REVIEW: Houshin Engi (1996-2000) Uma aventura chinesa recontada

Comentando um dos clássicos mangás da Shounen Jump!

Shounen Jump é a revista de mangás mais popular do Japão,  isso não é novidade para ninguém.  Num sistema de TOCs que elimina as obras sem popularidade, ao mesmo tempo que é mais fácil criar séries que caiam no gosto popular,  histórias e a criatividade de seus autores podem ficar reféns de uma simples enquete. Não é à toa então que qualquer manga que vá contra  a maré dentro da Jump´chame a atenção.
Houshin Engi nesse caso, é um mangá publicado na revista no final dos anos 90, durando apenas 4 anos e meio (terminando com um fim “natural”, não por cancelamento). Apesar de não ser muito lembrado por aqui como Yu Yu Hakusho, que é da mesma época, por exemplo,  ele conseguiu certa fama no seu publicação.  Hoje é considerado uma obra um tanto quanto diferente de convencional para o “gênero” battle shounen,  principalmente para o padrão da revista e lógico,  pela qualidade em si.

Sinopse

A história se passa na China antiga (bem descaracterizada e fantasiosa) e é remotamente baseada no livro Fengshen Yanyi.  Neste mundo,  grande dinastia de Yin domina o território chinês e seu líder,  Choou, é um imperador tirano. No entanto,  não é ele o problema e sim sua esposa: Dakki. Ela um Seinnin ( (uma raça mística com poderes sobre humanos) que controla o imperador e seu reino conforme seus interesses,  causando grande caos e miséria no mundo humano.
Enquanto isso,  no mundo desses, Taikoubou, um Seinnin bem mais jovem (“só” 72 anos)  discípulo de um dos líderes do lugar, recebe a missão de completar o “Projeta Houshin”, que consiste em selar vários espíritos de Seinnins maus que atormentam os humanos no Houshindai. Ao abrir a lista de quem tem que ser derrotado ele vê centenas de nomes escritos . Então, para facilitar as coisas,  ele resolve ir atrás de Dakki, que lidera o grupo problemático.

História e Universo

Houshin Engi gira totalmente em torno na jornada de Taikoubou para derrotar Dakki, encontrando pelo caminho diversos outros Seinnins (e Youkais Seinnins, que diferentes dos normais,  tem a forma original de um animal ou semelhante). Taikoubou logo de início percebe  que é impossível derrotar Dakki sozinho, então resolve formar um exército e achar outros Seinnins para ajudar. Um ponto positivo é que o mangá é bem redondo em seu objetivo:  quando o hora das resoluções dessa meta chegam, ele acaba, sem a sensação de enrolação ou o contrário, de fim prematuro.
A maioria seinins deles usa uma arma chamada Paopei. É um tipo de item especial feito pela tecnologia avançada dos Seinnins e só pode serem utilizados por eles devido ao seu corpos divinos.  As Paopeis possuem diversas habilidades: algumas são mais simples,  como a do protagonista que é um bastão que controla os ventos, outras podem mudar a substâncias químicas da matéria,  criar outras dimensões, serem seres biólogicos e muito mais.  No entanto,  o poder da Paopei está ligada diretamente com a força do usuário: um Seinnin fraco tem dificuldade em usar uma arma muito forte porque essa suga sua energia, e por aí vai (só eu acho esse conceito muito parecido com as das Teigus?  Acho que o autor de Akame leu isso, faria sentido).

É um pouco difícil comentar a história muito a fundo sem soltar spoilers até pela quantidade de plot twists que acontecem pelo caminho, mas muito resumidamente é Taikobou conseguindo aliados humanos e Seinins e enfrentando os servos e aliados de Dakki.

Personagens

Houshin Engi é definitivamente um mangá com um elenco muito rico (e grande). Existem personagens de vários tipos de ideologias, e ainda que não sejam exatamente todos bem aprofundada (até por justamente serem muitos) a maioria é bastante carismático. Justamente por existirem vários, vou abordar apenas os principais.

Para começar o protagonista: Taikoubou. Pode-se dizer que ele um personagem bem original considerando que é um protagonista de um shounen de batalhas. Geralmente o personagem que faz esse papel é um menino mais briguento, entusiasmado ou mesmo mais fraco, afim de criar mais identificação com o leitor que costuma ler esse tipo de série. Mas não, Taikoubou não se encaixa em nenhum desses esteriótipos: ele é esperto, preguisoço, adora pegar peças e gosta de ficar bebâdo (o personagem é até zoado por seus companheiro por não ser “legal” e não se parecer um protagonista). No começo do mangá raramente vemos ele usar força bruta para ganhar de alguém, e sim com algum plano absurdo e inesperado. A graça é mesmo ver que sim, podem existir personagens extremamente espertos e que sabem criar estratégias sem perderem o carisma e se tornarem apáticos (sim, estou falando do Inaho).
O fato dele ser um personagem mais esperto também não impede que ele cresça durante a série, ainda que de maneira mais sutil e sem que ele perca suas características principais.

Depois de Taikobou, o personagem do time principal que ganha mais destaque é Youzen. Ele tão esperto quanto o mesmo, apesar de ser mais centrado e não ter a lábia na hora de enganar os outros como ele. A graça de suas habilidades não estão em sua Paopei e sim que ele tem a capacidade de se transformar em pessoas que já viu anteriormente. Isso pode parecer algo limitado à primeira vista, mas conforme Youzen vai polindo essa técnica, ele vai ficando um dos personagens mais fortes dentre os protagonistas (mais até que o principal, inclusive ele até pensa em pegar esse posto dele às vezes). Admito que ele acabou sendo o meu personagem favorito do mangá quando o motivo para ele ter essa capacidade de se transformar é mais explorado.

Também dentro do grupo dos personagens principais temos Nataraku. Ele é uma Paopei humana que nasceu atraves da carne do feto de uma mulher humana. Em cresceu sendo amado por sua mãe, mas sempre chamado de sem coração por seu pai. Nataraku é o oposto do protagonista: inexpressivo mas impulsivo, ele costuma atacar sem pensar e muitas vezes muitos motivos. É lógico que ele não tão desalmado quanto afirmam, conseguindo inclusive manter uma relação com um dos filhos de Higo (um dos primeiros homens à ajudar Taikoubou) e lógico, expressar um claro amor por sua mãe. Nataraku é outro personagem que vai evoluindo pelas bordas ao longo da história.

Sim, essa é a vilã principal e ela complexa.

Sobre a parte dos antagonistas, temos Dakki. Ela tem uma personalidade bem diferente do esperado de uma vilã: boa parte do tempo está preocupada em ficar bonita, joga charme nos outros e suas falas muitas vezes são acompanhadas de corações, fazendo com ela pareça ser fútil à primeira vista. No entanto, Dakki é uma estrategista melhor que Taikobou e cada vez que achamos saber o que ela pensa, uma nova faceta da personagem é mostrada, tornando-a a mais intigante do mangá todo. Sua Paopei é um pano que solta um perfume que manipula os homens (assim ela consegue se manter no poder a lado do imperador) ou seja: ela nunca luta, e sim usa os outros à seu favor.

Tão interessante quanto Dakki é Bunchuu. Ele é um Seinnin que serve Yin à centenas de anos, e por virtude disso, odeia Dakki por estar ferrando com tudo e tenta o possível e o impossível para concertar seus estragos no império. Assim que Taikobou vai contra Yin, ele se sente obrigado à defender sua terra e também ir contra seu melhor amigo que se alia à ele, Higo. O personagem de Bunchuu é fantástico, assim como seu arco de resolução é o melhor do mangá, na minha opinião. Suas motivações e conflitos são muito bem feitos, tornando os momentos de resolução do personagem um dos mais marcantes da obra.

Existem vários outros personagens que são também muito interessantes. Vale resaltar que o autor arriscou muito gastando boa parte do começo da obra introduzindo os principais, algo corajoso sendo que seria fácil desagradar os leitores. Alguns tiveram pouca utilidade, então admito que houve um certo exagero do autor, mas de maneira geral não prejudica a obra.

Arte

Houshin Engi tem uma arte um pouco datada, batendo o olho dá para claramente ver que o mangá foi feito nos anos 90 (o jeito de desenhar os olhos, os risquinhos nas bochechas, é tudo bem característico da época).  De maneira geral não tem muito à comentar nesse ponto, é um traço competente e o character design dos personagens de maneira geral é bem simpático.

Comentando

Ache o protagonista. Não conseguiu? É Aquela coisa lá cima da cabeça do bicho de cabelo comprido.

Apesar da história ter um clima que seria normalmente épico, Houshin Engi não é exatamente um manga sério. Muitas vezes são feitas piadas, inclusive no meio das lutas, algumas bem simples, apesar das minhas favoritas serem as que quebram a quarta parede (às vezes, relacionados à Jump, aos acontecimentos do anime, e etc). Isso poderia acabar com o aproveitamento do mangá, mas funciona geralmente de uma maneira que só dá mais carisma à obra.

Apesar disso, existem momentos com mais seriedade, principalmente na segunda metade da obra, em que muitos personagens, do lado do protagonista ou não, acabam morrendo. Tanto as mortes de “vilões” quanto as de “mocinhos” costumam ser marcantes, justamente por ambos os lados terem ótimos personagens.Vale destacar que a obra tem um planejamento muito bom para o gênero, conseguindo se conciliar bem com suas reviravoltas (ainda que eu ache uma e outra meio exagerada, principalmente lá para o final).

Uma das coisas que podem ter feito o mangá ser considerado diferente para seu gênero é o uso de clichés seguido de uma quebra dos mesmos. Um vilão pode se mostrar ns vedade um dos maiores aliados do protagonista,  e este pode ser derrotado por um personagem praticamente inútil,  assim como o rival principal pode ficar sem lutar com o protagonista mesmo tendo chances para isso por boooooa parte da história. Como eu já disse, o autor muitas vezes brinca com o gênero,  em uma cena em que o protagonista supostamente morreu, por exemplo, nem os personagens levaram aquilo a sério e continuaram seguindo adiante sem se preocuparem.


Conclusão

Houshin Engi é uma série que vale muito a pena ser lida.  É uma leitura muito divertida e bem feita. Com certeza é uma obra que merece ser lembrada como um dos clássicos da Jump, ainda que de maneira diferente e que por certos fatores, não seja para todos. Imagino que quem esteja esperando algo com mais seriedade e não goste daquele “feeling oldschool” que o mangá tem, apesar de tudo, possa se incomodar. Ainda assim, é provavelmente é um dos melhores mangás que já passaram pela revista, ao menos do gênero “shounen clássico de lutinha”. Isso tanto pelos personagens tanto pela histíoria empolgante e bem elaborada. Eu mesmo acabando à pouco tempo já sinto saudade da mesma. Enfim, nem precisa pedir se recomendo, não é?

Extras:

Poucos devem ter reconhecido, mas o autor é o responsável pelo character design do anime e arte do mangá de Shiki. Nessa época seu traço já estava bem diferente, como é fácil notar.

Ryuu Fujisaki também redesenhou as capas do mangá para a versão Kazenban, que postas lada à lado formam uma única imagem. Os desenhos estão em seu artbook Putitakityu junto com outras ilustrações e mesmo com a arte bem mais avançada (ainda que antes de começar Shiki), ela ainda é fiel à do mangá.

Houshin Engi também teve um anime pelo estúdio DEEN. Eu não vi, mas dizem que se difere bastante do mangá.