As Crônicas de Arian – Capítulo 4 – 8 contra 1

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Capítulo 4 – 8 contra 1

— Não se mexa, Sara! — falou Arian, nervoso. A menina nunca havia o visto falar daquela forma antes.

— Matem ele! — gritou Philip, largando o corpo sem vida de seu irmão e avançando em fúria na direção de Arian.

Ele foi cercado rapidamente, a mesma estratégia usada com Robert.

— Arian não… — Sara parou de falar antes de terminar a frase. Ele não estava a ouvindo. Concentrado em alguma coisa, não movia um músculo, enquanto esperava por uma reação dos adversários.

— Ao mesmo tempo, ataquem! — ordenou Philip.

Ele bloqueou o primeiro com um de seus braceletes, e o segundo, terceiro, Arian girava para frente e para trás defletindo as espadas. Era um total de cinco o cercando, e três mais atrás, em guarda. 

Um dos golpes o acertou na perna, mas não teve efeito, bateu na armadura.

— Ele está com armadura, mirem na cabeça e pescoço, idiotas! — ordenou Evan, o soldado de 2 metros que derrubou Robert, agora com uma espada em punho.

Arian desviou do ataque de um dos soldados mais baixos, e depois puxou o atacante para perto de si. Ele então o fez de escudo para a espada do soldado de 2 metros que veio em sua direção.

Evan parou o golpe antes de ferir o companheiro gravemente.

— Mas que droga, Lud, não o treinei para isso! — reclamou o gigante.

Se aproveitando da confusão deles, Arian jogou Lud contra Evan, o mais experiente dos inimigos.

Quando o fez, um dos soldados que o estava o cercando deu um passo para frente e tirou os olhos dele por 1 segundo. 

Arian agarrou a cabeça do soldado com uma das mãos, e levou ao solo com tanta força que o barulho do crânio quebrando ecoou pela noite. E depois disso, o clima mudou.

Os homens rapidamente se afastaram dele, aumentando o tamanho do círculo, e perdendo parte da confiança que vinham demonstrando. O homem com bracelete de contenção, mais atrás, se preparou para fazer algo, mas antes que conseguisse, Arian arremessou uma das espadas que tinha nas costas em seu peito, o matando na hora. Depois disso, um homem que se aproximou dele, achando que ele tinha se distraído, foi arremessado vários metros para trás com um soco no rosto, caindo desmaiado. 

Philip estava suando frio enquanto segurava sua espada. Ele recuou um pouco, e como as paredes do bar e da casa de Jeff só tinham poucos metros de distância uma da outra, Philip estava quase encostando em uma delas com as costas.

— Por Alizen, o que demônios é você? — perguntou Evan, dando passos para trás, vagarosamente. 

Arian continuava girando lentamente dentro do círculo, esperando o próximo ataque.

Sara nunca vira Arian assim: sua boca estava contorcida, os olhos gélidos, era uma criatura em fúria se passando por calma.

Sua atenção se perdeu com algo agarrando seu braço. Era Phillip, ele não estava mais no grupo dos atacantes. Ela tentou resistir com a pouca força que ainda restava, mas foi prensada contra o chão, com Philip apertando seu pescoço.

Não ia morrer assim, não sem fazer nada, enquanto duas pessoas sacrificavam a vida por ela. Gritando de dor, conseguiu mover a perna perfurada pela faca, e acertou com o joelho no meio das pernas de Philip, que estava sobre ela.

Ele soltou um gemido leve e a mão no pescoço de Sara afrouxou. Ela então mordeu o braço de Philip com toda a força, até sentir o gosto do sangue dele em sua boca. Assim que ele recolheu o braço, assustado, a garota usou sua própria cabeça para acertar o outro braço dele, que estava quebrado. Como resultado, ele se afastou instintivamente, gritando de dor, e tirou as pernas de cima dela. Sara, cambaleando, conseguiu se levantar, mas o que fazer depois disso?… O local mais seguro que sua perna machucada permitia chegar era… O depósito de alimentos!

Arian ainda estava ocupado com 4 homens, daquele ela teria que dar conta sozinha.

Capítulo 4.1 — 1 contra 8

Chegara tarde demais. Novamente julgou errado a ação do inimigo.

Dizem que você aprende com seus erros, mas ele se perguntava se era mesmo verdade neste momento. Já perdera as contas de quantas vezes falhou da mesma forma.

Pensou que os soldados iriam atrás dele, até tinha se preparado em sua cabana perto do bar. Mas julgou errado. O interesse na garota era maior que a raiva por ele.

Se não fosse o dono do bar avisá-lo, seriam mais corpos para ele se lamentar.

Correu o mais rápido que pôde, e felizmente, dessa vez chegou a tempo.

A Lua estava cheia, iluminando perfeitamente o beco entre o bar e a casa de Jeff, assim como os homens que estavam lá com Sara. Precisava usar a surpresa a seu favor. Tirou uma de suas espadas, que ficavam cruzadas nas costas, e arremessou ela no homem em pé olhando para Sara, o alvo mais fácil.

O homem morreu no mesmo instante, caindo em cima do corpo de Sara. Ao notar o que aconteceu, seu irmão, Philip, se desesperou.

Arian se aproximou e os oito soldados entraram em posição de guarda. Quatro deles se aproximaram, enquanto os outros três ficavam mais atrás, e Philip permanecia segurando o corpo do irmão. Era um beco muito fechado, seria complicado lutar ali, mas não tinha opção.

Foi então que notou o estado físico de Sara, toda machucada. A raiva tomou conta. Seus dentes rangiam, a respiração ficou irregular. A terra úmida em baixo de seus pés descia conforme ele pressionava o chão involuntariamente, com os músculos da perna e pés se contraindo.

“Se acalme, idiota! Fingir estar calmo é a única coisa que tem a seu favor. Se for tomado pela raiva eles vão ganhar confiança… Qualquer erro aqui e a garota acaba morta”.

Arian respirou fundo e tentou se acalmar.

— Matem ele! — gritou Philip, deixando o corpo do irmão, ainda com a espada curta de Arian cravada nele, e indo em sua direção com espada em punho.

Não podia usar espadas. Sara estava próxima demais, o espaço entre a parede do depósito de lenha e o bar era muito pequeno para arriscar uma luta de grande movimentação. Uma espada podia facilmente a acertar. A opção era uma luta corpo a corpo, com o mínimo de movimentação possível.

Ele observou rapidamente o pulso de todos os soldados. Um deles, que estava mais atrás, tinha uma pulseira com um cristal azul nela. O conhecido bracelete de contenção. Tinha que tomar cuidado com aquele.

“Isso é mal…”

Eles se posicionaram à volta dele. Permanecer em um cerco era suicídio estrategicamente falando, mas se movimentar muito estava fora de questão. Dois deles não pareciam saber lutar direito pela forma que seguravam suas espadas, mas o resto já devia ter alguma experiência.

— Ao mesmo tempo, ataquem! — ordenou Philip.

Arian bloqueou com seu bracelete os primeiros golpes, enquanto girava esperando o próximo. Os tempos eram bagunçados, não tinham coordenação para atacar ao mesmo tempo, caso contrário já teriam o ferido. Um acertou sua perna, mas a armadura repeliu o golpe.

— Ele está com armadura, mirem na cabeça e pescoço, idiotas! — Falou o gigante de 2 metros, que estava esmurrando Robert quando ele chegou.

Um dos soldados de menor estatura avançou adiantado demais em comparação ao resto do grupo. Arian o agarrou e usou como escudo para o golpe que vinha pelas costas. A espada do aliado parou pouco antes de matar o soldado. Era agora!

— Mas que droga, Lud, não o treinei pra isso! — reclamou o gigante, recuando a espada que quase matou o soldado.

Nenhum deles esperava o que aconteceria a seguir. Arian jogou o soldado que fez de refém em cima do soldado de 2 metros, que tinha acabado de o repreender. E se aproveitou da confusão para agarrar a cabeça de outro mais desatento que se aproximou dele, a esmagando contra as pedras no chão com toda força. Menos um.

Os três à volta dele recuaram depois disso, e apenas dois se mantinham em guarda… “os experientes”, deduziu Arian. Assim que se afastaram, o soldado com o bracelete de contenção, que parecia estar se concentrando faz algum tempo, colocou a mão para frente, e se preparou para dizer algo, mas antes que o fizesse, Arian arremessou sua segunda espada presa nas costas, no meio do peito do homem, que caiu no chão agonizando. Menos dois. Agora, só a espada na cintura de Arian sobrara com ele.

Achando que ele tinha se distraído com o soldado mais atrás, um dos que estava a volta dele, avançou com a espada em punho. Arian desviou da arma do adversário e acertou um soco no rosto dele que o fez voar vários metros para trás. O homem caiu inconsistente, com o rosto completamente deformado. Menos três.

— Por Alizen, o que demônios é você? — falou o maior deles, Evan, perdendo a confiança, e já desconfiado de que Arian provavelmente não era humano.

“Ele está mesmo chamando o nome da deusa que protege os indefesos enquanto ataca uma elfa por diversão…?”

Foi então que Arian viu o homem do braço quebrado que o atacara mais cedo, Philip, recuar e tentar chegar até Sara, provavelmente em uma tentativa de fazê-la de refém.

“Faça alguma coisa! Se ele pegar uma refém…”.

“Mas o quê?”, pensou. Antes que pudesse decidir, a garota acertou seu agressor e fugiu, com aparente dificuldade, por causa da perna cortada. Arian ficou pasmo, sem acreditar no que viu. Logo depois, Philip se levantou e foi atrás dela, ainda lento, devido à dor do chute que levou no meio das pernas.

Arian sorriu, finalmente se acalmando um pouco.

— São quatro contra um, se renda e o deixamos ir — falou um dos que ainda estava perto dele com a espada em punho, totalmente inseguro.

— Não, a partir do momento que deixaram a garota sair daqui, sou eu contra apenas quatro de vocês.

Eles se irritaram com a provocação e avançaram contra ele.

— Todos ao mesmo tempo! — falou Evan, descendo sua espada sobre o guardião. Os outros o seguiram.

— Já tiveram chances o bastante. É a minha vez! — Arian desviou da espada de Evan, e logo depois desembainhou sua espada bastarda, que estava na cintura, em uma velocidade tão grande, que o homem à sua frente teve o peito e parte da cabeça cortados, sem os outros sequer entenderem o que havia acontecido. O corpo caiu no chão com um baque seco.

— Menos quatro… — contou Arian. Os três militares restantes congelaram onde estavam. 

— Sargento Evan…não… — lamentou o soldado que Arian usou de escudo contra Evan.

Uma espada veio pelas suas costas, era o segundo soldado experiente. Arian girou com sua espada e a arma do adversário foi defletida. O choque das armas gerou um barulho ensurdecedor, como um trovão.

A arma do soldado quebrou, e o que sobrou dela estava cravado na parede da casa de Jeff. Enquanto o homem urrava de dor, devido ao pulso quebrado pelo impacto do golpe em sua espada., Arian atravessou ele com sua espada bastarda no meio do peito, enquanto tentava manter a atenção nos outros soldados à volta dele.

— E-eu s-só estou… cu-cumprindo ordens… — tentou falar o homem, vomitando sangue.

— Ninguém é obrigado a aceitar esse tipo de ordem…. — Arian girou a espada no ar e a cabeça do militar foi arrancada. — Menos cinco!

Os dois soldados restantes olharam para ele, desesperados.

O beco não tinha saída para correrem, era bloqueado por uma parede de madeira cheia de barris encostados nela. Se quisessem fugir, teriam que passar pelo guardião.

— S-se renda e prometemos não machucar a garota, não vai ter tempo de salvá-la antes que Phillip a pegue.

— Devia se preocupar é com você mesmo — falou, ainda com olhos cheios de raiva, enquanto avançava para cima dos dois.

Com a garota ali, eles podiam até chegar a feri-lo gravemente, se soubessem se coordenar. Sem ela, eram apenas sacos de carne lentos. Arrancou a cabeço do primeiro, menos seis. Mas quando se virou para atacar o segundo, algo inesperado aconteceu. O homem desviou da arma com facilidade. Em seguida, sua expressão de medo sumiu, como se estivesse apenas fingindo até ali.

— Sabe o quão trabalhoso é se fingir de humano para passar despercebido como um soldado qualquer? — questionou ele, parecendo aliviado de sair de seu papel. — Entendo terem me mandado para infiltração devido a minha audição muito superior a dos humanos, mas é um trabalho extremamente desgastante. Como se não bastasse, graças a você, me pergunto, como eu vou fazer para não chamar atenção, sendo o único sobrevivente desse grupo?

“Um espião do norte…”

Arian prestou mais atenção no sujeito, que parecia um humano comum com o cabelo quase raspado. Não tinha uma dica sequer para conseguir identificar sua raça. Ele comentou sobre sua audição superior, mas tinham várias raças com essa característica.

— Aquela elfa não tem mais muito tempo, se é que Philip já não a pegou. Já aviso que não luto tão mal quanto esses idiotas que acabou de matar… — disse o espião, aparentando estar calmo. — E então, vai me deixar ir ou arriscar morrer?

Arian desviou rapidamente o olhar, em busca de Sara. É quase certo que ela iria se trancar no armazém. E se não fosse burro, Philip não precisaria de muito tempo para conseguir arrombá-lo.

“Pare de pensar na garota! Se deixar um deles fugir, vai avisar a tropa, e toda a vila seria destruída por atacarem militares. O plano que tinha em mente desde que chegou naquele vilarejo estaria arruinado.”

Se aproveitando da distração de Arian, o homem à frente dele, com sua espada em punho, avançou contra o guardião em uma velocidade anormal.

Enquanto isso, a 30 metros dali, Sara tentava fechar a porta do armazém para se trancar.

Tarde demais, Philip surgiu chutando a porta pouco antes da garota conseguir fechá-la por completo. A elfa voou para trás.

Sara levantou, com dificuldade, e correu para dentro do depósito, sumindo em meio ao labirinto de caixas empilhadas. Mesmo na escuridão, conseguia ver tudo perfeitamente, uma das vantagens de sua raça. Sentia uma dor enorme no peito devido as costelas quebradas, mas ainda conseguia respirar, mesmo que isso lhe causasse muita dor. E sua perna, mesmo com o furo da faca, ainda era capaz de se mexer devidamente. Seu corpo estava dando tudo de si para ela ter uma última chance, não podia desperdiçar.

Philip estava gritando algo, mas ela não estava prestando atenção, só pensava no que fazer para sair dali viva.

Pegou uma das foices presas na parede, no fundo do armazém, e tirou os sapatos para não fazer barulho. Foi então que pensou em um plano, conforme escutava Philip se aproximando.

Lançou um dos sapatos para atrás de uma das várias caixas empilhadas do armazém, e esperou pelo agressor.

Quando ele caiu na isca, ela foi com tudo em direção a suas costas. Infelizmente, ele a ouviu e virou a tempo.

Ela era fraca, o golpe foi bloqueado pela tocha que Philip estava carregando, e Sara foi jogada para trás, enquanto a tocha acertou o rosto de Philip de leve.

— Eu vou te matar! — gritou furioso, com o rosto levemente queimado.

Sara levantou e tentou correr, mas Philip jogou algo em suas costas antes que conseguisse escapar.

Ela caiu e bateu a cabeça em uma das caixas. Estava tonta, não conseguia levantar. Philip então começou a chutá-la na cabeça, uma, duas, três vezes, enquanto ela agonizava, tentando se arrastar para a porta.

No quarto chute na cabeça, ela desmaiou.

— Faça suas preces garota, nem você vai conseguir se reconhecer quando eu terminar…

Próximo: Capítulo 5 – O Vulto da Morte

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