um tema bem profundo, de forma básica sem entrar em um longa explicação sobre os diferentes pontos que aquilo pode ter. Esse tipo de abordagem me agrada bastante, por deixar, em partes, o espectador livre para pensar no que bem entender.

São experiência próprias, ideias e pensamentos baseados, tanto na moral e ética, como em aspectos mais culturais e sociais de quem assiste. É você quem decide que forma vai dar para aquelas informações, e o que elas devem ou não dizer por você.

O próprio anime contribui para isso, fornecendo um esquema de “país”, onde cada lugar carrega características e aspectos que já os tornam diferentes e instigantes por si só. O primeiro caso, que é representado pela cidade onde mortes são permitidas, chamou bastante minha atenção, por introduzir essa questão do pensar de forma sutil.

Acho que é quase um fato que o mais “espantoso” ali, seja o modo como as coisas funcionam bem naquela cidade, mesmo proporcionado um terreno onde o caos deveria reinar.

Em partes, esse pensamento acaba vindo natural para mim, por conta da forma com o autor constrói a narrativa da sua ideia, e a expôs de forma a conduzir um entendimento daquilo.

Você é apresentando a um personagem que tem a visão “comum” sobre a lei da cidade . Ele vinha de um lugar onde as normas públicas funcionam, mas quer ir para outra cidade matar pessoas, porque é isso que ela tem a oferecer. Essa abordagem acaba influenciando você a comprar a ideia de que o lugar vai ser um completo inferno, porque pessoas como aquela vão estar lá.

No momento em que a Kino entra na cidade, e nota que as coisas funcionam muito bem, sem qualquer nível de segurança, e pessoas se ferindo a torto e a direita, você acaba se surpreendendo (pelo menos foi assim comigo), por entender que aquilo não passa de uma visão sua, o que, não necessariamente, significa que seja o certo.

A ideia do nosso sistema já está tão enraizada, que qualquer coisa fora dela acaba parecendo errado e ineficiente. Não que um sistema sem lei, ou com permissão de matar fosse ser melhor. Mas é essa a graça de animes com esse tipo de abordagem.

Você é levado a pensar sobre outras possibilidade, além daquelas que colocaram na sua frente.

O final do episódio vem justamente com essa mensagem em palavras: “A não proibição, não faz com que seja liberado”. Esse ponto, juntamente do “epílogo”, onde a Kino encontra um outro viajante, com uma visão diferente do primeiro, é que você sente como o autor elaborou bem a ideia que queria expressar.

Esse é o exato ponto da vida.

Enquanto o primeiro episódio conseguiu elaborar bem a forma em que apresentava suas ideias, o mesmo não pode ser dito do segundo.

O que mais me chamou atenção, foi a ausência de um bom sentido ali. Daria para tirar alguma coisa sobre vingança, satisfação com o sofrimento dos outros por estar passando por problemas parecidos, mas ainda assim, parecia falar algo.

As lutas foram meio sem graças, e não me passaram quase nenhum propósito. A Kino deixar as pessoas vivas, e pedir para que se rendessem, expressava um pouco de benevolência, já que alguns ali não tinham culpa por terem sido pegos na lei do país, mas acabei meio que sendo jogado fora por conta do final.

A minha visão, pelo primeiro episódio, era de que a Kino seria bem menos agressiva nesse aspecto. Ela seria uma pessoa que vai para os países apenas observar e agir como uma espectadora ao cotidiano das pessoas. As influências dela no lugar deveriam ser mínimas, então, quando ela destrói o país, redefinindo as regras, me deixou confuso porque não fazia “sentido”.

Pode ter gerado um certo interesse em saber os motivos daquilo, e descobrir um pouco mais da personalidade dela, e de como chegou aquele ponto, mas o episódio não se aprofunda muito, e no final, tudo parece vazio.

Talvez faltou as linhas se encontrarem em algum ponto.

Se o segundo episódio acabou me deixando um pouco insatisfeito, o terceiro veio de uma forma que não me deixa negar o quão interessante o autor trabalha as suas ideias. Usar um país móvel já chamaria atenção por si só, mas a maneira como ele explora pontos sociais e políticos foi incrível.

Entrar em muitos detalhes aqui deixaria o texto muito grande (e ele já está um pouco), mas o que mais me chamou atenção, foi a forma como a cidade representa o desenvolvimento humano no geral. Não sei se “culpar” o capitalismo por isso seria a melhor forma de expressar a ideia ali, mas, do meu ponto de vista, foi a mensagem que passou.

Toda a questão de ficar parado acumulando energia e isso ser um “desperdício” de potencial. De como eles se “moviam adiante” com a desculpa de ver coisas interessante, mas deixavam um rastro de destruição para trás. Da forma como eles não se importavam em “ultrapassar” obstáculos para alcançar o que queriam.

Esse tipo de pensamento é bem presente na sociedade atual. As pessoas têm se tornado mais conscientes sobre o meio ambiente, mas acho difícil ter alguém que abriu mão da tecnologia no geral, e se parar para pensar, ela, nada mais é, do que as “pegadas” dessa exploração do ambiente no passado, que ninguém sente vontade de deixar de trilhar.

Existe também uma lado mais político naquilo tudo, lembrando bastante o comportamento das grandes nações que vemos por aí, onde algumas tentam passar a sensação de serem grandes “paizões”, sempre tomando conta das pessoas do seu país, e oferecendo boas condições de vida, enquanto por fora, estão sempre passando por cima da opinião dos outros para chegar onde querem.

Sempre progredindo.

Após três episódios, Kino se mostrou um anime com bastante potencial para mim. Abordando temas complexos, mas de forma simples e deixando mais a critério do espectador chegar a suas conclusões, a obra tem tudo para me agradar e ser um boa opção de entretenimento nessa temporada.

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E você, que nota daria aos episódios?

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Extra

Link para quem gostaria de ver as comparações entre os dois primeiros episódios, e alguns comentários sobre a obra (texto em inglês). Achei interesse porque eles comentam sobre as diferentes visões que a obra passa, e em como o novo anime tem mudado um pouco isso.

Foi exatamente o que pensei de você, moto falante!

Isso me pegou de surpresa.

Quem nunca?

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.