Impressões semanais: Orange #02


Vamos começar com uma insatisfação repetida para evitá-la no restante do texto: não suporto a falta de habilidades com que a Telecom tem lidado no que tange às expressões dos personagens de Orange. Se Naho não demonstra ter alma, outras figuras mais espalhafatosas como Suwa e Azusa parecem monstros flácidos travestidos com pele humana. É impressionante como faces simples que envolvem sorrisos ou pequena caretas se mostram uma grande dificuldade para a animação. Reparem quando Takako mostra a língua para o bebê da Naho adulta ou quando Azusa treme ao ver Kakeru tocar Naho. Se em Shirobako os animadores buscavam ter a experiência do que iriam esboçar, aqui a impressão é de que falta determinação – ou talento, tempo, não sabemos. Mas o desenvolvimento de Orange está bagunçado, já que este segundo capítulo teve 17(!!!) diretores de animação, o que é preocupante.

O maior problema destas falhas na caracterização dos personagens é devido ao gênero do anime: um shoujo complexo e que requere um grande envolvimento emocional e empatia com os habitantes do Orange Universe (todo anime demanda isso, mas quando não há grandes clímaxes e batalhas, a imersão é toda dependente do quesito mencionado).

A relação entre o grupo continua como foco e já está solidificada, e posteriormente haverá uma explanação indireta do porquê a aproximação foi tão abrupta para com Kakeru.

E apesar de não ser um romance tradicional, Orange tem trabalhado incessantemente para shippar Naho com Kakeru, assim como seus amigos têm feito indiretamente, com tímidos sorrisos de apoio mútuo para que a intimidade entre ambos aumente. A passividade de Naho pode deixar os mais ávidos impacientes, pois em alguns momentos sua devoção imediata em agradar e fazer tudo pelo garoto, inclusive seu almoço diário, é exagerada e até precipitada. É a paixão, diria – não que eu saiba.

O que me agrada, é como, por mais romantizada e idealizada que a história possa parecer, ela não cai no reino da utopia máxima pelas cartas vindas do futuro. Naho “sabe” o que fazer para não ser soterrada em arrependimentos, mas sua personalidade recatada ao extremo impede que as ações sejam tomadas, o que é natural, obviamente. Quantas vezes sabemos o certo a se fazer e não conseguimos por restrições emocionais?!

E se a expressividade não tem passado o sentimento necessário, a trilha sonora busca compensar de maneira equilibrada, pontual e não melodramática. O violino descontraído nas cenas em que o grupo está junto transmite sua forte e intensa ligação, e vale destacar a sábia (não) utilização de ost no diálogo final entre Kakeru e Naho, onde o garoto revela as razões por não se inscrever no clube de futebol. O impacto da informação possui um alcance dramático próprio, e o silêncio evidencia o vazio e tristeza do menino, sem uma música se esgoelando pra nos incutir melancolia.

Ainda não me apaixonei pelo Orange anime, mas, seja por resignação ou evolução, não estou tão incomodado quanto na estreia. Lágrimas virão, preparem-se.

Avaliação: ★ ★  ★ ★ (+ 0.25)

#Extras


Mangá x Anime. Inexplicável a mudança tão radical.