Re:Creators #08 – Inveja e Ressentimento – Impressões Semanais

Meu professor de Formação do Mundo Contemporâneo uma vez perguntou: qual a diferença entre cobiça e inveja? Alguns podem replicar: mas não são a mesma coisa?

Não, enquanto na cobiça você deseja algo que pertence a outra pessoa, na inveja você realmente deseja que a outra pessoa perca ou não tivesse determinada coisa que obviamente você não tem.

Um sentimento totalmente destrutivo que é a origem do fardo que o Sota carrega pelo teor dos diálogos entre ele e Meteora. Como discutido na review anterior, o protagonista de fato aparenta ser o culpado indireto pela morte de Setsuna.

O que o torna desse momento em diante o verdadeiro antagonista desta história, já que descontou toda a sua frustração pela sua “falta de talento” em sua melhor amiga, chegando ao ponto de se tornar tão frio com ela que a garota desenvolveu uma tristeza e ressentimento profundo.

Isso porque as realidades de duas pessoas são obviamente diferentes. Se para Setsuna o mundo dela gira em torno de sua amizade com o Sota, quando ele se afastou e começou a lhe tratar com frieza por causa do seu talento, o seu mundo se partiu e tornou-se sem sentido.

Confessando indiretamente a culpa no cartório.

Se sentindo traída e ferida por quem deveria ser o seu melhor amigo (então, podem começar a xingar esse ser inútil), não aguentando mais a dor; se matou.

Não culpo totalmente o Sota porque é difícil você conviver com uma pessoa talentosa, já que ela obviamente consegue fazer algo melhor que você em um período mais curto de tempo.

É o que o Jin de Sakurasou disse: pessoas talentosas conseguem atrair outras com facilidade, mas também conseguem destruí-las da mesma forma que atraiu-as.

No entanto, isso não é uma máxima. Não conseguir o mesmo nível de uma pessoa talentosa não é motivo para você derramar todas as suas frustrações e fracassos nela.

Além disso, uma pessoa talentosa também é esforçada. Se a pessoa não se dedica a polir o seu talento, o dom que possui será apenas uma ferramenta inútil.

Se acrescentarmos a isso as cobranças e expectativas que se depositam nesse  tipo de indivíduo, às vezes é até maior que a cobrança feita a outro profissional na mesma área, ou seja, o fardo muitas vezes é dobrado.

O erro do Sota foi deixar as críticas que obviamente recebeu pelo seu trabalho contribuírem para ele se afastar de Setsuna, que era provavelmente sua melhor amiga. Quando ele deveria procurar melhorar e chegar em um nível que a maioria das pessoas achasse bom.

Nesse ponto eu discordo de Meteora, que disse que a solução era ele buscar ser melhor que seu amigo e ajudá-lo. Ao tentar isso, ele ficaria mais estressado, porque sinceramente, na minha opinião, não tem como uma pessoa comum chegar ao nível de uma talentosa.

Então o que ele deveria buscar? Apenas o melhor de si mesmo que o deixasse feliz. É óbvio que nem com seu melhor ele teria sucesso em tudo que se propusesse a fazer, mas com certeza poderia acumular alguns sucessos aqui e ali.

No entanto, o que me deixou mais cética com o protagonista é que além de não admitir seus pecados para seus amigos com medo de como eles iriam julgá-lo, ele se deixa ser chantageado por uma psicopata.

É difícil você simpatizar com um protagonista que vende a alma para o capeta por ser frouxo.

O que a meu ver é muito clichê e uma decisão errada do roteirista, porque é difícil você gostar de um personagem que só fica fazendo merda a todo o instante.

Neste tipo de desenvolvimento não tem como alguém não achar que Sota só pensa nele e ponto, que nunca coloca os amigos ou inocentes em sua linha de visão.

Aqui entra a discussão do preço de um segredo. Todo ser humano possui segredos referentes apenas a ele ou relacionado a outras pessoas. Às vezes um segredo existe para manter algo precioso em segurança. Só que guardar um segredo também se torna algo perigoso quando o mesmo acaba te escravizando.

Sota é escravo da culpa e enquanto não confessar o que o acorrenta, ficará a mercê de pessoas perigosas como a genocida e eternamente encarcerado no próprio sofrimento. A verdade é libertadora em todos os sentidos, porque ela tira o véu em seus olhos e os grilhões em seus pés.

Além disso, a maioria dos segredos não permanece em oculto. Uma hora ou outra, por mais que demore, um segredo como o que Sota tenta manter às sombras é descoberto.

Sendo assim, agora cabe ao garoto contar os podres de vez para os amigos ou acabar se enforcando mais ainda, o que infelizmente é provável de acontecer pelo desenrolar desse episódio e por frases como “a verdade jaz no fundo do poço” encontradas no tablete dele no primeiro episódio.

Então suponho que apenas quando o protagonista estiver atolado na lama ele vai enxergar a solução, se perdoar e encontrar a salvação para Altair/Setsuna. Mas até lá vai ter muita gente querendo que ele se ferre e não acho que elas estão de todo erradas.

Outro sentimento igualmente destrutivo é o ressentimento. O ato de sentir e sentir de novo. É uma mágoa enraizada que ti persegue a todo o instante. Sendo compreensível essa atitude de Altair para com o mundo o qual podou a existência de sua criadora.

Entretanto, saberia ela que o Sota é o verdadeiro culpado por esta dor? Talvez sim, talvez não. A verdade é que achei muita inocência por parte da Mamika tentar convencer a vilã apenas com palavras.

Quando essa tristeza que ela sente pode ser algo provavelmente advindo de sua criadora cuja raiz, a meu ver, só poderia ser sanada pelo Sota ou com a morte.

O que é curioso porque eu queria saber como a Altair consegue ter esta noção da dor da Setsuna. É como se ela em determinado momento realmente tivesse conhecido a Setsuna.

Ou talvez sentisse e fosse impregnada por essa dor advinda da criadora, mas como a Setsuna conseguiu isso? Provavelmente só teremos respostas coerentes mais para a frente (ou espero que assim seja).

E a cereja do bolo desse episódio se encontra em seu final, com a garota sendo literalmente espetada pela vilã. Contudo, o que me surpreendeu é o ultimo ato da Mamika de causar uma explosão a fim de atingir a Altair e acabar com tudo ali, um ato corajoso e tolo de uma mahou bomba porque tenho certeza que a vilã se safou.

No entanto, essa é a maneira que acho mais correta de se terminar um episódio, já que incentiva o espectador a aguardar em frenesi pelo próximo capítulo da trama, além de ser um exemplo de que o enredo não precisa ser totalmente movimentado para criar interesse no espectador. Desde que você termine com impacto ou o desenvolva de forma que capture a atenção do público.

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E você, que nota daria ao episódio?

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 #Extras

Com todo este ódio, acham que só palavras vão convencê-la? hahahahahahahahaha

Se depois disso tudo, essa desgraça não morrer, verão meus resmungos.

 

Sirlene Moraes

Apenas uma amante da cultura japonesa e apreciadora de uma boa xícara de café e livros.