AnimeTopics #02: Estúdios X Staff X Produtoras – Quais suas respectivas relevâncias? Existe um mais importante?


No Guia de estúdios expliquei sobre estúdios e a relevância da staff, aqui vou um pouco mais longe e adiciono a produtora, e como esses 3 se conectam e interagem na produção de um anime.

Produtores (Comitê de produção)

Produtores são representantes das empresas que estão bancando o projeto (anime). O mais normal em uma adaptação por exemplo é a editora que publica o original entrar em contato com uma produtora grande (Aniplex, Pony Canyon, TOHO, Genco, Kadokawa),  que por sua vez vai tentar chamar mais investidores (produtores) menores para dividir os custos do projeto, de forma a reduzir os riscos da perda, caso o anime fracasse comercialmente. A produtora primaria é quem costuma entrar em contato com um estúdio para produção do anime, e pode tanto deixar a escolha da staff nas mãos do estúdio quanto participar da decisão.
Criou-se o boato/mito de que a produtora principal é muito importante, porque se especula que algumas delas investem mais dinheiro que outras (muitos gostam da Aniplex por exemplo) ou mesmo ajudam na escolha de diretores melhores para seu projetos. Isso é verdade ou mentira? Honestamente, acho que nunca saberemos com absoluta certeza, já que diferente de hollywood a industria de animação japonesa não libera os dados quanto a verba de cada projeto. Após um bocado de discussões e análises do que alguns diretores falam e de algumas informações vazadas de vez em quando, a conclusão final foi de que a maioria dos animes para TV tem uma verba similar, com alguns tendo um pouco mais e outros um pouco menos, mas “normalmente” nada absurdo, como verba dobrada ou coisa do tipo. As vezes é mais importante que a produtora tenha contato com um bando de animadores de ponta para contratar para o projeto do que injete muita grana e ela acabe sendo mal aproveitada por exemplo.

Comité de produção – representantes das produtoras, staff e representantes do estúdio – discutindo a pre-produção do anime na animação Shirobako, um anime sobre os bastidores da produção de animes no japão. 
Tem também o mito de a quantidade de produtores importa, então quanto mais produtores mais verba o anime vai ter e mais bem animado vai ficar. Isso já se provou um erro várias vezes: está cheio de animes com 3 a 5 produtores com boa produção (Fate/Zero, SAO, Kimi no Uso) e animes com 10 ou mais produtores com produções medianas ou ruins (Trinity Seven, Re:Hamatora), então colocar fé na quantidade de produtores é normalmente falho. 
Dito isso, animes de quais produtoras costumam ter uma produção mais caprichada? Pelo que pesquisei, comparando obras dos últimos 3 a 4 anos de cada produtora, os animes para TV da Aniplex e Pony Canyon são os que mais se destacam em valores de produção. Elas, no entanto, não são consistentes nesse aspecto, tendo diversas obras com produção mediana ou de vez em quando até ruim, seja isso culpa de uma escolha equivocada da staff, uma verba abaixo do padrão, pouco tempo dado para produção ou outra coisa que nunca saberemos.

Tem produtoras ruins? Nas pesquisas que fiz as produções da Kadokawa Corporation (não misturem com as da Kadokawa Shouten, apesar de uma ser subsidiaria da outra) tinha os piores valores de produção dos últimos 2 anos, assim com escolhas de staff ou estúdio duvidosas. Claro que tem exceções: No Game No Life deve ter sido o único anime de 2014 da Kadokawa com uma boa produção. A TOHO até o momento que escrevo esse post ainda não bancou nenhum anime aonde parece que a produção estava esbanjando também, e enquanto tem produções de comédia até bem acabadas seus animes de ação parecem econômicos, mesmo quando bem produzidos (exemplo: Kekkai Sensen).

Vale notar também que a Kodakawa é dona de um bando de editoras de mangá e Light Novel, e em alguns casos, mesmo quando o anime que ela banca não vende tão bem existe a chance de ela dar sinal verde para uma nova temporada se o material original vender muito, já que o lucro disso é todo revertido para ela, muitas vezes compensando o anime não ter vendido tão bem. Pelo lado ruim, como ela só quer uma propaganda barata para o material original, a chance dela fazer um investimento acima da média na produção de seus animes é baixa.

Concluindo, contar com uma produção acima da média só sabendo quem é o principal produtor normalmente não é uma boa ideia, mesmo que faça sentido ter esperanças positivas com a Aniplex ou Pony Canyon encabeçando o projeto, assim como negativas com uma Kadokawa Corporation, ou, pior ainda, um estúdio de TV como produtor principal, já que por análise comparativa já ficou mais que óbvio que eles investem bem menos que o normal nas produções que bancam.
Produtor criativo

Mitsuo Fukuda, diretor de Gundam Seed e produtor criativo do anime CrossAnge.

Produtor criativo é diferente do produtor que representa apenas uma grande investidora. O cargo é muito comum em animes originais, aonde o produtor criativo costuma ser o responsável por criar o projeto e correr atrás de financiamento de grandes produtoras (O anime CrossAnge é o exemplo mais recente). Depois disso o criador costuma pegar a posição de produtor e guiar a criação do anime junto ao diretor. Isso, claro, quando o produtor não é o diretor (caso de Zankyou no Terror) ou a criação da obra não é fruto de vários colaboradores diferentes. Obras com produtores desse tipo costumam ser muito influenciadas pelo mesmo, sendo que ele costuma mandar no diretor, que acaba basicamente só exercendo suas funções técnicas, deixando a parte criativa e principalmente decisões quanto ao roteiro para o produtor.

(A parte abaixo não vai ser novidade para quem já leu o guia de estúdios, mas recomendo ler mesmo assim, já que tem algumas coisas que não comentei no guia e o texto é relativamente curto).

Staff

Quando se fala staff costumasse estar focando no diretor, chefe de animação, roteirista e animadores principais (quando o anime tem um, não são todos). O diretor é quem costuma decidir o resto da staff, normalmente chamando pessoas com ele já trabalhou antes, em ordem de talento e que estejam disponíveis, motivo pelo qual quanto mais contatos o diretor tiver melhor. Nesse aspecto diretores que só trabalham com um estúdio não costumam ser uma boa opção (descontando o estúdio Kyoto Animation). Eles costumam conhecer só o pessoal de dentro do estúdio, quando a maioria dos melhores profissionais da industria são freelancers, que trabalham em diversos estúdios diferentes, de acordo com a demanda que tem. Diretores freelancers costumam conhecer diversos profissionais diferentes ao passarem ao trabalharem com diferentes estúdios, abrindo um pouco o leque deles de escolha da staff secundária (diretores de episódio, animação, ect). 
Exemplo: Suponha que tenha um episódio muito exigente em termos de coreografia de luta. Ao invés de ter que passar o trabalho para o animador “menos pior” do estúdio, o diretor pode tentar chamar um animador acima da média que conheça, ou mesmo mais de um, para trabalhar no episódio.

Principais membros da Staff discutindo sobre a produção de um anime na animação Shirobako
As decisões de roteiro sempre costumam passar pelo diretor também, então mesmo que a produtora primaria queira, por exemplo, que ele siga a obra original, ele pode tomar decisões criativas para corrigir um probleminha aqui e outro ali sem ter que mudar nada importante. Escolhas na direção de arte e trilha sonora também costumam passar pelas mãos do diretor, então quando algum desses aspectos não está a contento é ele normalmente que se deve culpar. 
Claro que ele não faz mágica e caso se encontre em um estúdio ruim fica difícil fazer algo muito acima da média, já que mesmo chamando uns freelancers que ele conhece pra ajudar não dá fazer um anime em estúdio X e não usar nenhum funcionário desse estúdio X. Um bom diretor pode fazer algo acima da média em um estúdio mediano e algo fantástico em um estúdio acima da média, mas não esperem que ele consiga fazer um milagre sozinho.  
Mas então, como se classifica um diretor como “bom”? Você olha as obras mais recentes dele e procura padrões de qualidade. Quase tudo em que ele se envolve costuma ser razoavelmente bem animado e ter um roteiro pelo menos coeso? Apesar de que não adianta exigir muito do roteiro, ainda mais quando a maioria dos animes são adaptações, as quais não é permitido mudar muitas coisas comparado ao original normalmente. É bom ficar de olho em diretores que produzem boas obras originais também, já que em animes originais a mão e decisões criativas do diretor costumam contar muito mais que em adaptações, devido ao nível de liberdade que ele costuma ter (lógico, quando não existe um produtor criativo mandando em tudo). Exemplos de bons diretores com produções estáveis em diferentes estúdios podem ser vistos no guia de estúdios (link).
Vale lembrar que compositores e roteiristas nunca tem afiliação permanente com estúdios ou mesmo diretores. Todos eles são freelancers.
Estúdio
O estúdio é importante também, embora o considere depois da staff primaria: diretor, designer, animador chefe e animadores principais. Quem faz grande parte das conexões para produção de um anime é o estúdio, e em vários casos é ele que escolhe a staff que vai trabalhar em cada obra (nem sempre!). É dele também que vai vir a maioria dos animadores e diretores de animação de cada episódio, mesmo que um diretor freelancer tente chamar algumas pessoas acima da média de fora do estúdio para melhorar alguns aspectos da produção é praticamente impossível criar uma staff de anime toda feita de freelancers talentosos, não só por falta de dinheiro mas por boa parte deles estar sempre ocupada com algum projeto. 
Os estúdios também podem escolher aceitar ou não trabalhos com prazos muito apertados ou staffs medíocres, cabe ao dono ou acionistas do estúdio essa decisão de filtrar ou não as obras que produzem. Mas na maioria dos casos a visão parece ser “quanto mais trabalho melhor”, o que acaba levando estúdios a se sobrecarregarem, gerando trabalhos visualmente medíocres (ex: Toei só é ruim do jeito que é porque vive em um ciclo infinito de ter 10x mais trabalho pra fazer do que dá conta, e como ainda assim consegue ganhar dinheiro não parece disposta a mudar sua metodologia de trabalho).

Mais sobre o assunto pode ser lido nesse post: Guia – Estúdios de Animação Japonesa: funcionamento, padrões, história, sua relevância na qualidade da produção e exceções

Conclusão
Todos são importantes: a Staff, a produtora principal e o estúdio. Mas desses eu destacaria principalmente a Staff e depois o estúdio, já que dar muito dinheiro para um estúdio mediano não vai fazer ele contratar um bando de funcionários melhores, e ter muita verba não vai fazer um diretor sem talento gerencial e visão artística pobre ficar talentoso ou ganhar contatos com gente talentosa (até mesmo a visão para notar que X pessoa tem talento para X coisa é algo que diferencia um diretor do outro). Ainda assim, não se pode fazer um anime todo fluido sem verba (isso costuma ser mais relevante para ação, mas não é uma regra), então ficar de olho no nome das produtores tentando encontrar padrões de orçamento nos animes dela é uma boa ideia – se você não encontra pelo menos um anime que esbanje animação entre os que a produtora X bancou nos últimos 2 a 3 anos já é valido começar a olhar feio pra ela.
Considerações:
Usei diversos conhecimentos e informações que adquiri nos últimos anos, além de uma pesquisa recente para embasar esse post, mas se alguém tiver informações mais atuais ou mesmo que contrastam com algo que escrevi no post fiquem a vontade para comentar ou me corrigir.

Relacionado:
-Guia – Estúdios de Animação Japonesa: funcionamento, padrões, história, sua relevância na qualidade da produção e exceções
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– Review: Shirobako – Um anime sobre os bastidores da animação