Impressões semanais: Yuuki yuuna wa yusha de aru 1 e 2

-“Surprise, motherfucker!”

-Antes de tudo, farei uma breve digressão. Já faz alguns meses que não estou mais prestando tanta atenção na staff dos animes que irão estrear, e o motivo é muito simples: não quero ser afetado pelo infame monstro da expectativa. Para quem não compreendeu, o monstro da expectativa é um estado psicológico em que você espera que anime X seja de um jeito, mas acaba sendo de outro jeito. Como consequência disso, vemos por aí reclamações sobre o protagonismo em SAO, a falta de ação em Log Horizon e um ou outro assistindo harém e reclamando que todas as garotas se apaixonaram pelo cara sem ele ter feito nada. Há uma certa incapacidade de aceitar elementos centrais de certos animes que foram estabelecidos desde os primeiros episódios, e no caso a recomendação é simples: não assista se não gostou, pois vai ser repetir.
-Mas por que estou falando disso? Porque eu também fui afetado por essa infeliz criatura. Após uma breve inspeção superficial das estreias (como eu disse acima, para não criar expectativa), eu acabei me deixando enganar por Yuyuyu (apelido carinhoso do anime) e o julguei mentalmente como se fosse um slice of life de garotas fofas fazendo coisas fofas. Eram 4 garotas que participavam de um clube (cenário típico desde K-ON) cujo foco de atividades era um tanto obscuro (o que faz um clube de heróis?). Esse tipo de anime geralmente me faz sentir relaxado e não possui uma linha de enredo reta e objetiva, fazendo curvas ao invés disso. As história normalmente são derivadas de 4-komas curtos, em que um episódio apresenta várias situações de humor leve e uso da função emotiva da linguagem (atmosfera calma e reações moe por parte das personagens). Tendo sido influenciado por animes como Kiniro Mosaic, Non Non Biyori e Gochuumon, aquilo não me convenceu, pois acabou parecendo muito informativo e pouco emotivo na primeira vez que assisti. É possível que essa opinião mude em retrospecto, tendo em conta a subjetividade da mesma.
-Então isso aconteceu. O slice of life era na verdade um Mahou Shoujo, pegando os desinformados (como eu) de surpresa. Ouso afirmar que o formato aqui é deveras inconvencional, comparado aos clássicos Sailor Moon, Precure, Corrector Yui, Nanoha, e até mesmo Madoka nos primeiros episódios. O que acontece normalmente? O dia-a-dia da protagonista é mostrado desde o momento em que ela acorda atrasada para o colégio até o dia seguinte. Nesse ínterim, ela encontra acidentalmente o animal mágico que irá conceder-lhe os poderes que precisa para lutar quando, pouco tempo depois, o primeiro monstro aparecer. Apesar de aqui também existirem animais mágicos, eles se mostraram pouco relevantes até agora (apesar de terem uma função, parecem mais um enfeite), e não foi através deles que se consolidou a situação-chave, mas sim por meio de uma viagem súbita até um mundo paralelo e psicodélico. 
Parte da transformação da best girl do anime. Que lindos, cara.
-Desse ponto em diante, alguns minutos de explicação esclarecem o que se precisa saber sobre o universo da obra. Aparentemente, o povo dessa cidade cultua um certo deus (se é hindu, budista, zoroástrico, não me perguntem que eu não sei), e esse deus, assim como o santo Graal de Fate/Stay Night, elege as pessoas independentemente de suas vontades para serem atores principais no palco da batalha. No caso, elas precisam lutar contra os Vertex, monstros colossais que querem atacar o deus (Shinju-sama) e destruir a humanidade. As ações desses monstros afetam o mundo real, o que é mais um motivo pelo qual devem ser exterminados. Os poderes que elas precisam para lutar são concedidos pelo próprio deus e o meio de transformação se dá através de um aplicativo de smartphone (que chiq).

-Temos aqui um dos sucessores de Madoka bla bla bla bla bla bla e o papo de sempre. Uma das vantagens de um mahou shoujo de grande sucesso com amplitude demográfica vasta ter sido produzido em 2011 é que agora não é mais esquisito um estúdio querer fazer algo do tipo. A proposta é simples e direta como uma partida de futebol: meninas, monstro, matem. Por que os monstros atacam? Talvez haja um motivo, talvez não haja, mas o que importa afinal? Em um mundo em que magia existe a priori, é justificável que tudo que pertence ao sobrenatural também possa existir a priori. Sabe-se que há 12 deles (assim como Evangelion), o que sugere um plot twist reservado para os episódios finais.
Os modelos de CG são bem feitinhos, parecem os de Aikatsu
Best girl arrasando
Itsuki destruindo o núcleo do Vertex
-As lutas não estão no nível Ufotable ou I.G Productions, mas para um estúdio pequeno, eles disfarçam bem o CG nas cenas aéreas (muitos pulos e gravidade) e há movimentos em 2D também para que ninguém fique insatisfeito. O que me chamou atenção aqui foi o divergência de habilidades entre cada Vertex, a forma como eles são capazes de trabalhar em equipe (o que indica que possuem inteligência avançada pelos padrões biológicos) e a necessidade de estratégias para derrotá-los. Madoka se preocupava em mostrar sequências de animação hiper-exageradas que ressaltavam o poder das garotas mágicas, mas nunca chegou a realçar a estratégia em si, dada a sua tendência a se voltar mais para o lado do horror. Temos aqui um diferencial, acredito. 
-Claro que também não faltou o elemento essencial, existente em todos os mahou shoujos desde a criação do universo, há 14 bilhões de anos atrás: o poder da amizade. Se em Vividred havia um furão spoilando o conceito o tempo inteiro, aqui já pode ser inferido. Independente das estratégias utilizadas, como acabar com a artilharia primeiro para depois se concentrar na infantaria, houve sempre um impulso imediato de uma das garotas de salvar as outras em uma situação de risco em que as mesmas enfrentavam contratempos e estavam em clara desvantagem. No primeiro episódio foi a Yuna e no segundo a Mimori, o que é super cool, pois aproxima os aspectos de mahou shoujos orientados para o público infantil e ao mesmo tempo mantém o apelo para o público geral.
  
-Agora, você conseguiria induzir a partir do contexto, da direção e do roteiro que anime é uma colaboração do autor de Jinrui, do Takahiro (akame ga kill) e do Seiji Kishi (diretor de Angel Beats)? Eu jamais imaginaria!

Nota: 83/100