Review — Baby Steps

De grão em grão a galinha enche o papo


Sinopse

Conta a história de Maruo Eiichirou (conhecido como Anotador Ei-chan), estudante do primeiro ano do ensino médio que em um certo dia percebe que seu condicionamento físico é pobre e decide mudar isso. Coincidentemente encontra um panfleto sobre o Southern Tennis Club (STC) e decide checá-lo, sendo instantaneamente cativado pelo esporte.

Sem nenhuma experiência ou aptidão atlética, Ei-chan entra em uma jornada dentro do tênis usando sua dedicação e trabalho duro.
(Adaptado da sinopse do site “One Manga”)


Review

Animes esportivos ultimamente são uma febre, principalmente depois do lançamento de Diamond no Ace e a continuação de um clássico que foi Hajime no Ippo: Rising, trazendo em abril novos competidores: Haikyuu!! e Baby Steps. Todos os supracitados contam histórias de personagens que acabam amando um esporte e/ou crescem dentro dele, porém Baby Stepsse difere em vários pontos dos demais, mas a principal diferença é que ele não é uma exibição proeminente daquela calorosa amizade que melhora o trabalho em equipe de um time ou da determinação sólida que faz os personagens parecerem muito másculos e, consequentemente, imponentes figuras do esporte tratado, criando aquele sentimento eufórico que temos quando ocorre algo “shounenlesco”; ele ainda passa essa última sensação, mas de uma forma diferente: com o cérebro.

Como seus pais sempre disseram: estude para ser alguém na vida.
Já vamos direto ao melhor personagem, o protagonista: Maruo Eiichiro. Um estudante honorário que e´considerado um ‘All-A’, termo utilizado para alunos que mantém notas perfeitas. Com sua ideia de que precisa estudar muito mais que outras pessoas para conseguir aprender algo, não percebe que este acaba sendo seu dom, o ajudando a ganhar fama por suas anotações perfeitas que ajudam qualquer pessoa a melhorar suas notas. Por sua assiduidade nos estudos acaba se tornando ligeiramente sedentário, então busca um meio de corrigir esse problema e acaba experimentando o mundo do tênis por um dia e acaba fascinado pelo esporte, iniciando sua aventura dentro do universo (sofrido) das raquetes de nylon.

Vai malandro, achou que o Guga perdeu o joelho por pouca coisa?
Ele é fraco, inexperiente e inocente, mas todas essas características são maravilhosas para o sentido da história em si, já que junto disso ele é dedicado, perfeccionista e tem uma arma letal no mundo do tênis: uma boa visão. Com esses aspectos se torna o que muitos animes não mostram: um garoto comum, porém dedicado que consegue superar suas adversidades e conquistar seu próprio futuro com olhos apenas um pouco melhores que de outras pessoas, entretanto treinados com total foco ao tênis. Isso é muito bom vindo de uma sequência de animes que demonstram “talento isso, talento aquilo” ou que resumem-se em volta de potencial físico, dando certas vantagens para os personagens conseguirem vencer – aqui o talento é devoção total aos seus objetivos.

Pense, reflita, treine, aja.
É interessante a forma de como trabalham o protagonista da série, pois o anime opera da forma padrão de muitos animes de esportes: encontra alguém muito bom e o encara como rival ou exemplo, começa então a treinar, derrota meia dúzia de gatos pingados, perde para alguém melhor, repete o ciclo. Mas a cereja do bolo fica na frustração passada por essas derrotas e a atitude do Eiichiro em continuar tendo uma personalidade pacifista e autodegenerativa, porém com total convicção na tentativa de transformar sensações negativas em força de vontade para crescer, contando muitas vezes com a ética que carrega consigo mesmo de não desistir, apenas repetir o mesmo processo até finalmente acertar, alcançando um ponto de desenvolvimento notório ao focar em sua inteligência.

Não se preocupe, não é tão difícil assim.
Assim como muitos esportes, no tênis a capacidade física do atleta é inegavelmente a maior vantagem, a qual traz diversas outros ganhos como efeitos ou precisão maiores. Nossa estrela tenta correr atrás disso e descobre que não conseguirá, então compensa com o maior presente que Baby Steps dá aos telespectadores: sagacidade. Pode parecer idiota falando assim superficialmente sobre um anime de esportes com muito diálogo interno, mas é extremamente prazeroso acompanhar o raciocínio lógico durante as partidas, já que normalmente se vê personagens que têm um lapso de pensamento e então vencem quase que instantaneamente – se colocar aquela lâmpada incandescente na cabeça de alguém quando o mesmo tem uma ideia fosse regra, animes de esporte estariam destruídos.

É extremamente chamativa a variedade de formas de como analisar os oponentes.
Unido a isso temos as capacidades de todo protagonista: em shounens, onde seus “Status Básicos” são aumentados igualitariamente, por exemplo em Bleach em que ‘Ichigo’, diferente dos outros personagens, apenas consegue ficar mais forte e mais rápido, sem nenhuma representação de sua alma/personalidade ou no próprio ‘Naruto’ que sempre tem o mesmo generalismo em seu crescimento que se resume a evoluir o Rasengan e ficar amiguinho da ‘Kyuubi’. Aqui o negócio é outro porque em questão de aptidão ao esporte, Maruo é bem mediano, mas sua capacidade de enxergar bem, em seu árduo treino em conseguir uma precisão em suas raquetadas e reflexão constante sobre as possibilidades do oponente para superá-lo fazem suas partidas serem muito convidativas.

Quantos gigantes Maruo conseguirá derrubar?
Outro lado importante que me agradou muito foram os bastidores da vida de Eiichiro, onde ele lida com o dilema de seguir com os conselhos de seus pais – o que fez desde quando se conhecia por gente – ou correr atrás de seu sonho de se tornar um jogador de tênis profissional, causando mudanças na sua estável e honrada vida escolar (a qual o garantiria um futuro acadêmico de sucesso), nas suas interações interpessoais tanto na questão familiar como social e principalmente os sacrifícios necessários para seguir o caminho escolhido.

Sua cara quando seu filho desistir de uma renda estável para trabalhar com animes.
E assim se mostra a trilha de Maruo Eiichiro, um garoto simplesmente estudioso que demonstra uma capacidade de pensar junto ao espectador muito boa, onde no caminho vai encontrando companheiros que são referências, e falando nisso temos ótimos personagens coadjuvantes em Baby Steps.

Qual é a desse drama? Só porque deixou de ser o assunto?
Nessa obra contamos muitos coadjuvantes e rivais. A primeira mais importante da Aliança é Takasaki Natsu (a mocinha confusa da imagem acima), estereotipicamente a garota mais bonita do colégio que coincidentemente estuda na mesma escola e pratica tênis no mesmo clube que o protagonista. Seu objetivo é se tornar uma jogadora profissional também, e isso no início estimula Eiichiro a ter mais determinação a crescer em suas partidas – o que acaba sendo uma relação benéfica para ambos os lados, já que ela se espelha na dedicação dele para acabar se motivando, aparentemente sendo até cativada por isso.

Isso que dá ir contra a Horda sendo human low level.

E o principal membro do grupo de rivais é Egawa Takuma, um exímio talento no tênis que de acordo com a própria história só aparece a cada década. Alto, forte e arrogante, representa o Lado B do enfoque – quem tem tudo na mão mas acaba perdendo sua motivação facilmente, entrando em um período de rebeldia e relutância em aceitar sua má condição esportiva. Ao conhecer nosso protagonista, sente uma inimizade ao ser questionado sobre sua falta de objetivo no mundo do tênis e isso o estimula a voltar à ativa (inicialmente por raiva). Sua instalação na trama é bem rasa, todavia ele serve como a brasa que acende a chama da competividade dentro do Eiichiro.

É meu amigo, garota apaixonada não enxerga dois palmos em sua frente.

E aqui temos mais dois personagens que interagem com nosso personagem principal: Sasaki Himeko, uma colega de classe que admira Eiichiro e tem uma paixonite por ele e seu melhor amigo Kageyama Kojirou. Inicialmente eles servem só para esquetes de humor colegial comum e… é isso mesmo. Mais para frente quando começam a acompanhar assiduamente as partidas de Ei-chan servem também como portavozes das regras do tênis para pessoas leigas no esporte, mas isso não é o principal… Progressivamente nota-se que o Kageyama tem certo apreço pela Sasaki, contudo omite seus sentimentos para manter uma boa relação tanto com seu melhor amigo como com a garota de quem gosta. No anime inteiro ele faz apenas um comentário engraçadinho com relação a seus sentimentos, dando sentido a toda essa teoria e o melhor: criando um sentido para a existência de um coadjuvante num anime de esporte além da ligação com a modalidade ou do auxílio dado ao protagonista, gerando profundidade em suas personalidades que até certo ponto eram bem básicas também, como a de Takuma.


Aspectos Técnicos

Arte

A arte é ruim, mas compensativa. Durante todo o projeto nós passamos por cenas do dia-a-dia, treino e partidas, onde o suprassumo fica, obviamente, nas partidas, então pecando no restante. Existem trechos de extrema desordem visual (composição dos personagens), falta de empenho na fabricação de cenas de ação (treinos aparentemente produzidos a 15FPS) e uso de CG extremamente descenessário (os figurantes que ficavam assistindo as partidas paradinhos) e seu traçado é simplório como o mangá, o que acabou prejudicando o anime já que existem muitos momentos que você sente falta de sombras – que não são muito utilizadas quadrinhos originais para complementar o senso de profundidade.

O design dos personagens é bem legal, fica fácil diferenciá-los (narizes belíssimos).

Agora a maioria das partidas foram bem produzidas (mesmo sem sombras na maioria das vezes), o que foi a escolha correta pela aparente falta de recursos e/ou tempo para produzir o anime. Uma coisa curiosa é que as partidas dos rivais de Eiichiro são melhor animadas que suas próprias, o que eu achei estranho porque ele é o personagem mais legal de assistir jogando. A cenografia é razoavelmente boa com uma pintura bem simplória e vívida, típica de animes de esporte para facilitar a visualização principalmente para crianças.


Direção

Se superou na fabricação das cenas pois consegue criar aquela expectativa gostosa na maioria das partidas, com slow motion nos momentos corretos e bons ângulos de cenas. Ao trocar de clima também tem um bom trabalho, onde passando para o lado escolar ou slice of life traz o padrão desses gêneros, onde focam interação com os colegas e a cenografia, respectivamente. É uma boa forma de economizar esforço sem perder muita qualidade.


Roteiro

A história de Baby Steps em si já é muito boa e o roteiro não falhou em transferí-lo ao mundo animado. Do começo ao fim nós temos um ritmo agradável com pequenos saltos temporais, evitando repetição de ciclos anteriormente representados; uma consistente troca de foco das faces da vida do protagonista sem remover seu núcleo esportivo de lugar; dá importância aos coadjuvantes e rivais na medida certa, evitando que o universo gire em torno do Eiichiro. Em poucas palavras, praticamente não há erros assim como não há aquele brilho ofuscante.


Sonoplastia

Simplória e funcional. O principal aspecto é que comumente canções originais são utilizadas durante um cour, isto é, 11 a 13 episódios, porém nesta obra fica apenas com uma de cada durante todos os seus 25 episódios. Eu não diria que é algo ruim porque não existem mudanças gritantes no roteiro que necessitem de outra climatização além da abertura Believe in Yourself de “Mao Abe” e encerramento Baby Steps de “Babyraids”do início ao fim. E falando em climatização, a trilha sonora trabalha bem nisso com melodias modestas durante as partidas e momentos do dia-a-dia. Facilmente cria uma boa pressão em momentos difíceis e relaxa com tons de superação nas conquistas do calculista Ei-chan.


Conclusão

Este anime faz jus ao seu nome: Baby Steps, em literal tradução, significa “Passos de Bebê”. Ele conta progressivamente como Maruo Eiichiro pode crescer, superando seus limites e amadurecendo cada vez mais em pequenos passos de sua excursão ao glamoroso mundo do tênis, levando consigo companheirismo, competitividade, respeito e, não menos importante, o prazer de correr atrás de seus sonhos. Acaba sendo uma ótima experiência para quem está saturado de obras esportivas padronizadas ou personagens aparentemente acéfalos, uma fácil recomendação para quem quiser mergulhar nesse mundo desportivo com o pé direito.

Pronto para entrar pra equipe?
Arte – 06/10
Direção – 07/10
Roteiro – 09/10
Sonoplastia – 07/10
Entretenimento – 10/10
Nota Final – 08/10


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