Impressões semanais: Hataraku Maou-sama 11 e 12 – Inquisição, pantsu, tensão e reviravoltas

-Fim do arco de Suzuno, fim da doença de Alsiel.

Episódio 11

-O maior mérito desse episódio foi conseguir justamente o que os anteriores não conseguiram: aprofundar a personagem de Suzuno e torna-la carismática para o espectador. Acabou que ela não era uma personagem do tipo cômica no fim das contas, e sim uma personagem do tipo trágica, e a execução nos fez o favor de transpassar todo o drama na medida certa sem entrar nos territórios de melodrama exacerbado. Acompanhem-me.

Eu consigo imaginar esses caras em Shingeki no Kyojin

-Nos episódios 4 e 5, tivemos a primeira instância de culpabilidade para ambos os lados, a primeira vez em que a história saiu do preto no branco e se comprometeu a abordar um ponto de vista mais amplo e multilateral. Demônios são malvados, mas os humanos também não são completamente inocentes, e isso se manifesta com mais ardor não na guerra, mas na política. Os líderes da santa igreja visam expandir sua influência por todos os continentes e saciar suas sedes de poder e influência, logo os mesmos se recusam a formalizar uma aliança com a ordem dos cavaleiros por almejarem toda a glória para si próprios. Os cavaleiros, como represália, abandonam os soldados da igreja a sua própria sorte e deixam a mesma arcar com os prejuízos e responsabilidades, afinal o que é uma vila para eles? Nada.

-Olhando para os eventos históricos, temos que Luís XII (rei da França) escolheu dividir o Reino de Nápoles com os espanhóis a fim de evitar uma guerra, assim indo contra os interesses de seus aliados (os venezianos) e perdendo a Lombardia (fonte: “O Príncipe, de Maquiavel, pgs. 62-63, editora Golden Books) e esse é um exemplo de como uma pessoa ou instituição forte pode arruinar a imagem e influência de outra pessoa ou instituição caso venham a se aliar. A ambição é característica do ser humano, nós gostamos do poder, gostamos de influenciar e nós colocarmos acima dos outros. Esse blog é um exemplo disso. Outro dia, recebi uma proposta de fusão de outro blog, e não aceitei justamente por não desejar abrir mão de minha soberania aqui. É a minha fortaleza, meu reino, não vou dividir.  Minha única reclamação é a necessidade de “vilanizar” os corruptos de forma tão caricata, mas é anime, então fazer o que. Ao menos eles são irrelevantes para a narrativa, logo não é lá algo que comprometa o entretenimento.

-Essa cena. Eu já estava me perguntando quando essa linha narrativa seria retomada. As razões de Suzuno e o raciocínio por trás de suas ações remetem justamente ao dilema do episódio 4. Alguém vem, destrói sua casa, mata sua família e rouba todos os seus pertences, foge pra Cuba e lá se estabelece. Em Cuba, essa pessoa se torna um cidadão respeitoso e é aceito pela comunidade, deixando seu passado cheio de escrúpulos para trás. Você, que teve sua vida destruída por esse indivíduo, consegue aceitar algo assim? Não importa o quão legal e bondoso Maou seja atualmente, não muda o fato de que ele destruiu vários vilarejos e matou um número considerável de gente. Para Ente Isla, Maou é Hitler, logo é bem mais complicado do que parece. Antes de a Suzuno começar a falar, eu já estava dando razão pra ela e também já sabia que a Chi-chan iria tentar argumentar a favor de Maou sem estar ciente das circunstâncias por trás de toda essa caçada, sem ter uma visão mais ampla. O mundo idealizado que Emilia visa construir não existe e no final das contas tudo se resume na seguinte pergunta: qual a paz que se deseja proteger?

Episódio 12

-Naoto Hosoda (responsável pela direção do episódio 1 e diretor chefe) coordenou esse episódio de forma soberba e magnífica, fazendo uso dos ângulos e enquadramentos com precisão e abusando dos ângulos holandeses. O clima de fim de arco aqui foi igualmente aproveitado nos presenteando com belas cenas de ação (o estúdio Trigger esteve envolvido na composição de cenas) e comédia também, é claro. Uma frase da Emi que me fisgou nesse princípio foi: “Eu e Maou vamos desaparecer em outro mundo e Ente Isla não vai ser diferente de antes de você vir para cá”. Essa frase é simbólica. Nos primeiros episódios de Maou, eu discorri um pouco sobre como o mesmo poderia ser uma possível crítica ao sistema atual, e esse trecho se intercala perfeitamente com o passado de Suzuno, marcado pela convivência com entidades que valorizavam cada vez mais a individualidade e o ganho próprio e cada vez menos a virtude e o próximo. É isso que nós somos, hipócritas individualistas escondidos sob a máscara da boa fé. Os valores que a igreja prega (mesmo não necessariamente acatando-os) não são mais tão relevantes no mundo atual. Muitos vão para a igreja rezar a missa, mas quantos dão grana para o mendigo? Eu não sei dizer se isso pode ser visto como evolução ou involução, mas a perspectiva de bem e mal absolutos já entrou em decadência e passamos a ver o mundo como uma enorme mesa de xadrez em que os vários jogos de interesse estão envolvidos. Nietzsche proferiu uma vez que “deus está morto”. Jung se inspirou neste, mas fez um adendo: o herói também está morto (“The Red Book”, Carl Jung, não lembro a página). Essas alegorias estão ultrapassadas e não precisamos mais delas, e isso se traduziria pelo desaparecimento de Maou e Emilia no caso. A existência do diabo é necessária para o pregador, pois sem este, não haveriam temerários para aderir a causa. Por outro lado, a existência do pregador é também necessária para o diabo, pois sem este, ele não angaria novos clientes. Não faço idéia se o autor leu Jung ou não, mas prefiro acreditar que essa retratação de bem e mal não é mera coincidência.

-Vamos rir agora porque rir faz bem a saúde. Comparem o episódio passado com esse e perceberão como o humor se altera alternadamente e gritantemente. Dullahaaaaaaaaan uasheausehsaueha, ai meu pâncreas.

-E para as meninas: Maou de cuequinha. Para os meninos é fandisservice. A única arma contra a qual a inquisidora Suzuno não tem chance é a tão falada broca de diamante, que desde os tempos mais primórdios está aí apavorando as meninas de família.

-É sempre a Emi que garante o fanservice da semana, já perceberam isso? Mesmo a Chi-chan sendo a mais avantajada, eles tem tara com a Emi. Será que pela primeira vez os japoneses estão usando o bom senso e mostrando calcinhas só de garotas acima da maioridade?

-This, THIS!!! Foi a risada mais estranha que eu já dei, pois eu estava imaginando que realmente fosse a Chi-chan dando porrada no Sariel, e quando revelaram que foi o Maou, foi esquisito porque a risada deixou de fazer sentido.

-Alsiel nunca falha em nos surpreender. Quando achamos que ele não tem mais nenhuma carta na manga, ele me vem com essa. Foi um jeito esperto de repetir uma piada alterando as circunstâncias e só o autor da light novel conseguiria essa façanha. Tá atrasado, hômi, já acabou o negócio! Enfim, o melhor episódio até agora desde os quatro primeiros, e que venha o Gran finale.