Impressões finais: Sekai Seifuku
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| A Kate podia se aproximar assim de mim. Eu não iria preso, já que ela tem centenas de anos a mais que eu. |
-Eu finalmente desvendei essa bagaça.
-Na minha jornada para tentar descobrir do que afinal se trata Sekai Seifuku, comecei a investigar por fóruns, blogs e semelhantes e finalmente separei o ponto de vista que faz mais sentido na série como um todo. Sekai Seifuku é sobre família.
-Pra começo de conversa, temos uma organização “boa” que é vista como má no universo da série uma “má” que é vista como “boa”. Zvezda é liberal ao passo que White light é conservadora. Os membros da Zvezda almoçam juntos, vivem na mesma casa e compartilham de várias experiências não relacionadas a conquistar o mundo em conjunto. Os membros da White light nem ao menos conhecem as identidades uns dos outros, na maioria das vezes não demonstram emoções em suas relações interpessoais e só se encontram quando há uma missão a ser executada.
-O episódio 9, contudo, é uma das raras exceções em que não tem missão. Foi basicamente aquela velha trope em que o herói encontra com o bandido no supermercado ou em qualquer outro lugar e trocam aquele olhar tenso. Foi um episódio que soube usar bem o tempo a seu favor e até me arrancou algumas risadas. Destaque para os donos da pousada revelando que um é da Zvezda (aquele velho todo rouco gritando o moto da Zvezda foi o máximo) e outro é da White Light. O ponto aqui, porém, foi dar um plano de fundo para a dramática cena (que não foi tão dramática assim) em que a Renge descobre que o DVA é o Asuta na verdade.
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| Esses caras xD |
-Como são os últimos episódios, é de se esperar que uma grande crise ocorra, como a base da Zvezda sendo implodida, por exemplo. O que me fez falta, porém, foi uma progressão mais sólida. Deu a impressão de que essa cena não dependia tanto assim dos eventos anteriores, com exceção talvez da nova personagem e da relação entre Asuta e Renge, que foi a subtrama mais trabalhada nessa leva dos 4 últimos episódios. A White Light, pelo que eu entendi, só percebeu que a Zvezda não se encontrava em sua base nas fontes termais, e apenas graças a essa incrível coincidência a sabotagem foi bem sucedida.
-Já havia dicas de que a Renge fosse trair o movimento, afinal ela é não o tipo de pessoa que concordaria com métodos truculentos por apresentar uma ingenuidade típica de sua atitude. Vários membros da Zvezda são capturados e ela e Asuta tornam-se fugitivos com uma leve tensão romântica ao fundo.
-E tem…isso. Assim tudo o que eu pensava antes em relação a Kate foi pro buraco. Rainha de um antigo império mesoamericano, o que faz você pensar como raios ela chegou ao Japão. Mas em um mundo onde você pode viajar da Ucrânia até o Japão num piscar de olhos tudo é possível. A antiga civilização meso ameríndia fez muito bem em construir essas passagens subterrâneas mágicas que interconectam um lugar a outro num piscar de olhos. Ou talvez não sejam meso ameríndias, e sim japonesas já que o universo de Sekai Seifuku pode muito bem ser independente do nosso, e a base da Zvezda por coincidência esteja no mesmo lugar em que a antiga pirâmide de Kate estava construída.
-E de novo há um retorno ao tema familiar. O pai de Asuta, que com sua frieza ocasionou um divórcio, é anti-família, em oposição a Kate, que é pró-família e detesta cigarros, porque cigarros são formas de reclusão social, assim como a bebida, e essa analogia é esperta, pois evidencia a hipocrisia dos consumidores de substâncias ilícitas ou perigosas para a saúde que criticam os hikkikomoris, mas apenas buscam um meio de isolamento mental da realidade ao invés de físico.
“Renge-chan, se eu puder fazer o que quisesse pelo resto da vida, eu acho que…
Ainda não entendo o ponto quando Kate fala sobre dominar o mundo. E não tenho total certeza do que quero fazer. Mas se eu puder viver a minha vida como quiser…se eu puder ser meu próprio homem, eu quero dizer isso a alguém. Quero dizer a todos que puderem me ouvir, que o mundo…tudo que podemos e não podemos ver, podemos decidir tudo sozinhos.”
-A partir disso, é possível induzir um pouco das razões estruturais de Sekai Seifuku. Primeiro, Zvezda é basicamente formada por jovens que fugiram de casa (Yasu, Asuta, Natasha) ou pessoas que perderam um membro importante de sua família e vêm em busca de constituir uma nova (Goro, Itsuka). Já a White Light é formada por indivíduos que guardam algum ressentimento e não conseguem seguir em frente (Kaori) ou que priorizam o orgulho/nome familiar ao invés de relações calorosas e saudáveis. Interpretando as palavras do Asuta, é seguro afirmar que ele se sentia “preso” em um antro familiar frio e opressor, tenso sido criado pelo pai de modo a ser uma imitação, ou seja, não tomar decisões por si próprio. E é por isso que Kate é uma criança, pois é nessa fase que o controle parental é mais intenso (ou deveria ser, porque vou te contar, os pais de hoje não sabem criar seus filhos…) e suas ações são mais supervisionadas. Elas não tem poder real de decisão ou independência.
“Você vai tentar recrutar todos os inimigos antes de derrotá-los?”
-Olha, eu faço isso toda hora nos jogos da Alice Soft, só que depois de derrotá-los. Falando sério agora, é provável que a meta aqui seja desanuviar aquela visão do jovem japonês de que a sociedade é um órgão exclusivamente repressor (o que é verdade até certo ponto, mas o especialista em antropologia não sou eu, logo não vou falar mais do que sei) e colocá-la em um nível mais pessoal e íntimo, mostrando que é possível fazer dessa sociedade uma grande família. Colocar os personagens segurando cartazes com os dizeres “Tenham filhos, é legal, é natural” também teria ajudado.
“Vou tentar conhecer todas as pessoas do mundo, para que assim possa dominá-las. (…) Se quiserem sua versão preguiçosa de uma utopia, podem ficar reclusas em seu próprio mundo. O futuro não espera por ninguém!”
-Então, aparentemente, as pessoas são “dominadas” quando conhecidas por nós, e é nisso que constitui a grande arma secreta da Kate, que é uma conveniente garra de aço que faz lavagem cerebral nas pessoas. Olha, eu vou dizer pra vocês, essa mensagem já rodou e rodou vários animes, o mais icônico deles sendo Evangelion. Se eles queriam incentivar o jovem japonês a interagir socialmente e constituir família, uma ferramenta tão simples como essa acaba prejudicando a própria mensagem do anime, pois eles deveriam mostrar que para conhecer as pessoas é necessário esforço e tempo, o que não se verifica por exemplo na cena em que o Oyaji beija a Kaori e como mágica se tornam um casal, ou no fato de o pai do Asuta continuar sendo o governador, porém obediente a Zvezda. Os jovens japoneses não são idiotas, eles sabem que a mensagem é direcionada a eles, logo espera-se que a abordagem não cometa esses deslizes bobos. Mas sou apenas eu sendo pedante.
-O último episódio foi uma festa, e portanto o mais divertido de todos. Vilões se tornam aliados, o pai do Asuta solta vapores malignos do seu charuto enquanto luta contra Kate em um robô gigante, finalizando-o em uma sequência de rolamento incrível de fazer inveja aos praticantes de street dance. Zvezda estava gloriosa nesses minutos finais: Kate mahou shoujo versão final, Roboko trocando de pele, Natasha com as criaturas cuja matéria-prima são suas lágrimas e Goro e Kaori que do nada se tornaram um casal tomando parte também. Foi uma batalha mais paródica do que qualquer outra coisa, com direito a uma pausa pra beber leite no meio da luta.
-E assim encerram-se os meus comentários semanais de Sekai Seifuku. Espero que tenham gostado. Como comentário geral, eu destaco que esse anime é para o espectador casual complicado de ser decifrado, principalmente nos primeiros episódios em que tudo ainda é muito nublado. Quando a mensagem faz sentido, as coisas melhoram, digamos. Caso o espectador não esteja tão interessado em desvendar a temática, também é possível divertir-se com as confusões de Kate e sua trupe. Algumas coisas ficaram sem explicação, como os superpoderes por exemplo, cuja lógica não possui cunho temático e tampouco lógico, no que se imagina que seja algum tipo de homenagem ou referência, o que não é desculpa, entretanto, para abster-se de fornecer uma explicação que se encaixe na verossimilhança da obra, apesar de não terem tanta importância quanto a temática. O mistério da irmã do Asuta continua no ar, e dada a forma como o anime praticamente deu a dica de uma segunda temporada, é possível que ela seja a arqui-inimiga da Kate, comandando seus próprios generais norte-americanos. Segunda temporada ou não, paramos por aqui.
Nota do episódio 9: 65/100
Nota do episódio 10: 73/100
Nota do episódio 11: 77/100
Nota do episódio 12: 85/100
Nota do episódio 12: 85/100
Nota final: 650/9=72






















Em aspecto geral, sekai foi bem sem graça na minha concepção, aliás, não sei se sou eu, mas os animes tem se tornado cada vez mais chatos. Nenhuma história tem me agradado muito. A questão de Sekai foi mais em razão que os sermões eram legais, o problema foi o desenvolvimento com que traziam ao telespectador, não sei se foi porque tratavam com tanta seriedade que acabava virando sem graça e, por esse motivo dava até sono nos episódios.
Com todo o respeito, pelo que foi apresentado no primeiro episódio esperava muito mais, já que era para ser a conquista mundial e não a chatisse mundial.
Valeu pelos comentários de cada episódio, realmente ajudam muito a acrescentar e desvendar alguns mistérios/informações que são passada 🙂
Não é que os animes estão ficando mais chatos, é que estas duas temporadas que passaram são as da baixa temporada, no qual normalmente os animes não são tão bons mesmo, daí realmente passa essa impressão
Bem, um aspecto que me incomoda em animes desse tipo é que raramente dou a mínima pros personagens, visto que eles só são desenvolvidos de modo a se adequar à mensagem. No quesito entretenimento, Sekai Seifuku não me animou tanto assim, é mais uma questão de ter algo pra escrever mesmo e tentar encontrar alguma objetividade. Para aqueles que esperam identificação com os personagens, urgência na trama e um certo desenvolvimento progressivo, Sekai Seifuku não é uma boa escolha.
Bem interessante essa visão de família inserida no escopo da trama, Tanaka-san. Realmente não me passou pela cabeça. Dentro de toda a proposta que teve muitos momentos monótonos até que Sekai Seifuku se saiu bem.
Entretanto, concordo com o fredetona sobre a expectativa criada e o balde de água fria jogado sobre a mesma.
Falta algum feeling pras coisas soarem nonsense sem parecer tão bagunçado, que acredito que seria a intenção dos produtores.
Concordo com a nota final, mesmo com as falhas, me diverti e teorizei bastante, apesar de não ter chegado a lugar nenhum.
Abraços.