As Crônicas de Arian – Capítulo 15 – O sonho

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Capítulo 15 – O sonho

Arian acordou com muita dor. Pelo que a mulher que estava cuidando dele disse, sua oponente o trouxe, e um homem enorme que batia com a descrição do Marko, veio visitá-lo pouco tempo atrás.

— Não entendo como você está vivo depois de um golpe daqueles. Qual sua raça? — Perguntou a enfermeira. Arian olhou com desconfiança, então ela completou. — Até parece que eu não sei que metade dos lutadores aqui não são humanos, todo mundo sabe, só fingem não saber.

— Bem… para ser honesto, eu também gostaria de saber a resposta para essa pergunta. Eu… Ai! — Falar doía, então parou.

Olhando para o lado da cama, onde estava deitado, viu <E>, olhando para ele com os olhos inchados de chorar.

— Calma <E>, eu vou sobreviver — falou brincando, enquanto passava a mão de leve na cabeça dela. Não entendia como conseguia interagir fisicamente com um fantasma, mas a garota sentia quando ele a tocava, e o mesmo valia para ele. Isso claro, o deixava meio desconfortável durante a noite, mas depois de 5 anos, já tinha se acostumado a ter a garota colada nele enquanto dormia. Arian então se voltou novamente para a enfermeira, que estava cuidando de outra pessoa, em uma cama próxima. — E aí, como estou? 

— Costelas quebradas e alguns órgãos rompidos com o corte. Costurei tudo o melhor que pude. Você é bem mais resistente, incluindo sua capacidade anormal de regeneração. Um humano normal teria morrido.

— É, não tenho do que reclamar disso. Mas acha que vou poder lutar amanhã?

— Se conseguir se levantar com a dor que deve estar sentindo, já iria me surpreender. Melhor desistir.

Ele já sabia a resposta, só queria ouvir de outra pessoa. Sua capacidade de cura era muito superior a uma pessoa normal, sabia disso por diversas experiências desagradáveis. Aquele ferimento estaria bom em alguns dias, enquanto para uma pessoa normal, demoraria meses.

Também não precisava dormir o mesmo que um humano, metade disso era o bastante, podia ver fantasmas, tinha uma o perseguindo há anos, podia ver no escuro, e sabia lutar com espadas instintivamente. A última parte não chegava a ser um mistério, só deixava claro que alguém o ensinou a lutar antes de perder a memória, e embora a lembrança das técnicas se perca, a memória muscular fica.

Tinha “aquilo” também, provavelmente a parte mais estranha. Já pesquisou e perguntou a vários sábios e especialistas, mas ninguém sabia dizer o que ele era. O maior problema é que misturava várias características de umas 10 raças diferentes, sem bater totalmente com nenhuma, seja misturada ou pura. Enquanto pensava nisso, adormeceu.

Uma mulher falava com ele, seu rosto estava coberto por um capuz azul, mas reconhecia a voz de algum lugar.

— Então se chama Arian agora? Eu… queria te ver, mas não me deixavam sair de lá.  Quando ocorreu o acidente, eu fiquei desesperada, eu… Não encontraram ninguém depois da tragédia… Mas que bom que está vivo.

Ela o abraçou. Agora podia ver a parte de baixo de seu rosto. E de novo, aquilo o lembrava de algo. Queria perguntar, mas não saía nenhuma palavra de sua boca quando tentava dizer algo, ou mesmo podia se mexer.

— Não posso curá-lo totalmente, feridas internas demoram a se regenerar, mas se lutar amanhã é o que deseja, posso te ajudar.

A imagem dela foi sumindo depois disso, até que tudo ficou branco. Estava em um espaço vazio. Quanto tempo passou ali? Não sabia. Isso era mesmo um sonho?

Acordou de repente com o som de uma porta batendo. Ao olhar para o lado, só conseguiu ver o pedaço de um cabelo loiro e uma capa azul, antes da porta se fechar. Levantou e correu para ela. Mas quando abriu a porta, não havia nada no corredor.

Foi então que notou algo errado. O ferimento em seu abdômen estava quase completamente curado, e embora ainda sentisse dor, não era nada comparado a antes.

— O que demônios?… Já é de manhã? — Falou ele, reparando no sol vindo de uma das janelas à sua frente. Quanto lutou com Kadia, no dia anterior, já estava entardecendo, então devia estar ali faz quase metade de um dia.

Olhando ao seu redor, conseguiu entender mais ou menos em que parte da Arena aquele quarto hospitalar estava. Ao procurar <E>, viu a garota olhando na mesma direção que ele, mas com um olhar distante, como se estivesse pensando em algo.

Antes que pudesse perguntar algo, viu Kadia no corredor, caminhando velozmente em sua direção.

— Como você…? – Ela estava olhando assustada para o seu ferimento, o apalpando sem se importar nem um pouco se ele ligava ou não. <E> não estava feliz com isso, tentando desesperadamente tirar as mãos de Kadia do abdômen de Arian. Parece que seja lá o que a garota estava pensando anteriormente, perdeu prioridade.

— Como? – Perguntou pasma, ao notar o ferimento completamente fechado.

— Não faço ideia, nunca ocorreu antes, quer dizer, não tão rápido. Acho que foi alguém, mas… não tenho certeza. Viu uma mulher loira de capuz azul quando estava vindo pra cá?

— Não, a Arena está vazia, eu acho… não detectei nenhum pensamento enquanto vinha para cá, só se ela estava usando magia para me bloquear.

Arian ficou pensativo.

— Bem, se ainda vai querer lutar, por favor aceite isso como pedido de desculpas. Eu o entendi errado. Pensei… que queria me delatar – falou Kadia, enquanto entregou a Arian uma carta.

— Ah, eu entendo… percebi quando ficou agressiva de uma hora para a outra. Mas uma carta de desculpas não é meio formal demais?

— Isso não é o que está pensando… Estou apenas lhe dando uma chance de vencer a final — disse ela, dando um sorriso confiante. — Boa sorte na luta, vou estar torcendo para conseguir sua meio-elfa — e dizendo isso, se virou e sumiu no breu do corredor.

— Hum… ler mentes deve realmente deixar a vida mais fácil — falou Arian, para si mesmo, ao notar que Kadia sabia o que ele desejava no torneio sem ele nunca tê-la informado. 

— E você <E>, tinha alguém aqui antes? Uma garota loira? – Perguntou à fantasma mirim ao seu lado. A garota fez um sim com a cabeça, enquanto voltava a fazer uma cara pensativa. — Sabe quem era?

A garota voltou a fazer uma cara pensativa. Até sinalizar que não tinha certeza. Ou seja, provavelmente já a viu antes, mas não se lembra. O que levava a outro mistério à volta dele: <E>, assim como ele, não tinha memórias dos eventos antes de acordar ao lado de Arian, 5 anos atrás.

Bem, não adiantava ficar pensando muito nisso, então resolveu dar uma olhada na carta que Kadia lhe deu. Ao terminar de ler, um enorme sorriso de confiança surgiu em seu rosto.

Pela altura do sol tinha algum tempo até a final começar.  Foi correndo pegar seus pertences, deixados pela enfermeira ao lado da cama. Se fosse um hospital de verdade teriam tirado suas roupas também, mas aqui não se davam ao trabalho.

— Vamos dar uma volta <E>, temos que comprar algumas coisas.

Dizendo isso, o guardião saiu pelo corredor, acompanhado de sua fiel fantasma. Pouco tempo depois, chegou o momento da final do torneio.

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