Persona 5 #01 e #02 – Impressões Semanais

A direção define toda a conceituação e construção de uma obra e pode consequentemente torná-la um fracasso ou algo marcante. Infelizmente, Persona 5 sofre de uma direção claramente inexperiente para com adaptação de jogos.

Por que eu digo isto? O anime está funcionando mais como um memorial para elementos do jogo e não como uma mídia completamente diferente. O que o diretor tenta fazer é recriar toda a atmosfera e características da obra original, o que não é um erro, mas ele erra miseravelmente ao adaptar estes elementos de forma eficaz.

Ele acaba tornando estes aspectos inerentes do jogo muito destacados do restante, o que consequentemente prejudica na conquista de um público novo que não está acostumado com todas as particularidades da série.

Sendo um exemplo bem claro da dificuldade que a direção está tendo em mesclar os recursos, principalmente visuais, do game no anime é o All Out Atack. Além de possuir uma estilização muito mais simples que a original, ela é completamente inserida de forma muito abrupta e mal feita.

Na verdade, toda a dinâmica de batalha é muito pobre em Persona 5, não empolga e nem deslumbra os olhos. É possível fazer algo estilizado,  fluido e bem coreografado.  A prova disso é o vídeo abaixo com uma batalha de Persona 3 que mescla bem aspectos do jogo e da animação.

Mas não compreendam minha crítica como a taxação do produto como algo completamente ruim, pelo contrário, a série tem muito potencial para entretenimento e a história é promissora, contudo este potencial está sendo desperdiçado com algumas decisões questionáveis da produção.

Uma dessas decisões é algumas mudança na ordens de eventos do enredo original  e a narrativa mais acelerada que atrapalha o funcionamento de alguns momentos que se tornam mais forçados ou ficam com transições que acabam não sendo dinâmicas como no jogo, o que é mais visível no segundo episódio .

Entendam que rearranjo de situações são necessários em adaptações, sendo claro, realizadas com a máxima fidelidade possível ao original para que não descaraterize as bases da série ou dos personagens e não cause quebra de clima ou sensações de estranhamento.

Um exemplo bem claro disso, é a apresentação do Morgana, que é inserido de forma cômica em um momento  que deveria ser mais sério ( no jogo também é meio cômico, o que continua sendo estranho, mas não tanto como no anime)

Além de ser um humor meio escrachado que quebra um pouco com a construção do personagem na obra original (para mim, particularmente, ele nunca deixaria o Joker acariciar ele daquela forma do nada, mas beleza).

O Morgana não é um mascote criado apenas para fazer piada no jogo, é realmente um personagem de suporte que auxilia o protagonista durante todo a progressão e desenvolvimento do mesmo e possui uma personalidade bem detalhada.

Além de não fazer sentido o Ren libertá-lo tão rápido do palácio, já que o indivíduo poderia ser nada confiável e tentar matá-lo posteriormente. Contudo, o anime faz parecer que o Joker, que deveria ser analítico e observador, é ingênuo para aceitar acordos sem ao menos refletir sobre eles.

Quando o pateta é mais inteligente que o estrategista do grupo, putz Joker

A justificativa para libertarem Morgana no jogo é portanto mais bem articulada, já que o gato consegue convencê-los que só ele sabia como tirá-los do palácio e mesmo assim demorou algum tempo para a dupla confiar nele.

Outro problema do enredo é o uso mal feito do despertar dos personas, que no primeiro episódio conseguiu realmente estruturar algo que te gerava interesse para o ato seguinte, contudo no segundo episódio acaba sendo algo sem sal já que o desenrolar de toda a ação é extremamente rápida e não te transmite tensão alguma.

Então não adianta fazer uma animação toda bonita para transformar os personagens se eles não vão utilizar ou apresentar quase nada em relação a seus poderes por solucionarem o problema quase instantaneamente ou de maneira muito fácil. Crie dificuldade para  que o protagonista e seus amigos brilhem caramba.

Contudo, o anime também possui seus pontos positivos, como o roteirista tomar o devido cuidado em passar informações essenciais sem poluir a obra com textos muito densos que acabam parecendo mais um tutorial do que um diálogo propriamente dito.

E possivelmente teremos poucos ou nenhum episódio que não ocorra realmente nada de relevante na história já que pelo menos se observa uma preocupação em sempre mesclar situações mais cotidianas com ação no Metaverso para entreter o público.

Além disso, por mais que a direção erre na montagem e rearranjo de certas coisas nos episódios, eles ainda conseguem manter uma boa dose de mistério, o que é fundamental para conservar o interesse das pessoas no anime.

Úteis para o que? ( e não depositaria tanta fé não, dois cabeças ocas) XD

Sendo notória a utilização de cenas pós-créditos para pescar a atenção do público (principalmente de quem já jogou o jogo, sendo quase um mini fan-service) com algum personagem novo que aparecerá posteriormente.

Outros pontos positivos é que aparentemente não cortaram a interação de Ryuji com a equipe de Atletismo, que obvio é mais detalhado no jogo, mas fico feliz que tenham se preocupado em também manter um pouco de foco nos amigos do protagonista e não utilizar apenas diálogos para expor estes assuntos.

O anime também destacou bastante as ações do primeiro vilão, dando notas que algumas pessoas me disseram que no jogo não se mostra o espancamento da Shiho e nem que ele acertou a bola no protagonista, o que são acréscimos que apreciei já que complementam o conteúdo original.

No entanto a forma como eles fazem as transições entre Metaverso e realidade não é muito boa por ser extremamente abrupta e acaba criando um efeito de deslocamento ao invés de uma narrativa realmente orgânica e pelo roteiro esta condensando muito conteúdo do jogo, a sensação de deslocamento só aumenta.

A trilha sonora continua sendo bem empregada e é um dos maiores destaques da animação já que estão mesclando a trilha do jogo (que é boa) com novas OST’s (como na opening e ending).Mas elas seriam mais funcionais se as situações conseguissem passar mais emoção e tensão.

Por enquanto, Persona 5 teve uma estreia que despertou interesse em seu primeiro episódio (principalmente pelo clifhanger com o Ren), mas que se esfriou no segundo por uma direção que não esta conseguindo dar fluidez a narrativa e mesclar bem os aspectos do jogo no anime.

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E você, que nota daria ao anime?

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#Extra

Espero que a opening finalizada seja pelo menos decente, porque a apresentada é imensamente inferior a opening animada do jogo que é mais criativa, estilosa e cheia de cortes fluidos.

No jogo isto é até legal, mas no anime, não ficou algo bem mesclado e conciliado com a animação como deveria ser.

Vou admitir, este fora do Ren doeu até em mim, bem feito ashuahsuahsuashuahsua

Sirlene Moraes

Apenas uma amante da cultura japonesa e apreciadora de uma boa xícara de café e livros.