Boku wa Mari no naka ni – O simples acaso em uma troca de corpos | Impressões

Eu certamente não assisti, ou li, tudo que existe por aí. A possibilidade de haver algo que me surpreenda, o que seja verdadeiramente melhor do que considero como sendo “bom”, pode aparecer a qualquer momento, e me fazer mudar de ideia.

Entretanto, até o agora, enquanto escrevia esse post, posso afirmar com confiança que nunca, em nenhuma outra obra que tenha lido, ou visto, encontrei uma troca de corpos tão bem feita como a desse mangá.

Usar a palavra “genialidade” talvez não fosse a melhor escolha, já que o termo é relativo para cada um, mas posso garantir que o final do mangá se tornará uma grande surpresa, além de uma bela recompensa para todo o tempo gasto lendo a obra.

Vivendo dentro da Mari.

Mari no Naka ni é uma obra de Oshimi Shuuzou, o mesmo autor de Aku no Hana, e por conta disso, acaba tendo aspectos bem “realistas”, por assim dizer.

O mangá tem seus momentos de “queda”, com a personagem se encontrando em situações de desespero e complicadas, mas elas são bem mais controlados e “encaixados” em um contexto próprio, o que me impede de usar  a palavra “depressivo”.

Esse fator ainda existe na obra, mas vem acompanhado de uma boa introdução e circunstancias que justificam o psicológico abalado dos personagens, além de, em termos simples, não ser tão “agressivo” quanto Aku no Hana, ou obras do gênero.

A história gira em torno de Komori, um daqueles típicos casos de Hikikomori que já desistiram de qualquer futuro que possam ter, e pretende ficar em casa apenas jogando vídeo-game.

Um dia ele acorda no corpo de uma garota chamada Mari, da qual ele tinha o hábito de ficar perseguindo durante o caminho de volta para casa, mas sem todas as suas memórias.

Por mais que se recordar de alguns detalhes, ele não consegue lembrar do ponto exato onde a troca aconteceu. Isso pode soar clichê, mas é onde as coisas começam a ficar cada vez mais interessantes.

Assisti Kimi no na wa sem me dar conta de que as cenas eram bem parecidas…

O enredo vai se desenrolar em cima dessa questão. De como aconteceu a troca de corpos, e dos porquês disso. O que mais chama atenção, e torna o mangá bem diferente dos demais, é o fato de não ser uma via de mão dupla.

Mesmo que o Komori tenha ido para o corpo da Mari, a Mari não foi para o corpo dele, o que cria uma situação onde existem dois Komoris ao mesmo tempo.

Grande parte da diversão do mangá, é justamente em cima dessa questão. Para onde foi a Mari? Por que existem dois Komoris? E como trazer a Mari de volta?

Esse levantamento, por sinal, é outro aspecto que acabou me chamando a atenção também.

O Komori não vê a situação como uma vantagem, ele tem uma autoconsciência pesada sobre a vida que leva, o que resulta em alguns dilemas sobre estar “maculando” o corpo da garota, ou ter que resistir ao seus desejos por considerá-la perfeita demais.

Dá para perder um bom tempo teorizando sobre os possíveis motivos que levaram a isso.

Comentar esses aspectos de forma superficial pode parecer algo simples e desinteressante, mas o autor consegue conduzir muito bem a narrativa, e construir um mistério tão bom, que você acaba querendo ler tudo de uma vez para saber o que aconteceu com a Mari (pelo menos foi assim comigo).

E quando essa resposta vem, você percebe quão brilhante foi construído o roteiro, além de se mostrar completamente inovador. Não descarto a possibilidade de ser frustrantes para alguns, principalmente se você for com uma certa expectativa em cima da solução do mistério.

Mas o autor consegue estruturar toda essa questão de forma clara, o que dificulta muito uma impressão negativa das explicações do final.

Existe uma certa nuance sobre romance na obra, mas eu não colocaria muitas expectativas em cima disso, porque tem grandes chances de você não receber o que quer (como a maioria dos casos de romance em anime/mangás).

Porém, como o romance claramente não é o foco da obra, seria até errado dizer que ela falha por não desenvolver isso, afinal de contas, ela desenvolve, mas, bem… Seria spoiler explicar, então é melhor deixar para lá.

Melhor do que criar hype desnecessário.

Para quem gosta de propostas diferentes, esse mangá pode ser uma boa opção, especialmente pelo final fantásticos que a troca de corpos apresenta.

Os traços, como deu para ver nas imagens do post, são muito bons e não tem nada a ver com aquele anime questionável.

A obra não chega a ser depressiva, mas carrega características do realismo usado pelo autor, o que pode ser uma boa alternativa para quem pretende iniciar nesse estilo de narrativa, ou para aqueles que querem apenas algo tenso, mas não tão pesado assim.

Extra

imagem meramente ilustrativa.

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.