Review — Hanayamata

Uma ofuscante história sobre coragem

Sinopse

Sekiya Naru é uma garota comum em seus 14 anos: suas notas, aptidões e estética não passam do que é considerado ordinário. Enquanto segue com sua vida da forma mais normal possível, sonha com o dia em que uma de suas idolatradas fadas das histórias fantasiosas a transforme em uma deslumbrante princesa, porém o que ela não esperava era que seu sonho se tornasse realidade ao encontrar uma fada de cabelos dourados dançando sobre um portal japonês, à qual faz o pedido para que a leve para um novo mundo. O que Naru não esperava era que essa fada não passasse de uma futura amiga que abriria seus olhos para o universo da dança.

Review

Pela capa dessa postagem você provavelmente pensou algo próximo de: “Nossa, mais um anime de garotas fofas fazendo fofuras?” e você está absolutamente certo. Hanayamatase encaixa perfeitamente nesse gênero e sabe-se que é um estilo de história já saturado dentro do mercado de animes, contudo aqui encontramos um desenvolvimento que, apesar de ser formatado sobre esteriótipos, adiciona profundidade às personagens, dando uma base para o roteiro acontecer enquanto te ensina a gostar de todas as garotas (todos sabemos que cada um de nós acaba escolhendo apenas uma como best girl, mesmo que seja apenas nesse projeto).

Flagrante no ato do moe!
É fácil relacionar o desenrolar da trama: nós temos a protagonista chamada Naru que em sua dramatização interna de querer se tornar uma pessoa melhor acaba por coincidência se deparando com uma misteriosa “fada”, e no calor do momento faz o desejo de ser levada para uma fantasia, então a entidade misteriosa simplesmente a pede para acompanhá-la numa dança de yosakoi. Fixando seu raciocínio, Naru envergonha-se e foge, consequência de seu medo de falhar em mudar e marca aquela noite como um sonho, algo que ficará apenas em sua memória. Acontece que aquela fada era uma estudante estrangeira transferida para sua sala!

Naruko de Itu?
Após o início da história se consagrar, a cada episódio o restante do grupo vai sendo apresentado para o espectador, trazendo o passado das integrantes do “Clube de Yosakoi” e sua posterior mudança de atitude, dando ao clube a propriedade de ponto de virada na vida de seus membros. Fica mais prático de entender o que o clube significa para cada uma delas, então sem mais delongas, fique com os clássicos, porém bem escritos dilemas pessoais.

A Coragem para Persistir
Hana N. Fountainstanddecidiu insistir e finalmente chegou ao lar de seu sonho, Japão! Com essa premissa nós temos a personagem que deu origem à trama em si; o alicerce dos acontecimentos no mundo de Hanayamata: a mocinha que quer dançar yosakoi.

Se uma loli dessas me chamasse pra dançar eu mandava até um Ragatanga
Hana segue o padrão de “garota propaganda da Sorriso”: sempre alegre, disposta e puxando todo mundo para o seu mundinho serve como o lado próativo da história, dando os pontapés iniciais para tudo acontecer (essa dependência acaba dando um pouco de escassez ao restante das heroinas). Conhece yosakoi numa visita ao Japão quando infante e se apaixona pela arte, ao mesmo tempo criando uma forte determinação pela perseverança enquanto desenvolve uma solidão por não conseguir compartilhar o sentimento pela falta de companheiras, a tornando forte externamente.

Prepare-se para ser abduzida pelo Yosakoi!
Hana se instaura no Japão buscando incansavelmente concretizar seus datados desejos. O tempo que passou agora se torna apenas imaginação, então tudo o que resta é seguir em frente: persistir – o que são semanas ou meses perto de anos? Hana nos demonstra que a perseverança é recompensada; a nunca perder o foco em seus objetivos, mesmo em momentos em que os caminhos a serem escolhidos se mantém equilibrados numa balança: a coragem para sacrificar opções em busca da felicidade.

A Coragem para Contestar

Todo conto de fadas necessita de uma princesa ideal, papel preenchido por Nishimikado Tami. Durante seus 14 anos de vida passou pro aulas de balé, piano, cerimônia do chá, arranjo de flores, linguagens, etc. Tudo para se tornar a “Filha ideal” e receber o orgulho de seu pai em retorno. Seu dia-a-dia se resume a eventos agendados e rotineiros, até observar a determinação da Naru em mudar a si mesma e tudo o que a cerca.

Tami sempre se portou como era lecionada, como era imposto a si, então quem era “Tami”? O autoquestionamento a leva ao desespero em se descobrir como apenas uma colcha de retalhos, criada a partir de sua educação familiar. Então o que Tami teria para procurar? Nada, apenas seguir sua vida como herdeira dos Nishimikado – eis que surge a luz no fim do túnel, representada pela aceitação gratuita que Naru oferece à Tami, mesmo se considerando apenas um frasco vazio. Através desse apoio emocional, Tami toma coragem para contestar seu dia-a-dia e se une ao “Clube de Yosakoi”, agora em uma relação de mútuo apoio com a Naru.

“Se você não se importar de como eu sou, me deixaria ficar ao seu lado?”

A Coragem para Seguir em Frente

Como já é de praxe, apresento a tsundere: Sasame Yaya. Embora atraente e divertida, em seu lado mais sensível se encontra uma garota com medo de perder sua juventude ao apenas seguir um cotidiano comum, logo, monta uma banda e se esforça junta de suas amigas para realizar seu sonho de estreiar como uma banda oficial… o qual é abandonado após falhar em uma audição, fazendo suas companheiras musicais abandonarem o plano.

Já vi coisa demais pra saber onde isso vai terminar.

Perder todo o seu trabalho torna Yaya em uma garota sem rumo, colidindo de frente com a recente sonhadora Naru. Mesmo apenas se expressando com inveja e frustração, distorcendo o que realmente quer dizer (como toda boa tsundere), Naru não nega apoio para sua linda amiga de infância em que se espelhou durante a vida, criando uma reconciliação de forte teor emocional e trazendo mais uma integrante ao “Clube de Yosakoi”. Dessa maneira Yaya, agora prossegue em pequenos passos para uma nova conquista, superando o recente passado.


A Coragem para Perdoar

Tokiwa Machi está no papel de aluna exemplar – nada menos esperado da “Presidente do Conselho Estudantil”. Através de uma rigorosa autoeducação chega a essa posição, mas não foi sempre assim. Espelhava-se em sua irmã mais velha, Tokiwa Sari (identificada como ‘Sally-sensei’) até ser abandonada pela mesma que desiste de herdar a clínica médica de seus pais.

“Esses números não significam nada”
Anos se passam, Sari se torna uma professora substituta e atual conselheira do “Clube de Yosakoi” na escola de Machi e sua relação continua intacta, isto é, em maus ares. Eis que nossa heroina surge para o resgate emocional: sob influência de Tami e Naru, as 4 membros intervém entre as duas, mediando os reais acontecimentos, mostrando à Machi que Sari se arrepende e mudara o suficiente para fazê-la desistir de seu rancor e finalmente perdoar a traição de sua irmã.

A Coragem para Mudar

Por fim, as posições de suporte do enredo e a melhor roteiro de personagem fica para Sekiya Naru, a protagonista. Em sua total normalidade, Naru cresce timidamente, formando uma personalidade introvertida que a traz uma forma de escapismo em suas leituras de fábulas e fantasias românticas: seu sonho de se tornar uma princesa surge daí, diariamente aguardando que uma criatura mística a resgate dos anseios de uma existência simplória.

“Não ter nenhum sonho significa que você tem um monte de espaço para encher de coisas boas!”
Quando o momento de seu resgate do cotidiano supostamente chega, Naru decide por fim à sua breve fantasia e se proteger em sua casca de normalidade. O que não esperava é que Hana a convencesse que ela tinha sim a capacidade de se tornar uma fascinante donzela, então começa a trilhar a mudança que deseja.

No início da trama se passa como uma protagonista padrão: rasa, heróica, genérica, eis que surge o Elemento X: através do yosakoi ela ganha uma aproximação maior com suas prévias princesas, e nessa melhora das relações vai acumulando um teor emocional, gerando maturidade, fazendo-a caminhar lado a lado com todas suas amigas e crescendo cada vez mais.

Sem descanso! Yocchare yocchare yocchare yo!
Naru tem a coragem para mudar a si mesma: a coragem para dar o primeiro passo fora da inércia de uma vida estável; a coragem para fugir da segurança de uma rotina regular em busca de um “novo eu”, e isso é o que a torna em uma garota – melhor, uma pessoa deslumbrante.

Essa determinação em se transformar e superar seus antigos traumas inspira todo o “Clube de Yosakoi”, principalmente Haru que encontrou em Naru uma melhor amiga que levará por toda a vida, já que tomou a mesma paixão pelo yosakoi. Naru então passa de “elo mais fraco” para “elo mais resistente” desse círculo de jovens dançarinas.

Aspectos Técnicos

Animação & Arte

Hanayamata conta com uma estética brilhante, tanto no sentido luminoso como no tom artístico aplicado nas fortes cores, destacando graciosamente o charme de cada heroina apresentada.

O ponto alto do character design são os cílios, “criticados” por amantes do moe pelo seu formato exótico, tomando proporção para o lado dos olhos. De fato é fácil estranhá-lo no início, mas basta um curto tempo para se acostumar e começar a apreciar essa característica.

Fala sério como alguém pode dizer que isso é feio?
A animação é fluída e tem ótimos cortes, principalmente nos trechos de ensaio e comédia, entretanto poderia ser melhor, principalmente no último episódio: a abertura reutiliza trechos da dança ao episódio final, funcionando como uma espécie de propaganda, infelizmente termina numa expectativa frustrada ao se notar que a última apresentação não mostra a coreografia inteira, pedaço que a maioria do público cria vontade de assistir.

Observação: A responsável pelo character design é Watanabe Atsuko, ela trabalhou na mesma área em uns projetos esteticamente diferentes do que você tem por aí – coisa ínfima, mas aplicou seu charme em Acchi Kocchi, Geijutsuka Art Design Class, Machine-Doll wa Kuzutsukanai, One Off e por incrível que pareça, Tokyo Ravens. Acabei me tornando fã da moça sem querer.

Direção & Roteiro
No ponto alto de sua produção, Hanayamata foi dirigido de maneira sublime. A ordenação das cenas de comédia e a metódica separação da ambientação faz com que fique fácil de absorver tudo que é mostrado de acordo com a roteirização do material base.

Olhando de uma forma mais abrangente, a variação da saturação das cores e brilho utilizado faz o visual acompanhar a trama: em eventos comuns o Sol brilha fortemente; ao enfrentar dramas surgem diversas sombras e a pintura se torna opaca; ao dançar, o universo em volta de Naru e cia. torna-se repleto de luz e por aí vai.

Perceba como o céu reflete a cena; cenas mais leves carregam menor saturação e mais brilho.
Nota-se uma leve pressa para prosseguir com momentos de conflitos e tristeza, forçando dramaturgia sem criar um clima com o tempo necessário. Em contrapartida se considerarmos que sua curta duração (12 episódios) e o objetivo parcial da obra (garotas fofas fazendo fofuras), o resultado ficou dentro do padrão de qualidade – com foco no conto de Tami, o melhor condensado dentre todos apresentados.

Curiosidade: A diretora aqui é Ishizuka Atsuko (coincidentemente o mesmo nome da designer), a mulher que na temporada anterior à Hanayamata dirigiu nada mais nada menos que No Game No Life. Dá pra sentir um pouquinho de NGNL com o ritmo das seções de humor.

Sonoplastia

Dá pra dizer que um pouco mais da metade dos sons apresentados, fora dublagem, são efeitos sonoros. Existem momentos que o fundo musical é quase uma melodia composta por esses efeitos, logo, o uso excessivo incomoda, principalmente em momentos de informações relevantes (o popular infodump).

Nem tudo são flores. Captaram?
A trilha sonora propriamente dita é produzida em grande parte sobre pianos, violinos e flautas-doce e de uma canção especial: Hana wa Odore ya Irohaniho é a música composta pelas mocinhas para suas apresentações, interagindo com a própria história e a letra condiz totalmente com o a mensagem do autor ao escrever Hanayamata.

Conclusão
Inspiração é algo que pode vir de qualquer fator externo: clima, conversas, animais minúsculos ou gigantes, o raiar do Sol, o brilho da Lua, filmes, séries, animes. Hanayamataem sua totalidade florida pode, com toda certeza, motivar seu público de alguma maneira, apesar de ser formatado sobre o dito banal gênero moe.

Desapontante gente que julga obra por demografia né?
Aqui temos mais uma daquelas histórias que todo mundo está cansado de ouvir, então qual o sentido de assistí-la? Simples: é boa. Assim como mechas estão para conflitos baseados em segregação, aqui encontramos uma releitura de superação, amizade e coragem como vistos em Ookami-san, Angel Beats!, Hourou Musuko, Kotoura-sane Little Busters!. Os enredos podem variar, mas a saborosa essência se manterá intacta, tanto nos supracitados vistos por mim como em futuros “Hanayamatas”que veremos por aí.
Arte – 08/10
Direção – 08/10
Roteiro – 07/10
Sonoplastia – 07/10
Entretenimento – 07/10
Nota Final – 07/10

Recomendado para quem gosta de:
  • Arte vívida
  • Desenvolvimento emocional
  • Enredo diabético
  • Fofura inigualável
  • Fortes amizades
  • Protagonista com evolução
  • Slice of Life

Bônus

Caso ninguém tenha percebido, existem algumas referências em Hanayamata, uma em especial que brilha fortemente: O pai da Tami. Ele tem o mesmo porte, design facial (até onde mostra), cavanhaque característico e voz muito semelhante à de Tohsaka Tokiomi, mais conhecido como “pai da Rin” que estreou Fate/Zero.

“Procure consistentemente manter o fluxo apropriado”
E uma arte que me chamou bastante atenção, representando o que realmente acontece durante esses 12 luminosos episódios:

É a Naru que segura as pontas desse clubinho partindo com as melhores atitudes subliminares.