Impressões semanais: Orange #04


É definitivo: superei o character design tosco e a deficiência na execução de expressões dos personagens. Ou isto, ou o anime melhorou no quesito, pois nas duas últimas semanas consegui degustar a história enquanto ignorava grande parte dos defeitos.

E como é bom se envolver na narração de Orange, essa sim excepcional. A intimidade e amistosidade do grupo já foram apresentados e estão consolidados, e a naturalidade com que interagem abriu espaço para focar definitivamente na relação entre Naho e Kakeru, utilizando o ponto de vista da garota.
Creio que a passividade e timidez dela hão de incomodar àqueles que são sentimentalmente mais astutos e desprovidos de grandes restrições, mas eu, e creio que muitos de vocês também, pelo que observei nos comentários, identificam-se, em menor ou maior grau, com a estudante. A incapacidade de revelar a verdade sozinha, por mais que as cartas deixassem bem claro as consequências futuras de tais atos, revelam e desenvolvem a personalidade de Naho, em uma abnegação extrema, ao ponto de ver o garoto que ama sair com outra.
E Kakeru, o grande mistério e cerne de Orange, não deixa de ser, a sua forma, um recatado inibido. Claro, ele está em um relacionamento sério, mas automático, sem a ousadia de arriscar mais do que algumas indiretas, óbvias para nós, entretanto indiscerníveis para o alvo das palavras do garoto. As nuances das verdadeiras intenções de Kakeru receberam um tratamento sutil e engenhoso da direção. Do olhar magoado, evitando contato direto ao questionar Naho sobre o despertador, a utilização de um ângulo holandês quando sua namorada derruba Naho e está se espatifa no chão, o que ressalta a instabilidade e incerteza do menino quanto às atitudes certas. 
A despeito das limitações orçamentais e técnicas, o diretor tem se sobressaído com artifícios inteligentes e que denotam seu conhecimento, como o supracitado ângulo holandês e o Dolly Zoom do capítulo anterior. 
E enquanto as figuras principais relutam em revelar seus verdadeiros sentimentos, é divertido como figuras secundárias que atravessam os quadros durante o silêncio dos protagonistas expõem a emoção destes abertamente. Reparem na cena abaixo, quando Naho chama Kakeru, mas as palavras engasgam em sua garganta, e os alunos que passam comentam sobre outro assunto, mas totalmente relacionado ao que o casal deveria fazer.
A trama de Orange avança em um ritmo agradável, sem rushar ou enfastiar, beneficiado pelo cadenciado e lacônico mangá, com personagens em pleno e nítido desenvolvimento, prontos para despertar lágrimas do público.
Elas virão. Aguardem!

Avaliação: ★ ★   ★ (+0.75)